Falare, ler e screvé: Plano de estudo de escrita e fala do 2º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico

Documentos relacionados
EFFE-ON: NOVA BASE DE DADOS ONLINE Correspondência de escrita e fala de 1º Ciclo do EB

Relatório do Núcleo de Investigação Correlação Escrita-Fala (NICEF) 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCRITA INICIAL DE SUJEITOS ATÍPICOS

LÍNGUA PORTUGUESA 1º ANO

Percurso da Aquisição dos Encontros Consonantais e Fonemas em Crianças de 2:1 a 3:0 anos de idade

HIPÓTESES DE ESCRITA Certezas Provisórias. Dúvidas Temporárias

A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DA ESCRITA COMO PROCESSO COGNITIVO

PLANIFICAÇÃO ANUAL Documentos Orientadores: Programa, Metas Curriculares e Aprendizagens Essenciais

PLANO DE CURSO Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA Série: 1º ano Ensino Fundamental

Critérios Específicos de Avaliação. (Aprovados em Conselho Pedagógico de 11 de dezembro de 2018)

Fonética e Fonologia: modos de operacionalização

Alfabetização/ Letramento Codificação, decodificação, interpretação e aplicação

AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA LINGUÍSTICA ASPECTOS FONOLÓGICOS E SINTÁCTICOS DO PORTUGUÊS

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014

AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM ALUNOS DURANTE A FASE DE ALFABETIZAÇÃO. PALAVRAS-CHAVES: consciência fonológica, adultos, alfabetização.

PANLEXIA COMO RECURSO PEDAGÓGICO DENTRO DO PROGRAMA TEACCH NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM AUTISMO E COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Alfabetização e letramento. Angélica Merli Fevereiro/2018

Letras Língua Francesa

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014

CONHECIMENTOS DESCRITORES DE DESEMPENHO

PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA

A HIPOSSEGMENTAÇÃO E HIPERSEGMENTAÇÃO NOS DOCUMENTOS INÁBEIS PORTUGUESES E BRASILEIROS 30

Relacionar o texto com conhecimentos anteriores. Compreender o essencial dos textos escutados e lidos.

Critérios de Avaliação _ Perfil de Aprendizagens Específicas

QUE ESTRATÉGIAS UTILIZAM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS PARA A EVITAÇÃO DO HIATO? GRASSI, Luísa Hernandes¹; MIRANDA, Ana Ruth Moresco 2. 1.

PROGRAMAÇÃO DA 2ª ETAPA 2º ANO Thaciana

DEFICIÊNCIA AUDITIVA. Luciana Andrade Rodrigues Professor das Faculdades COC

Efeito de um Programa de Treino da Consciência Fonológica no rendimento escolar: um estudo longitudinal

Dificuldades de aprendizagem Zuleika de Felice Murrie

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

TEMA / CONTEÚDOS OBJETIVOS / DESCRITORES DE DESEMPENHO AVALIAÇÃO GESTÃO DO TEMPO Tema e assunto

PLANIFICAÇÃO ANUAL

Linguagem e aquisição da escrita AULA 11/05/18 ANGÉLICA MERLI

Resumo. Introdução à Didáctica do Português. Docente: Helena Camacho. Teresa Cardim Nº Raquel Mendes Nº

PLANIFICAÇÃO ANUAL PORTUGUÊS - 1 º ANO. Calendarização Domínio / Conteúdos Objetivos Descritores de desempenho

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Critérios de Avaliação de Português 1º ano Ano letivo:2018/2019

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB)

AQUISIÇÃO DA ESCRITA: UM ESTUDO SOBRE OS ERROS ORTOGRÁFICOS DE CRIANÇAS PORTUGUESAS

O que revelam os textos espontâneos e um ditado com palavras inventadas sobre a grafia das consoantes róticas

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

PERFIL ORTOGRÁFICO DE ESCOLARES COM DISLEXIA, TRANSTORNOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES PARA FONOAUDIOLOGIA

Disciplina 1º Período 2º Período 3º Período

ABAIXO DO BÁSICO. Língua Portuguesa - 4EF

Diferentes abordagens de alfabetização

ALFABETIZAÇÃO E NEUROCIÊNCIA

O que nós gestores temos com isto?

