RELATÓRIOS DE ESTÁGIOS COMO FONTES PARA A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: A ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA



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Transcrição:

RELATÓRIOS DE ESTÁGIOS COMO FONTES PARA A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: A ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA MIMESSE *, Eliane UTP eliane.mimesse@utp.br STIVAL **, Guilherme UTP guistival@yahoo.com.br Resumo Essa pesquisa pretende resgatar a prática pedagógica dos professores da educação básica que ministram aulas nas disciplinas de História e de Educação Física. Para tanto, a análise dos dados foi efetuada utilizando-se de relatórios de estágios de observações e de regências produzidos pelos alunos para a disciplina de Prática de Ensino e de Estágio Supervisionado, respectivamente vinculadas aos cursos de Licenciatura em História e de Licenciatura em Educação Física. Ambos referentes a uma instituição privada de ensino superior localizada na cidade de Curitiba. A periodização estabelecida para a análise dos relatórios apresenta um intervalo de uma década, os relatórios do curso de Licenciatura em História começaram a ser produzidos e, conseqüentemente, arquivados no ano de 1997, os do curso de Educação Física no ano de 2007, esses últimos decorrem de uma nova legislação federal sobre o estágio. Compara-se, assim, a prática pedagógica dos professores titulares e dos estagiários dessas citadas Licenciaturas. O levantamento dos dados possibilitou a verificação da metodologia das aulas, dos conteúdos abordados, dos tipos de avaliações da aprendizagem aplicadas, do uso de materiais didáticos diversificados, e de como as propostas oficiais do currículo foram trabalhadas na sala de aula. Neste ínterim, analisaram-se as práticas pedagógicas dos estagiários quando da aplicação de suas aulas de regências, aulas de recuperações ou de seus mini-cursos. Identificou-se a permanência de práticas pedagógicas no decorrer das análises, principalmente quando relacionadas as avaliações dos conteúdos. Essa pesquisa esta em andamento, pretende mapear um número maior de professores e estagiários em suas práticas pedagógicas, as reflexões efetuadas até o presente momento compõem parte dos resultados almejados. Palavras-chave: Prática Pedagógica; Relatórios de Estágios; Fontes. Os relatórios de estágio tornam-se fontes de pesquisa para a educação por conterem informações pertinentes a escola, ao professor e as práticas pedagógicas por eles desenvolvidas. Apresentam as práticas que o professor e os estagiários utilizaram, metodologias de ensino, atividades propostas para os alunos, conteúdos aplicados, além de explanarem sobre nuances do cotidiano escolar e das dificuldades no desenvolvimento do trabalho. * Professora Doutora do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná ** Aluno do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná.

414 Os relatórios de estágio e o próprio estágio que o gera é aqui considerados como [...] campo de conhecimento, significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supere sua tradicional redução à atividade prática instrumental. [...] Campo de conhecimento que se produz na interação entre cursos de formação e o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas, o estágio (pode) se constituir em atividade de pesquisa. (PIMENTA & LIMA, 2004, p. 29) As fontes usadas para a elaboração deste trabalho de pesquisa foram, especificamente, os relatórios de estágio dos alunos da disciplina Prática de Ensino de História ministrada nos dois últimos semestres do curso de licenciatura em História e os relatórios de estágio dos alunos do curso de Educação Física produzidos para a disciplina de Estágio Supervisionado I. Os relatórios referentes ao curso de História referem-se aos três anos finais da década de 1990 e os do curso de Educação Física ao primeiro semestre de 2007. Essa periodização justificase, quanto ao curso de História, porque o ano de 1997 é o primeiro ano que existe a produção de relatórios e pela manutenção de uma mesma professora orientadora dos estágios nessa década, permanecendo a estrutura de elaboração e redação dos relatórios. Quanto ao curso de Educação Física a datação justifica-se por ser a primeira produção dos alunos-estagiários após a publicação da Resolução n.