Curso 79 Aula 16 data 14/08/79 Curso: A evolução do homem em face da Bhagavad Gita e do Evangelho A Meta suprema Huberto Rohden Vamos iniciar hoje as



Documentos relacionados
Capítulo II O QUE REALMENTE QUEREMOS

Desafio para a família

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

Mensagem de Prem Rawat

Transcriça o da Entrevista


5 Dicas Testadas para Você Produzir Mais na Era da Internet

Manifeste Seus Sonhos

A Maquina de Vendas Online É Fraude, Reclame AQUI

2015 O ANO DE COLHER ABRIL - 1 A RUA E O CAMINHO

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1

CONHECENDO-SE MELHOR DESCOBRINDO-SE QUEM VOCÊ É? 13 PASSOS QUE VÃO AJUDÁ-LO PARA SE CONHECER MELHOR E DESCOBRIR QUE VOCÊ REALMENTE É

Você foi criado para tornar-se semelhante a Cristo

O Pequeno Livro da Sabedoria

Os dois foram entrando e ROSE foi contando mais um pouco da história e EDUARDO anotando tudo no caderno.

MEU PLANO DE AÇÃO EM MASSA 7 PASSOS PARA UM INCRÍVEL 2015!

Meditações para os 30 dias de Elul

este ano está igualzinho ao ano passado! viu? eu não falei pra você? o quê? foi você que jogou esta bola de neve em mim?

Anexo XXXIII Peça teatral com fantoches

1º Domingo de Julho Conexão Kids -05/07/2015

Deus: Origem e Destino Atos 17:19-25

Palavras do autor. Escrever para jovens é uma grande alegria e, por que não dizer, uma gostosa aventura.

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS

Superando Seus Limites

O sucesso de hoje não garante o sucesso de amanhã

HINÁRIO O APURO. Francisco Grangeiro Filho PRECISA SE TRABALHAR 02 JESUS CRISTO REDENTOR

Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957.

A origem dos filósofos e suas filosofias

Como conseguir um Marido Cristão Em doze lições

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:...

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Tudo tem um tempo. Uma hora para nascer e uma hora para morrer.

Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava

Orando pela minha família

Entrevista Noemi Rodrigues (Associação dos Pescadores de Guaíba) e Mário Norberto, pescador. Por que de ter uma associação específica de pescadores?

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Mostra Cultural 2015

- Tudo isto através das mensagens do RACIONAL SUPERIOR, um ser extraterreno, publicadas nos Livros " SO EM DESENCANTO ". UNIVER

HINÁRIO O APURO. Francisco Grangeiro Filho. Tema 2012: Flora Brasileira Araucária

3 Dicas Poderosas Para Investir Em Ações. "A única maneira de fazer um grande trabalho é. amar o que você faz." Steve Jobs. Por Viva e Aprenda 2

DANIEL EM BABILÔNIA Lição Objetivos: Ensinar que devemos cuidar de nossos corpos e recusar coisas que podem prejudicar nossos corpos

Juniores aluno 7. Querido aluno,

Crescer por dentro. compreender e caminhar rumo ao SER

Papo com a Especialista

1º Domingo de Agosto Primeiros Passos 02/08/2015

CD UM NOVO DIA. Um Novo Dia Autor: Paulo Cezar

Imagens Mentais Por Alexandre Afonso

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.

UMA ESPOSA PARA ISAQUE Lição 12

HISTÓRIA DE LINS. - Nossa que cara é essa? Parece que ficou acordada a noite toda? Confessa, ficou no face a noite inteira?

MALDITO. de Kelly Furlanetto Soares. Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012.

Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

A CURA DE UM MENINO Lição 31

Sinopse I. Idosos Institucionalizados

Para gostar de pensar

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

Uma volta no tempo de Atlântida

RECUPERAÇÃO DE IMAGEM

All rights reserved by Self-Realization Fellowship. Índice

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

Anna Júlia Pessoni Gouvêa, aluna do 9º ano B

Os Quatro Tipos de Solos - Coração

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após encontro com a Senadora Ingrid Betancourt

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

Mosaicos #7 Escolhendo o caminho a seguir Hb 13:8-9. I A primeira ideia do texto é o apelo à firmeza da fé.

Disciplina: Matemática Data da realização: 24/8/2015

AS VIAGENS ESPETACULARES DE PAULO

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA LUZ E AMOR

Guia Prático para Encontrar o Seu.

DESAFIOS CRIATIVOS E FASCINANTES Aula de Filosofia: busca de valores humanos

LIÇÃO 8 Respeitando as diferenças uns dos outros

Quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo fica diferente.

- Você sabe que vai ter que falar comigo em algum momento, não sabe?

A PRÁTICA DO PRECEITO: AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

Renovação Carismática Católica do Brasil Ministério Universidades Renovadas

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro com a delegação de atletas das Paraolimpíadas de Atenas-2004

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

TESTE DE ELENCO COM UMA CENA. Por VINICIUS MOURA

Glücks- Akademie mit JyotiMa Flak Academia da felizidade com JyotiMa Flak

SAMUEL, O PROFETA Lição Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil.

