Segurança nas estradas Portugal regista baixa nas vítimas mortais País foi o segundo da UE a reduzir acidentes Prevenção marca novo Código da Estrada



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Transcrição:

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n. o 2761, de 30 de Maio de 2014, e não pode ser vendido separadamente. Segurança nas estradas Portugal regista baixa nas vítimas mortais País foi o segundo da UE a reduzir acidentes Prevenção marca novo Código da Estrada Projectos editoriais realizados em parceria. Todos os conteúdos são de jornalistas do Negócios caso nada se diga em contrário. Atenção redobrada Crianças são o melhor polícia dentro do carro Forças de segurança Crise travou circulação e também sinistralidade Bruno Simão Publicidade

II SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 NEGÓCIOS INICIATIVAS Congresso Prevenir e Reparar SINISTRALIDADE Portugal foi segundo na redução de mortes nas estradas em 2013 Miguel Macedo reconhece que o País tem conseguido reduzir o número de vítimas mortais resultantes de acidentes nas estradas portuguesas. No entanto, o governante assegura que há ainda um longo caminho a percorrer. ANA LARANJEIRO alaranjeiro@negocios.pt BRUNO SIMÃO Fotografia U ma verdadeira chaga social. Foi assim que Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, caracterizou, durante o Congresso Prevenir e Reparar, a sinistralidade rodoviária em Portugal nas décadas de 1980 e 1990, relativamente às vítimas mortais e aos feridos graves. No entanto, e sem prejuízo de reconhecer que existem ainda desafios grandes pela frente, felizmente o contexto actual começa a ser bem diferente. Durante este congresso, o governante defendeuque nos últimos anosverificou-senopaísumareduçãosustentadadonúmerodevítimas mortais e de feridos graves em acidentes rodoviários. Segundo dados da União Europeia (UE), assinaloumiguelmacedo,portugalfoi o segundo país com maior redução do número de vítimas mortais em 2013, sendo que, em 2012, já tinha sidooquartoestado-membroda UE com maior redução. O ministro recordou que, em 1982, o número de mortos nas estradas nacionais situava-se em torno das 2.100 sendo que, dez anos depois, o número de vítimas mortais era superior, ascendendo a mais de 2.300. No entanto, no início deste século, começou averificar-se uma trajectória descendente relativamente ao número de mortes. Em 2002, morreram nas estradas portuguesas 1.469 pessoas. E, em 2012, dados que foram recolhidos, [apontam para] 718 mortes que resultaram de acidentes de viação, referiu. A Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR), que arrancou em 2008 e se prolonga até 2015, é em parte responsável por esta redução no número de vítimas mortais. Uma estratégiaque,navisãodoministro, só pode seraplicadacom o empenho das entidades públicas e privadas com responsabilidade nesta matéria. A estratégia foi revista tal como estava previsto em 2011. Mais do que uma mera acção de calendário, o País tinha nesta revisão um desafio e uma oportunidade, defendeu Miguel Macedo. Nesta revisão, esteve presente a ambição de que a sinistralidade rodoviária deverá tender, a longo prazo, para um resultado de zero mortos e zero feridos graves. Ainda assim, os objectivos mantiveram-se face ao que foi definido em 2009: a meta quantitativa de 62 mortos por milhão de habitantes no final de 2015 queéumindicadorque está definido pela ONU e, por outro lado, uma meta qualitativa de colocar Portugal entre os 10 países da União Europeia com os mais baixos índices de sinistralidade rodoviária. Neste momento, estamos em 18º lugar. Fizemos um percurso ascendente, apontou ainda. Factores que levaram à redução de mortes Miguel Macedo optou por destacar quatro factores que considerarelevantes paraadiminuição do número de vítimas mortais. Em primeiro lugar, estão as melhorias das condições de circulação nas estradas portuguesas que contribuíram para condições acrescidas de segurança na circulação no País. Poroutro lado, o segundo ponto para o governante são as melhorias introduzidas ao longo do temponoensinodecondução,nos processos de avaliação dos condutores e de aptidão dos condutores parao desempenho daactividade dacondução. As acções de prevenção e sensibilização são também outro dos pontos essenciais. E, por fim, surgem as operações de fiscalização. Se são muito importantes todososoutrosfactores,aáreade fiscalização não é umacomponentemenosimportantedeumsistema que tenha em vista a redução dasinistralidade em Portugal. Fiscalizamos mais, fiscalizamos melhorefiscalizamosdemaneiradiferente. É uma componente que é