Pioneirismo e Inovação na Obra Audiovisual de Samuel Beckett 1



Documentos relacionados
Fantasmas que assombram a Televisão

6 Conclusões e próximos passos

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

Design de superfície e arte: processo de criação em estamparia têxtil como lugar de encontro. Miriam Levinbook

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Produção de vídeos e educação musical: uma proposta interdisciplinar

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Estudo Exploratório. I. Introdução. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Pesquisa de Mercado. Paula Rebouças

Wanessa Valeze Ferrari Bighetti Universidade Estadual Paulista, Bauru/SP

TÍTULO / TÍTULO: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA AUDIOVISUAL ENTRE O TELEJORNALISMO E O CINEMA

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA As Fronteiras do Espaço

Daniel Chaves Santos Matrícula: Rio de Janeiro, 28 de maio de 2008.

Regulamento: Mostra Competitiva e Não Competitiva de Curtas-Metragens

CONCURSO DE PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS TIRANDO A DROGA DE CENA 2016

Relatório de Projeto de Desenvolvimento de Videoclipe

Resenha: SEMPRINI, Andrea. A Marca Pós-Moderna: Poder e Fragilidade da Marca na Sociedade Contemporânea. São Paulo : Estação das Letras, 2006.

RELATÓRIO MESA REVOLVER DESIGN (PESQUISA)

RÁDIONOVELA ALÉM DA PRODUTORA 1

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Data 23/01/2008. Guia do Professor. Introdução

PRÉ-PRODUÇÃO E PRODUÇÃO Marilia Mello Pisani

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Bernadete Zagonel

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

Terra de Gigantes 1 APRESENTAÇÃO

Célebre Sociedade: A Construção De Imagem de Celebridades Por Veículo De Comunicação Local. 1

Disponível em:

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.9, p , abr

Vídeo Institucional: PETCom Internacional 1

O processo da pauta do Programa Ade!

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

PALAVRAS CHAVE: Jornalismo. Projeto de Extensão. Programa Ade!. Interatividade.

WORKSHOPS CINE DESIGN Workshop 1 FIGURINO Com Luciana Buarque (PE/RJ)

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A MODELAGEM MATEMÁTICA NA MELHORIA DO ENSINO

FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DE CRIAÇÃO AUDIOVISUAL

Objetivo principal: aprender como definir e chamar funções.

O professor como trabalhador cultural: a pedagogia pós-crítica na base da ação do professor-ator.

A FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL NO CURSO DE MATEMÁTICA: RELATOS DECORRENTES DO COMPONENTE CURRICULAR LIBRAS Inês Ivone Cecin Soprano 1

Em atenção aos questionamentos ao Concorrência nº 07/2015:

Fotografia: Arte,Ciência e Tecnologia

Aux.Magazine Bilbao, Vizcaya, Espanha,

Dia 4. Criado para ser eterno

O vídeo nos processos de ensino e aprendizagem

Daniele Renata da Silva. Maurício Carlos da Silva

8 Conclusões, recomendações e desdobramentos

Gabriela Zilioti, graduanda de Licenciatura e Bacharelado em Geografia na Universidade Estadual de Campinas.

JOGOS NAS AULAS DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO PIBID: UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E DE INTERAÇÃO

FACULDADE DE TECNOLOGIA DE AMERICANA TRABALHO INTERDISCIPLINAR DO 2º PERÍODO PITEX

REGULAMENTO DO CONCURSO DE VÍDEO-ORATÓRIA

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul A CIDADE E UMA UNIVERSIDADE: NARRATIVAS POSSÍVEIS

REGULAMENTO PORTAL RIC TV RECORD

TÍTULO: COMO, PORQUE E PARA QUE FAZER UM PROGRAMA COMUNITÁRIO DE SAÚDE BUCAL: UMA EXPERIÊNCIA EM VÍDEO-ARTESANAL.

Sticker Art: Uma ferramenta de inclusão e conscientização do valor da arte

Proposta de reformulação da Pós-Graduação em Teatro e Comunidade ESMAE-IPP (aumento para 60 créditos)

AS AÇÕES FÍSICAS NO TEATRO CONTEMPORÂNEO. Palavras-chave: ação física; teatro contemporâneo; Samuel Beckett; Rockaby.

PROJETO DE REDES

A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS VISUAIS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DE ALUNOS SURDOS.

