Dica Clínica Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente Hélio Venâncio da Silva Júnior*, Luiz Gonzaga Gandini Júnior**, Márcia Regina Elisa Aparecida Schiavon Gandini***, Eduardo Mendes Gottardo**** Resumo Este artigo tem como objetivo descrever um método de colagem indireta de braquetes, apresentando como principal enfoque uma técnica que utiliza materiais e equipamentos simples, visando torná-la menos onerosa e complicada, além de priorizar a diminuição da quantidade de passos ou procedimentos necessários para o preparo dos modelos e da moldeira de transferência, reduzindo, dessa forma, o tempo despendido para o procedimento. Os autores evidenciam também que, por essência, a técnica de colagem indireta pode otimizar enormemente o procedimento de montagem dos aparelhos ortodônticos fixos na clínica ortodôntica, sendo que alguns procedimentos de preparo pré-colagem e pós-colagem de braquetes são possíveis de serem delegados. Palavras-chave: Colagem indireta. Colagem direta. Sistema de colagem ortodôntica. Posicionamento de braquetes. * Pós-graduando em Ortodontia pelo Centro/Ciodonto - Sertãozinho. Pós-graduado em Ortopedia pela Universidade Hermínio Hometto - Uniararas. ** Professor livre-docente/adjunto do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP. Professor assistente adjunto clínico do Departamento de Ortodontia do Baylor College of Dentistry - Dallas/TX e Saint Louis University. *** Professor doutor do curso de pós-graduação lato sensu do GESTOS-FAMOSP Araraquara. Professor assistente adjunto clínico do departamento de Ortodontia do Baylor College of Dentistry - Dallas/TX e Saint Louis University. **** Professor do curso de pós-graduação lato sensu do Centro/Ciodonto Sertãozinho. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 17
Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente INTRODUÇÃO O perfeito posicionamento dos braquetes, ainda hoje, é um grande desafio para os ortodontistas, visto que vários fatores relativos ao paciente e ao profissional podem interferir no momento da colagem direta das peças e acessórios ortodônticos. Uma colagem precisa é de extrema importância, principalmente quando se trata dos aparelhos pré-ajustados que foram criados com o objetivo de melhorar os resultados obtidos e facilitar o atendimento aos pacientes, visto que se reduz bastante o número de dobras a serem feitas nos fios. Portanto, produtividade e excelência são objetivos perseguidos há décadas, e cada vez mais, pelos ortodontistas modernos. Por serem esses objetivos tão almejados, observa-se que a colagem indireta de braquetes tem se destacado como uma arma potente no arsenal dos ortodontistas, visto que, além de permitir um melhor posicionamento, existe a possibilidade de delegar funções ao pessoal auxiliar. Essas vantagens são citadas por vários autores 1,2,5,7,9-13, que também comentam que o custo dos materiais usados nos procedimentos de preparo pré-colagem e o tempo despendido nos procedimentos laboratoriais podem ser fatores que tornam a colagem indireta pouco praticada pelos ortodontistas. A colagem indireta foi descrita pela primeira vez por Silverman et al. 12 e, desde então, vários profissionais têm utilizado a técnica. Em 1974, Silverman e Cohenn 10 utilizaram um sistema quimicamente ativado, no qual deveria ser observado o tempo de manipulação do material para o sucesso desse procedimento. Um sistema fotopolimerizável foi utilizado também pelos mesmos autores 10, com o objetivo de aumentar o tempo de trabalho. Thomas 14 modificou a técnica de colagem indireta utilizando um sistema adesivo quimicamente ativado, onde se aplicava a base do sistema adesivo no dente e o catalizador na base dos braquetes, e a reação química ocorria mediante o contato entre os dois componentes. A comparação da técnica da colagem direta e indireta com relação ao posicionamento de braquetes, resistência de colagem, taxa de fratura e tempo dos procedimentos clínico e laboratorial foi descrita por Aguirre, King e Waltron 2. Os autores concluíram que a colagem indireta apresentou melhor precisão, principalmente