relevantedopontodevistadevisibilidade. É uma componente que, sendo visível, faz com que os condutores tenham comportamentos diferentes e melhores, do ponto de vista da segurança rodoviária, afirmou. Os seniores e a estrada De acordo com os indicadores citados pelo governante, de 2010 a 2012, e tendo porbase as vítimas a 30 dias, as pessoas com mais de 65 anos constituíram 29% do total das vítimas mortais resultantes de acidentese17%dosferidosgraves. Relativamente àdistribuição dasvítimassenioresporcategorias, verifica-se que 46% do total de mortos eram condutores, 13% eram passageiros e 40% eram peões. Neste sentido, Miguel Macedo apontou, que apesar de cada caso serumcaso, é necessário daratenção aeste segmento etário. Portal razão, o governante evidenciou que a Autoridade Nacional de SegurançaRodoviáriaestáatrabalhar com os municípios portugueses para resolver um conjunto de questões nesta área. Mais do que uma mera acção de calendário, o País tinha nesta revisão [da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária] um desafio e uma oportunidade. MIGUEL MACEDO Ministro da Administração Interna

SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 SUPLEMENTO III Trauma e violência são flagelos responsáveis por cerca de 10% das mortes que anualmente ocorrem a nível mundial. DUARTE NUNO VIEIRA Presidente Associação Portuguesa deavaliaçãododanocorporal A melhoria introduzida ao nível da fiscalização é apontada por Miguel Macedo como um dos factores que contribuíram para reduzir a sinistralidade rodoviária. Evolução foi positiva em matéria de danos corporais Compete aos serviços de química e toxicologia forenses do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses a realização de todas as confirmações em sangue, quer de álcool quer de substâncias psicotrópicas. AAssociação Portuguesade AvaliaçãodoDanoCorporalconsidera que Portugal, ao longo das últimas décadas, evoluiu positivamente em termos de avaliação de danos corporais. Contudo, opresidenteda instituição, Duarte Nuno Vieira, salvaguardoudurante o Congresso Prevenire Repararquemuito permanece aindaporfazere existe um amplo espaço de progressão e melhorianaavaliação e reparação dos sinistrados. O responsável lembrou que, no início deste século, a Organização Mundial de Saúde publicou um relatórionoqualalertavaparaofacto deotraumaeaviolênciaseremdois dosmaioresflagelosnosdiasdehoje. Flagelosresponsáveisporcercade 10%dasmortesqueanualmente ocorrem a nível mundial com tre- mendasimplicaçõesdopontodevis- ta económico, nomeadamente, pelas suas repercussões na saúde físicae psíquicadas vítimas, afectando profundamenteosentimentodesegurançae protecção que é essencial paraumasaudávelvivênciadoquotidiano,sustentou.osacidenteslaboraiseosacidentesrodoviáriossão, porconseguinte, duas formas de sinistralidade que têm responsabilidade nas situações de trauma. Duranteasuaintervenção, oresponsável apontouaindaque naáreadasinistralidaderodoviáriaegraçasaos esforçosdesenvolvidoseàsiniciativas promovidas, Portugal tem conseguido progressos assinaláveis e melhoriasquedevememerecemser destacados. Mas, apesar desses progressos e melhorias, Portugal continuaaindaaocuparnestedomí- nioumaposiçãonopanoramaeuro- peu que deve continuar a suscitar a nossa preocupação. Isso significa que temos de dar continuidade aos esforços que têmvindo aserdesenvolvidos, acrescentou. 53% dos processos do Instituto de Medicina Legal foram de âmbito rodoviário Uma das actividades desenvolvidaspeloinstitutonacionaldemedicina Legal e Ciências Forenses é aferirse os cidadãos, através de testes, estavam a conduzir sob a influênciadoálcoolousubstânciaspsicotrópicas. Compete aos serviços dequímicaetoxicologiaforenses[do Instituto Nacional de MedicinaLegaleCiênciasForenses] arealização detodasasconfirmaçõesemsangue, quer de álcool quer de substâncias psicotrópicas, correspondendo a umagrandepercentagemdonúmero de perícias realizadas, afirmou Francisco Brízida Martins, presidentedoinstituto, duranteasuaintervenção no Congresso. Efectivamente, e a título de exemplo, no ano de 2013, 53% dos processos que deram entrada nesses serviços corresponderam a pedidos por parte da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, no âmbitodocódigodaestrada, prosseguiu. Por outro lado, Francisco Martins destacou ainda que cerca de dois terços das perícias paraaavaliação de dano corporal realizadas porestaentidade públicaforamem vítimasdeacidentesdeviação. ANA LARANJEIRO FRANCISCO BRÍZIDA MARTINS Presidente Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses