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

TÍTULO: Entendendo a divisão celular. NÍVEL DA TURMA: 1º ano do ensino médio. DURAÇÃO: 1h e 80 minutos (3 aulas)

Tutorial 7 Fóruns no Moodle

A discussão de controvérsias sócio-científicas a partir de documentários em vídeo

A MATEMÁTICA NO CARTÃO DE CRÉDITO

Encontro de Canto Coral (Encante)

ENCONTRO TEATRO ESCOLA

TEMAS AMBIENTAIS NA INTERNET

CHAMAMENTO PÚBLICO PARA SELEÇÃO DE ORIENTADORES ARTÍSTICOS EM TEATRO PARA O PROJETO ADEMAR GUERRA Edição 2013

Fotografia e Escola. Marcelo Valle 1

ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. Petrópolis: Vozes, 2008.

CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. Bruxelas, 26 de Outubro de 2010 (04.11) (OR. en) 15449/10 AUDIO 37 COMPET 311 CULT 98

INVENÇÃO EM UMA EXPERIMENTOTECA DE MATEMÁTICA: PROBLEMATIZAÇÕES E PRODUÇÃO MATEMÁTICA

BROCANELLI, Cláudio Roberto. Matthew Lipman: educação para o pensar filosófico na infância. Petrópolis: Vozes, RESENHA

O guia completo para uma presença. online IMBATÍVEL!

A PRODUÇÃO SABER LÍNGUA INGLESA

A LEITURA NA VOZ DO PROFESSOR: O MOVIMENTO DOS SENTIDOS

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE- INDUSTRIAL NA VOZ DO JORNAL O ETV : ECOS DA REFORMA CAPANEMA

5. Considerações Finais

O que é uma instalação?

Os Quatro Tipos de Solos - Coração

Videoclipe: Só sei dançar com você 1

RECURSOS DA INTERNET PARA O USO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: ORALIDADE

Linguagem Radiofônica Aula 1

Consumidor e produtor devem estar

Internet e leitura crítica das mídias para surdos

Resenha. Interesses Cruzados: A produção da cultura no jornalismo brasileiro (GADINI, Sérgio Luiz. São Paulo: Paulus, 2009 Coleção Comunicação)


Guia de Discussão Série Eu e meu dinheiro Episódio: Duas vezes Judite

História da Mídia Impressa na Educação

3.2. Experimentações: o processo de produção Iluminação de três pontos

Transcrição:

Pioneirismo e Inovação na Obra Audiovisual de Samuel Beckett 1 BORGES, Gabriela (Doutorado) 2 Universidade Federal de Juiz de Fora/MG Resumo: Este artigo aborda a produção audiovisual dos textos televisuais e teatrais do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, que foi também um pioneiro da televisão, apresentando dois momentos particularmente ricos na produção das emissoras públicas BBC (British Broadcsting Corporation) e a RTÉ (Radio Telefis Éireann). Nos anos 1960 Beckett encontrou na BBC um contexto de produção bastante favorável, que lhe permitiu, nas suas próprias palavras, propor as suas ideias malucas para a televisão. Neste mesmo período Beckett negou ao Diretor de Dramaturgia da RTÉ a escrita de qualquer tele-peça, afirmando que, mesmo que viesse a criar alguma coisa, a emissora não estaria preparada para transmiti-la. Quarenta anos depois, a RTÉ produz, em parceria com o Channel 4, o projeto Beckett on Film, que consta da transcriação das peças de teatro do autor para o meio audiovisual. Sendo assim, temos o intuito de discutir as condições de produção destes dois momentos, refletir sobre os contornos do desenvolvimento do gênero dramático na televisão enquanto um gênero autónomo do teatro e da literatura, bem como discutir as idiossincrasias das transcriações teatrais para o meio audiovisual, que absorvem e reforçam a própria poética audiovisual beckettiana. Palavras-chave: Dramaturgia televisiva; Samuel Beckett; Beckett on Film; BBC; RTÈ. O gênero dramático na televisão 3 Na BBC, as primeiras tele-peças começaram a ser produzidas em 1936, tendo como substrato textos literários, teatrais, do rádio e da narrativa clássica oriunda do 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013. 2 Mestre e Doutora pelo PPGCOS-PUC-SP e tem pós-doutorado pela Universidade do Algarve, Portugal. Atualmente leciona no PPGCOM da Universidade Federal de Juiz de Fora. Co-organizou Discursos e Práticas de Qualidade na Televisão, TV: formas audiovisuais de ficção e documentário Vol. I e II e publicou A poética televisual de Samuel Beckett, entre outros artigos em livros e revistas científicas brasileiras e estrangeiras. Email: gabriela.borges@ufjf.edu.br. 3 O desenvolvimento do gênero dramático na televisão apresentou características similares em emissoras como a BBC, a RTÉ, a RTP e a TV Tupi, mesmo que em épocas diferentes. A BBC começa a produzir as primeiras tele-peças em 1936, tendo sua Idade de Ouro nos anos 1960; a RTÉ começa a produzir nos anos 1960; a RTP nos anos 1950, com sua Época de Ouro nos anos 1960 e a TV Tupi também nos anos 1950. Neste momento, estamos a iniciar uma pesquisa comparativa sobre estes casos de estudo.

