A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA PSICANALÍTICA ASSOCIADA À ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NA CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO TERAPÊUTICO SINGULAR



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA PSICANALÍTICA ASSOCIADA À ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR NA CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO TERAPÊUTICO SINGULAR ANDRADE 1, Aline Mayara Bezerra; MACEDO FILHO 1, Francisco Teles de; SOUSA 1, Francisco Dislani Petrônio; SOUSA 1, Natália Luiza Matos de; VITAL 2, Karen Stephanie Carvalho; ALENCAR 3, Jacicarlos Lima de; QUEIROZ 3, Telma Corrêa da Nóbrega RESUMO A escuta psicanalítica associada principalmente com a integralidade da terapia ocupacional, da fonoaudiologia e medicina é baseada em sessões clínicas e domiciliares, as quais buscam a interação, o desenvolvimento da linguagem e a relação com o outro. O acompanhamento das famílias também é considerado, uma vez que possibilita estas serem parceiras das crianças e fundamentais na construção desse processo terapêutico singular. O método utilizado pelo projeto consiste, pois, numa associação entre a terapia ocupacional, a fonoaudiologia e a medicina no sentido de reconhecer valor em toda a produção significante da criança, gestual ou de linguagem. Dessa forma, em toda a produção existe uma mensagem e a criança poderá se reconhecer posteriormente como fonte propagadora dessa mensagem. É um encontro evidenciado não pela ação da interpretação, mas por uma escuta psicanalítica no envolvimento e significações não traduzíveis constituintes do eu. Um novo mundo se abre para a criança e para a sua família. Programas que antes pareciam impossíveis de serem vivenciados ganham um novo espaço na rotina dos moradores de um novo lar. DESENVOLVIMENTO No processo de amadurecimento psíquico da criança, a fala surge como tentativa de preencher a falta trazida pela ausência do seio materno logo após o desmame. A partir daí, a voz se revela como tentáculos capazes de alcançar o Outro, de procurar o elo 1 Aluno colaborador 2 Aluno Bolsista 3 Professor Orientador

perdido por meio do encadeamento de significantes rumo à construção de um significado. Como afirma Freud, originalmente o eu contém tudo, mais tarde ele segrega de si um mundo exterior. Nesse sentido, a mãe funciona como o laço primordial, uma vez que abarca o bebê como uma extensão sua e lhe atribui a plenitude psíquica do sentimento oceânico. A função do pai, entretanto, é desde o início, fazer submergir o eu lutando na contracorrente da permissividade da onipotência materna. Logo, as funções materna (alienação) e paterna (separação) são antagonistas e complementares. E é justamente na ausência ou excesso de uma delas que uma falha no estabelecimento do enlace entre o eu e o outro é gerada correspondente ao terceiro tempo da pulsão. Para o autista, há uma dificuldade de se fazer representar pelo significante, pois a realidade não assume seu valor simbólico. Constrói-se assim o congelamento linguístico caracterizador do quadro do autismo. Sendo assim, o Projeto Intervenção Precoce no autismo surge com o viés de tentar reestabelecer na criança o prazer pela relação com o outro, a partir da introdução do SIMBÓLICO em seu universo. O alicerce teórico do projeto é o método dos 3I, o qual visa ao complemento do circuito pulsional, ou seja o destacamento do objeto e a consequente captura do sujeito no mundo simbólico. Sendo assim, a análise da psicanálise na perspectiva das crianças autistas investe-se no estabelecimento de um laço social, ou seja, na entrada do autista no diálogo. Assim, a perspectiva psicanalista não é pedagógica ou de cura, e está sustentada pelo acolhimento da palavra e dos atos ocorridos. Nesse sentido, devem-se fornecer significantes, oferecendo espaço para que a criança se coloque como sujeito desse processo. A criança autista não faz do Outro lugar de procura. Para eles, a busca do Outro não tem sentido, ou seja, quer que o sujeito não advenha. Segundo Elia (11 de dezembro de 2004), o autista sai da demanda, do circuito das trocas, o que é escandalosa e emblematicamente representado por sua recusa à mais forte das demandas: o falar. Diante disso, a clínica do autismo convoca tanto o estudante como o profissional a trabalharem tomando as manifestações apresentadas por essas crianças como atos, como produções que, de alguma forma, buscam alguma inscrição significante. Dessa forma, dentro da perspectiva psicanalítica, não há um método rígido, linear e único para a intervenção precoce do autismo, existe variações de acordo com cada caso, construções interdisciplinares e processos de escuta singulares, sempre baseados na dicotomia euoutro. Portanto, a intervenção não significa um silêncio que espera, mas uma atenção