no posicionamento dos caninos, e o tempo do procedimento clínico foi praticamente a metade quando comparado com a colagem direta. Em 1982, Scholz e Swartz 9 reportaram que, devido à irregularidade da superfície palatina e lingual dos dentes, a colagem indireta seria o melhor método para o posicionamento dos braquetes da técnica lingual. Aguirre 1 também comentou a dificuldade dos tratamentos ortodônticos com a técnica lingual, enfatizando a importância de um posicionamento preciso, facilitado pela colagem indireta. Comparando a tensão e a força de adesão obtidas na técnica de colagem indireta preconizada por Thomas 14 e a obtida na técnica de colagem direta, realizada com o mesmo sistema adesivo, Milne, Andreasen e Jakobsen 8 observaram que não existia diferença estatisticamente significante entre os dois métodos. Gottlieb, Nelson e Vogels 5 relataram que apenas 10% dos ortodontistas utilizavam a técnica de colagem indireta rotineiramente em suas clínicas. Em 1993, Hickham 6 comentou as vantagens da colagem indireta sobre a direta, como a melhora na posição dos braquetes principalmente nos dentes posteriores, onde o acesso é limitado e a melhor adesão, pela menor condensação da respiração e subseqüente contaminação pela umidade. O autor enumerou, também, como vantagem a facilidade de delegar função às auxiliares, pois a colagem tornou-se semelhante a uma simples troca dos arcos ortodônticos. Devido à redução do tempo de colagem, o paciente tem menos trauma e desconforto nas consultas de montagem do aparelho. Esse método de colagem exige pouco tempo do ortodontista, que geralmente só revisa o posicionamento dos braquetes nos modelos, o que leva apenas um minuto, e coloca a moldeira de transferência em posição na boca do paciente. Segundo Hickham 6, é difícil entender porque muitos ortodontistas não usam essa técnica, perante todas as vantagens descritas. No entanto, é de concordância do autor que alguns fatores limitam a aceitação da técnica, como a dependência de laboratórios. As várias formas de colagem indireta são uma variação da técnica preconizada por Thomas 14. A comparação in vitro das duas técnicas de colagem, direta e indireta, avaliando o posicionamento dos braquetes, foi feita por Koo, Chung e Vanarsdall 7, que chegaram à conclusão de que a colagem indireta apresentou melhor posicionamento dos braquetes em relação à sua altura, mas não encontraram diferenças estatisticamente significantes a respeito da angulação e posição mesiodistal. Nesse mesmo ano, White 15 utilizou a cola solúvel para a colagem dos braquetes no modelo de gesso e a cola quente para confecção da moldeira de transferência, sua preocupação era diminuir o custo da técnica de colagem indireta. Gandini et al. 4 relataram a importância do correto posicionamento dos braquetes para a aplicação efetiva da biomecânica, finalização e utilização de todo potencial dos aparelhos ortodônticos. Os autores descreveram detalhadamente um método de colagem indireta, enfatizando que é de fácil aprendizado e algumas etapas são delegáveis ao pessoal auxiliar, otimizando, assim, o tempo clínico do ortodontista. Conforme o que foi revisado na literatura, foram encontradas grandes vantagens na colagem indireta, mas também algumas 18 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009
Hélio Venâncio da Silva Júnior, Luiz Gonzaga Gandini Júnior, Márcia Regina Elisa Aparecida Schiavon Gandini, Eduardo Mendes Gottardo desvantagens, como custo e tempo laboratorial 1,2,5,7,9-13, sendo assim, a finalidade deste trabalho é descrever um método de colagem indireta simplificado, no qual tentou-se diminuir ao máximo o custo e o tempo consumido para a fase laboratorial. Descrição da Técnica Fase laboratorial 1) Confecção dos modelos de gesso: é necessária a confecção de bons modelos de gesso do paciente (Fig. 1). É primordial que não ocorram distorções, portanto, durante o procedimento de moldagem, deve-se evitar grande pressão do material de moldagem, para que as faces incisais não o perfurem, atingindo a moldeira. Durante o vazamento do gesso, procurar manter a proporção ideal de pó e água, obtendo, assim, uma boa resistência do modelo 14, sendo que, após a presa, deve-se recortá-lo com cuidado e remover todas as pequenas bolhas positivas, principalmente da face vestibular e cervical. 