cinema. Caughie (1998: 29) afirma que, nos seus primórdios, a televisão estava preocupada apenas com o aprendizado da dinâmica das transmissões ao vivo e Gardner e Wyver (apud JACOBS, 1998: 39) enfatizam que se usavam somente os padrões e estilos do repertório do rádio e do teatro. Porém, a BBC sempre apresentou uma preocupação com o desenvolvimento de uma forma de expressão dramática diferente das outras artes. Jacobs (1998: 41,50) afirma que as tele-peças não apresentavam um estilo teatral de apresentação, pois procuravam mostrar os elementos mais importantes da peça como texto em si e não como expressão teatral. Mesmo transmitindo peças de teatro ao vivo na década de 1930, a BBC já mostrava os primeiros sinais do que seria a construção de uma estética própria. Esta se caracterizava por uma dupla mediação, isto é, o tratamento dado por várias câmeras num estúdio a uma performance teatral adaptada para ser transmitida ao vivo pela televisão. A influência da linguagem cinematográfica, principalmente da narrativa clássica, pode ser vista principalmente nos enquadramentos, nos movimentos de câmera e na edição. Nos primórdios da história do cinema, Grifitth percebeu que as características emocionais de uma representação podiam ser realçadas por meio do uso do close-up, que adquiriu um sentido dramático ao permitir que o telespectador se aproximasse dos pensamentos e sentimentos do personagem com uma intimidade nunca antes vista no teatro. O close-up se tornou a marca registrada da televisão, ao ponto dela ser conhecida como o veículo das cabeças falantes. Adams (1998: 154) afirma que o close-up é o plano mais importante da estética televisual porque dá a medida de todos os outros planos em termos de representação, permitindo fragmentar o corpo de um personagem, ressaltar o seu olhar e a sua personalidade e enfatizar certos detalhes significativos da narrativa. A utilização de diferentes recursos, tais como o uso das cenas filmadas em películas como establishing shots nas tele-peças ao vivo; o uso de quatro câmeras em posições diferentes, inclusive com mudança de posição durante a transmissão; a presença de vários cenários; a mudança de câmera dentro de uma mesma cena e a indicação de enquadramentos como o close-up e o plano médio permitem o desenvolvimento estilístico de uma nova forma de expressão potencialmente diferente em vários aspectos. Entre eles, destaca-se a predominância da significação do som na

televisão, que é usado para garantir a atenção do telespectador. Ellis (1992: 129-31) afirma que a imagem televisual tende a ser simples e sem muitos detalhes, enquanto o som fica responsável por evidenciar os detalhes. Com isso, a variedade e o interesse são gerados pela rápida mudança das imagens e não pela riqueza de detalhes de uma só imagem. A simplicidade das imagens da televisão é compensada pela técnica de edição rápida. Além disso, o uso de várias câmeras e a possibilidade de alterná-las produzem um estilo intrinsecamente televisual: a fragmentação de uma ação em vários planos cuja continuidade é mantida pela performance de diversas câmeras. Portanto, a linguagem televisual absorveu e adaptou técnicas de outros meios, principalmente do teatro e do cinema, que proporcionaram a criação de uma outra forma de expressão com características próprias, baseada no uso do close-up e dos recursos de edição. Isso se tornou mais evidente a partir da década de 1950, quando os programas começaram a ser escritos especialmente para o meio. Na Grã-Bretanha, o gênero dramático televisivo passou a se desvincular do teatro e da literatura com a entrada da primeira emissora comercial no mercado audiovisual, a ITV (Independent Television). Em 1956, a ITV começou a exibir conteúdos inéditos na série Armchair Theatre, produzida pelo canadense Sidney Newman, que contratou autores como Harold Pinter e Alan Plater para escrever roteiros originais. As peças de televisão eram encenadas nos estúdios da ABC em Manchester e transmitidas ao vivo depois do programa líder em audiência Sunday Night at the London Paladium. Newman trouxe um novo olhar para a dramaturgia televisiva britânica, pois apostou na produção de peças que eram ao mesmo tempo populares e culturais. A BBC logo percebeu o potencial mostrado por Sidney Newman e o contratou como Diretor Geral de Dramaturgia, pois este tinha uma visão mercadológica que era muito diferente da visão paternalista da BBC. Segundo Shubik (2000:22-3), Newman já tinha percebido que a audiência tinha pré-disposição para assistir aos programas que já conhecia, por isso é que os seriados tinham muito mais sucesso do que as narrativas de um só episódio, em que o espectador não sabia o que esperar. O Departamento de Dramaturgia da BBC teve um papel muito importante no desenvolvimento do gênero dramático na Grã-Bretanha e foi responsável pela chamada Idade de Ouro da televisão britânica (1965-1975). O Departamento de Dramaturgia estava dividido em três setores: Plays, responsável pelas produções de narrativas de um