A ALFABETIZAÇÃO DA PESSOA SURDA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. Caderno de Educação Especial

ATIVIDADES ESTRATÉGIAS

A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO LINGUÍSTICA PARA O DIAGNÓSTICO DE APRENDIZ COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA PARA ALFABETIZAÇÃO

REFLEXÕES A RESPEITO DA DISLEXIA 67

Informação Prova de Equivalência à Frequência - 15 Ano Letivo 2012/2013

Resultados Nacionais das Provas de Aferição, 2018

Procura-PALavras (P-PAL):

METODOLOGIA DA ALF L A F BE B TI T ZA Z ÇÃ Ç O

PLANIFICAÇÃO ANUAL. 1º PERÍODO Meses Domínios / Subdomínios Horas Previstas

Por que o dicionário é importante na escola?

Agrupamento de Escolas de Eugénio de Castro 1º Ciclo Ano letivo 2016/2017 Critérios de Avaliação Português 1º ciclo

PROCESSOS FONOLÓGICOS NA PRODUÇÃO ORAL DE INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA ANÁLISE DESCRITIVA

DO SINGULAR AO PLURAL: A APRENDIZAGEM INICIAL DA LEITURA E DA ESCRITA

RESENHA DA OBRA FONOLOGIA, FONÉTICA E ENSINO: GUIA INTRODUTÓRIO

Corp-Oral: Corpus oral do

D01 Reconhecer especificidades da linguagem escrita.

1 Introdução. (1) a. A placa dos automóveis está amassada. b. O álbum das fotos ficou rasgado.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 1º CICLO 1º ANO DE ESCOLARIDADE PORTUGUÊS

PORTUGUÊS. Professor Nei Xavier

As capacidades linguísticas na alfabetização e os eixos necessários à aquisição da língua escrita PARTE 1

Como você foi alfabetizado?

avaliação da consciência fonológica resultados de um estudo piloto

EFFE-Escreves como falas falas como escreves?

Espanhol maio de 2015

A grafia das consoantes biunívocas que se diferenciam pelo traço distintivo [sonoro] em textos de alunos de séries/anos iniciais

Critérios de Avaliação Departamento do 1º Ciclo. Ano letivo 2016/17. Domínios Indicadores VALOR

Disciplinas Optativas

6LEM064 GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA I Estudo de aspectos fonético-fonológicos e ortográficos e das estruturas morfossintáticas da língua espanhola.

Encarte Especial Undime. Os resultados da Prova ANA, os impactos na sala de aula e os desafios dos municípios paulistas

A PRODUÇÃO TEXTUAL DE CRIANÇAS NO PRIMEIRO CICLO DA INFÂNCIA

Efeitos de um programa de escrita em interação na prevenção de dificuldades iniciais de leitura. Liliana Salvador Margarida Alves Martins

Um Estudo das Funções Executivas em Indivíduos Afásicos

Agrupamento de Escolas de S. Pedro do Sul Escola-sede: Escola Secundária de São Pedro do Sul

A Cartola Mágica do Gato Falador

Aplicação do modelo de oposições máximas em paciente com desvio fonológico: relato de caso

Língua, Linguagem e Variação

CONHECIMENTO DE ALUNOS DE 1ª À 4ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE OS CONTEÚDOS DA LINGUAGEM ESCRITA

Entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento(sistema de notação e não a aquisição de um código) Analisar as contribuições da

CONTEÚDO ESPECÍFICO DA PROVA DA ÁREA DE LETRAS GERAL PORTARIA Nº 258, DE 2 DE JUNHO DE 2014

Universidade Estadual de Maringá Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Identificar e compreender as alterações introduzidas pelo Acordo Ortográfico de 1990 na expressão escrita do português europeu.

Processo de construção da escrita: cinco níveis sucessivos

REGULAMENTO DE NIVELAMENTO

Usos e funções: código oral e código escrito

Planificação Anual Departamento 1.º Ciclo

PLANIFICAÇÃO MENSAL/ANUAL Português 1.ºano

Apresentação do método sintético

ATIVIDADES ESTRATÉGIAS

ANO LETIVO 2018/2019

Aprendizagem da Escrita: Revisitando saberes

Transcrição:

VII Encontro de Língua Portuguesa nos primeiros anos de escolaridade: investigação e boas práticas Escola Superior de Educação de Lisboa 27 de Junho de 2014 Falare, ler e screvé: Plano de estudo de escrita e fala do 2º ano do 1º Ciclo do Ensino Básico Maria do Carmo Lourenço-Gomes (CLUL) Celeste Rodrigues (FLUL/CLUL) Isabel Alves (FLUL/CLUL)

