REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE CRIANÇA SEGUNDO ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFMT 1



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Transcrição:

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE CRIANÇA SEGUNDO ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFMT 1 CAVALLARI, Sandra A. 2 UFMT/GPPIN sancavallari@hotmail.com ROSA, Wendell F.S 3 UFMT/GPPIN wendellferrari3@hotmail.com RESUMO: O presente estudo intenta identificar conteúdo e estrutura de representações sociais sobre criança, segundo licenciandos, primeiroanistas do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá. O aporte teórico adotado foi a Teoria das representações sociais (MOSCOVICI, 1978, 2003); JODELET (2001); a Teoria do núcleo central (ABRIC,1998, 2001) e os estudos sobre infância segundo Chombart de Lauwe (1991) e Sarmento (2007). O trabalho privilegiou analisar evocações para o termo criança, segundo 67 estudantes. Os dados foram processados pelo programa computacional Ensemble de Programmes Permetettant l Analyse (EVOC). Os resultados encontrados indicaram que concorrem para a centralidade da representação os vocábulos alegria e amor reforçados pelos elementos periféricos inocência e sinceridade-sincero. Os mesmos, juntamente com os atributos identificados como possíveis elementos do núcleo central, reforçam tendência à idealização presente na representação sobre criança inocente e autêntica. Ainda se identifica sub-grupo que sublinha o significado da criança vista sob o ponto de vista da institucionalização por meio dos atributos família e escola, ancorando-se a imagem da criança modelada. PALAVRAS-CHAVES: Criança. Representação Social. Licenciandos de Pedagogia. 1 O presente estudo é parte de pesquisa interistitucional desenvolvida pelas seguintes pesquisadoras: Lenira Haddad (UFAL), Maria Helena Cordeiro (UFS), Célia Maria Guimarães(UNESP/PPTE) e Daniela B. S. Freire Andrade (UFMT/Cuiabá), no âmbito do Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade(CIERS-ed). 2 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação/UFMT, Linha de Pesquisa: Cultura, Memória e Teorias da Educação, Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância. 3 Graduando em Psicologia/ Bolsista de Iniciação Científica/ UFMT/GPPIN.

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O presente trabalho se insere no contexto de estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância (GPPIN) que privilegiam a investigação de objetos de representação associados à Educação Infantil. Especificamente o presente caracteriza-se por exploração inicial dos elementos estruturais da representação social sobre criança segundo licenciandos primeiroanistas do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá. A questão norteadora do estudo apresenta a criança como o outro do adulto segundo o entendimento de que sujeitos se constitui à medida que se reconhece no outro. Deste modo acredita-se que os significados atribuídos a identidade profissional do professor mantém estreita ligação com significados atribuídos a criança pelo docente. Neste sentido, a função identitária inerente ao fenômeno da representação social se aproxima das reflexões de Zavalonni (1984, apud FISCHER, 1996), que define identidade como estrutura organizadora das representações de si e dos outros, que se origina do conjunto de representações vivenciado na relação indivíduo e sociedade. A autora define identidade como um ambiente interior operatório de uma pessoa, que se constitui por imagens, conceitos e julgamentos concernentes à relação do eu com o outro e com o mundo social. O aporte teórico na Teoria das representações sociais (MOSCOVICI, 1978; 2003; JODELET, 2001), permite o entendimento do fenômeno da representação social como manifestação do senso comum, operando em espécie de orientação-guia que auxilia na interpretação da realidade, nos processos comunicacionais, nas práticas, nas tomadas de decisões, nas justificativas e nos processos identitários. Nesta investigação os procedimentos metodológicos adotados obedeceram as prerrogativas da abordagem estrutural dos estudos em representações sociais definidas segundo Abric (1998). Para tanto, foram coletadas os dados por meio de associações de palavras para o termo indutor criança segundo 67 licenciandos matriculados no primeiro ano do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá. O processamento dos dados foi realizado pelo software Ensemble de Programmes Permettant l analyse des Evocation (EVOC).

2. SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL O aporte teórico utilizado neste trabalho tem como base a Teoria das representações sociais proposta por Moscovici (1978; 2003), e Jodelet (1984; 2001), bem como na Teoria do núcleo central de Abric (1998). A representação social é uma modalidade de conhecimento construído e compartilhado por um grupo, levando a socialização de atos que orientam práticas coletivas. Pode-se caracterizar também a representação social como forma de conhecimento, nomeado como senso comum, cuja dinâmica procura preservar a integridade do funcionamento de um grupo, sua identidade e a orientação dos comportamentos assumidos por seus integrantes. Conforme salienta Moscovici (1978). Jodelet (2001) ao propor uma sistematização do conceito de representação social, assinala que é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com o objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (p. 22). Segundo Abric, (1998) uma representação é composta por conjuntos de informações, crenças, idéias e atitudes. Este conjunto de elementos constituídos estrutura-se estabelecendo um sistema sociocognitivo. Abric (1998) sistematiza as funções das representações sociais propondo a existência de quatro funções: de saber, orientação, identitária e a justificadora. A função de saber dedica-se a dar sentido a realidade social, permitindo que o grupo sinta-se familiarizado com uma nova informação, podendo integrar os conhecimentos prévios, preservado a coerência presente na lógica assumida pelo grupo, reduzindo possíveis conflitos. A função de orientação apresenta as representações sociais como guia dos comportamentos, das práticas e condutas do individuo. Já a função identitária, destaca que o compartilhamento de uma representação social, pode favorecer a identidade grupal, uma vez que esse conhecimento agrega os

membros do grupo e os diferencia de outras coletividades, preservando uma imagem positiva sobre seu grupo de referencia. Por último, a função justificadora permite que os sujeitos do grupo expliquem suas tomadas de decisão e suas condutas relativas a determinado objeto, de maneira aceitável aos demais membros da coletividade. Moscovici (2003) destaca dois processos formadores das representações sociais: a objetivação e a ancoragem. O processo de objetivação consiste em atribuir qualidade de imagem a uma idéia. Nóbrega (2001, p.65), afirma que objetivar é reabsorver um excesso de significações materializado-as e, desse modo, distanciar-se com a relação às mesmas. O processo de ancoragem caracteriza-se pelo ato de classificar e de nomear, propiciando a familiarização do desconhecido e ameaçador. Segundo a Teoria do núcleo central (ABRIC,1998), uma representação social organiza-se em torno de um núcleo central e de um sistema periférico. O núcleo central pode ser compreendido como unificador e estabilizador da representação, é caracterizado como elemento fundamental da representação além de ser constituído independente do contexto imediato, pois sua origem está na relação com a história. O núcleo central é estável, coerente, rígido, resistente a mudanças, e possui duas funções: função generadora e função organizadora. A função generadora cria ou transforma os significados de uma representação e a função organizadora determina a ligação entre os elementos da representação. Elementos periféricos são os que assumem uma relação direta com o núcleo central, à medida que são menos estáveis e mais permeáveis, estão mais ligados às características individuais e ao contexto imediato, promovendo uma relação entre a realidade concreta e o sistema central, permitindo a integração das experiências e histórias individuais, possuem como função a adaptação à realidade concreta, a diferenciação do conteúdo e proteção do sistema central. No contexto do sistema periférico a zona de contraste indica a existência de um subgrupo que sustenta uma representação distinta daquela da maioria do grupo, ou mesmo que esteja em curso um processo de transformação da representação.

Para Abric, (1976) a representação social possui elementos normativos e funcionais. Os elementos normativos de uma representação são aqueles que se referem a julgamentos, atitudes ou estereótipos em relação ao objeto, consistindo em uma dimensão primordialmente social do núcleo. Os elementos funcionais são associados à características descritivas e se referem às práticas exercidas sobre esse objeto. 2.1A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA INFÂNCIA Para compreensão do processo de construção identitária mencionado, é necessário analisar os estudos sobre a construção social da infância tais como os de Chombart de Lauwe (1991) e Sarmento (2007), ambos apresentam em seus estudos a descrição das imagens sociais da infância que têem sido construídas dentro de um processo histórico. As imagens sociais da infância contribuíram com a identificação de pontos de ancoragem úteis para o estudo da representação social sobre criança ora destacado. Neste particular entende-se que a infância, após longo período de inexistência, foi marcada por processos de idealização e cristalização em torno de significados tais como inocência, pureza e fragilidade. Esses significados parecem associados à infância simbolizada, elementos que justificaram práticas de paparicarão por parte dos adultos. Sarmento (2007) destaca duas concepções de criança construídas ao longo da história: as imagens da criança pré sociológica e a da criança sociológica. As imagens da criança pré sociológica destacadas são: má, inocente, imanente, naturalmente desenvolvida e inconsciente. A criança má fundamenta-se na idéia de pecado original e está relacionada a um ser que necessita ser controlado, domesticado pois tem potencialidade para o mal, a criança má se associa a classes populares, e instiga o esforço de normalização da infância por parte dos adultos. A imagem da criança inocente origina-se a partir do mito romântico de inocência, pureza, beleza e bondade da infância. Por sua vez, a imagem da criança imanente surge da vertente filosófica empirista e refere-se ao infante como tábula rasa na qual a sociedade pode imprimir uma