22/05/2006. Discurso do Presidente da República

Dia 4. Criado para ser eterno

PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL O GUIA PARA COMEÇAR A TER SUCESSO NAS FINANÇAS

CURA ESPIRITUAL DA DEPRESSÃO

PREGAÇÃO DO DIA 08 DE MARÇO DE 2014 TEMA: JESUS LANÇA SEU OLHAR SOBRE NÓS PASSAGEM BASE: LUCAS 22:61-62

CENTRO HISTÓRICO EMBRAER. Entrevista: Eustáquio Pereira de Oliveira. São José dos Campos SP. Abril de 2011

Assunto: Entrevista com a primeira dama de Porto Alegre Isabela Fogaça

Curso 80 Aula 22 data 04/11/80 Parábola dos Trabalhadores Huberto Rohden

As 10 Melhores Dicas de Como Fazer um Planejamento Financeiro Pessoal Poderoso

APÊNDICE. Planejando a mudança. O kit correto

PERDOAR E PEDIR PERDÃO, UM GRANDE DESAFIO. Fome e Sede

Leiamos o Texto Sagrado:

Obedecer é sempre certo

Mortificando a carne, Para refletir a gloria de Deus

Tomada de decisão. O que é necessário para ser bom? Algumas dicas práticas: Por que ser bom? Como tomamos boas decisões?

MISSÕES - A ESTRATÉGIA DE CRISTO PARA A SUA IGREJA

Transcrição:

Curso 79 Aula 16 data 14/08/79 Curso: A evolução do homem em face da Bhagavad Gita e do Evangelho A Meta suprema Huberto Rohden Vamos iniciar hoje as nossas aulas sobre a evolução do homem em face da Bhagavad Gita e do Evangelho; porque esses livros explicam maravilhosamente a evolução ascensional do homem - sobretudo a Bhagavad Gita que é o livro mais antigo da humanidade. Aqui está uma edição volumosa muito ilustrada, bonita, com texto em sânscrito, que é a antiga língua da Índia, com figuração da pronúncia sânscrita, e com tradução em inglês e vasta explicação em inglês. Isto para consultar. Agora, quanto ao texto é exatamente o mesmo que está na minha tradução. Eu conferi texto por texto, não há nenhuma diferença essencial entre a minha tradução com pouca explicação, mas o texto exatamente igual a este. Parece que todos sabem que este livro é um livro de autoconhecimento e de autorrealização; ao lado de dois outros livros - ao lado do Evangelho e do Tao te King que tratam do mesmo assunto: autoconhecimento e autorrealização do homem. Mas este aqui trata de um modo diferente. Isto é muito analítico. Muito explicativo. Tudo bem concatenado um capítulo com o outro. Ao passo que o Evangelho e o Tao te King são aforismos, grandes verdades, mas sem concatenação uma com a outra. De maneira que para aula é melhor seguirmos este aqui, no princípio e mais tarde vamos completar pelo Evangelho e Tao te King. Este aqui nasceu mais ou menos 5000 anos antes da era cristã, no tempo dos Vedas. Quer dizer que podemos dizer que talvez seja o livro mais antigo da humanidade. Primeiro só existia em forma oral; de geração em geração se contava isto aqui. Mais tarde puseram em livro. Este Bhagavad Gita, quer dizer Sublime canção... Eles ainda pronunciam (...), mas, nós pronunciamos como escreve. Bhagavad quer dizer sublime. Gita é cântico, canção. Bhagavad Gita é uma pequena parte de um poema muito maior, que se chama Mahabharata. Maha é grande. Bharata é Índia. Os antigos hindus, não chamavam a Índia como nós. O rio se chamava Hindus e por causa do rio que atravessa a Índia, hoje o país ficou com o nome de Índia. Mas os antigos habitantes desse país chamavam de Bharata. E Maha é grande. E aquele poema que nasceu a Bhagavad Gita chamava Mahabharata a grande Índia. Então vamos tratar um pouco deste cântico de autorrealização que se chama Bhagavad Gita. Primeiro eu vou contar a história e depois vou ver se dou a explicação. A história contada aqui desde o primeiro capítulo é o seguinte: Num grande campo lá na Índia chamado Kurukshetra encontraram-se dois exércitos. O exército dos Pandavas ou Pandevas (aqui está escrito Pandavas) sobre a direção do príncipe Arjuna encontrou-se com outro exército dos Kurus - e começaram a travar luta feroz. Mas o príncipe Arjuna que era dos Pandavas, quando viu aquela prepotência inimiga dos Kurus, desanimou, deixou cair o arco e a flecha que então se usava (ainda não havia espingardas nem canhões) e disse: não, não vou lutar. O exército tão poderoso não pode ser derrotado. Apareceu uma entidade chamada Krishna que é uma entidade cósmica - não se sabe se jamais existiu alguém chamado Krishna ou uma personificação de uma entidade cósmica. Falou com o príncipe Arjuna e disse: empunha o arco e a flecha e luta contra teus inimigos. E o Arjuna disse: não vou lutar porque os meus inimigos são quase todos meus parentes. São meus irmãos, são meus primos, são meus mestres e meus discípulos. Eu não vou matar os meus parentes. Assim disse Arjuna desanimado diante da luta. Krishna, porém insistiu que devia lutar e derrotar os outros. O outro disse: mas eu devo matar os outros? Então vem o célebre argumento de Krishna que vai através de todo o livro. 18 capítulos. Que quer dizer matar? Quem morre não deixa de existir. Quem morre 1