Introdução As diversas propostas descritas na literatura sobre os tipos de formas nãoconvencionais (FN-Cs)*, encontradas na escrita das crianças, têm contribuído para um entendimento de aspetos importantes sobre o percurso de desenvolvimento da aprendizagem da ortografia (Cagliari, 1984; Pinto, 1997; Sim-Sim, Duarte & Ferraz, 1997; Zorzi, 1998; Mateus, 2002; Guimarães, 2005; Moojen, 2009, entre muitos outros). O enfoque das investigações sobre o desempenho ortográfico é multifacetado (+) Descritivo Procura entender o percurso do desenvolvimento em termos de tipo e frequência de ocorrência das FN-Cs nos primeiros anos da aprendizagem. (+) Analítico Procura entender as bases linguísticas subjacentes às FN-Cs. (+) Cognitivo Procura entender a natureza das informações que constituem as representações grafémicas e as operações mentais realizadas durante a produção escrita. * Optamos por empregar a designação FN-C em lugar de "erros. Estes últimos são interpretados aqui como formas gráficas que não atendem às convenções estabelecidas para a língua e que refletem um aprendizado em desenvolvimento.

Exemplo (+) Descritivo Introdução CATEGORIAS representações múltiplas apoio na oralidade omissão junção/separação confusão am/ão generalização trocas surdas/sonoras acréscimo de letras letras parecidas inversões de letras outros erros ALTERAÇÕES decorrentes da confusão que pode ser gerada pelo fato de não haver formas fixas ou únicas de representação gráfica de certos sons (Ex: /s/ que pode ser representado por <s; ss; c; ç; sc; sç; xc; x ou z). decorrentes de um apoio no modo de falar para decidir o modo de escrita (Ex: depressa por dipressa; do por du). palavras grafadas de modo incompleto (Ex: bruxa por b_uxa), com exceção daquelas que indicam a situação acima (Ex: roubar por ro_bar). palavras unidas entre si ou fracionadas (Ex: me matar por mematar). substituição de am por ão ou vice-versa (Ex: desçam por desção; tão por tam). decorrentes do uso de princípios da escrita convencional em situações nem sempre apropriadas (Ex: jabuticaba por jabotecaba; inimiga por enimiga). substituições de grupos de letras que têm em comum o fato de representarem fonemas que se diferenciam pelo traço de sonoridade (Ex: pulando por pulanto). palavras escritas com mais letras do que convencionalmente deveriam ter (Ex: sapos por sapors). substituição de letra cuja grafia apresenta semelhança com outra (Ex: m e n em posição inicial da sílaba). palavras apresentando letras em posição invertida no interior da sílaba (Ex: depressa por deperssa; matar por marta). alterações que não são partilhadas de uma forma mais freqüente ou geral como as categorias acima (Ex: chegava por xigarol; também por tambam). (Zorzi, 1998 Português do Brasil)

Exemplo (+) Analítico Introdução Santos (2013) examinou no Português Europeu a produção de ataques ramificados e de sequências consonânticas problemáticas, em dados de nomeação oral e de escrita de um mesmo conjunto de palavras isoladas produzidas por dois grupos de crianças, do 1º do 4º ano de escolaridade. Os estímulos incluíam, por exemplo, no 1 o ano: - Palavras com ataques ramificados: oclusiva+vibrante (bruxa, prato), fricativa+vibrante (fruta, frasco), oclusiva+lateral (globo, planta) e fricativa+lateral (flauta, flores). - Palavras com sequências consonânticas problemáticas: oclusiva+nasal (gnomo, pneu, pigmeu, submarino) e fricativa+oclusiva (afta). - Entre os resultados, a autora observou, por exemplo: - Mais desvios na escrita das palavras examinadas do que na sua produção oral, sendo esta discrepância maior no 1 o do que no 4 o ano. Este resultado sugere: não há um paralelismo direto entre desenvolvimento fonológico e aprendizagem da escrita. - As crianças do 1 o ano recorreram às mesmas estratégias de reconstrução das estruturas examinadas na oralidade e na escrita. As crianças do 4 o ano, por sua vez, demonstraram domínio completo do sistema fonológico, embora ainda com desvios na produção escrita nas estruturas silábicas examinadas. Este resultado sugere: as estratégias usadas no processo de aquisição, na oralidade, parecem ficar disponíveis cognitivamente para serem reativadas mais tarde na escrita. - No 1 o ano, observou-se mais desvios nos grupos consonânticos problemáticos do que nos ataques ramificados e os dados de escrita seguiram a mesma direção, porém com um percentual de desvios bem maior. - No 4 o ano não foram observados desvios na produção oral de ataques ramificados e apenas três desvios em grupos consonânticos problemáticos; na produção escrita, por outro lado, um percentual maior de desvios foi observado, sendo maior nos grupos consonânticos problemáticos do que nos ataques ramificados.