capítulo, a maioria delas escritas especialmente para a televisão; Serials, para os episódios com continuidade semanal e Series, para produções com os mesmos personagens. O setor Plays estava dividido em dois grupos: Festival, que era dedicado às peças clássicas de autores como Jean Cocteau, James Joyce, Samuel Beckett, Eugéne Ionesco, entre outros; e First Night, que divulgava os novos escritores e era exibida no domingo à noite para concorrer com as tele-peças do Armchair Theatre. Durante este período foram produzidas tele-peças para os seguintes programas: Na BBC1, The Wednesday Play (1964-70), que foi substituído por Play for Today (1970-72) quando o programa passou para as quintas-feiras, e na BBC2 Story Parade (1963-64) e Theatre 625 (1964-1968). Um dos fatores que influenciou a Idade de Ouro foi a organização de um modelo de produção que valorizava a criatividade dos escritores. Aliás, devemos ressaltar que os produtores tinham muitas dificuldades de encontrar bons roteiros para fechar uma grade com periodicidade semanal. 4 Por mais controverso que possa parecer, a BBC começou a comprar roteiros televisuais de autores com experiência no meio literário e teatral para desenvolver um novo drama televisual que, por sua vez, almejava se desvincular da literatura e do teatro. Deste modo a BBC conseguia agregar qualidade aos seus programas, pois convidava dramaturgos, atores e atrizes de renome, com experiência comprovada em outros campos artísticos, para dar credibilidade às suas produções. A produção de roteiros originais e o advento da tecnologia de gravação da câmera de vídeo marcam a mudança da estética televisual, que perde a sua efemeridade e o seu senso de imediatez ao se desvincular das transmissões ao vivo de adaptações literárias e teatrais e começa a se definir com um senso de identidade própria ao empregar a criatividade no uso da tecnologia audiovisual. Em 1964, Troy Kennedy Martin escreveu o manifesto Nats go home: first statement of a new drama for television, em que critica o uso de uma estética naturalista na televisão britânica e reivindica a criação de um novo gênero dramático, que foi posteriormente denominado Não-Naturalismo. O Naturalismo era herança do teatro e da literatura e tornou-se o gênero televisual por excelência. Baseado em diálogos e no tempo natural, as peças naturalistas podiam ser gravadas muito facilmente, pois as 4 Eram produzidas trinta e duas peças por temporada. O programa The Wednesday Plays exibiu 176 peças entre 1964 e 1970 (SHUBIK, 2000: 42-55).

ferramentas disponíveis pela tecnologia televisual, como a câmera e os recursos de edição, somente enfatizavam o desenvolvimento da narrativa. O novo gênero dramático proposto por Martin (1964: 25) tinha como intuito desobrigar a câmera da gravação de diálogos; desvincular a estrutura narrativa do tempo natural e explorar a objetividade da câmera. Martin defendia uma televisão de autor e uma nova forma dramática que usasse a edição para reorganizar o tempo por meio da elipse, da condensação e da justaposição; e a objetividade como um recurso para situar o espectador a uma certa distância do evento, evitando assim a sua identificação total com a imagem, como ocorria nos filmes hollywoodianos. Caughie (2000: 96) afirma que Martin estava propondo um drama televisual criado por diretores que transformavam som, iluminação, edição e design em imagens e movimento e não por escritores que escreviam para atores falarem. Portanto, podemos afirmar que apesar de a BBC adaptar textos literários e teatrais e empregar dramaturgos e escritores para escreverem roteiros televisivos, tanto a imprensa quanto a própria direção do Departamento de Dramaturgia estavam debatendo sobre as possibilidades técnicas e estéticas na produção de novos programas dramáticos na televisão. As Produções Beckettianas O contexto institucional da emissora britânica entre a década de 1960 e 1980 permitiu a produção de programas inovadores e experimentais. A abertura da BBC2, a partir das recomendações do Relatório Pilkington, com o objetivo de veicular programas mais experimentais e financiar produções originais, assim como o advento do sistema de gravação da câmera de vídeo facilitaram o trabalho de Samuel Beckett com a BBC. A sua primeira tele-peça Eh Joe, a piece for television foi enviada em 1966 para a avaliação de Michael Bakewell 5, Diretor de Peças do Departamento de Dramaturgia da BBC. Bakewell afirma que o roteiro apareceu inesperadamente na redação e ele ficou muito interessado em produzi-lo, mas a emissora britânica foi lenta em marcar as datas para a gravação e a transmissão da tele-peça (KNOWLSON, 1997: 535). Sua estréia foi 5 Ele foi também diretor da peça de rádio Words and Music para o BBC Third Programme em 1962.