moldagem coerente com a ordem social, a criança é considerada um projeto de futuro cujo sucesso na condição de adulto dependerá da moldagem recebida na infância. A duas idéias centrais que compõe a imagens de criança naturalmente desenvolvida, podem ser assim apresentadas: primeiro as crianças são seres naturais, antes de serem seres sociais; segundo a natureza infantil opera-se pelo processo de maturação que se processa por estágios. A imagem da criança inconsciente surge pela via das idéias freudianas que associa o inconsciente ao desenvolvimento do comportamento humano marcando a existência de conflitos relacional entre a criança e as figuras parentais. Sarmento (2007) caracteriza a imagem da criança sociológica como ator social, que é fruto de uma cultura e ao mesmo tempo produtor da mesma, crianças sociológicas são produções contemporâneas que vem se destacando a partir do estudo da Sociologia Infância. O reconhecimento da infância como categoria social foi considerado importante para muitos autores. Entre eles, Chombart de Lauwe (1976) desenvolveu pesquisas ora investigando as representações que os adultos fazem da criança, ora buscando identificar o modo de agir e de pensar das mesmas. Perante os resultados, Chombart de Lauwe detectou uma criança idealizada por parte dos adultos, promovendo uma mitificação na infância. As diversas personagens de diferentes relatos mostram variações de um ser único: A criança autêntica. Esse ser por mais positivo e autônomo que seja, acaba se tornando modelada por parte dos adultos, se opondo às restrições do meio social, seguindo um modelo exemplar imposto pelos mesmos, identificando uma oposição entre o mundo da criança e o mundo do adulto. Próximo a discussões de Sarmento (2007) sobre criança sociológica, Chombart de Lauwe argumenta que a relação criança adulto é dialética e não deve ser confundida com uma valoração negativa de um face ao outro. A autora acredita que conhecer a criança é fundamental, para não adultizá-la ou infantilizá-la, ou nem mesmo aprisioná-la a um denominado papel imposto pela sociedade.

Deste modo, o presente estudo buscou identificar os conteúdos e a estrutura das representações sociais sobre criança, segundo futuros professores, tomando-as como indicadores para se pensar a construção da identidade docente no contexto da Educação Infantil. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente estudo foi realizado segundo a perspectiva estrutural das representações sociais, tendo como base os dados referentes às Associações de Palavras coletadas para o termo indutor Criança, obtidas por meio da participação de 67 alunos do primeiro ano do curso de Pedagogia da UFMT, campus Cuiabá, no ano de 2009. Para processamento dos dados foi utilizado o software Ensemble de programmes permettant l analyse des evocation (EVOC), por meio do qual se explorou os elementos estruturais e os conteúdos das representações sociais. Os resultados são apresentados graficamente por quatro quadrantes: o núcleo central, primeira periferia, zona de contraste, segunda periferia. Os dados são distribuídos nestes quadrantes a partir de uma análise da freqüência (f) dos termos, em cruzamento com a ordem média de importância (OMI). PERFIL DA AMOSTRA O perfil sócio-demográfico da amostra pode ser assim definido: Os respondentes são em sua maioria do sexo feminino (f=66-98,5%), cuja faixa etária encontra-se nos interstícios de 33 a 39 anos (f=24-35,82%) e 26 a 32 anos (f=15-22,38%). Dentre os 67 sujeitos entrevistados, 49,3% anunciaram-se solteiros (f=33) e 44,8% casados.(f=30). Em relação as suas atividades atuais e concomitantes com o curso de Pedagogia, os respondentes identificaram como de maior representatividade:1. trabalho em outra área (f=17-25,4%) e 2. trabalho na educação infantil (f=7-10,4%). Deste modo, 53,7% estão fazendo faculdade (f=36). A maioria dos acadêmicos declarou não possuir experiência profissional anterior. Entre os que declararam ter trabalhado anteriormente ou ainda estar