continua a existir, insiste Krishna. Por isso, podes matar porque matar não é tirar a existência, é apenas destruir uma forma da existência, mas não a existência. Já começa a grande filosofia da Índia. Matar e morrer não quer dizer não existir, quer dizer, mudar de roupagem. Quando nós mudamos de roupa também não morremos, e quando nossa entidade humana muda de corpo físico também continua a existir. Este agora é o argumento que vai através de todo o livro. Até o capítulo 18. Agora, como explicar isto? Há duas explicações: uma diz Krishna exigiu de Arjuna que matasse fisicamente os seus inimigos. Isto é uma explicação muito comum até na Índia. Eu assisti há anos a uma conferência em Washington de um hindu, Swami Nikirananda, que fez uma conferência sobre a Bhagavad Gita, na biblioteca do congresso e nós fomos assistir e ele defendia a ideia, apesar de ser hindu, que Krishna mandou matar fisicamente os seus inimigos. Em geral, porém não se aceita esta matança física. Isto é uma matança simbólica. Mahatma Gandhi nunca aceitou a ideia da matança física porque ele era contra qualquer matança e contra qualquer violência. Rabindranath Tagore, o grande poeta místico hindu, também não aceita que se trata duma matança física. E muitos outros grandes mestres da Índia e do oriente dizem que aqui não se trata duma matança real. Trata-se duma matança simbólica, esotérica, mística. Que matança é essa? Aqui entra em jogo nossa célebre palavra egocídio. Aqui se trata de incorporar o nosso ego inferior ao nosso Eu superior. E isto aqui é considerado como matança. Então Krishna diz a Arjuna: quando alguém morre, nem por isso deixa de existir. Com isso ele quer mostrar que quando o nosso ego inferior é integrado no nosso Eu superior, nós não morremos - e o nosso ego também não morre. O nosso ego não morre, não. Egocídio não quer dizer a destruição do ego, quer dizer a sua incorporação, a sua integração numa forma maior de existência. E por que é que Arjuna diz: eu não posso matar os meus inimigos porque eles são todos meus parentes? Eles são meus mestres, são meus amigos, são pais e irmãos e tudo isto. Isso quer dizer que o nosso ego é parente dos nossos inimigos. É parente dos nossos inimigos porque nós temos duas faculdades: as faculdades positivas que nós chamamos o Eu superior e as faculdades negativas que nós chamamos o eu inferior. Portanto, aqui se trata duma incorporação de elementos positivos e de elementos negativos. Isto é o que hoje em dia nós chamamos de autorrealização. Porque a nossa natureza humana é composta de dois elementos complementares - aparentemente contrários, realmente complementares. O espírito não é contrário ao corpo ou à matéria. Ele tem que completar o nosso corpo. E o nosso corpo não é contrário ao nosso espírito como muitos pensam, ele tem que completar o nosso espírito. Isso tem que estar aqui em forma simbólica vamos ver futuramente estamos antecipando algumas coisas. Quer dizer, aqui se trata da realização do homem integral. O homem integral não é só alma, mas também corpo. Corpo só também não é integral. Alma só não é integral. Os dois juntos devidamente harmonizados - corpo e alma ou espírito e matéria. Esses formam o homem integral. Mas, no princípio eles se digladiam uns aos outros. No princípio não há harmonia entre o nosso espírito e o nosso corpo. Não há harmonia entre matéria e o espírito. E então estamos no caso em que Arjuna estava aqui no princípio: eu não quero travar luta, eu prefiro ser derrotado. Eu prefiro fugir. Arjuna quis fugir à luta. Ou ele quis render-se aos inimigos. E Krishna insiste: não deves fugir à luta. E não deves render aos inimigos, tu deres lutar com os inimigos e alcançar vitória. Isto é um convite para autorrealização. Não se esqueçam disso! A Bhagavad Gita é o livro mais antigo de autorrealização. O homem não se realiza só pelo espírito, nem só pelo corpo. Ele tem que descobrir o modo de fazer uma síntese entre essas duas antíteses. Porque as antíteses não são propriamente contrárias, incompatíveis, uma com a outra - não, as antíteses corpo e espírito são complementares. Um deve completar o outro para sair o homem integral, o homem cósmico, o homem perfeito. É necessário que haja perfeita harmonia entre 2