2) Marcação das linhas de referência: com os modelos desidratados, poderemos iniciar a marcação das linhas verticais referentes ao longo eixo dos dentes (Fig. 2). Essas linhas de referência serão feitas pelo ortodontista, que consumirá em média 1 minuto, sendo de grande importância para auxiliar no posicionamento inicial dos braquetes no modelo. 3) Posicionamento dos braquetes no modelo: para realizar a colagem dos braquetes no modelo, utiliza-se cola hidrossolúvel em bastão (Tenaz, Bic, etc.) (Fig. 3). Não é necessário isolar o modelo e o objetivo de utilizar-se cola em bastão é que se trata de uma cola lavável, facilitando, assim, sua remoção da base do braquete, bem como sua característica pegajosa evita que braquetes já posicionados sejam deslocados durante o posicionamento de outros. Para que se obtenha um bom posicionamento, é interessante que os modelos de estudo do paciente estejam em mãos, para o caso de ser necessário individualizar a colagem mudando angulações ou até mesmo sua altura, dependendo da má oclusão e do planejamento feito para cada paciente. Em relação ao posicionamento dos braquetes inferiores, os modelos de estudo também poderão auxiliar para que não ocorram interferências ou contatos dos dentes superiores com os braquetes inferiores, principalmente nos casos de mordida profunda. O procedimento de colagem no modelo inicia-se com a colocação de uma pequena quantidade de cola em bastão na base do braquete, sendo que essa quantidade pode ser comparada com a mesma quantidade de resina composta para a colagem direta (Fig. 4). Com o objetivo de otimizar o procedimento, pode-se retirar essa pequena quantidade de cola do bastão com o próprio braquete (Fig. 5). Realiza-se, então, a colagem no modelo de gesso (Fig. 6), sendo importante a limpeza dos excessos de cola que extravasarem ao redor de sua base, o que facilita a checagem pelo ortodontista (Fig. 7). Portanto, este procedimento é delegável ao pessoal auxiliar e tem o tempo de duração de aproximadamente 9 minutos, para colagem de pré-molar a pré-molar. 4) Verificação do posicionamento dos braquetes pelo ortodontista: é recomendado ao ortodontista conferir o posicionamento dos braquetes assim que a auxiliar terminar a colagem dos mesmos no modelo, evitando, dessa forma, que a cola seque e dificulte eventuais correções. O tempo consumido pelo profissional nessa fase é de, aproximadamente, 2 minutos. Após a checagem, recomenda-se deixar o modelo em local seguro por pelo menos 30 minutos, para que a cola seque (Fig. 8, 9, 10). 5) Confecção da moldeira de transferência: esse pode ser considerado um dos procedimentos mais importantes da técnica. Utiliza-se uma pistola de cola quente (Fig. 11), devendo tomar cuidado para que, antes de iniciar a confecção da moldeira, a pistola de cola esteja muito bem aquecida, para que a cola possa ter uma boa adesividade com o braquete, evitando-se, assim, que ele se solte da moldeira de transferência antes da colocação na FIGURA 1 - Fotografia dos modelos iniciais obtidos para o procedimento de colagem indireta. FIGURA 2 - Linhas de referência na coroa dos dentes, para facilitar o posicionamento dos braquetes. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 19
Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente FIGURA 3 - Fotografia ilustrativa de um tipo de cola hidrossolúvel em bastão. FIGURA 4 - Quantidade média de cola hidrossolúvel utilizada para um braquete. FIGURA 5 - Colocação da cola hidrossolúvel diretamente na malha do braquete. FIGURA 6 - Posicionamento do braquete na face vestibular do dente. FIGURA 7 - Remoção dos excessos de cola hidrossolúvel. FIGURA 8, 9, 10 - Braquetes posicionados e conferidos pelo ortodontista. boca do paciente (Fig. 12). Outro detalhe importante é a quantidade de cola quente a ser colocada, devendo-se evitar excessos para que ela não escorra