º 7, de 31 de março de 2004, que criou uma nova modalidade para a formação dos licenciados, e procura garantir a indissociabilidade entre os conhecimentos teóricos e as vivências práticas. Os relatórios do curso de História estão arquivados no Laboratório de Prática de Ensino, organizados em caixas-arquivos separados por ano, os do curso de Educação Física estão arquivados na sala do coordenador responsável pela disciplina ordenados alfabeticamente respeitando os sobrenomes dos estagiários. Esse material foi organizado de acordo com critérios especificamente para esse fim, visando às práticas dos professores - titulares ou estagiários - na sala de aula. Assim, a análise dos conteúdos dos relatórios pode pautar-se segundo Prado (2004), por um levantamento de dados composto, a princípio, da identificação do ano de sua produção e da indicação de estágio em escola pública estadual ou privada; em seguida, focalizou-se a ação do professor e do estagiário que regeu as aulas. Sobre o professor, pôde-se anotar: a metodologia usada nas aulas observadas; os conteúdos trabalhados e em que séries; a utilização de livros didáticos; em caso afirmativo, o nome do livro, se foi adotado ou apenas indicado, os nomes dos autores, como foram utilizados nas salas de aulas; o uso de outros recursos didáticos nas aulas, e como foram utilizados; quais as formas usadas para a execução das avaliações dos conteúdos?;

415 outras observações relevantes existentes nos relatórios, como comentários de diretores e professores sobre o currículo, sobre novas propostas para o trabalho pedagógico, entre outros. Com relação ao estagiário, anotaram-se: a metodologia utilizada nas aulas de regência; os conteúdos e as séries; a adoção de textos de livros didáticos ou textos avulsos; outros recursos didáticos de que fez uso; como ocorreu a avaliação das atividades aplicadas e outros comentários sobre a sua prática.(prado, 2004, p. 55) Na ordenação geral dos relatórios do Curso de Licenciatura em História, esses foram separados por ano e numerados em ordem crescente. A cada ano, a numeração recomeçou a partir do número um. Assim, quando há referências aos relatórios, são identificados pelo número e ano. Na ordenação dos relatórios do Curso de Educação Física utilizaram-se siglas que respeitavam as listas de chamada utilizadas na disciplina. Para alunos matriculados no período matutino utilizou-se a letra M, no período noturno a letra N, após a identificação com as respectivas siglas dos turnos, cada aluno foi identificado com um número seguindo a ordem alfabética. Todos os relatórios começaram a ser arquivados pelos professores das disciplinas por questões burocráticas, caso houvesse a necessidade de comprovação de documentação. Cada pasta de relatório do curso de Educação Física possui uma carta de apresentação à instituição na qual será realizado o estágio, ficha de freqüência para anotação das visitas realizadas na escola, horários de entrada e saída, visto do professor da escola e do supervisor da disciplina; e os relatórios de estágios diários organizados cronologicamente. Caso o estagiário efetue uma aula de regência, deverá conter na pasta de relatório o plano de aula das atividades realizadas e os comentários pessoais do estagiário. Nos anos estudados, os docentes propuseram diferenciados formatos para elaboração e apresentação dos relatórios, fato esse que não interferiu na análise, apenas tornou-se necessário acrescentar ou suprimir critérios para a apreciação. Para este estudo, foram selecionados apenas os relatórios de estágio, que podem ser de três tipos: relatórios de estágio de observação da aula do professor titular ou da aula de outros estagiários, relatórios de regência e projetos de regência aplicados, esses últimos não são aplicados aos alunos do curso de Educação Física. Os relatórios foram separados seguindo o critério da datação, selecionou-se apenas os que indicaram o ano de elaboração e os que se referiram a escolas públicas estaduais ou privadas localizadas na Região Metropolitana da cidade de Curitiba. Os professores da disciplina Prática de Ensino incentivam os alunos a estagiar em escolas públicas, para assim vivenciarem a realidade destas escolas, principalmente quando