IV SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 NEGÓCIOS INICIATIVAS Congresso Prevenir e Reparar SEGURANÇA Crise pode ter ajudado a reduzir sinistralidade A sinistralidade rodoviária em Portugal tem vindo a diminuir. A crise pode ter tido um papel na redução do número de acidentes e de vítimas mortais. P or vezes, aponta-se para a diminuição do número de acidentes rodoviários edevítimasmortaiscomouma das alterações verificadas em Portugal devido àcrise. O coronel Gabriel Chaves Barão Mendes, da GNR que esteve presente no Congresso Prevenir e Reparar assinalou que as forças de segurança habitualmente não fazem este tipo de análise. No entanto, salientou que aredução dasinistralidade vem [revelando ser] sustentadadesdeháumadécada,independentemente do momento que passamos no País. Creio que, de qualquer forma, temos verificado um decréscimo das velocidades registadas (...) principalmente nos últimos dois anos. E havendo mais fiscalização, ou seja, mais veículos controlados, há menores excessos detectados. Gostamos de acreditar que as pessoas tomaram consciência que têm de conduzir dentro dos limitesdevelocidade,afirmou. Por outro lado, o coronel Barão Mendes sustentou ainda que a subida dos preços dos combustíveis faz com que as pessoas reduzam a velocidade. Uma questão que pode estar relacionada com a reduçãodonúmerodeacidentese de vítimas mortais. Temos verificado um decréscimo das velocidades registadas, principalmente nos últimos dois anos. Havendo mais fiscalização, há menores excessos detectados. GABRIEL BARÃO CHAVES Coronel do Comando Operacional da Guarda Nacional Republicana Também neste sentido foi a intervenção de Arlindo Donário, professor na Universidade Autónoma de Lisboa e investigador nesta área. O responsável citou um estudo que abrangeu um períodode20anos queterminaram em 2011 parasustentarque acrise tem efeitos naredução dos mortos e dos feridos graves. A crise levando a que uma grande parte dapopulação diminuao seu rendimento disponível, significa que o seu status quo altera-se. Muitas coisas que as pessoas anteriormente viam como ganhos passaram a ser vistas como perdas, explicou. E essas perdas, de acordo com estudos, podem ser sentidas cerca de 2,5 vezes mais do que os correspondentes ganhos. Com uma baixa do rendimento disponível, as pessoas têm menos tempo de exposição ao risco [porque circulam menos nas estradas] e, por conseguinte, isso levaaumadiminuição dos [númerosde]acidentesedemortoseferidos, acrescentou. Alémdisso,decertaformaos gastos são ponderados de maneiradiferentenumaalturadeaperto económico, tendo cada euro temumvalormaior quandose verifica uma situação de crise. Arlindo Donário alertou ain- da que o aumento dos impostos sobre os automóveis de alta cilindrada leva a população a escolher veículos de menor cilindrada e menor massa. Estes são menos resistentes em caso de embate, fazendo que seja maior a possibilidade de danos pessoais. Custos dos acidentes de viação Um estudo realizado pela Universidade Autónoma de Lisboa a pedido da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (intitulado de Custo Económico e Social dos Acidentes de Viação em Portugal) que avaliou o período compreendido entre 1996 a 2010, revelou que os custos económicos e sociais médios dos acidentes de viação foram de 2.500 milhões de euros porano. Arlindo Donário, um dos autores deste estudo, defende que em 2010, o último ano daanálise, estes custos reduziram-se, sendo que foramde cercade 1.800 milhões de euros. O que correspondeu, em 2010, a 1,7% do produto interno bruto (PIB) português em termos reais [tendo] como ano base 1996. Verificamosque,ocustoporvítima mortal emmédia foidecercade 660 mil euros. O custo por ferido gravefoidecercadecemmileuros e por ferido ligeiro foi cerca de 22 mil euros, acrescentou. Os custos indirectos, como por exemplo a perda de produtividade, estão incluídos dentro dos custos totais. Neste sentido, defendeu,oscustosdeproduçãocreio que correspondem a cerca 40% doscustoseconómicosesociais totais. ANA LARANJEIRO

SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 SUPLEMENTO V Aquilo que acho que terá de continuar a existir é uma educação transversal a todas as idades. Desde a pré- -primária, ao longo da vida escolar, da adolescência e nas fases anteriores à carta de condução. Os jovens têm um papel preponderante nãosónasuaprópria avaliação do risco mas também na produção de segurança dentro dos carros. PAULO ORNELAS FLOR Subintendente da PSP Painel de especialistas e forças de segurança debateram a evolução da segurança rodoviária em Portugal. Crianças são o melhor polícia dentro de um carro Aeducação é um dos pontos fundamentaisparareduzirasinistralidade rodoviáriaem Portugal. Aquilo que achoqueterádecontinuaraexistiré umaeducação transversal atodas as idades. Desdeapré-primária, aolongo davidaescolar, daadolescênciae nasfasesanterioresàcartadecondução, defendeu o subintendente da PSP,PauloOrnelasFlor,nodecorrer dasuaintervençãonocongressoprevenirereparar. Aindaqueaeducaçãodevaser transversalatodasasfaixasetárias,as criançaseosjovenstêmumpapelessencialnoquetocaàsegurançanaestrada. Os jovens têm um papel preponderantenãosónasuaprópriaavaliaçãodoriscomastambémnaprodução de segurançadentro dos carros. As crianças, acimade tudo, são hoje emdiao nosso melhoragente de políticadentro de um carro porque são aquelesquemelhoridentificamoserros dos pais, dos condutores, defendeuosubintendentedapsp. As escolas contribuem paraesta educação,sendoqueosconselhospedagógicosdasescolastêmpercebidoa necessidadedestepapelinterventivo. Alémdisso,todaaevoluçãoquetem sidofeitaemtermosdeescolasegura, programasdeproximidade(...)acções de fiscalização que fazemos com as crianças e que são bemaceites pelos condutoresepelospaissãoobjectivamente outofthe box. É pôrtodo o padrão,desdeacriançaatéaoseuciclo familiarmaispróximo,apensardeformaconstrutivanasegurança,disse. Dadaaimportânciadaeducação, Paulo Floradmite que háumgrande investimento feito nestaárea, sendo mesmopróximodoregistadocomacçõesdefiscalização.arrisco-meadizerqueinvestimoshojemaisnaeducação,maisnaproximidade,doquese calharestamosainvestirnafiscalização. [Isto] porque percebemos que hoje,comocondutores,arealidadede Portugalébemdiferentedaquiloque erahá10 anos, afirmou o subintendentedapsp. Poroutrolado,edadoque,nomeadamente,oCódigodaEstradavão sofrendoalteraçõesaolongodosanos, éimportante queoscondutores façam reciclagens paraque estejam actualizados. ANA LARANJEIRO

VI SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 NEGÓCIOS INICIATIVAS Congresso Prevenir e Reparar Direito também contribui para prevenir acidentes As mudanças no Código da Estrada que entraram em vigor no início deste ano são uma das contribuições do direito para a diminuição da sinistralidade rodoviária. Entre os vários contributos dados pelo direito para a melhoriadacirculaçãorodoviáriaestáonovocódigodaestrada. Emvigordesde o dia1 de Janeiro desteano,estecódigointroduzalgumasalteraçõesimportantesàsregras de circulação nas estradas nacionais. As mudanças legislativas neste capítulo foram umadas medidas que se concretizaram no âmbito daestra- tégianacionaldesegurançarodoviá- ria(ensr), de acordo comjorge Jacob,PresidentedaAutoridadeNacionaldeSegurançaRodoviária(ANSR). Houve,defacto,algumasmedidasno domínio do direito que, naprimeira metade davigênciadaensr não se concretizaram.só48%dasmedidas é que se concretizaram, afirmou o responsável durante asuaintervençãonocongressoprevenirereparar. O Código da Estrada em vigor contemplacercade60alterações às regras anteriores. Este Código prevê,entreváriasmedidas,umcontrolomaisapertadosobreoconsumode bebidas alcoólicas, uma alteração à circulação nas rotundas, bem como umamudançano estatuto dos utilizadoresdebicicletas.sendoqueestassão,paraoadvogadovítorcarvalho, alguns dos pontos mais importantesdanovalegislação.parece-me que a equiparação dos ciclistas aos restantes utentes das estradas é da maior importância, porque existe umnúmerocrescentedepessoasutilizadoras desse tipo de veículos. E [esta]equiparaçãoacabaporuniformizar [as regras para] todas as pessoas que efectivamente circulamna via pública. Uma segunda alteração que tambémconsidero importante, mas que tenho as minhas dúvidas quepossaresultaremplenoequeresultadestecódigodaestrada, éaalteraçãonacirculaçãonasrotundas, afirmouoadvogadoduranteasuaintervenção. Uma terceira alteração queconsideroimportanteéadiminuição dos limites de condução sob oefeitodoálcool,nomeadamente paraos profissionais, acrescentou. Poroutro lado, o líderdaansr, durante asuaintervenção, destacou aindaque, apesar dasinistralidade em meio urbano ter baixado, mas menosqueemoutrasvias,existeuma lacuna legislativano caso das localidades. Nestesentido, oresponsável apontaqueamenorreduçãodasinistralidadenestasviasestárelacionada comafaltaderegulamentaçãodoordenamentourbano.essaéumadas grandeslacunasemtermosjurídicos regulamentares.istoparanãofalarda regulamentaçãodeequipamentossemafóricoseoutrosequipamentosque existem e que muitas vezes funcionammal, apontouainda. O direito civil e o direito penal ParaojuizconselheirodoSupremo Tribunalde JustiçaAntónio As mudanças introduzidas no Código da Estrada em Janeiro foram alvo de debate no Congresso Prevenir e Reparar.