em 4 de julho de 1968 às 22:10 horas na BBC2. De acordo com o Relatório da BBC Audience Research 6, Eh Joe teve uma audiência de apenas 3%. Os telespectadores acharam a peça monótona, tediosa, sem apelo visual devido à sua atmosfera sombria. Eles atestaram ainda que os pensamentos de Joe, personificados na voz da personagem Voice, não prenderam a atenção (ZILLIACUS, 1976: 198). Após a supervisão da produção da sua primeira tele-peça, Beckett teve a possibilidade de supervisionar todas as outras peças que escreveu para a BBC. Em abril de 1976 várias comemorações estavam sendo organizadas em Londres para a comemoração dos 70 anos de Beckett. A BBC participou com a re-transmissão das peças de rádio e a estréia de Rough for Radio II. Em termos televisuais, tinha sido adaptada a peça Not I 7, e Tristam Powell, editor da série Second House, queria outra peça para acompanhá-la, que não fosse Eh Joe, pois esta estava gravada em preto e branco, nem uma performance-solo. A BBC consultou Beckett para saber se Donald McWhinnie poderia escolher uma de suas peças de rádio ou teatro para ser adaptada. Beckett não deu a sua permissão dentro dos prazos previstos e propôs a criação de uma nova tele-peça para ser dirigida por McWhinnie. Com isso, a exibição de Not I foi prorrogada e a BBC não participou das comemorações do seu septuagenário, mas Beckett escreveu a sua segunda tele-peça intitulada Ghost trio, baseada no Trio para Piano N 5, de Beethoven. Em janeiro de 1976, Beckett escreveu de Tanger, em Marrocos, para o seu amigo Con Leventhal dizendo que tinha escrito uma peça para a televisão: Todos os velhos fantasmas. Para sempre Godot e Eh Joe. Resta somente darlhes vida (KNOWLSON, 1997: 621) 8. Para acompanhar Not I e Ghost trio seria adaptada a peça Play, em exibição no Royal Court Theatre em Londres, mas Beckett não gostou dos resultados da adaptação feita pela BBC e começou a escrever uma segunda tele-peça, que se transformou em...but the clouds..., produzida em 1976 pela mesma equipe, com a supervisão de Beckett. As três tele-peças estrearam no programa The Lively Arts, sob o título Shades, exibido no dia 17 de abril de 1977 na BBC2 (KNOWLSON, 1997: 634). 6 Este relatório está disponível no BBC Written Archive em Caversham. 7 Em 1973, Beckett já havia concordado com a adaptação, mas ela não pôde ser feita porque o Royal Court Theatre tinha a exclusividade do contrato e pretendia reencenar a peça juntamente com Happy Days. 8 All the old ghosts. Godot and Eh Joe over infinity. Only remains to bring it to life. (tradução da autora).

A recepção de Shades foi bastante controversa. O jornalista Michael Billington (apud FLETCHER, 1978: 210) do jornal The Guardian elogiou a beleza das imagens e chamou Ghost trio de uma pintura hipnotizante para a televisão, perguntando-se porque é que o naturalismo ainda era o principal gênero televisual. Por outro lado, o diretor de televisão Dennis Potter, que estava preocupado em desvincular a televisão das convenções do naturalismo proveniente do teatro, criticou-as violentamente em um artigo para o jornal The Sunday Times. Potter (1977:38) afirmou que as tele-peças de Beckett constituíam a mais pura essência da arte ocidental, pois não tinham nenhuma relevância. Ele questionou se este tipo de arte se apresentava como resposta ao desespero e ao remorso da nossa era, ou se, por outro lado, a sua futilidade é que permitiu o desenvolvimento de ideologias corruptas como o nazismo. As tele-peças de Beckett, por serem tão originais e se distinguirem do que estava sendo feito na televisão, irrompendo fronteiras que ainda estavam sendo demarcadas, tinham o poder de gerar reações tão adversas como as que foram acima mencionadas. No entanto, é facto que Samuel Beckett tornou-se um dos pioneiros da televisão, criando uma poética televisual muito peculiar, que explora as ferramentas audiovisuais no sentido de criar um imaginário minimalista, abstrato e fantasmagórico. As suas telepeças se diferenciam de todas as outras experiências estéticas que estavam sendo produzidas na televisão europeia naquele momento, proporcionando o deslocamento do olhar dos telespectadores e trazendo novas experiências para a audiência. Com bocaspersonagens e cabeças falantes que se movem na tela, a aproximação de Beckett à televisão é tão radical e inovadora que ele não apenas quebra as regras do Naturalismo, como também de qualquer outro gênero dramático modernista. Na televisão, Beckett teve a possibilidade de apresentar o seu olhar estético como autor e aperfeiçoá-lo como diretor, ao ter contato com a prática de gravação nos estúdios, muitas vezes reescrevendo os roteiros para expressar as idéias que tinha visualizado. Além disso, ele foi capaz de propor um diálogo com a tecnologia televisual a fim de explorar a sua capacidade de comunicação. Este diálogo deu-se no uso das ferramentas televisuais, como a câmera e os recursos de áudio e edição, que permitiram o desdobramento das relações intersemióticas que permeiam toda a obra beckettiana e que se delineam no tratamento de temas como a repetição, a memória, a fragmentação, a percepção e a abstração, e também da criação dos personagens televisuais, teatrais e