416 alguns estudantes já lecionavam como substitutos em escolas particulares, mas as dificuldades em encontrar escolas com ensino fundamental no período noturno fez com que parte dos estagiários do curso de História optasse por escolas privadas de ensino supletivo. É uma prática a recomendação de efetivação de estágios em escolas públicas. A maioria dos orientadores encaminha a realização dos estágios em escolas públicas, considerando que a inserção profissional dos alunos egressos dos cursos de graduação ocorrerá em grande parte nesse universo; considerando, ainda, que as escolas públicas se constituem em espaço especialmente privilegiado para a aprendizagem profissional, uma vez que nelas emergem, de modo mais evidente, as contradições da educação escolar no país. Os professores também evidenciam suas preocupações em colaborar com elas por meio dos estágios. (PIMENTA & LIMA, 2004, p. 188) A escolha das escolas para a realização das atividades de estágios recai sobre os estabelecimentos em que os professores orientadores de estágios efetivaram contatos com a direção, a coordenação e os próprios professores das disciplinas a serem estagiadas. Os motivos de serem essas escolas as escolhidas para a prática da disciplina ocorre pelo fato de possuírem um grande número de alunos matriculados e freqüentes. O acesso aos professores titulares é, deste modo, facilitado evitando que o estágio docente torne-se irreal. No total são 93 relatórios de estágios distribuídos nesses quatro anos analisados nos dois cursos de licenciatura. Os números totais de relatórios não são os mesmos que os números totais de professores, porque um mesmo relatório pode comentar as aulas de até quatro professores ou ser um relatório de projeto de regência aplicado em grupo, com os comentários de um estagiário sobre todas as aulas ministradas. Também os números totais de estagiários diferem dos números totais de relatórios: isso ocorre quando os relatórios de regência foram elaborados em grupos, mas apenas um dos membros do grupo tecia os comentários sobre as atividades realizadas, não sendo possível identificar quantos estagiários realmente participaram da atividade. No caso específico do curso de Educação Física foram listados 108 alunos estagiários matriculados na disciplina, teoricamente deveria existir o mesmo número de relatórios arquivados, porém desse total 14 relatórios não foram localizados, conseqüentemente, o número total reduziu-se a 94, dentre esses 29 foram descartados por não conterem informações relevantes a essa pesquisa, restando apenas 65 relatórios de estágios. Quanto ao curso de História o total de relatórios é de 69, sendo que desses apenas 28 contêm informações relevantes à prática pedagógica.

417 Os relatórios trazem ainda outros dados que não foram considerados importantes. São comentários escritos pelos estagiários após a entrevista com o Diretor da escola, com os funcionários da Secretaria escolar ou com o Coordenador Pedagógico. As questões tratam dos papéis desempenhados pelo Diretor e pelo Coordenador no planejamento anual das disciplinas, da liberdade de opção dos professores pelo uso de materiais curriculares, livros didáticos ou métodos de ensino. Existem questões sobre a quantidade e a disposição dos alunos nas salas de aulas, a precária infra-estrutura das escolas. Por fim, há questões referentes a entrevistas efetuadas com os alunos das escolas estaduais, que expressam opiniões sobre a metodologia de aula dos professores de sua série e dos livros didáticos utilizados. Ocorrem também nas páginas iniciais dos relatórios a descrição detalhada dos prédios escolares, com o número total de salas e a destinação de cada uma, a formação acadêmica dos professores e especialistas, a quantidade de funcionários do quadro administrativo, além de comentários sobre o nível socioeconômico da clientela escolar e sobre o bairro em que a escola esta localizada. Os relatórios aqui analisados são elaborados de modo individual, em duplas ou em grupos. Em geral, os relatórios de observação apresentam resultados