Exemplo (+) Cognitivo Introdução - Leitura e escrita têm em comum o fato de envolverem a conversão de representações mentais conversão grafema-fonema, na leitura, e fonema-grafema, na escrita em uma forma manifesta (pronúncia ou escrita). - Esses dois sistemas funcionais da linguagem são igualmente complexos, mantêm relações entre eles mas são cognitivamente diferentes e têm trajetórias de desenvolvimento distintas. Caramazza & Miceli (1990) analisaram exaustivamente a produção de palavras ditadas, no decorrer de cinco meses, a um paciente de 64 anos, falante nativo do italiano, com nível superior de escolaridade, o qual sofrera um acidente vascular encefálico (AVE). A condição provocou lesões parietais do hemisfério esquerdo, causando prejuízo grave em seu desempenho de leitura e escrita. Entre os resultados, os autores observaram, por exemplo: - Uma influência marcante do tamanho da palavra sobre o desempenho (taxa de respostas incorretas aumentava em função do tamanho da palavra - número de letras). - A maioria dos erros consistia de substituições, omissões e transposições de letras, havendo poucos erros de inserção. - Uma interação significativa entre tipo de erro e tamanho da palavra, com uma marcada diminuição na proporção de erros evolvendo apenas uma letra em palavras curtas e um correspondente aumento na proporção de erros envolvendo mais do que uma letra em palavras longas. - Os tipos de erro foram detalhadamente descritos e interpretados, considerando-se, entre outros fatores, a estrutura silábica (simples vs. complexa) dos estímulos. A análise sugeriu: As representações grafémicas especificam mais do que a identidade dos grafemas (a especificação dos grafemas individuais que compõem uma palavra) e sua ordem linear na palavra, consistindo também de informações sobre a estrutura silábica, com a distinção consoante-vogal.

Objetivos O Plano de Estudo Está inserido no projeto Escreves como falas falas como escreves? EFFE, o qual fundamenta-se teórica e metodologicamente em estudos em andamento, desenvolvidos nos últimos dois anos no âmbito do Núcleo de Investigação da Correlação Escrita-Fala (NICEF). Objetivos: - Obter um conjunto de dados de fala e escrita correlacionável que possa servir um leque alargado de estudos. - Análise minuciosa dos dados em termos linguísticos para que possam ser usados por outros profissionais (educadores, terapeutas, etc.). O Plano de Estudo inclui, ainda, a ampliação da base de dados com o tratamento linguístico detalhado que servirão para a elaboração de estudos psicolinguísticos sobre a escrita ainda escassos na literatura, contrariamente ao estudos de leitura.

Objetivos A presente comunicação Objetivos: - Apresentar um plano de estudos sobre correspondência fala e escrita nos primeiros anos de escolaridade. - Apresentar os primeiros resultados quantitativos da amostra do 2º ano de escolaridade do Português Europeu (PE) - Lisboa. - Exemplificar uma análise possível das formas não-convencionais (FN-C) observadas. - Sublinhar a importância deste tipo de análise para as áreas do ensino e da clínica.

Participantes Metodologia - 48 crianças do 2º ano de escolaridade de uma escola particular de Lisboa - Idade: 7 anos - Distribuição por sexo: 23 masculino e 25 feminino Critérios de exclusão - Historial de repetência escolar - Queixas de dificuldades relatadas pelos professores - Acompanhadas por otorrino, psicólogo, neurologista ou terapeuta da fala - Falantes não nativos do PE - Frequência de escola bilíngue ou convivência com pais bilingues - Residência noutro país na primeira infância - Não ter o Termo de Consentimento Informado assinado

Materiais - 5 imagens temáticas da Avaliação Fonológica do Português Brasileiro (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1991) adaptadas para o PE (Guerreiro, 2007). - Palavras-Alvo: 43 seleccionadas de Guerreiro 2007 + 13 acrescentadas Metodologia Floresta (FL); Cidade (CI); Casa-de-banho (CB); Sala (SA); Cozinha (CZ).

Procedimentos Metodologia Primeira etapa - Sessão de trabalho em grupo em que o investigador propunha às crianças a produção de uma composição a partir da história O chapéu (Furnari, 1991). - Objetivos: familiarizar as crianças com a tarefa de produção escrita descritivo-narrativa, procurando-se dar ênfase à expressão livre, criativa e detalhada.