que toma como referência passos chaves considerando o tempo e partidos de cada criança, o efeito de identificação, o reconhecimento e a sustentação das aberturas, tudo isso baseado na psicanálise. O presente estudo gira em torno da abordagem de um caso de autismo, dentre tantos outros abarcados pelo projeto. Trata-se de H.P.M, uma criança de quatro anos de idade. A mãe relata que o menino nasceu sem intercorrências e que seu desenvolvimento foi normal até um ano e meio de idade. A partir daí sua avó paterna com a qual a criança passava boa parte do tempo desde os três meses de vida- afirma ter percebido a regressão no desenvolvimento da linguagem pela criança. H.P.M passou a falar menos, repetir palavras, além de mostrar-se mais agitado e de ter diminuído seu interesse por outras pessoas. Por meio dessa reviravolta, surge uma grande preocupação nos pais, os quais buscam ajuda especializada até que se deparam com o diagnóstico de autismo em seu filho, dado pelo psiquiatra. Foi uma longa saga, através da ida a neurologistas, psiquiatras, psicólogos e a uma associação de apoio a portadores de TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento-, até que H.P.M fosse encaminhado para o projeto. Na primeira sessão de psicanálise, a criança mostrou-se bastante inquieta e esboçou bem, por meio de atitudes, o trinômio do autismo: perturbação na comunicação, dificuldade de interação social e comportamentos restritos e repetitivos. Ao fim da sessão, H.P.M despediu-se do psicanalista, atendendo ao pedido da mãe: - Dê tchauzinho pra o Dr, H.P.M! Na segundo contato, o menino apresentava-se mais familiarizado com o ambiente, porém agitado, deslocando-se de um lado para outro do consultório, fazendo sons ininteligíveis com a boca e vez por outra pronunciando alguns fragmentos de expressões veiculadas em um programa de TV. Ao olhar ao redor, interessou-se por uns peões de brinquedo, com os quais começou a brincar. Nesse momento, sob estímulo, pronuncia palavras como: SAIR, RODAR PEÃO. Nessas falas e expressões ditas pela criança, nota-se a ausência da função fática da linguagem a qual tem como objetivo manter o contato com o Outro na busca pela interação. É importante salientar que a relação familiar existente entre H.P.M e os pais é de extrema superproteção direcionada a ele, o que denota excesso da função materna no lidar com a criança. A repercussão desse quadro na psique de H.P.M fica bem perceptível num gesto da criança, em que posiciona três animais de brinquedo em uma posição bastante peculiar; o hipopótamo (figura masculina) de frente para a tartaruga (figura feminina) e um cachorrinho no meio. Nesse momento a mãe e o pai se olham e