do registro contínuo dos acontecimentos que ocorreram na sala ou no espaço físico destinado a aula e explicitam o assunto da aula observada. Alguns contêm cópias de trechos do planejamento, dos resumos dos conteúdos escritos na lousa durante a aula assistida, análises sobre o método de ensino do professor observado e sobre as atividades desenvolvidas pelos alunos. Entre os relatórios analisados, pode-se afirmar que os dois primeiros encontros realizados nas escolas, são de ambientação e observação das condições físicas, materiais e de comportamento dos alunos que lá estudam. As informações sobre quais foram os métodos utilizados para essas análises não são encontradas nos relatórios, mas possivelmente realizaram-se com as experiências e vivências individuais, sem uma discussão ou argumentação com outros estagiários, professores ou funcionários da escola. Essas observações podem ser em virtude dos alunos iniciarem com uma avaliação das condições de infra-esturutra para planejarem quais as propostas de atividades que se enquadram nessas condições. Todo relatório inclui comentários iniciais sobre as condições físicas da escola, do quadro administrativo, do corpo docente e discente. Muitas destas informações foram obtidas por meio de questionários distribuídos aos funcionários da secretaria escolar e aos alunos; já os professores da disciplina a ser estagiada e o diretor da Escola, quando possível, foram entrevistados. Para Parlett e Hamilton (1982), são dados relevantes, porque o meio de

418 aprendizagem é um complexo de variáveis culturais, sociais, institucionais e psicológicas, cuja interação produz em cada sala de aula uma situação única, que pode influenciar o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. Assim, [...] as restrições legais, administrativas, profissionais, arquitetônicas e financeiras pesam sobre a organização do ensino nas escolas; há pressupostos difusos em ação relativos à organização de matérias, currículos, métodos de ensino e avaliação do aluno; há as características de cada professor estilo de ensino, experiência, orientação profissional e objetivos particulares; e há também as perspectivas e preocupações do próprio aluno. (PARLETT & HAMILTON, 1982, p. 41) Os relatórios de regência são compostos por uma ou mais aulas do estagiário, que, na maioria das vezes, complementam os conteúdos desenvolvidos pelo professor da sala. Esses relatórios foram desenvolvidos sempre no semestre seguinte após a observação. No curso de Educação Física esse procedimento é realizado de outra maneira. O estagiário faz nos primeiros encontros observações do local de atuação, verifica as condições físicas e materiais da escola e as práticas utilizadas pelo professor titular. Nos encontros seguintes, no decorrer do semestre, os estagiários observam as aulas do professor titular, observam a aula de outros estagiários e também ministram a sua aula. No primeiro semestre das aulas de Prática de Ensino o estagiário, deveria conhecer a realidade da escola em que realizaria o seu estágio. Nas aulas teóricas, estudar os vínculos entre o currículo oficial e o real, o trabalho cotidiano do professor de História, como ocorre a relação entre professor e aluno, como se desenvolvem as avaliações. Faz-se um levantamento socioeconômico dos alunos e do seu perfil, verifica-se as relações de poder que existem na escola. A pretensão é a de que os estagiários entendam quem é aquele professor com o qual fará o seu estágio e como ele seleciona os conteúdos de aula. As aulas do curso de Prática de Ensino trataram dos conceitos de currículo apoiados pelas observações do estágio; os estagiários apresentaram oralmente nas aulas do curso o que presenciaram nas escolas. No segundo semestre, o aluno deverá desenvolver um projeto, normalmente com temas recentes, para complementar os conteúdos das aulas do professor, ou elaborar um curso de recuperação. A regência poderia ser desenvolvida de acordo com um projeto de definição e formação de conceitos. Os estagiários teriam a possibilidade de esclarecer a formação de conceitos, como o de tempo e espaço, o de revolução, o de imperialismo ou o de capitalismo, entre outros. Nesse semestre em que a tônica das aulas do curso de Prática de Ensino é a aprendizagem dos alunos e como essa ocorre os estagiários devem questionar os conteúdos que os alunos recebem e, a partir daí, utilizar diferentes linguagens para abordar os conteúdos