o ego que é representado principalmente pelo corpo e o Eu que é representado pelo espírito. Logo, o ego só, não é o homem completo. O Eu só, não é o homem completo. Nós não estamos aqui nem para matar o ego, nem para matar o Eu. São duas coisas erradas quando alguém quer afirmar somente o seu ego. É o erro dos erros mais comum no mundo. Outros - alguns místicos que fogem para a solidão, para as cavernas dizem: não, eu não quero saber nada do meu ego: do meu ego físico eu não quero saber nada. Do meu ego intelectual não quero saber nada, eu não vou estudar. Do meu ego emocional também não quero saber nada, não quero ter afeições, emoções. Eu quero viver só para Deus no espírito. Isto é isolamento do Eu sem o ego. Isolamento do espírito longe do corpo. Bem, quem tem vocação para isso faça, mas o grosso da humanidade não pode fazer isto. Mas o erro mais comum não é abandonar o corpo a favor do espírito, mas é mais comum abandonar o espírito a favor do corpo, sobretudo aqui no ocidente. O ocidental trata muito mais do seu ego do que do seu Eu. O oriental gosta de tratar muito do seu Eu espiritual e alguns tratam muito pouco do seu ego material, do seu ego. Ultimamente as coisas mudaram lá na Índia. Mas no fundo da alma hindu está esta ideia. O espírito é que é valioso, o corpo não vale nada. E aqui no ocidente nós tratamos o contrário. O corpo é que vale tudo. O espírito não vale nada. Agora temos que fazer a harmonia entre os dois hemisférios da humanidade, porque a humanidade está dividida em dois hemisférios: os espiritualistas do oriente e os materialistas do ocidente. Eu não digo que todos os ocidentais sejam materialistas, mas prevalece aqui no ocidente a ideia material. Também não digo que todos os orientais sejam espiritualistas, nem todos são, mas o grosso da ideologia oriental é. O espírito é tudo e a matéria não vale nada. Agora vem a Bhagavad Gita que é livro oriental, nasceu na Índia e não afirma nem a teoria oriental, nem a teoria ocidental. Isso é estranho nesse livro. Nós esperaríamos que ele afirmasse somente o espírito e negligenciasse tudo que não é espiritual: material, mental e emocional... Não faz. Há um perfeito equilíbrio aqui na Bhagavad Gita entre os componentes da natureza humana. Entre componente espiritual que nós chamamos alma e o componente material que nós chamamos corpo. Do corpo também faz parte a inteligência e as emoções porque o ego é composto de físico, mental e emocional. E o Eu é quase somente espiritual. Então, aqui temos a grande síntese entre as duas antíteses. E isto é explicado desde o primeiro até o 18 o capítulo, através dum diálogo entre Krishna e Arjuna. Nós podemos compreender Krishna do seguinte modo: Krishna é o Eu plenamente realizado - um homem altamente espiritual. Arjuna é um homem realizando e realizável, mas ainda não realizado. Quer dizer, está em caminho da autorrealização, mas ainda não chegou ao termo da autorrealização. Então, a conversa se trava entre um homem plenamente realizado, Krishna, e um homem realizável - talvez realizando e desejoso de se realizar, mas que encontra muitas dificuldades. E todo o livro trata das dificuldades e das soluções - dificuldades que é necessário enfrentar em face da autorrealização. Hoje em dia nós falamos muito em autorrealização e nós pensamos que a palavra veio da Índia, porque 50 anos atrás ninguém falava em autorrealização. Não se escreviam livros sobre autorrealização. Depois veio a invasão da Índia que começou depois da 1 a guerra mundial e continuou na 2 a guerra mundial. Veio uma verdadeira invasão da filosofia oriental, altamente espiritual, para o ocidente. E o ocidente abriu os olhos para essa alta novidade. Nós não sabíamos nada sobre autorrealização aqui no ocidente. E agora vêm esses mestres da Índia e falam que a gente se deve autorrealizar através do autoconhecimento. E o autoconhecimento quer dizer meditação. Dizem os mestres então: não se pode chegar à perfeição (autorrealização que é perfeição humana) a não ser através do autoconhecimento. O autoconhecimento é a resposta à eterna pergunta: que sou eu? Que é o homem? Eu digo que e não quem. Nos livros está 3