por todo braquete, dificultando a remoção da moldeira de transferência após a polimerização. Iniciase, então, a confecção da moldeira, o operador deverá segurar o modelo com a mão esquerda de tal maneira que ele possa ser girado e visualizado do molar de um lado ao molar do lado oposto (Fig. 13), o que facilitará a colocação da cola quente, evitando interrupções e, conseqüentemente, a formação de fiapos de cola durante o afastamento do bico da pistola da moldeira (Fig. 14). No exemplo dado neste artigo, a colagem foi realizada de segundo pré-molar a segundo pré-molar, portanto iniciou-se a colocação da cola quente a partir da metade mesial da face vestibular do molar, sendo que a trajetória do bico da pistola é de fundamental importância para o sucesso do procedimento, o que será descrito e ilustrado a seguir. Da face vestibular do molar, direciona-se o 20 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009
Hélio Venâncio da Silva Júnior, Luiz Gonzaga Gandini Júnior, Márcia Regina Elisa Aparecida Schiavon Gandini, Eduardo Mendes Gottardo FIGURA 11 - Exemplo de modelo de uma pistola para trabalhar-se com cola quente em bastão. FIGURA 12 - Exemplo de soltura de braquete por baixa adesividade, em função de pouco aquecimento do bastão de cola. FIGURA 13 - Posição de empunhadura do modelo e pistola de cola. FIGURA 14 - Formação de muitos fiapos de cola, dificultando o acabamento. bico da pistola pela região vestíbulo-oclusal, seguindo então em direção ao segundo pré-molar, até a ponta de cúspide, estendendo o bico da pistola por vestibular, sobre o braquete, formando uma gota de cola quente sobre ele, tomando-se cuidado para não deixar escorrer além das aletas cervicais. Retorna-se pelo mesmo caminho, seguindo com o bico da pistola pela região vestíbulo-oclusal até o próximo braquete, repetindo o procedimento para todos os dentes (Fig. 15-19). Terminada esta primeira fase, retorna-se com a pistola por incisal ou oclusal, formando uma ponte que unirá todas as gotas, movimentando-se a pistola em vai-e-vem, de forma a preencher toda a face oclusal e palatina ou lingual (Fig. 20-23). Esse procedimento poderá se feito por uma auxiliar bem treinada, utilizando aproximadamente de 2 a 3 bastões de cola, quando pequeno, e por um período de tempo de, no máximo, 3 minutos. 6) Remoção da moldeira de transferência do modelo: colocase o modelo em uma cuba com água até que fique muito bem hidratado (Fig. 24). Após a hidratação do modelo, remove-se a moldeira, deslocando levemente os braquetes para se ter certeza de que estão descolados do gesso; deixa-se a moldeira de transferência com os braquetes na água por breve período para facilitar a remoção da cola em bastão, que ficará de cor esbranquiçada (Fig. 25, 26) e com jato de água da seringa tríplice remove-se a cola de bastão da base do braquete (Fig. 27). É importante lavar também o modelo para remover toda cola remanescente, pois a moldeira de transferência será armazenada neste modelo que contém a identificação do paciente. 7) Preparo final da moldeira de transferência: antes de iniciar a colocação da resina fotopolimerizável nos braquetes, aconselha-se lavar de forma breve e secar novamente a moldeira de transferência, pois esse procedimento elimina eventuais resíduos de gesso. Iniciase, então, a colocação da resina fotopolimerizável na base dos braquetes. Esse procedimento poderá ser delegado à auxiliar e poderá ser iniciado concomitantemente ao preparo do paciente, isto é, profilaxia, condicionamento ácido e aplicação do adesivo. A quantidade de resina deve ser suficiente para preencher a base do braquete, devendo-se evitar excessos e, ao mesmo tempo, falta de material, o que deixaria áreas suscetíveis à desmineralização do esmalte. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 21
Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente FIGURA 15-19 - Seqüência de colocação da cola quente para a confecção da moldeira de transferência. FIGURA 20-23 - Aspecto final, por vários ângulos, da moldeira de transferência imediatamente após a colocação da cola quente em bastão. 22 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009
