REQUERIMENTO N.º DE 2012. (Do Sr. Francisco Araújo) Requer o envio de Indicação ao Poder Executivo, sugerindo ao Ministério da Educação avaliação das experiências de flexibilização curricular no ensino superior, decorrentes da adoção das Diretrizes Curriculares Nacionais e, se couber, também a correção de seus rumos. Senhor Presidente: Nos termos do art. 113, inciso I e 1 o, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, requeiro a V. Exª. seja encaminhada ao Poder Executivo a Indicação anexa, sugerindo ao Ministério da Educação a tomada das providências pertinentes para avaliação das experiências de flexibilização curricular no ensino superior, decorrentes da adoção das Diretrizes Curriculares Nacionais e, se couber, para a correção de seus rumos. Sala das Sessões, em de de 2012. Deputado Francisco Araújo 2012_1548
INDICAÇÃO N o, DE 2012 (Do SR. FRANCISCO ARAÚJO) Sugere ao Ministério da Educação encaminhamento de providências para avaliar as experiências de flexibilização curricular no ensino superior decorrentes da adoção das Diretrizes Curriculares Nacionais e, se for o caso, proceder à correção de seus rumos. Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação: Nesta oportunidade, venho respeitosamente trazer à consideração de Vossa Excelência problemas relacionados à extrema variedade das grades curriculares praticadas nos milhares de cursos de graduação hoje oferecidos em nosso País, algumas delas de grande qualidade, outras, nem tanto, e outras, ainda, indignas de figurarem na coleção nacional de currículos de nível superior. E dada a situação um tanto caótica que atualmente vigora neste domínio, tomamos também a liberdade de apresentar sugestão para a correção de seus rumos. Como se sabe, a Lei n 9.131/1995, que alterou a antiga LDB - Lei n 4.024/61 -, dispôs, em seu art. 7º, que o novo Conselho Nacional de Educação (CNE) teria atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional. Dentre estas atribuições destacava-se a de deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto, para os cursos de graduação (art. 9º, 2º, alínea c). A nova LDB - Lei n 9.394/1996 -, por sua vez, especificou as atribuições de autonomia constitucionalmente definidas para as universidades,
2 entre as quais ressalta a de criar, organizar e extinguir cursos e programas de educação superior e a de fixar currículos de cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes. Conferiu também aos colegiados de ensino e pesquisa universitários a responsabilidade de, entre outros, decidir sobre a criação, a expansão, a modificação e a extinção de cursos, e sobre a elaboração da programação dos cursos. Por sua vez, o Parecer CNE/CES nº 776/1997 definiu as orientações para a elaboração das Diretrizes Curriculares Gerais dos cursos de graduação, dentro do espírito de flexibilização curricular. Em 2001, o Plano Nacional de Educação também ressaltava, entre os objetivos e metas para a educação superior, o de Estabelecer, em nível nacional, diretrizes curriculares que assegurem a necessária flexibilidade e diversidade nos programas de estudos oferecidos pelas diferentes instituições de educação superior, de forma a melhor atender às necessidades diferenciais de suas clientelas e às peculiaridades das regiões nas quais se inserem". Pois bem, Senhor Ministro, há mais de uma década, milhares de cursos superiores têm funcionado, no Brasil, de acordo com os princípios da flexibilidade e da abertura curricular, regulados por vasta legislação que praticamente descartou toda uma tradição baseada na existência de currículos mínimos obrigatórios e válidos em todo o território nacional. Segundo muitos educadores e autoridades do meio educacional, estes currículos mínimos eram anacrônicos e sucumbiram com o advento das chamadas Diretrizes Curriculares Nacionais, que trouxeram para os currículos das faculdades e universidades os novos tempos demarcados pelos conceitos de habilidades, competências, perfis, observância da diversidade, dos regionalismos e das características sociais e culturais nacionais. Do ponto de vista quantitativo, o panorama do ensino superior também modificou-se totalmente, dos idos de 1995 para cá. Basta lembrar que em 1995, as 894 instituições de educação superior (IES) existentes - 76,5% delas, privadas - ofereciam 6.252 cursos superiores (55,5% deles em IES privadas), que reuniam 1.759.703 matrículas (60% delas, privadas). A análise do último Censo de Educação Superior publicado pelo Inep, referente a 2010, permite constatar que em 15 anos, o nº de IES cresceu 2,5 vezes, o nº de cursos multiplicou-se por 5 e as matrículas totais quase quadruplicaram. Ou seja, em
3 2010 já tínhamos quase 30 mil cursos (mais exatamente, 29.507 cursos, 69% deles privados) em funcionamento no Brasil, oferecidos por 2.377 instituições (88% privadas), que agregavam 6.379.299 matrículas (75% delas em cursos privados). Com base nessas estatísticas, imagine-se como a criatividade nacional vem operando nos quatro cantos do Brasil, nos mais de 30 mil cursos de graduação hoje oferecidos pelas quase três mil instituições de ensino superior públicas e privadas... Se examinarmos mais de perto os dados do Censo de 2010, verificamos que apenas cinco cursos de graduação Administração; Pedagogia; Direito; Ciências Contábeis; e Enfermagem congregavam, em 2010, ¼ ou 25% do total de cursos ofertados (7.317 deles). Cursos de Direito havia 1.100 sendo ministrados em 2010... Com a flexibilização permitida pelas Diretrizes e sem um currículo mínimo único que oriente a organização curricular em todo o País, não é incomum que alunos de um mesmo curso, Direito, por exemplo, matriculados