essa intervém: nos dedurando,hein?. Isso mostra que a encenação de dois diante de um Outro força o sujeito a colocar-se no terceiro tempo do circuito pulsional, o que o submete a uma postura passiva. A própria mãe compreendeu que a criança estava querendo mostrar a construção do mundo dela, em que encontra-se tolhida em sua liberdade por ser colocada no centro das atenções em nome de uma proteção intrusiva e ameaçadora a construção do próprio eu. Inicialmente era perceptível que H.P.M se irritava quando a intervenção do Outro tornava-se insuportavelmente intrusiva. Um simples não era motivo para gritos, esperneios e muitas lágrimas. Nada mais do que o uso da chantagem emocional na tentativa de fazer o uso instrumental do Outro a fim de re estabelecer a pulsão de morte para dissociar a unidade e voltar ao estado primitivo. A agressividade mostra-se então como uma resposta amplificada à restrição de liberdade e à satisfação de seus impulsos. Um exemplo disso é o fato de H.P.M ter quebrado um pedaço do portão de sua casa quando foi impelido de passear pelos pais. Logo após ver uma pastilha ser retirada do bolso do psicanalista, H.P.M encarou-o esperando o oferecimento do doce. Como isto não ocorreu, a criança direciona-se ao dr. Com a seguinte frase: - Você quer? Nota-se, por meio dessa atitude, que a conduta da criança ainda era regida pelo discurso do Outro, uma vez que o menino não conseguia posicionar sua linguagem com o intuito de exteriorizar desejo ou vontade própria. Num outro momento, H.P.M e seus pais estavam assistindo a um desenho animado na TV, no qual havia um personagem em apuros. Diante disso, a criança dirige-se aos pais e fala: tem que ajudar. Sua mãe, ao relatar o ocorrido, diz ter subentendido que a frase dita pelo filho era um pedido inconsciente de ajuda. Em outro ínterim, H estava com a mãe e dirige a ela a seguinte frase: Obrigada!De nada! A simultaneidade no uso desses dois vocábulos remete à criação pela criança de uma relação especular em que há uma condensação de jogos de oposição. Isso indica que H.P.M já estabelece um enlace com o outro através da binariedade do encadeamento significante. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do vínculo criado após 6 meses de acompanhamento pela equipe multidisciplinar e multiprofissional que compõe o Projeto, torna-se bastante gratificante e construtivo verificar a evolução de H.P.M. Um grande avanço se mostra no viés da construção da subjetivação: a criança já exibe sinais de insatisfação, principalmente quando a sessão

de psicanálise encerra e ele pestaneja antes de ir embora. Ao mesmo tempo, os episódios de manifestação de agressividade têm diminuído em frequência. Hoje ele busca o contato com outras crianças, interage mais, brinca mais. Além disso, o cordão umbilical social que unia o menino aos pais começa a ser cortado gradativamente, através do esforço destes no sentido de frear a superproteção e de reinventar a forma como convivem e encaram as particularidades do filho. As portas de casa se abrem para uma viagem à praia. No caminho, desbrava-se um mundo exterior aos preconceitos e tensões. E é diante da imensidão de um mar agregador de oceanos que H.P.M cala seus medos e inquietações enquanto deixa que apenas a água das ondas escorra por suas mãos. É mais uma vida que exala a pureza do sentimento oceânico e anseia calidamente por submergir à superfície do seu próprio eu. Há um novo ser que se constrói, ultrapassa seus próprios limites e consegue alcançar o Outro pelos tentáculos de uma voz inaudível, porém latente, vibrante e sedenta por amor, compreensão e liberdade. REFERÊNCIAS LACAN, J (1949). O estagio do espelho como formador da função do eu. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. ELIA, L. O conceito de sujeito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. DORIA, N. G. D. M., MARINHO, T. S., PEREIRA FILHO, U. S. O autismo no enfoque psicanalítico, disponível em <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/a0311.pdf>, acessado em 28/10/2013 JERUSALINSKY, J. Et al; disponível em http://psicanaliseautismoesaudepublica.wordpress.com/2013/04/09/a-metodologiapsicanalitica-no-tratamento-do-autismo/ acesso em 28/10/2013 PINHEIRO, T. (ORG.) Psicanálise e formas de subjetivação contemporâneas, Rio de Janeiro, Programa de pós-graduação em Teoria Psicanalítica / UFRJ, 2003. ROCHA, P. S. (Org.) Autismos, São Paulo, Editora Escuta, 1997. LACAN, J. O Lugar da psicanálise na medicina, in Opção Lacaniana - Revista Brasileira Internacional de Psicanálise. São Paulo, Editora Eolia, nº32, 2001.