Traços Modernos para a Arquitetura Educacional: Uma análise do projeto do Instituto de Educação Antonino Freire, de Antonio Luiz Dutra



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Transcrição:

Traços Modernos para a Arquitetura Educacional: Uma análise do projeto do Instituto de Educação Antonino Freire, de Antonio Luiz Dutra Autores: Henrique Gomes DO CARMO*, Nelcia Beatriz Fortes DA COSTA a *Arquiteto Urbanista (Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais Professor Camillo Filho - ICF / 2009) Rua Major Manoel Lopes, 1726, Morada do Sol. Teresina-Piauí. CEP: 64.056-570. Telefones de contato: 00 55 86 32334820 / 00 55 86 94261020. E-mail: hgomes.arq@hotmail.com a Arquiteta Urbanista (Universidade Federal do Piauí UFPI / 2009) Rua Pedro Vasconcelos, 1739, Bairro dos Noivos. Teresina-Piauí. CEP: 64.045-904. Telefones de contato: 00 55 86 32339064 / 00 55 86 88219064. E-mail: nelciabeatriz@hotmail.com

Resumo Este trabalho trata do estudo e documentação do prédio que abriga atualmente o Instituto Superior de Educação Antonino Freire, em Teresina, Piauí, um importante exemplar da arquitetura produzida na cidade nas décadas de 60 e 70 do século XX. Projetado pelo arquiteto mineiro Antonio Luiz, o edifício, inicialmente denominado Instituto de Educação Antonino Freire, é classificado como Institucional e Educacional e apresenta características próprias da Arquitetura Moderna, devido à formação acadêmica do autor, pertencente à Escola Carioca. Por sua importância histórica, objetiva-se apresentar um conteúdo detalhado da história do edifício, desde sua concepção, etapas de projeto e construção; até a contemporaneidade, com as alterações e ampliações posteriores, bem como seu atual uso. Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Escola Carioca, Instituto de Educação. Abstract This work deals with the study and documentation of the building that currently houses the Antonino Freire Institute of Education, in Teresina, Piauí, an important example of architecture produced in the city in the 60s and 70s of the twentieth century. Designed by architect Antonio Luiz, who was born in Minas Gerais State, the building, originally named Antonino Freire Institute of Education, is classified as Institutional and Educational and features Modern Architecture characteristics, because of the author's academic background, belonging to the Escola Carioca. Given the historical importance of this building, this work reports a detailed content of the building's history, from its conception, through design, construction, until nowadays and its current use. Keywords: Modern Architecture, Escola Carioca, Institute of Education.

1. Introdução O presente trabalho apresenta conteúdo descritivo e analítico sobre edifício público situado em Teresina, Piauí, ocupado pelo Instituto Superior de Educação Antonino Freire, projeto do início da década de 1970 realizado pelo arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo. O edifício em estudo consiste em um marco da arquitetura local e do desenvolvimento cultural e educacional da capital, sendo projetado para abrigar o então Instituto de Educação; antiga Escola Normal, criada no início do século XX como instituição de formação de professores. Objetiva-se, com o conteúdo exposto, demonstrar a importância dessa edificação para a história local, como parte do acervo moderno teresinense, que por muitas vezes é ignorado, sendo demolido ou descaracterizado, por falta de conhecimento em relação à relevância da arquitetura recente para a memória sócio-cultural de Teresina. 2. Arquitetura Moderna no Piauí A Arquitetura Moderna produzida no Brasil apresenta uma identidade própria, já que não se tratava de uma cópia daquilo que vinha sendo produzido em outros países. Conceitos ensinados por Le Corbusier foram incorporados pelos arquitetos brasileiros juntamente com o ideal de uma expressão cultural própria, com a valorização das raízes e da história nacional. A partir dos anos 1930, o governo federal passou a solicitar uma grande quantidade de edifícios institucionais, o que criou oportunidades para os arquitetos recém-formados de orientação Moderna. O diferencial dessa arquitetura, preocupada com a proteção solar e com a plasticidade, foi notado em escala mundial, o que contribuiu para reafirmar a idéia de progresso pretendida pelo governo da época. O arquiteto Lúcio Costa, de formação acadêmica carioca, foi o grande difusor teórico da arquitetura composta por materiais modernos e tradicionais que, empregava elementos da arquitetura luso-brasileira, respeitando a escala local, com seus valores, cultura e clima particular. Dessa forma, no Brasil, não houve a predominância da Arquitetura Internacional, mas uma mescla da Arquitetura Moderna com elementos locais tradicionais, como venezianas, muxarabis, azulejos, cobertas em telha canal e cobogós. No Piauí, a capital, Teresina, situa-se no noroeste do estado e foi fundada em 1852. O estilo arquitetônico adotado na edificação da cidade foi predominantemente o ecletismo, que predominou até meados do século XX, sendo as construções realizadas a partir de projetos importados ou da cópia de revistas e publicações da época. Durante o governo de Leônidas de Castro Melo (1935-1945), houve a construção das primeiras obras compostas por volumes puros da capital, seguindo o estilo Art Decó, como o edifício do Liceu Piauiense (1936), atual Colégio Estadual Zacarias de Góis, e o Hospital Getúlio Vargas (1941). Contudo, Teresina, ainda consistia em uma cidade com