geralmente, quem, mas é melhor dizer que. Porque quem é uma pergunta social. Que é uma pergunta metafísica. Se alguém pergunta, quem é você? Você tira a sua carteira de identidade e mostra quem é você. Você é filho de tais pais, nasceu em tal lugar, em tal data e todo mundo sabe quem você é. O governo se contenta com isso. A polícia também não quer saber nada, senão só isso. Quer saber quem cada um é. Quando a gente viaja de avião tem que apresentar a carteira de identidade, porque a polícia quer saber quem é que vai embarcar nesse avião. Não quer saber que, quer saber quem. Mas, nós na filosofia não temos nada a ver com quem. A nós não nos interessa carteira de identidade aqui. A nós nos interessa outra coisa. Que é a minha verdadeira natureza humana? Que sou eu? Muitos respondem: eu sou um corpo. Outros respondem: eu sou o espírito. E poucos chegam a concluir que eles não são nem o corpo, nem o espírito; que eles são uma perfeita harmonia entre esses dois elementos. Entre o ego que nós geralmente chamamos o corpo e o Eu. Quer dizer, aqui está a resposta através de 18 capítulos sobre a eterna pergunta da humanidade. É a pergunta mais antiga da humanidade: que sou eu? Sou eu apenas corpo? Sou eu apenas inteligência? Sou eu apenas emoção? Sou eu apenas o espírito? Agora temos que fazer a síntese entre todas essas antíteses. Então a pergunta é: que sou eu? E todo o colóquio que aqui se trava entre Arjuna, o discípulo e Krishna, o mestre - entre o realizando Arjuna e o realizado Krishna, gira em torno desta única pergunta da humanidade. Que a coisa mais importante é saber que é que nós somos. Não quem, que é pergunta social, mas que. Esta pergunta veio da Índia milhares de anos antes da era cristã, passou da Índia para a Pérsia, da Pérsia para o norte da África, Alexandria que era o grande centro de filosofia antiga (havia a maior biblioteca do mundo, hoje é um montão de ruínas). Mas naquele tempo era o centro de filosofia do ocidente. Da Alexandria a filosofia passou para a Europa, para Atenas. E desde então a filosofia grega era a grande filosofia da época do princípio do império romano. Em Atenas, os gregos acharam tão importante essa pergunta, que sou eu - que construíram um santuário de iniciação para o homem saber o que ele é. O santuário de iniciação está na cidade de Delfos, e na fachada do templo de Delfos estão duas palavras em grego: Gnôth seautón! nós temos que fazer mais do que duas em português. Conhece-te a ti mesmo! Isto estava escrito na fachada do Santuário de iniciação de Delfos. Conhece-te a ti mesmo! Quer dizer, os gregos acharam o mais importante da vida humana, saber o que nós somos. Não se confundir com o corpo, nem com o puro espírito, mas fazer de ti uma perfeita síntese entre corpo e espírito. Depois da Grécia a filosofia da autorrealização que estava gravada na fachada do templo de Delfos, passou para todo o resto da Europa e muitos filósofos europeus e mais tarde para cá do Atlântico (em que estamos agora) pegaram a mesma pergunta. E hoje em dia é quase uma pergunta universal. Quase a pergunta básica de toda a filosofia porque a filosofia não gira em torno de objetos. A filosofia só gira em torno do sujeito. A ciência trata de objetos. A filosofia não trata de objetos. Trata do sujeito humano. A ciência é cosmocêntrica e a filosofia é antropocêntrica. Antropos é a palavra grega para homem. E cosmos é a palavra grega para mundo. A ciência gira em torno de todas as coisas do mundo, do cosmos. E a filosofia gira em torno do antropos, do homem. O que é o homem esse desconhecido, como escreveu Alex Carrel: O homem esse desconhecido. Quer dizer, o homem para nós parece eterno desconhecido. Como é que é desconhecido? Nós não temos carteira de identidade? Não adianta nada. Carteira de identidade na filosofia não vale nada. E nós não temos livro sobre a fisiologia humana? Isso não dá conhecimento. Não temos livro sobre psicologia humana? Não dá solução. Tudo isto é muito bom para a ciência, mas não vale para a filosofia. A filosofia não quer saber quais são os nossos invólucros, as nossas embalagens. As nossas embalagens são do nosso ego físico, do nosso ego mental e do nosso ego emocional. São embalagens, são invólucros. Mas não é o centro. 4

A filosofia quer sempre saber qual é o seu verdadeiro centro. O último reduto da natureza humana o que é? É corpo? É mente? São emoções ou é espírito? O centro é espiritual que está cercado de diversos invólucros não espirituais, mas que podem ser espiritualizados. De maneira que todo este livro gira em torno da pergunta mais importante da filosofia de todos os tempos: saber o que é que nós somos na realidade. Alguém pode pensar: agora vou estudar para ter autoconhecimento. Não adianta só estudar porque estudar é uma função da nossa inteligência. Mas a inteligência nunca vai descobrir o que nós somos. Psicologia não é autoconhecimento, porque psicologia se refere ainda aos nossos invólucros, às nossas embalagens. E não se refere ao nosso verdadeiro centro. De maneira que só estudar não dá autoconhecimento. Pode ser um prelúdio. Mas não pode ser a solução final. Parte II Além de estudar que é uma função mental da nossa inteligência, precisamos fazer ainda muitas outras coisas para chegar à conclusão da nossa verdadeira natureza. Não só devemos fabricar pensamentos, que é estudar. Devemos também receber mensagens cósmicas. É um movimento de cá para lá e outro movimento de lá para cá. Um movimento do aquém para o além e outro movimento do além para o aquém. Vamos dizer, não devemos ser somente egopensantes, egoviventes, egodirigentes, devemos também ser cosmopensados, cosmovividos, cosmoagidos - e aqui começa a nossa dificuldade. Vamos representar isto numa forma gráfica. Eu imagino que isso seja cada um de nós. Quando pensamos fazemos mais ou menos isto (fig. 1), andamos ao redor de nós. Um círculo ao redor. Isto é pensar - de ego para ego. Mas se recebêssemos uma mensagem de fora para dentro de nós (fig. 2), isto seria cosmopensado, cosmoagido e cosmovivido. Seriam dois movimentos diferentes. E assim, quando o místico entra na sua mística, ele se esquece de tudo isso. Ele apaga todas as periferias e fica só no seu centro. Isola no seu centro. O místico isolacionista não o homem completo, não o homem integral. Isso não é o homem integral. Se ele se tornasse o homem integral ele entraria no seu centro, mas de dentro do seu centro ele ia irradiar para todos os lados a sua atividade (fig. 3). Assim seria o símbolo do homem integral. Quer dizer, periferia e centro - e tudo isto combinado... Um centro do Eu em contato permanente com todas as periferias do nosso ego. Isso seria o homem plenamente realizado. E disto é que trata a Bhagavad Gita. A Bhagavad Gita não diz: você deve realizar-se somente pela meditação, somente pelo silêncio e isolamento numa caverna do Himalaia, como fazem alguns iogues - isto é o princípio. É o 1 o passo para autorrealização. Mas não é o último passo. Quem vai só na periferia ainda é completo analfabeto de autorrealização. Não sabe nada. Não deu nem o 1 o passo. Quem vai para o seu centro e fica lá isolado deu o 1 o passo. O passo mais importante é entrar no seu centro. Isso é o que nós chamamos meditação. A consciência do seu centro é o 1 o passo para autorrealização. Mas não é ainda a realização completa. Depois ele deve agir de dentro do seu centro para todos os setores externos. Para o setor físico, setores intelectuais, setores emocionais da sua vida. Então ele faz por uma autorrealização completa. Tudo isso que estou dizendo nós vamos ver depois nos diversos capítulos. Explicar um por um como a Bhagavad Gita compreendeu que o homem não é completo nem no seu ego periférico, nem no seu Eu central. Ele não é completo. Ele é somente completo quando ele sabe unir na sua própria vida o seu centro com as suas periferias. Quer dizer: viver além de 5