Metodologia Segunda etapa - Sessão de trabalho em grupo para recolha dos dados de escrita com as imagens-alvo (Guerreiro, 2007). - As crianças foram divididas em grupos e cada grupo descreveu uma única imagem - Objetivos: evocação espontânea das palavras-alvo na escrita do tipo descritivo-narrativo Tabela 1 Distribuição das imagens temáticas nos grupos, em cada turma, para as tarefas de escrita e fala. Turma Imagens Temáticas FL CI SA CZ CB Total A 4 5 4 5 5 23 B 3 6 6 6 4 25 Total 7 11 10 11 9 48 FL = "Floresta"; CI = "Cidade"; SA = "Sala"; CZ = "Cozinha"; CB = "Casa de banho"

Metodologia Terceira etapa - Recolha de dados de produção oral. - Sessões individuais em que o investigador propõe o reconto oral da história criada pela criança na sessão de escrita, gravadas em sala reservada na própria escola. - Sessões de cerca de 15 minutos. - Sessões gravadas na íntegra para incluir os diálogos espontâneos entre o investigador e a criança. - Equipamento: gravador Roland R26 com microfone interno. - Objetivo: evocação espontânea das palavras-alvo na fala (tipo descritivo-narrativo).

Metodologia Tratamento dos dados de escrita - Digitalização dos textos em formato.jpg - Transliteração dos textos em formato.doc. - Construção da base de dados em formato.xlsx (teste e pré-teste) Tratamento dos dados de fala - Transcrição fonética (IPA) integral das entrevistas individuais - Integração das transcrições das palavras-alvo na base de dados em formato.xlsx

Resultados Tabela 2 Total de ocorrência de formas convencionais e não-convencionais observadas nas duas turmas (Imagens). Turma Alvos Não-alvos Total palavras FC FN-C FC FN-C A 106 22 1269 282 1681 B 184 62 1851 358 2453 Total 290 84 3120 640 4134 * São consideradas as palavras que envolvem desvios, independentemente do número de desvios que ocorre no interior de cada palavra. FC = formas convencionais FN-C = formas não convencionais

Resultados Tabela 3 Total de ocorrência de formas não-convencionais observadas em palavras-alvo e não-alvo nas duas turmas. Turma Imagem * História da Bruxinha Total de FN-C FN-C palavras** A 304 476 780 B 420 451 871 Total 724 927 1651 * São consideradas as palavras-alvo e não-alvo. ** São consideradas as palavras que envolvem desvios, independentemente do número de desvios que ocorre no interior de cada palavra. FC = formas convencionais FN-C = formas não convencionais

Resultados Tabela 4 Total de ocorrência de formas não-convencionais identificadas como motivadas pela fala ( Imagem e História da Bruxinha ). Turma Imagem História da Bruxinha FN-C FN-C Total FN-C A + B 551 1633 2184 FN-C = formas não convencionais

Resultados Tabela 5 Correspondências de fala e escrita obtidas para as palavras-alvo Modalidade Imagens Temáticas FL CI SA CZ CB Total Escrita 64 69 102 55 41 331 Fala 136 275 318 121 180 1030 FL = "Floresta"; CI = "Cidade"; SA = "Sala"; CZ = "Cozinha"; CB = "Casa de banho"

Resultados Os dados evidenciaram diversos tipos de FN-Cs relacionadas com certas estruturas fonológicas, entre as quais: - palavras com /e/ pré-palatal igreja - palavras com codas silábicas flor, jornal, prateleiras - palavras com ataques silábicos complexos flor, prateleira, frio - palavras com sequências consonânticas problemáticas - pneu, observar - palavras com núcleos complexos (ditongos fonológicos - leite, touca, pau - ou exclusivamente ditongos fonéticos bebem, andam) Entre muitos outros passíveis de serem discutidos nesta comunicação, vamos discutir somente um caso em particular: Palavras com /ou/ (touca) ou /o+u/ (começou)

Resultados Palavra-alvo: touca - FN-C observada: * <toca> -Realizações orais observadas: [tókɐ] (14x 10 crianças) (2_CI_2B) [tówkɐ] (1x criança que não escreveu)

(16_CI_2B) (8_CI_2B)