poucas ruas calçadas e com a produção de poucas obras públicas. Na Segunda Guerra Mundial, com a exportação da cera de carnaúba, o Estado ampliou o aparelho burocrático, oferecendo mais serviços e realizando obras de infraestrutura econômica e social. Nos anos 1950, no período pós-guerra, o setor privado foi o que mais se desenvolveu, com a construção de várias residências no estilo Moderno, advindo das observações das famílias de maior poder aquisitivo após viagens realizadas para cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife. A Arquitetura Moderna veio a ganhar mais força no Piauí, a partir da década de 1960, com a construção de projetos dos arquitetos Anísio Medeiros (piauiense, graduado pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro), Antonio Luiz Dutra de Araújo (mineiro, graduado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro), Miguel Dib Caddah (carioca, também graduado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro) e ainda Acácio Gil Borsoi (arquiteto carioca, radicado em Recife). Já na década de 1970, durante o governo de Dirceu Arcoverde (1975-1979), foram inauguradas várias edificações públicas no estado: centros administrativos, bancos, escolas, etc. Dentre os edifícios públicos construídos no início dos anos 70, está o Instituto de Educação, em Teresina, projeto elaborado pelo arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo, e tema do presente trabalho. 3. O Arquiteto Antonio Luiz Dutra e a Maloca O arquiteto Antônio Luís Dutra de Araújo nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais em setembro de 1935. Sua história no ramo da arquitetura iniciou-se na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, onde se graduou em fevereiro de 1962. Enquanto estudante, Antonio Luiz trabalhou como desenhista numa fábrica de elevadores desenhando espaços com pouco mais de 1,00m². Foi quando Dr. José de Magalhães Pinto, padrinho de sua irmã e dono do Banco Nacional de Minas Gerais S/A, conseguiu que ele fosse trabalhar como projetista no Departamento de Engenharia do banco, sediado no Rio de Janeiro, onde começou a fazer os primeiros projetos, sob a orientação do chefe do setor, o arquiteto Marcio de Miranda. No mês seguinte a formatura, foi promovido a arquiteto do Banco. Assim, permaneceu no Rio de Janeiro com a família até 1968, quando se mudou para Teresina; embora, desde 1964 já visitasse a cidade como arquiteto do Banco Nacional de Minas Gerais S.A., época em que veio fazer um levantamento para implantação da primeira agência nesta capital. O convite para fixar-se em Teresina ocorreu após a conclusão do projeto de reforma, quando retornou a Teresina para contratar o executor da obra. Nessa época, conheceu Lourival Parente, recém-formado em Engenharia em Belo Horizonte, a quem confiou a

tarefa. Surge dessa amizade o convite para que Antonio Luiz trocasse a Cidade Maravilhosa pela Cidade Verde, o que ocorreu no dia 18 de abril de 1968. Antes da mudança de cidade, Antonio Luis deixou o Banco e fundou no dia 15 de janeiro de 1965 o escritório Maloca Arquitetura e Decoração Ltda., em parceria com o arquiteto Marcio de Miranda Lustosa. O escritório funcionou no Ed. Avenida Central, localizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro e ao mudar-se para Teresina, após comprar a parte de seu sócio, decidiu abrir uma filial. Encerrando as atividades na capital carioca, a filial teresinense tornou-se Sede da Empresa; atual Maloca Arquitetura e Estruturas Ltda. (Fig. 1), que realizou projetos das mais variadas tipologias no Piauí como clínicas, hospitais, edifícios institucionais, edifícios comercias, agências bancarias, residências etc. Fig. 1: Maloca. (Foto: Arquivo pessoal do arquiteto Antônio Luiz) 4. Instituto de Educação 4.1. Histórico da Instituição A história do Instituto de Educação Antonino Freire constitui parte importante da história de Teresina; já que, fundado há 100 anos nasceu como Escola Normal e durante décadas foi responsável pela formação de docentes do Piauí. Inicialmente, surgiu em Teresina a Sociedade Auxiliadora da Instrução, da qual se originou a Escola Livre, onde os professores lecionavam gratuitamente. Em 1915, a escola passou a ser denominada Escola Normal Antonino Freire em homenagem ao governador que a criou. No ano de 1973, a Escola Normal foi transformada em Instituto de Educação, mudando