Hélio Venâncio da Silva Júnior, Luiz Gonzaga Gandini Júnior, Márcia Regina Elisa Aparecida Schiavon Gandini, Eduardo Mendes Gottardo FIGURA 24 - Conjunto modelo e moldeira de transferência em hidratação. FIGURA 25, 26 - Moldeira mergulhada em água e cola hidratada, para facilitar a remoção. FIGURA 27 - Cola sendo removida com jato de água da seringa tríplice. FIGURA 28, 29 - Quantidade média de resina composta fotopolimerizável recomendada para ser colocada na base de cada braquete para a colagem na boca. FIGURA 30, 31 - Exemplos de possibilidades de segmentação de moldeiras de transferência. Um bom parâmetro é observar a transparência da resina na base do braquete (Fig. 28, 29). A moldeira de transferência poderá ser segmentada em duas ou até três partes, podendo-se utilizar uma tesoura ou um estilete para isso, tendo como objetivo facilitar a sua colocação na boca (Fig. 30, 31). Fase clínica 1) Preparo da superfície do esmalte: realiza-se os mesmos procedimentos da colagem direta profilaxia, condicionamento ácido por 20 segundos com ácido ortofosfórico a 35%, lavagem abundante e secagem até obter-se superfície esbranquiçada (Fig. 32). 2) Colocação da moldeira de transferência: após a aplicação do adesivo, inicia-se a colocação da moldeira de transferência, que, nesse caso, foi colocada sem ser segmentada, sendo inserindo de vestibular para palatino, evitando-se raspar a resina na superfície vestibular dos dentes (Fig. 33). 3) Remoção dos excessos antes da polimerização: deve-se conferir o posicionamento da moldeira de transferência, pressionando-a Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 23
Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente por oclusal e por vestibular. Remove-se, então, os excessos de material extravasado (Fig. 34). Essa é uma vantagem desse método de confecção da moldeira de transferência, pois as faces proximais e cervicais ficam visíveis. 4) Pré-polimerização da resina: segurando firmemente a moldeira de transferência por oclusal e pressionando-a por vestibular, inicia-se a polimerização, cuidando-se para que os braquetes fiquem em íntimo contato com a superfície dentária. Para isso, pode-se utilizar a ponta do fotopolimerizador, apoiando-a na superfície da gota de cola quente da moldeira de transferência. Não é aconselhável delegar esta função ao pessoal auxiliar, devendo o ortodontista ter certeza de que a moldeira está bem posicionada. Como dito anteriormente, esse procedimento poderá ser facilitado com a segmentação da moldeira de transferência e o tempo utilizado pelo ortodontista é de, aproximadamente, 3 minutos para a pré-polimerização da resina (Fig. 35, 36). Pode-se, então, delegar à auxiliar o procedimento de polimerização final dos braquetes. Esta deverá cuidar para que os mesmos estejam bem polimerizados antes da remoção da moldeira de transferência e, após a remoção, é interessante reforçar a polimerização pela face incisal. O tempo de polimerização vai depender da potência do fotopolimerizador de cada profissional em média 15 segundos por cervical e 15 por incisal. 5) Remoção da moldeira: o formato dessa moldeira facilita sua remoção, que é feita introduzindo-se a ponta do removedor de alastic na gota formada pela cola quente da moldeira e, com movimento de alavanca, destaca-se essa porção da superfície de cada braquete, evitando-se forças excessivas que poderiam descolá-los (Fig. 37, 38, 39). Após a remoção completa da moldeira, confere-se o posicionamento dos braquetes e remove-se eventuais excessos de resina composta (Fig. 40). O fio poderá ser colocado imediatamente após a remoção da moldeira (Fig. 41, 42). Discussão A colagem indireta fascina pela sua possibilidade de delegar funções ao pessoal auxiliar, reduzindo, assim, o estresse do profissional, aumentando a produtividade do consultório ortodôntico e melhorando a precisão na colagem dos braquetes. No entanto, segundo alguns autores 1,2,5,7,9-13, ainda é uma técnica pouco difundida, principalmente pelo custo dos materiais utilizados nos FIGURA 32 - Superfície do esmalte condicionada pelo ácido. FIGURA 33 - Moldeira de transferência inserida e posicionada. FIGURA 34 - Remoção de possíveis excessos de material adesivo, antes da polimerização. FIGURA 35, 36 - Resina composta sendo fotopolimerizada. 24 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009