419 nas aulas de regência, essas aulas de regência poderiam ser desenvolvidas também como aulas de recuperação. As aulas de regência ocorrem de três formas, como aulas isoladas, aulas de recuperação e mini-cursos. As aulas isoladas ocorrem em caráter de substituição do professor; as de recuperação, quando alguns alunos precisam retomar determinados conteúdos; os minicursos foram aplicados pelos estagiários, com um número médio de sete aulas. Os projetos dos mini-cursos foram desenvolvidos pelos estagiários no primeiro semestre do ano letivo, quando da observação das aulas, e aplicados no segundo semestre. Esses mini-cursos abordaram, na maior parte das vezes, conteúdos que complementaram as aulas do professor titular. Tiveram a mesma função das aulas de recuperação e, poderiam complementar ou repor determinados conteúdos. Os projetos apresentaram diferenças na forma de abordagem dos conteúdos e na preocupação com o uso de diversos materiais didáticos. Foram elaborados por pequenos grupos de alunos que deveriam montar, coordenar e apresentar um mini-curso de três a dez aulas aos alunos das escolas onde estagiavam. Muitas vezes, essas aulas foram avaliadas pelos alunos que as assistiram e também pelo grupo que as apresentaram. Atividades com esse caráter são validadas pela reflexão que proporcionam aos estagiários, são [...] atividades de microensino, miniaula, dinâmica de grupo que também ilustram a perspectiva em estudo. O entendimento de prática presente nessas atividades é o desenvolvimento de habilidades instrumentais necessárias ao desenvolvimento da ação docente. Um curso de formação estará dando conta do aspecto prático da profissão à medida que possibilite o treinamento em situações experimentais de determinadas habilidades consideradas, a priori, como necessárias ao bom desempenho docente. ( PIMENTA & LIMA, 2004, p. 38) Os relatórios de observação das atividades, tanto do professor titular como de outros estagiários, são encontradas de forma descritiva nos relatórios. As informações verificadas nesses relatórios estão no item denominado como observações, mas são poucos os relatórios que esses comentários encontram-se atrelados às observações das atividades, eles compõemse pela crítica à aula assistida, por sugestões para a melhoria no desenvolvimento das atividades, por avaliação da prática pedagógica do professor na aplicação e controle dos alunos, aceitação desses quanto as atividades propostas e conteúdos aplicados. Outra característica na utilização de relatórios como fonte de pesquisa é a estrutura diferenciada instituída pelos professores que ministram a disciplina de estágio. O curso de Educação Física pesquisado apresenta dois modelos, uma adotada pelo turno matutino e outra pelo noturno, adaptando-se aos quesitos requeridos pelos professor. O modelo do matutino é em forma de quadro, composto por campos e descrito em forma de tópicos. Os itens que o

420 compõe são Relatório - parte inicial, principal e final da aula, Materiais Utilizados e Observações. Muitas vezes os estagiários completaram o quadro de modo breve sem detalhar ou esclarecer dados pertinentes. O modelo do noturno é descritivo, o estagiário tem maior liberdade para realizar anotações das atividades vivenciadas, não existem tópicos obrigatórios ou métodos de preenchimento, ficando livre ao estagiário anotar o que lhe é pertinente à aula. A partir dos relatórios selecionados, foi possível listar os itens que nortearam a elaboração das redações dos estagiários. Em alguns relatórios, os conteúdos foram separados por itens e, na maioria, a apresentação ocorreu em forma de dissertação, com um número mínimo de segmentações, podendo-se identificar os itens estabelecidos no texto contínuo. Mas nem todos os itens sugeridos constavam de todos os relatórios. Muitas vezes, a redação toma outros rumos e determinados tópicos são omitidos, porque os estagiários envolvem-se com os conteúdos da aula observada ou redigem várias páginas de argumentação sobre este conteúdo, como