ser. O ser é o centro. O viver é a periferia. Ele deve viver de acordo com o seu ser. O nosso ser é aqui. O nosso viver é aqui fora. Viver é fazer e dizer, tudo isto faz parte do viver. Então, a entrada no centro chama-se autoconhecimento. O movimento para dentro do centro se chama autoconhecimento. Isto se pode fazer na meditação. Mas a meditação não realiza o homem integral. A meditação é o 1 o passo; de dentro desse centro se pode realizar as periferias. Podemos usar três palavras. A autorrealização supõe três coisas: egresso, ingresso e regresso. Primeiro eu tenho que egredir. Sair fora das minhas periferias. Eu tenho que deixar fora as minhas periferias... Egredir. Eu tenho que fazer um egresso da minha consciência física, da minha consciência mental, da minha consciência emocional... Porque isso são periferias. Eu tenho que egredir. Depois eu tenho que fazer um ingresso - ingredir para dentro do meu centro espiritual. E depois de ingredir no meu centro espiritual eu devo regredir para as periferias. Mas vocês perguntam: o regredir não vai anular o ingredir? Não parece uma apostasia, uma negação de tudo? Não, regredir não quer dizer abandonar o centro... Abandonar o centro e voltar para as periferias. Isto não é regredir. Regredir é firmar-se no centro com toda consciência e agir nas periferias. Estar firme no centro e agir em todas as periferias. Nas periferias físicas, no trabalho físico, nas periferias mentais, pela ciência, e nas periferias emocionais, pelos nossos amores e afetividades. Isso é regredir. Unir o centro com todas as periferias. Isto é o regresso do centro para as periferias. De maneira que essas três palavras formadas de gredir, de gresso, quer dizer passo, representaria o homem integral. O 1 o passo é sempre de fora para dentro. O 2 o passo é de dentro para fora. Mas entre os dois passos há uma consciência do centro que não se perde mais. Se alguém não se firmou bem no seu centro, se ele não conscientizou bem que sou Eu, se não tem a consciência da sua alma, do seu espírito, do seu Eu central, ele não pode regredir às periferias sem perigo. Porque ele vai renegar o seu centro. Uma apostasia muito perigosa. De maneira que muitas vezes perguntam: eu queria viver isolado num Ashram, a gente se pode isolar eternamente num Ashram? (que é um lugar de meditação longe da cidade, que em sânscrito se chama Ashram), e se eu morasse eternamente num Ashram sem nenhum contato com a sociedade humana, com essa perversa sociedade humana, então eu não seria um homem perfeito? Isto muitos pensam. Isto é escapismo. Para nós isto é escapismo, fuga. Ele quer fugir do campo de batalha, que é aqui fora. E isolar-se num lugar silencioso, junto com Deus e nunca mais voltar ao campo de batalha. Isto é escapismo. Isto nós não praticamos. A meditação não tem o fim de ser escapista. Nem o retiro espiritual de três dias não deve favorecer a ideia do escapismo. Nós só fazemos meditação temporária - aqui toda 2 a feira, e de vez em quando, três vezes por ano fazemos um retiro espiritual de três dias completos de silêncio e meditação. Depois, porém, voltamos para o campo de batalha. Então, porque é que fomos lá para o Ashram, para a solidão? Isto é para carregar a bateria. Se a bateria está muito descarregada a gente tem que ligá-la outra vez com a usina e carregar outra vez. E depois a gente pode soltar as energias que estão acumuladas na bateria e funciona porque está carregada. Mas quando está muito descarregada ela não funciona mais, então tem que carregar outra vez numa fonte, numa usina onde o gerador produz a eletricidade. Exatamente isto é que nós ensinamos. Temos que sair das periferias onde gastamos as nossas energias espirituais. Porque em contato com o mundo profano é difícil a gente conservar integralmente as energias espirituais. Muita dispersão. Muita profanidade por toda parte. Não podemos evitar isso. Temos que viver no meio da sociedade. Mas, de vez em quando nos voltamos para a fonte das energias e nos esquecemos inteiramente de todas as periferias. Durante a meditação, durante o retiro espiritual ninguém deve pensar nos seus negócios, nem na fábrica, nem na escola, nem na família, nem nos seus estudos. Não deve pensar em nada disto. Deve isolar-se na consciência espiritual. Deve isolarse no infinito. O infinito é o centro. Isolar-se em Deus. 6