de endereço, antes na Praça Marechal Deodoro, para sua sede atual, na Praça Firmina Sobreira, bairro Matinha, na zona norte de Teresina (Fig.2). Fig. 2: Inauguração do Instituto de Educação, em 1973. (Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto Antônio Luiz) Em 2005, um projeto de lei do Governo do Piauí elevou o Instituto de Educação à condição de Instituto Superior de Educação Antonino Freire - Centro Integrado de Formação de Profissionais na Educação (ISEAF). Atualmente, o ISEAF oferece os cursos do Normal Superior, Pro - Infantil (para professores do ensino infantil), Prófuncionário (voltado para servidores públicos estaduais e municipais com cursos profissionalizantes), além de cursos de especialização. 4.2. Projeto Arquitetônico O projeto arquitetônico do Instituto de Educação Antonino Freire data do ano de 1973 e ocupa um amplo espaço em frente ao Cemitério São José, localizado no centro-norte da cidade de Teresina. Na época, escassez de dinheiro muitas vezes impedia a execução completa de um projeto de obra pública. Contudo, não havia impedimento para que o mesmo pudesse ser desenhado integralmente, ou parcialmente, apenas com áreas demarcadas na implantação, para as futuras ampliações. Adotou-se, portanto, uma arquitetura modulada, preceito típico da Arquitetura Moderna, e distribuída em blocos, em terreno com espaço para construção, em etapas, de todo o complexo (Fig. 3).

Fig. 3: Localização do Instituto de Educação: Praça Firmina Sobreira. (Fonte: Google Earth) O programa de necessidades segue a programação básica de instituições educacionais, apresentando-se bem definido. É distribuído num total de quatro blocos interligados através de acessos cobertos, além de auditório e setor esportivo. O bloco I (com dois pavimentos, abriga administração e funções de apoio no térreo, com laboratórios e biblioteca no primeiro pavimento), o II (também possui dois pavimentos; sendo o térreo ocupado por cantina, baterias sanitárias e recreio coberto, e o primeiro pavimento, por salas de aula), III e IV(ocupados exclusivamente por salas de aula, com possibilidade de ampliação, com um segundo pavimento) foram executados conforme o projeto. O bloco I tem sua fachada principal voltada para a Praça Firmina Sobreira, tornando-se, pois, a fachada principal de todo o conjunto. Os demais blocos (II, III e IV) são paralelos entre si e perpendiculares ao primeiro. O acesso de serviços e estacionamento para funcionários encontra-se nas laterais, contribuindo dessa forma, para a um fluxo bem definido (Fig. 4).

(A) Planta baixa do térreo. (B) Planta baixa do 2 pavimento. Fig. 4: Planta baixa do térreo e do 2 pavimento do conjunto (Redesenho dos autores)

O Instituto de Educação foi inaugurado com apenas parte de sua estrutura física, ficando para mais tarde a construção de um auditório e setor esportivo, composto de quatro quadras abertas, vestiários, piscina, bar e um ginásio coberto. No que diz respeito às soluções de conforto térmico, todos os prédios ficam com suas circulações horizontais voltadas para noroeste, o que garante uma proteção térmica razoável nas salas (Fig. 5). Outro detalhe relativo à proteção contra o calor são as fendas que eliminam o ar quente, que normalmente fica aprisionado entre a cobertura e a laje de forro, aquecendo o interior das salas (Fig. 6). Fig. 5: Proteção térmica proporcionada pela circulação. (Foto: Autores) Fig. 6: Ventilação da cobertura. (Redesenho dos autores)

A solução em blocos distintos apresenta também a vantagem de permitir a ventilação cruzada, amenizando a temperatura interna. O ar entra pelas janelas abertas ou pelas venezianas das folhas fixas (quando as folhas envidraçadas estão fechadas) e sai pelas aberturas, junto ao teto, na parede oposta ou vice-versa (Fig. 7). Os pilotis do segundo bloco abrigam um agradável recreio coberto, que protege os alunos da intensa luminosidade do sol e do calor. Os blocos separados permitiram ainda a execução de pátios com jardins e espaços de convivência, sendo o verde mais um fator contribuinte para o conforto térmico (Fig. 8). Fig. 7: Janelas de madeira e vidro com veneziana. (Foto: Autores) Fig. 8: Pátio entre blocos. (Foto: Autores)

Quanto ao sistema estrutural, este consiste em pilares e vigas de concreto armado distribuídos em módulos de 3,15 metros. A estrutura da edificação marca todas as fachadas, interrompendo os panos de esquadrias e nas circulações. Além disso, os pilares apresentam uma forma triangular, que observando atentamente, eles lembram um conjunto de lápis que sustentam a cobertura das edificações. Segundo o arquiteto, esta impressão não foi intencional. A estrutura, dessa maneira, acaba por contribuir com a linguagem do edifício e com a sua estética, já que se torna um elemento constante em todas as vistas e ajuda a traduzir a função do edifício (Fig. 9). (A) Fachada Norte (Fonte: Redesenho dos autores) (B) Foto da época da inauguração. Fig. 9: Estrutura marcando a fachada. (Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto Antônio Luiz) A horizontalidade é outro ponto marcante do conjunto. Esta é definida tanto pelo gabarito como pelo comprimento dos blocos térreos e de dois pavimentos, enfatizado pela marquise, circulações e panos de esquadrias com venezianas. Nota-se nessa característica, a preocupação com a adequação do prédio em relação ao entorno, composto por construções de pouca altura (Fig. 10).