Resultados Palavras-alvo: vassoura e tesoura - FN-C observada: *<vassora> * <tesora> -Realizações orais observadas: [vɐsórɐ ] (12x 9 crianças) (10_SA_2B) [tɨzórɐ] (24x 10 crianças) (10_SA_2B)

Resultados Com base na FN-C observada nas palavras-alvo touca, vassoura e tesoura foi possível identificar: Palavras não-alvo com o mesmo tipo de FN-C ( Imagem ) ropa (roupa) otro (outro) otros (outros) otro (outro) dorado(.) (dourado) otero (outro) ropa (roupa) acabose (acabou-se) fico (ficou) otros (outros) trocerão (trouxeram) começo (começou) otero (outro) arromo (arrumou) tro se as (trouxe-as) compro (comprou) Palavras não-alvo com o mesmo tipo de FN-C ( História da Bruxinha ) assusto-se (assustou-se) acordo (acordou) sentosse (sentou-se) tiro (tirou) transformo (transformou) FN-Cs que revelam um certo grau de domínio ortográfico Imagem pesouas (pessoas) ouclopado (ocupado) História da Bruxinha oulhou (olhou) oular (olhar) oulo (olhou) oulo (olhou) soubre (sobre) oulhou (olhou) oulhou (olhou)

Considerações finais Os resultados quantitativos mostram: - Grande número de FN-C com esta metodologia (comparativamente a tarefas de nomeação e ditado, por exemplo). - Grande variedade de unidades linguísticas para análise (não apenas de nível lexical, mas também morfológico, sintático, semântico, discursivo, etc.). - Várias ocorrências do mesmo tipo de estruturas (silábicas) passíveis de terem erros. - Grande quantidade de realizações orais que podem ser diretamente correlacionadas com dados de escrita. Os resultados qualitativos revelam, entre outros aspetos: - O tipo de FN-C tratado nesta comunicação apenas ilustra o potencial de análise desses dados. Por exemplo, observamos que as crianças se baseiam muitas vezes no seu conhecimento estritamente fonético mais do que no seu conhecimento fonológico para representar formas gráficas ainda não estabilizadas no léxico ortográfico. - Os dados são qualitativamente muito ricos e permitem análises sobre diferentes aspetos da língua infantil em muitas vertentes, nomeadamente a da linguística, da clínica e do ensino. - Além disso, observamos que as crianças no início do 2º ano de escolaridade são, por vezes, já capazes de elaborar textos de grande complexidade lexical, sintática e discursiva.

Considerações finais Consideramos, ainda, que qualquer ação sobre a criança e a escola não deve estar alheia a fundamentos teórico-científicos. As ciências que se ocupam de estudos sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, apoiadas em pesquisas criteriosas, vêm traçando novos rumos para a compreensão dessas habilidades e de seus transtornos, e apontando meios de preveni-los. É nesse sentido que o nosso plano de trabalho se insere.

Referências - Cagliari, L. C. (1989) Alfabetização e Linguística. Rio de Janeiro: Scipione. - Caramazza, A.; Miceli, R. (1990) The structure of graphemic representations. Cognition, 37, 243-297. - Guerreiro, H. W. Z. M. R. (2007) Processos fonológicos na fala da criança de cinco anos. Tese (Mestrado em Ciência da Fala). Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa-Escola Superior de Saúde do Alcoitão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. - Guimarães, M. R. (2005) Um estudo sobre a aquisição da ortografia nas séries iniciais. Tese (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação da Universidade Católica de Pelotas. Pelotas. - Mateus, M. H. (2002/1962) O problema da ortografia. Métodos de ensino. A Face Exposta da Língua. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 91-135. - Moojen, S. M. P. (2009) A escrita ortográfica na escola e na clínica: teoria, avaliação e tratamento. São Paulo: Casa do Psicólogo. - Pinto, M. G. L. C. (1997) A ortografia e a escrita em crianças portuguesas nos primeiros anos de escolaridade: até que ponto dependem estas habilidades de um bom domínio do oral e de métodos adequados de leitura? Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literatura. Porto, XIV, 7-58. -Santos, R. N. (2013) Aquisição de grupos consonânticos e seu impacto nos desempenhos escritos no 1. 0 ciclo do ensino básico. Tese (Mestrado em Linguística). Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa. - Zorzi, J. L. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

mclgomes@fl.ul.pt 1 celesterodrigues@campus.ul.pt 2 alvesisabel@campus.ul.pt 1 Programa Ciência 2007/2008 (FCT) 2 Financiado por Fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia FCT no âmbito do Projeto «Pest-OE/LIN/UI0214/2001»