em instituições distintas, ao se formarem, tenham recebido conteúdos diferentes em sua formação. Agrava a situação o fato de que, além da considerável diferenciação curricular, há também grande diferença de qualidade dos cursos oferecidos. Temos recebido frequentes queixas de estudantes, inclusive de Brasília, DF, que, por mudança de domicílio ou por razões econômicas, gostariam de se habilitar à mudança de faculdade para darem continuidade ou completarem seus cursos de graduação. Mas esta situação de discrepância exagerada dos currículos, principalmente nas instituições privadas, tem, na prática, impossibilitado muitas vezes a compatibilização curricular e o aproveitamento de créditos de disciplinas já cursadas, obrigando muitos estudantes a interromperem seus cursos superiores. Não estamos aqui preconizando um retrocesso, uma simples volta ao passado, Senhor Ministro. Defendemos a evolução e as mudanças que favoreçam o avanço do conhecimento, da ciência, da tecnologia e do desenvolvimento econômico e social. Mas indagamos se já não é tempo de avaliar, após mais de uma década de flexibilização dos currículos de graduação, se essa experiência nacional baseada nas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação está sendo válida em todas as áreas do conhecimento, se tem
4 alcançado as finalidades a que se propôs e, principalmente, se está garantindo aos nossos jovens uma formação mais sólida e adequada às exigências e desafios da contemporaneidade e de um mercado de trabalho profundamente alterado pela globalização e pelo desenvolvimento tecnológico. Temos sérias dúvidas de que isso esteja de fato ocorrendo. Testemunhamos hoje o curso de uma importantíssima correção de rumos tendo lugar no ensino infantil e fundamental de nosso País. O Ministério da Educação (MEC) coordena e finalizará, este ano, a elaboração de um currículo nacional para a educação infantil e o ensino fundamental. Fundamentado também nas Diretrizes Curriculares Nacionais aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), o novo currículo, entretanto, se constituirá numa base nacional comum que determinará as expectativas de aprendizagem em cada etapa do ensino e as condições necessárias para o aluno aprender, como o tempo em sala de aula, o contato com a literatura e a quantidade de livros a serem lidos pelos alunos. Os Estados e Municípios poderão, decerto, acrescentar suas especificidades ao conteúdo básico. Podemos dizer, Senhor Ministro, que finalmente, após anos e anos de repetidos resultados lastimáveis nas avaliações do SAEB e do PISA, que só reiteravam que nossas crianças e jovens não estavam lendo, escrevendo e contando adequadamente, nas séries em que isso seria de se esperar deles, o bom senso prevaleceu. Teremos outra vez, em breve, currículos unificados a serem ensinados nas salas de aula das redes de ensino em todo o país. Os professores saberão exatamente o que precisam e devem ensinar e os alunos poderão ter de fato o direito de aprender conteúdos importantes para alicerçarem toda a sua formação escolar ulterior. Podemos nos perguntar em que medida essa tão grande diferenciação, esta disparidade de conteúdos, matérias, teorias, métodos e práticas hoje encontrados entre as grades curriculares dos mesmos cursos superiores, ou dos cursos que compõem uma mesma área do conhecimento, não explica, por exemplo, o retumbante fracasso da maioria dos nossos jovens advogados nos exames da OAB(Ordem dos Advogados do Brasil), em todo o País? Ou do vexame exibido por mais da metade dos formandos em Medicina que se submetem anualmente aos exames do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo)? Ou, ainda, dos persistentes maus resultados dos alunos de certos cursos no ENADE/SINAES(Exame Nacional de Desempenho
5 de Estudantes/Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior))? Já não estamos em boa hora para saber se a realidade evoluiu na direção das esperanças expressas no Parecer 776/97 do CES/CNE, em que se dizia ser evidente que, ao aprovar as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação, a intenção é mesmo garantir a flexibilidade, a criatividade e a responsabilidade das instituições de ensino superior ao elaborarem suas propostas curriculares, por curso, conforme entendimento contido na Lei 10.172, de 9/1/2001, que estabeleceu o Plano Nacional de Educação PNE, ao definir, dentre os objetivos e metas, (...) Estabelecer, em nível nacional, diretrizes curriculares que assegurem a necessária flexibilidade, a criatividade e a responsabilidade das instituições diversidade nos programas oferecidos pelas diferentes instituições de ensino superior, de forma a melhor atender às necessidades diferenciais de suas clientelas e às peculiaridades das regiões nas quais se inserem...? É, então, movido pela busca de resposta a estas indagações que me dirijo a Vossa Excelência, sugerindo a tomada de providências junto às autoridades competentes do Ministério da Educação, para que seja, em breve, realizada uma avaliação do período de vigência das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação. Quem sabe do debate não resultará um prudente caminho do meio - nem o fechamento e o engessamento determinado pelos velhos currículos mínimos, nem a flexibilidade desmedida e incontrolada sob o patrocínio das Diretrizes? Na certeza de podermos contar com o acolhimento de nosso pleito, solicitamos de Vossa Excelência o empenho para encaminhamento das providências pertinentes, no Ministério da Educação, para a consecução dos objetivos explicitados, pelas razões que acabamos de expor. Sala das Sessões, em de de 2012. Deputado FRANCISCO ARAÚJO 2012_1548