Fig. 10: Horizontalidade do conjunto. (Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto Antônio Luiz) O acesso ao edifício é imponente e nobre: uma escadaria e duas rampas em mármore guiam até uma marquise de concreto com balanço de 3,80 metros, sob a qual se encontra a porta de entrada, em madeira e vidro. O hall, igualmente imponente, conta com a presença de uma escadaria monumental também revestida de mármore branco, que dar acesso aos laboratórios e biblioteca (Fig. 11). Após a escada, uma circulação integra os demais blocos pelo térreo. Fig. 11: Vista da escadaria no Hall de entrada (Foto: Autores)

4.3. Situação Atual Atualmente, o conjunto está em funcionamento e abriga o Instituto Superior de Educação Antonino Freire. O prédio se encontra em estado de conservação precário, assim como a maior parte das obras públicas de Teresina construídas na época; demonstrando que falta diligência na conservação do patrimônio recente da cidade. A mudança mais notável, a primeira vista, trata-se da pintura dos pilares (antes em concreto aparente), e da alvenaria (antes pintada de branco e agora, de bege) bem como a falta de manutenção nas esquadrias de madeira e adição de grades em algumas janelas, junto com a instalação de condensadores de ar em algumas fachadas. Outra modificação marcante do projeto original foi quanto à construção de um quarto bloco de salas de aula (igual ao bloco II) com uma ligação ao bloco principal inadequada, devido a pouca altura entre o piso e a marquise de concreto que cobre a rampa, além do fechamento do terreno com muro, (antes fechado com grades) o que impede a visibilidade e integração com a praça. O fechamento com vidro ou mesmo alvenaria de algumas aberturas para tiragem e renovação do ar nas salas de aula também pode ser observado, assim como a mudança dos revestimentos das circulações horizontais e adição de rampas, no intuito de enquadrar a edificação nas normas de acessibilidade. A ocupação de parte do recreio coberto para a construção de uma biblioteca também caracteriza numa grande alteração. Todas as mudanças listadas foram realizadas sem que o arquiteto fosse consultado. Além disso, a execução total do projeto nunca aconteceu e dificilmente ocorrerá, pelo fato da área em que seria construído o setor esportivo e o auditório ser ocupada pelo Batalhão de Operações Especiais. O resultado dessas alterações é um edifício com vários improvisos e descaracterizações que demonstram irreverência tanto ao valor histórico e arquitetônico da obra, quanto aos direitos autorais do arquiteto. Portanto, a partir das afirmações presentes nessa pesquisa, conclui-se que há muito a ser feito para que essa edificação retome suas propriedades originais, assim como uma maior difusão quanto à importância do patrimônio construído para a sociedade em geral e os freqüentadores do Instituto de Educação, bem como uma maior fiscalização dos órgãos públicos competentes e até mesmo dos arquitetos locais, que têm maior consciência sobre o Patrimônio Arquitetônico da cidade, podendo assim, agir como disseminadores de tal importância. 5. Referências BENÉVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2001. BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002.

CALVANTI, Lauro. Quando o Brasil era Moderno. Guia de arquitetura 1928-1960. Ed. Aeroplano. Rio de Janeiro, 2001. LUCCAS, Luís Henrique Haas. Arquitetura moderna e brasileira: o constructo de Lucio Costa como sustentação. Arquitextos. [S.l.]: Vitruvius, Ano 06, Set de 2005. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437>. Acesso em: 16 de jan. 2011. MELO, Alcília Afonso de Albuquerque; FEITOSA, Ana Rosa Negreiros. Documentos de Arquitetura Moderna no Piauí. Teresina: Gráfica Halley, 2010. 310 p.: il. MELO, Alcília Afonso de Albuquerque. Arquitetura em Teresina: 150 anos - da origem à contemporaneidade. Teresina: Halley, 2002. NASCIMENTO, Francisco Alcides do Nascimento. A Cidade Sob o Fogo. Modernização e violência policial em Teresina (1937-1945) Teresina. Fundação Monsenhor Chaves, 2002. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.2002. TAVARES, Zózimo. 100 fatos do Piauí no século XX. 3a. ed. Teresina: Halley, 2001.