cinematográficos, criando assim um universo abstrato e fantasmagórico. O Projeto Beckett on film O projeto Beckett on Film, que começou a ser realizado em 1999 e teve estreia em 2001, consta da transcriação audiovisual e posterior exibição no cinema e na televisão das dezenove peças de teatro do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. As dezenove peças de teatro do autor foram originalmente produzidas pelo Gate Theatre Dublin e apresentadas, juntamente com as peças de rádio, no Beckett Festival realizado em 1991. Devido ao grande sucesso de público nos palcos de Londres, Nova York e Melbourne, Michael Colgan, diretor artístico do Gate Theatre, e Alan Moloney, da produtora Blue Angel Films, propuseram a realização deste projeto para a RTÈ, televisão pública irlandesa, que co-produziu os filmes em parceria com o Channel 4 e o Bord Scannán na héireann/the Irish Film Board. O Beckett Estate, detentor dos direitos autorais da obra beckettiana, impôs várias condições para a filmagem das peças, destacando-se, entre elas, o critério de escolha dos diretores, que deveriam ter experiência como escritores, e o cumprimento de todas as instruções ou rubricas do autor para a performance das peças. Colgan 9 conta que foi escrita uma bíblia para os diretores, cujas instruções eram categóricas: cortes no texto e definições de gênero não eram permitidos e, por exemplo, onde estava escrita a palavra praia devia haver uma praia, pois adaptações ou cenas inspiradas em outros autores ou mesmo em outros textos de Beckett não seriam aceitas. O desafio dos diretores estava na passagem do texto teatral inalterado para a tela, usando somente os recursos do meio audiovisual: os movimentos de câmera, de edição, a sonorização, a iluminação e os enquadramentos. Por outro lado, foi dada total liberdade para a escolha do elenco, pois os produtores esperavam que os diretores contratassem atores e atrizes de renome para dar credibilidade ao projeto. Como estas peças foram escritas tanto em inglês quanto em francês ao longo de 31 anos de trabalho, é possível perceber a criação de uma poética cujo universo temático abrange o que Beckett considerava ser os dois atributos do câncer do tempo, o hábito e a memória, principalmente relacionados com a existência humana e a 9 Disponível em <www.beckettonfilm.com> Acesso em 20 de abril de 2013.

inevitabilidade da morte. Num constante processo de minimalização e abstração, os cenários apresentam poucos objetos e não representam um espaço definido de ação no sentido realista ou naturalista do termo. As narrativas das peças não estão baseadas na unidade da ação aristotélica, com começo, meio e fim e são circulares. Os diálogos não correspondem às ações e os personagens, aos poucos, vão sendo imobilizados. A idéia do drama como representação mimética da realidade é questionada quando a imitação de uma ação torna-se o próprio tema das peças. Sem dúvida que Beckett subverteu as regras daquilo que era considerado o drama teatral, principalmente nos anos 1950. Porém, a questão é se os filmes conseguem transpor as particularidades da linguagem teatral e expressar as suas principais idéias na linguagem audiovisual. Sem dúvida que a criatividade dos diretores na elaboração das transcriações foi o ponto mais importante do sucesso do projeto Beckett on Film, pois algumas peças se adequam muito bem às especificidades da linguagem audiovisual, principalmente se consideramos o uso da câmera e dos recursos de edição. Os filmes foram captados em película e disponibilizados em DVD. Na televisão RTÈ 10, foram exibidos em blocos, pois a maioria deles é de curta-metragem, juntamente com as entrevistas dos diretores e atores. Todo este material encontra-se também no DVD, além do documentário Check the Gate: Putting Beckett on Film. Os filmes tiveram uma ótima acolhida por parte da crítica e do público ao serem exibidos em festivais de cinema ao redor do mundo 11, mas quando foram exibidos na televisão os índices de audiência foram tão baixos que o Channel 4 12 não chegou a exibir todos eles, o que é um contrassenso num canal como este. Ainda assim, o projeto ganhou o prêmio Best TV Drama do South Bank Award Ceremony, em 2002. A sua realização levanta uma discussão muito interessante em relação tanto à criação artística quanto à crítica da obra de Beckett, pois o autor era contrário à adaptação de suas peças para outros meios, chegando inclusive a impedir que algumas produções fossem realizadas. Beckett acreditava que o meio era um dos elementos que dialogava com a performance e a transcriação não iria permitir este diálogo. 10 Foi exibido numa temporada em Março-Abril de 2001 na RTÈ. 11 Os filmes estrearam no Festival Beckett on film no Irish Film Centre em Abril de 2001. 12 O Channel 4 exibiu apenas Catastrophe, Rockaby, Play, Waiting for Godot, Not I e Breath em meados de 2011.