Hélio Venâncio da Silva Júnior, Luiz Gonzaga Gandini Júnior, Márcia Regina Elisa Aparecida Schiavon Gandini, Eduardo Mendes Gottardo FIGURA 37, 38, 39 - Seqüência de remoção da moldeira de transferência, logo após a polimerização. FIGURA 40 - Aspecto final dos braquetes em posição após a colagem indireta. FIGURA 41, 42 - Fio inicial de nivelamento e alinhamento colocado imediatamente após o procedimento da colagem indireta. procedimentos de preparo pré-colagem e o tempo despendido nos procedimentos laboratoriais e na colagem dos braquetes propriamente dita. O alto custo da fase laboratorial ou de pré-colagem devese, principalmente, aos materiais utilizados para a confecção da moldeira de transferência, onde normalmente uma silicona de adição 5,14 é o material de escolha. A proposta desse trabalho é substitui-la por cola quente, de custo bem mais baixo. Ainda nessa fase, utiliza-se a cola solúvel em bastão, para a colagem dos braquetes no modelo de gesso, eliminando a fase de isolamento do modelo e a fotopolimerização da resina, utilizada na técnica convencional. Na maioria dos artigos revisados, o material utilizado para a colagem dos braquetes no modelo foi a resina fotopolimerizável. Os autores 5,8,10,14 recomendam a aplicação de jato de óxido de alumínio ou acetona após a remoção da moldeira de transferência do modelo, para melhorar a adesividade entre a resina já polimerizada e o dente. Com a utilização da cola em bastão, não é necessário o uso do jato de óxido de alumínio ou acetona, pois o braquete estará livre de qualquer material, diminuindo também o tempo e o custo do procedimento. Na técnica de colagem indireta, onde é usada a moldeira de transferência de silicona de adição, a polimerização da resina com luz não é possível, obrigando o ortodontista a utilizar um material de colagem autopolimerizável, que normalmente tem um custo maior do que o utilizado na técnica simplificada da cola quente. Nessa, poderá ser usada a mesma resina fotopolimerizável da colagem direta. Figueiredo et al. 3 descreveram uma modificação da técnica de colagem indireta com cola quente preconizada inicialmente por White 15. Nesse artigo, os autores propuseram a colagem dos braquetes nos modelos com cola líquida solúvel, isolamento dos braquetes com vaselina para facilitar a remoção da moldeira de cola quente e remoção, com broca, dos excessos de resina dos dentes em todas as faces. Sugerimos, no presente artigo, a utilização da cola em bastão, por evitar o deslocamento de peças já posicionadas. O isolamento dos braquetes com vaselina não é necessário, pois o formato da moldeira de transferência facilita sua remoção. Em relação ao excesso de material adesivo, alguma remoção pode ser necessária após a polimerização, em especial na região vestíbulo-incisal, pois essa fica encoberta pela moldeira, o que impede a realização desse procedimento. Por outro lado, áreas consideradas críticas, como margem gengival e pontos de contato, permitem essa remoção antes da polimerização da resina. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 25
Colagem indireta em Ortodontia descrição de um método simples e eficiente ConclusÕES Considerando-se que uma das grandes desvantagens da técnica de colagem indireta é o tempo e o custo despendidos com a fase laboratorial, o presente trabalho descreveu uma técnica simplificada objetivando reduzir essas desvantagens. Pode-se concluir que: 1) O tempo consumido para a realização da fase laboratorial foi de aproximadamente 17 minutos, a partir do vazamento do modelo, e para a fase clínica de aproximadamente 15 minutos, contados a partir do condicionamento ácido da superfície dentária. 