Três dias geralmente nós fazemos isto. Desde 4 a feira até domingo. Se alguém faz bem este ingresso dentro da sua própria alma, ele pode fazer o regresso sem correr perigo de naufrágio espiritual lá fora. Porque se alguém não está firmemente consolidado no centro, no ingresso, aí ele sucumbe facilmente às materialidades e as intelectualidades da periferia. Tudo isso que eu estou dizendo, vocês vão ver explicado aqui na Bhagavad Gita através do colóquio de Arjuna com Krishna; através do homem realizado e do homem realizando, que é Arjuna. E lá vem tudo detalhado, minuciosamente. E se fizer isso, e se não puder fazer isso, tudo vem bem explicado aqui na Bhagavad Gita. Nós vamos analisar alguns capítulos para mostrar que esse livro é o maior livro de autoconhecimento e de autorrealização. Ao lado deste como já disse, temos outros livros. O Evangelho também não faz outra coisa, mas não faz em forma de análises como a Bhagavad Gita. O Tao te King também faz o mesmo, mas também não faz em forma de análise. Ele faz em forma de aforismos, de frases soltas, sem concatenação uma frase com a outra. Então para nós, para estudar, é mais fácil a Bhagavad Gita do que o Evangelho e o Tao te King. Depois de termos facilidade no egresso, no ingresso e no regresso, aí podemos ver com muito proveito o Evangelho e o Tao te King. E vamos ver que todos concordam. Todos ensinam a mesma coisa. A gente tem que se isolar temporariamente longe da periferia para dentro da fonte. E depois, levar consigo as energias da fonte e aplicar nas periferias. Isto é o que está maravilhosamente explicado nesses 18 capítulos da Bhagavad Gita - na conversa de Krishna e Arjuna. Por isso, aquela explicação que Rabindranath Tagore e Mahatma Gandhi e muitos outros dão é a única explicação que podemos aceitar. Aqui se trata duma luta entre o nosso Eu central e o nosso ego periférico. Primeiro a luta é derrota quase sempre do Eu e vitória do ego. O ego quase sempre derrota o nosso Eu. As nossas periferias profanas derrotam o nosso Eu espiritual no princípio. E por isso nós temos medo de meditar porque estamos com medo de sermos derrotados. Pouco a pouco à medida que vamos prosseguindo na luta cresce a força do nosso Eu central, de maneira que o nosso ego periférico não pode mais prevalecer contra o nosso Eu central. Isto é questão de experiência. Vocês não pensem que isso seja uma técnica. Muitos dão uma importância à técnica. Eles pensam que há uma certa técnica. Como nós vivemos no tempo da tecnologia, tudo tem que ser técnica. No computador a gente coloca uma tal ficha e sai aquilo, mas nós não podemos ser computadores. Não há propriamente técnica na autorrealização. Há algumas técnicas preliminares que a gente pode usar. Por exemplo: música é muito favorável para prelúdio de meditação, mas, não para acompanhamento. Nós não acompanhamos a meditação com música. Agora, fazer antes - isso é favorável para criar ambiente. Para criar uma disposição propícia para a concentração, certas músicas, não todas o nosso Hino à Brahma é muito próprio, a Ave Maria de Schubert é muito própria para fazer ambiente de concentração. Se a gente esquece pouco a pouco das periferias do mundo externo e vai se concentrando cada vez mais num ponto único do mundo interno... Essas músicas são uma espécie de técnica, por isso é bom usar. Certos mantras como usam no oriente são técnicas, mas não devem ser usados durante a meditação. Isso distrai. Podem ser usados antes. A repetição de certas palavras sagradas que eles usam muito na Índia - os nossos livros (no Evangelho) estão cheios dessas palavras sagradas. Eu e o Pai somos um isso é um verdadeiro mantra. O Pai está em mim e eu estou no Pai. Isso são verdadeiros mantras que estão no Evangelho. Isso pode ser usado. Agora o principal não é o prelúdio, nem são os mantras. O principal na meditação é sempre o seguinte: durante a meditação que é autoconhecimento o nosso ego tem que ser reduzido a zero para que o nosso Eu possa subir a 100. Temos que ficar egoesvaziados para sermos cosmoplenificados (Palavras que eu uso para isto). Se eu consigo esvaziar-me do conteúdo do meu ego humano, se eu não faço nada, se eu não falo nada, se eu não penso nada, 7