trabalhando destacam-se as seguintes modalidades; 1. Trabalhar com crianças em casa (18%); 2. trabalhar com turmas entre quatro e seis anos (9%); 3. trabalhar como professora de apoio (9%); 4. trabalhar em séries iniciais (9%). Observa-se que um número menos expressivo (7,5%) assinalou ter ou já ter tido experiência com criança até três anos de idades. Nota-se também que 25,5% da amostra distinguiu ter trabalhado ou trabalhar em atividades profissionais do campo educacional, enquanto 10,5% em atividades profissionais fora deste campo. 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O quadro com as evocações referentes ao termo indutor criança mostra-nos resultados obtidos por meio do processamento do EVOC, apontando um total de 268 palavras evocadas, das quais 77 são diferentes entre si, o que equivale a 61.9% do total. Concluída a fase do processamento, utilizando-se os dados da tabela de freqüência fornecidos pelo subprograma RANGMOT, determinou-se a freqüência mínima igual a quatro, a freqüência intermediária igual a 12 e a ordem média geral das evocações igual a 2,5. Abaixo o quadro de elementos estruturais organizado segundo a ordem média de importância (OMI).

OMI < 2,7 2,7 PRIMEIRA NÚCLEO CENTRAL PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI alegre-alegria 32 2,375 brincar-brincadeira 26 2,923 f 12 amor 23 2,174 ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA Atributos f OMI Atributos f OMI atencao-atento 5 2,4 bagunça 10 3,4 cuidado 8 2,375 brinquedo 8 3 educação 9 1,889 escola 10 2,1 esperta-ativa 8 2,375 família 6 1,5 futuro 7 2,571 inocência 9 2,556 f < 12 sinceridade-sincero 5 2,2 Ilustração 1: Elementos estruturais relativos ao termo indutor Criança, processados por ordem de importância (OMI). A partir da análise do quadrante acerca do mote criança, percebe-se que no núcleo central aninham-se atributos cujos significados estão associados à alegria e amor. Em complementação tem-se na primeira periferia o atributo brincar-brincadeira anunciando a imagem da criança terna e lúdica. A zona de contraste revela elementos que caracterizam a criança como um vir a ser orientado pelo modelo adulto tomado como estado final ideal do desenvolvimento humano educação, escola, família e futuro. Neste caso, tem-se a educação como processo de socialização da criança orientado pela ação do adulto pais ou professores. A segunda periferia contrapõe a idealização da criança anunciada no núcleo central e apresenta a idéia do brincar próximo do sentido de bagunça, da ausência de controle tal como sugere a descrição de Sarmento (2007) sobre a criança má. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS No âmbito dos atributos analisados pode-se dizer que a representação de criança, segundo os acadêmicos primeiroanistas do curso de Pedagogia, orienta-se pelos significados associados à criança autêntica (CHOMBART DE LAUWE, 2007) e à inocente (SARMENTO, 2007). Não obstante, nota-se, no sistema periférico, a presença

de significados antagônicos ligados à imagem da criança modelada (CHOMBART DE LAUWE, 2007) e da criança má (SARMENTO, 2007). Neste sentido pode-se pensar que, segundo os acadêmicos consultados, a personagem criança vivencia um duplo aspecto da infância, a criança autêntica e a criança modelada, encarnando um sistema de valores positivos e negativos de maneira preferencial, mas não única. REFERÊNCIAS ABRIC, J. C., A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA A. S. P.; OLIVEIRA, D. C. (Orgs.), Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB, 1998. p. 27-38. CHOMBART de LAUWE, Marie-José, Um outro mundo: a infância: Tradução Noemi Kon. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1991. FISCHER, G-N. Lês concepts fondamentaux de la psychologie sociale. Paris: Dunod, 1996. JODELET, Denise, Representações Sociais: um domínio em expansão, In: JODELET. D. (Org). As representações sociais. Tradução de Lilian Ulup: Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001. MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. NOBREGA, S.M. Sobre a teoria das representações sociais: In: MOREIRA, A.S.P. (Org). Representação social: teoria e prática. João Pessoa: Editora Universitária, 2001. SANTOS, M.F.S., A teoria das representações sociais. In: SANTOS, M.F.S.; L.M. (Org). Diálogos com a teoria das representações sociais. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2005. SARMENTO, M. J., A infância (in)visibilidade. In: VASCONCELLOS, V.M.R.; SARMENTO, M.J. Infância (In)visível, Araraquara.SP: Junqueira Marins, 2007.