2) O somatório do tempo para a colagem de braquetes de pré-molares a pré-molares em um arco dos procedimentos delegáveis ao pessoal auxiliar foi de aproximadamente 25 minutos e o tempo consumido pelo ortodontista foi de 7 minutos. 3) Por utilizarem-se materiais alternativos como a cola quente, cola hidrossolúvel e outros de uso rotineiro do ortodontista reduziu-se consideravelmente o custo do procedimento. Indirect bonding in Orthodontics description of a simple and efficient method Abstract The aim of this article is to describe a method of indirect bonding, showing, as the main focus, how to simplify the technique, using simple materials and equipments. This procedure is cheaper and less complicated than others, besides decrease the number of steps to obtain the models and transference trays, reducing the time consumed for the preparation. The authors also emphasize that the indirect bonding can optimize the position of the brackets by the orthodontists and several phases of the procedure can be delegated. Keywords: Indirect bonding. Direct bonding. Orthodontic bonding system. Bracket position. Referências 1. AGUIRRE, M. J. Indirect bonding for lingual cases. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 18, no. 4, p. 565-569, 1984. 2. AGUIRRE, M. J.; KING, G. J.; WALTRON, J. M. Assessment of bracket placement and bond strength when comparing direct bonding to indirect bonding techniques. Am. J. Orthod., St. Louis, v. 82, no. 4, p. 269-276, 1982. 3. FIGUEIREDO, J. F. B.; SAKIMA, M. T.; OCANHA JUNIOR, M.; SAKIMA, T. Uma técnica viável de colagem indireta de braquetes. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, Maringá, v. 1, n. 1, p. 32-36, fev./mar. 2002. 4. GANDINI JR., L. G.; GANDINI, M. S.; BARRETO, G. M.; BARRETO, C. S. Colagem indireta de braquetes: um artifício para melhorar o posicionamento dos acessórios e delegar funções em sua clínica. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, Maringá, v. 7, n. 3, p. 79-84, maio/jun. 2002. 5. GOTTLIEB, E. L.; NELSON, A. H.; VOGELS, D. S. III: 1990 JCO study of orthodontic diagnosis and treatment procedures. Part 1: results and trends. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 25, no. 3, p. 145-156, 1991. 6. HICKHAM, J. H. Predictable indirect bonding. J. Clin. Orthod. Boulder, v. 27, no. 4, p. 215-217, Apr. 1993. 7. KOO, B. C.; CHUNG, C.; VANARSDALL, R. L. Comparison of the accuracy of bracket placement between direct and indirect bonding techniques. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 116, no. 3, p. 346-351, 1999. 8. MILNE, J. W.; ANDREASEN, G. F.; JAKOBSEN, J. R. Bond strength comparison: a simplified indirect technique versus direct placement of brackets. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 96, no. 1, p. 8-15, 1989. 9. SCHOLZ, R. P.; SWARTZ, M. L. Lingual orthodontics: a status report. Part 3. Indirect bonding - laboratory and clinical procedures. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 16, no. 12, p. 812-820, 1982. 10. SILVERMAN, E.; COHEN, M. Current adhesives for indirect bonding. Am. J. Orthod., St. Louis, v. 65, p. 76-84, 1974. 11. SILVERMAN, E.; COHEN, M. A report on a major improvement in the indirect bonding technique. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 9, no. 5, p. 270-276, 1975. 12. SILVERMAN, E.; COHEN, M.; GIANELLY, A. A.; DIETZ, V. S. A universal direct bonding system for both metal and plastic brackets. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 62, no. 3, p. 236-244, 1972. 13. SONDHI, A. Efficient and effective indirect bonding. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 115, no. 4, p. 352-359, 1999. 14. THOMAS, R. G. Indirect bonding: simplicity in action. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 13, no. 2, p. 93-105, 1979. 15. WHITE, L. W. A new and improved indirect bonding technique. J. Clin. Orthod., Boulder, v. 33, no. 1, p. 17-23, Jan. 1999. Endereço para correspondência Luiz G. Gandini Jr. Rua Humaitá, 1680 Departamento de Clínica Infantil Faculdade de Odontologia de Araraquara CEP: 14.801-903 - Araraquara/SP E-mail: lgandini@foar.unesp.br; luizgandini@uol.com.br 26 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009