se eu não quero nada durante meia hora, mas fico plenamente consciente (cuidado porque aí há o perigo da gente cair no transe; muitos caem no transe, auto-hipnose e pensam que é meditação). É perigoso! Porque se eu não penso mais nada, se eu não quero mais nada, se eu não falo mais nada... Quase sempre caímos em transe. Uma espécie de auto-hipnose. Não dá efeito nenhum porque isto não é autorrealização. É descer ao subconsciente em vez de subir ao supraconsciente. Isto não leva ao fim. Então, enquanto nos esvaziamos dos conteúdos do nosso ego humano temos que manter perfeitamente acordada a nossa consciência superior, o nosso Eu espiritual. Ser consciente sem pensar nada. Quando eu digo isto a certas pessoas principiantes elas dizem: mas não pode ser, ser consciente sem pensar nada... É um círculo quadrado. Não se pode fazer um círculo quadrado. Porque eles dizem: quando eu não penso, então eu não sou consciente. Isto é engano dos principiantes. E quando eu sou consciente eles dizem, então eu penso. Então, pouco a pouco ele aprende: eu posso ser 100% consciente de mim mesmo e 0% pensante. Eu posso ser 100 consciente, sem nada pensar. Isto é uma grande descoberta que alguns fazem pouco a pouco. No princípio é difícil de compreender. Isto então é a verdadeira meditação. A concentração é ainda mental. Depois do mental vem a meditação que já não é mental já é ultramental. Tudo isto está escrito nesse livro da Bhagavad Gita que é a quintessência do autoconhecimento e da autorrealização. Autoconhecimento não quer dizer pensar em si. Autoconhecimento quer dizer fazer uma abertura para que algo possa entrar em mim. Eu faço a seguinte comparação: você quer luz solar no seu quarto escuro... No quarto completamente às escuras, em pleno meio dia. Você quer fazer luz solar no seu quarto. Você não pode fabricar luz solar. Mas você pode ter luz solar no seu quarto, como? Você abre a janela, se tem uma janela opaca fica escuro. Então você abre a janela opaca e imediatamente o quarto fica inundado de luz solar. Mais ou menos assim é que nós entendemos. Quando nós nos esvaziamos do nosso ego humano, a luz solar do nosso Eu superior invade o nosso ego humano porque nós abrimos uma janela. Retiramos uma obstrução opaca, removemos um obstáculo e automaticamente a luz solar entra no quarto porque encontrou uma abertura. Para fazer meditação não se deve pensar, mas fazer abertura, criar um ambiente de receptividade, então acontece infalivelmente a cosmoplenificação. Nós sempre temos a impressão de que essas coisas vêm de fora de nós. Quando nós dizemos cosmoplenificação, nós logo pensamos na via-láctea número 1 ou número 3, não tem nada que ver com vias-lácteas. Não tem nada que ver com cosmos externos. A cosmoplenitude vem de nosso cosmos interno, vem do nosso centro. O nosso centro é que é cósmico aqui. Nós somos invadidos do centro para periferia. A invasão é de dentro para fora e não de fora para dentro. O difícil para nós é esvaziarmo-nos completamente de qualquer pensamento e de qualquer emoção. É difícil para os principiantes. Se vocês querem fazer experiência, façam 5 minutos no princípio. Se forem capazes de ficar 5 minutos plenamente conscientes de si sem ter nenhum pensamento... Vão ver como é difícil porque os nossos pensamentos são muito rebeldes, não nos obedecem. Fazem o que eles querem. Pior ainda, as nossas emoções, as nossas afetividades, invadem tiranicamente nós não temos poder sobre nossos pensamentos. Nem temos poder sobre as nossas emoções. Os pensamentos nos invadem, as emoções nos invadem sem licença nossa. Então, pouco a pouco a gente põe disciplina nesses pensamentos e os pensamentos se veem obrigados a obedecer. Não vou ter o pensamento que não quero ter, e não terei. Isso é uma tremenda disciplina mental. É ioga, raja ioga. Mas, isso leva tempo para impor disciplina aos nossos pensamentos. E para impor disciplina às nossas afetividades, aos nossos amores e aos nossos ódios, às nossas esperanças, aos nossos desesperos! Tudo isso são emoções. Pouco a pouco conseguimos disciplinar os pensamentos e as emoções - e então estabelecemos abertura 8

dentro de nós mesmos. E quando há uma perfeita abertura, quer dizer, quando não há mais nenhum pensamento rebelde e nenhuma emoção rebelde, então somos invadidos por uma força que parece vir de fora. Nós sempre imaginamos Deus lá fora, do outro lado das nuvens. Mas não é uma força que vem de fora, é uma força que vem de dentro. Somos invadidos pelo nosso próprio cosmos interno, pelo nosso Deus interno, pelo Pai que está em nós, pelo nosso Cristo interno. Quer dizer, isto é uma grande arte. E quando conseguimos aprender esta arte de disciplinar pensamentos e emoções e deixarmos nos invadir pela alma do universo - que não vem de fora, mas vem de dentro de nós mesmos - então a nossa vida entra num novo setor. Temos firmeza, segurança, tranquilidade, perfeita felicidade, aconteça o que acontecer lá fora. Podemos sofrer, sofrer, porque não podemos evitar isto; apesar disto não somos infelizes. Somos felizes, tranquilos, serenos e calmos no meio de qualquer sofrimento. É uma grande vantagem conseguir isto pouco a pouco. E toda felicidade começa com autoconhecimento e termina com autorrealização. E isto está tudo neste pequeno livrinho de 18 capítulos que nós veremos futuramente. 9