se fosse um trabalho temático, a ser entregue para outra disciplina do curso. Nos relatórios que apresentam esta forma de redação, são omitidas as séries em que foi efetuado o estágio ou informações sobre a existência e utilização de livros didáticos ou outros materiais, entre outros. Também houve relatórios fraudados pelos estagiários, que descreviam situações de utilização de materiais didáticos diversificados, de uso de livros didáticos por todos os alunos em todas as séries, inclusive os do curso noturno, e outros fatos sobre situações quase inexistentes em escolas públicas estaduais. Exatamente por apresentarem escolas, professores e alunos como se fossem do setor privado, pôde-se identificar com facilidade tais relatórios, de modo a não impedir que esta pesquisa se desenvolvesse. É inexistente a exigência legal para a produção e conseqüente arquivamento dos relatórios de estágios, o que existe é apenas a necessidade de arquivar-se as fichas de freqüência dos estágios, assinadas pelo professor titular e pelo diretor da escola em que o estágio foi realizado. O relatório é mais uma forma de controle para o docente da disciplina de Prática de Ensino. Para o estágio tornar-se mais interessante aos estagiários, eles deveriam efetuar uma pesquisa de campo nas escolas públicas e vincular as informações obtidas nesta pesquisa com o ensino dos conteúdos que deveriam ministrar nas suas aula de regência. O estágio pode ser uma modalidade de pesquisa, se o bacharelado forma o pesquisador, a licenciatura forma o pesquisador de campo no ensino, e o estagiário aprende como fazer uma pesquisa na área de ensino e entende a Prática de Ensino como um objeto de pesquisa. (PRADO, 2004)

421 Notou-se a existência de aplicações de questionários aos alunos das escolas estagiadas, as perguntas referem-se ao nível sócio-econômico-cultural desses alunos. Os questionários utilizados nas escolas em situação de estágio devem ter como objetivos coletar dados que permitam uma caracterização mais ampla e dinâmica da realidade dos alunos e aquilo que eles esperam da educação escolar, analisar o universo de representações coletados à luz de fundamentos teóricometodológicos do planejamento do ensino, orientar o planejamento do ensino-aprendizagem na escola e seus desdobramentos na preparação, desenvolvimento e avaliação das aulas. (PIMENTA & LIMA, 2004, p. 273) As ações do cotidiano ocorridas nas salas de aula dos professores e nas aulas de regências, descritas por estes relatórios, foram estudadas a partir dos relatos dos estagiários e possibilitaram - até o presente momento - verificar as formas utilizadas na interpretação de determinadas metodologias para a sua execução, das inovações e retrocessos relativos às formas de avaliar os conteúdos, do uso de materiais didáticos disponíveis na escola aos quais estavam vinculados. Pode-se refletir sobre como, esses professores titulares recriaram na prática do seu cotidiano específico as instruções e sugestões vindas dos órgãos superiores, segundo parâmetros estabelecidos pelo currículo mínimo; cada escola e cada classe apresentam sua especificidade, decorrente de sua localização geográfica, do nível socioeconômico dos alunos, da existência e do funcionamento dos espaços físicos da escola, como também da vivência desse estagiário que redigiu os relatórios analisados, e de sua prática pedagógica que esta em construção. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução n.º 7. Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior de 31 de março de 2004. PARLETT, Malcom & HAMILTON, David. Avaliação iluminativa: uma nova abordagem no estudo de programas inovadores. In: GOLDBERG, Maria Amélia Azevedo. (Org.). Avaliação de programas educacionais: vicissitudes, controvérsias e desafios. Trad. Lanfranco Trancone e Maria A. A. Goldberg. São Paulo: EPU, 1982. PIMENTA, Selma G. & LIMA, Maria do Socorro L. Estágio e docência. Revisão técnica José Cerchi Fusari. São Paulo: Cortez, 2004. (Coleção docência em formação. Série saberes pedagógicos) PRADO, Eliane M. As práticas dos professores de História nas escolas estaduais paulistas nas décadas de 1970 e de 1980. Tese (Doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004.