No entanto, é importante considerar que no período entre 1967 e 1986, Beckett se torna o encenador de seus próprios trabalhos, e mesmo antes, trabalhando muito próximo dos encenadores, tais como Alan Schneider e Walter Asmus, o autor começa a reescrever as suas peças, principalmente as rubricas de cena, para que melhor se adequassem à representação, tendo em conta o estilo dos atores e a língua em que estavam sendo encenadas. Sendo assim, como bem afirma Gontarski (2008: 278), Beckett acaba por reescrever o seu próprio cânone. O processo criativo do autor passou a ser composto pela escrita, tradução e encenação, sendo que pretendia, com a encenação, estabelecer um padrão de fidelidade ao texto teatral que depois pudesse ser seguido por outros encenadores. Portanto, o processo de encenar passa a ser visto como um ato de revisão textual, ou mais do que isto, um ato de (re)criação, pois Beckett aprende que a escrita teatral não pode estar dissociada da representação. Com isso, podemos argumentar que o texto definitivo nunca existiu e que as diversas publicações em diferentes línguas nunca chegaram a publicar o texto definitivo, simplesmente porque este era (re)criado na performance seguinte. Neste sentido, o trabalho de Beckett abre a possibilidade de ser recriado também por futuros encenadores, que irão se aproximar com um olhar diferente. Sendo assim, acreditamos que a reescritura dos textos a partir da encenação, conforme Gontarski ressalta nos estudos dos cadernos de anotações do autor, nos permite estabelecer uma relação com a proposta do projeto Beckett on Film. Gontarski (2008: 278) sugere que os textos que foram revisados durante a encenação aproximam-se mais de estarem terminados do que aqueles originalmente publicados, no sentido colocado por Blanchot: uma obra está terminada não quando é completada, mas quando aquele que trabalha nela por dentro pode também, da mesma forma [que o autor] terminá-la de fora. Como ressalta Gontarski (id.), se as peças revisadas e corrigidas estão acabadas é porque Beckett as abordou de fora, como um outro, como um leitor e encenador. Como bom leitor, Beckett viu mais nos seus textos a cada leitura e dirigi-los ofereceu a ele a oportunidade de relê-los intensamente. Esta reflexão nos permite sugerir que as peças de teatro de Beckett, ao serem transcriadas para o meio audiovisual, televisão e cinema, permitiram aos realizadores

trabalhá-las por dentro a fim de terminá-las de fora. Neste sentido, o projeto Beckett on Film, apesar das restrições do Beckett Estate quanto às alterações do texto e das rubricas, permitiu que os realizadores (re)criassem/(re)lessem a obra e apresentassem outras soluções estéticas que podem, de certa forma, enriquecer a experiência estética. Sem dúvida que estas restrições influenciaram a criação fílmica, pois todos os diretores tiveram de cumpri-las. No entanto, por outro lado, lançaram um desafio bastante interessante em termos da construção dramatúrgica e da criação da própria mise-enscène no meio audiovisual. Considerações finais Sendo assim, a realização do projeto Beckett on Film levanta uma discussão muito instigante em relação à criação artística e à crítica da obra do autor. Sabe-se que Beckett não autorizava as adaptações da sua obra mas, curiosamente, o meio audiovisual permitiu o apuramento estético da abstração das imagens criadas pelo autor. No caso deste projeto, podemos sugerir que, se por um lado as peças perderam a imediaticidade da performance ao vivo, que é intrínseca à linguagem teatral, por outro lado elas se tornaram mais acessíveis e popularizaram o trabalho de Beckett e, mais do que isso, deixaram as suas idéias impressas permanentemente em formato audiovisual. Neste sentido, devemos ressaltar a riqueza dos filmes do projeto Beckett on Film pois, apesar das restrições, as transcriações das peças funcionam enquanto produtos audiovisuais, apresentam o apelo da linguagem audiovisual e não são, de modo algum, teatro filmado. Os filmes dialogam com a poética televisual beckettiana e ressignificam a obra poética do autor. Sendo assim, estes produtos audiovisuais se tornaram uma referência sobre a obra beckettiana, permitindo que esta continue a ser estudada e que as novas gerações venham a conhecer trabalhos tão idiossincráticos e relevantes para a história da dramaturgia ocidental. Para finalizar é importante ressaltar que este trabalho é parte integrante do projeto Didaskália: da voz autoral de Beckett à liberdade de criação, que tem o intuito de analisar as dezenove peças de teatro adaptadas para televisão e cinema pelo projeto

Beckett on Film, conforme pode ser observado nos resultados parcias que já foram disponibilizados em diversas publicações (Borges 2010a, 2010b, 2011, 2012). Referências ADAMS, John (1998). Screenplay: elements of a performance aesthetic in television drama. In: RIDGMAN, Jeremy (ed). Boxed sets: television representations of theatre. Luton: John Libbey Media. BECKETT; Samuel (1990). The complete dramatic works. 2ª ed. Londres: Faber and Faber Limited. BORGES, Gabriela (2009). A poética televisual de Samuel Beckett. São Paulo: Annablume. (2010a). Beckett on Film: from theatre to audiovisual literacy. in VALENTE, António Costa e CAPUCHO, Rita (coord.), Proceedings Avanca Cinema 2010, Ed. Cine-Clube de Avanca. Tomo II, p. 294-297. (2010b). As cabeças falantes do universo beckettiano. Uma análise da transcriação do texto teatral de That time. In: Borges, Gabriela (org) (2010). Nas margens: ensaios sobre teatro, cinema e meios digitais. Lisboa: Ed. Gradiva. (2011) Play it again, Sam. Transcriação de narrativas beckettianas nos meios audiovisuais. In: PUCCI Jr, Renato, BORGES, Gabriela, SELIGMAN, Flávia (org.) TV: formas audiovisuais de ficção e documentário. 1ª ed. Faro : Ciac e Socine, 2011, v.i, p. 79-89. Disponível em http://www.ciac.pt/livro/livro.html. Acesso em 25 de mar. 2013. (2012) Enquanto se espera por Godot: mise-en-scène e edição no telefilme Waiting for Godot In: PUCCI JR., Renato, BORGES, Gabriela, SELIGMAN, Flávia (org.) Televisão: Formas Audiovisuais de Ficção e de Documentário. Volume II. 1 ed. Campinas e Faro: Unicamp, CIAC e Socine, 2012, p. 56-67. Disponível em http://www.ciac.pt/renato%20pucci/index.html. Acesso em 25 de mar. 2013. CAUGHIE, John (1998). Before the Golden Age. In: RIDGMAN, Jeremy (org.). Boxed sets: television representations of theatre. Luton: John Libbey Media. ---------------------- (2000). Television Drama. Naturalism, Modernism and British

Culture. Oxford: Oxford University Press. ELLIS, John (1990). (1992). Visible fictions: cinema, television, video. 2 ed., Londres: Routledge. FLETCHER, John (2000). Samuel Beckett. Waiting fo Godot, Endgame, Krapp s Last Tape. Londres: Faber and Faber Limited. GONTARSKI, Stanley E. (2008). Revisitando a si mesmo. O espetáculo como texto no teatro de Samuel Beckett. In: Sala Preta, Escola de Comunicação e Artes da USP, São Paulo, nº 8, p. 261-280. JACOBS, Jason. No respect: shot and scene in early TV drama. In: RIDGMAN, Jeremy (org.). Boxed sets: television representations of theatre. Luton: John Libbey Media, 1998. KNOWLSON, James (1997). Damned to fame. The life of Samuel Beckett. Londres: Bloomsbury Publishing. MARTIN, Troy. Kennedy. Nats go home: a statement for a new drama for television. Encore, Londres, março-abril 1964, n.48, p. 21-33. SHUBIK, Irene. Play for Today. The evolution of television drama. 2 ed. Manchester e Nova York: Manchester University Press, 2000. ZILLIACUS, Clas. Beckett and Broadcasting. A study of the works of Samuel Beckett for and in radio and television. Abo: Abo Akademi, 1976.