SEXTA-FEIRA 30 MAI 2014 SUPLEMENTO VII A biomêcanica como meio de recuperação de danos Abrantes Geraldes, aáreapenal do direito,emportugal,éaquetem uma função fundamental na prevenção. A fiscalização efectiva também tem um papel relevantíssimo ao níveldaprevenção dasinistralidade. Mas um outro ponto também:apunição.osancionamentoé fundamental, porque se for criada a ideia de que havendo educação e fiscalização, e depois não houverconsequências decorrentes dessafiscalização, isso significaque oscondutoreseosutentesemgeral acabam por não reflectir nos comportamentos os efeitos que decorrem dessa penalização, defendeu durante a sua intervenção. Poroutro lado, e no que diz respeito àáreado direito civil, afunção dos tribunais é relativamente menor. Aparte civil encontra-se, em regra, sustentada numa seguradorae, portanto, o condutornão sente como suaaresponsabilidade namedidaemque atransferiupara aseguradora. E é aseguradoraque acaba por ser penalizada pelos comportamentos do condutor, sustentou António Abrantes Geraldes. ANA LARANJEIRO Parece-me que a equiparação dos ciclistas aos restantes utentes das estradas é da maior importância. VÍTOR CARVALHO Advogado A fiscalização efectiva tambémtemumpapel relevantíssimo ao nível da prevenção da sinistralidade. Mas um outro ponto também: a punição. ANTÓNIO ABRANTES GERALDES Juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça A biomecânica é uma parte da ciência que ciência que ajuda a explicar como se produzem lesões no corpo humano no âmbito dos acidentes rodoviários. Esta ciência socorre-se do apoio de outras ciências para conseguir ter conhecimentos mais alargados. A biomecânica e um instrumento que ajuda muito a tratar que a sociedade responda de maneira equilibrada ao que aconteceu António Hernando Lorenzo explicou que a biomecânica é um disciplina que tenta mostrar como se produzem lesões. A biomecânica é um instrumentoqueajudamuitoafazercom queasociedaderespondademaneira equilibrada ao que aconteceu [numacidenterodoviário].podeser uminstrumentomuitoútilparadetectar fraudes, nomeadamente, com sinistrados. O argumento foi esgrimido porantónio Hernando Lorenzo, médico e especialistaem medicina intensiva e cardiologia, durante asuaintervenção no CongressoPrevenireReparar. Nestesentido,oresponsávelexplicouqueabiomecânicaéumaparte da ciência que tenta explicar como se produzem lesões no corpohumano.aciênciatrataderesolverde maneirasensível os problemascomplexos.nestesentido,a biomecânicatratadeconjugaruma sériedeconhecimentosdediferentes ciências, acrescentou. E essa conjugação pode, nomeadamente, serútilnoscasosdegolpesdechicotecervical (lesãodevidoaofacto dacabeçaserprojectadaparatrás como impacto do acidente). Casos emque, porexemplo, aengenharia pode contribuir com elementos comoquantidadeeaintensidadeda forçaqueactuousobreocorpo. Porsuavez, José Cobos, daespanholaced, durante asuaintervenção explicou que, no país vizinho,vigoraumsistemadeavaliação ereparaçãodedanoscorporaisque envolve o acompanhamento do sinistradodesdeoperíodoinicialapós oacidente.cadavezmais,quando setratadefazerperíciasaumautomóvelparaaferirosdanos,asseguradoras procuram as pessoas em vários locais. Questionamo-nos porqueéqueosmédicosnãofazem omesmoquandoestamosafalarde pessoas.istodáumasériedevantagensàseguradoradeformadirecta. Aprimeiraé que humanizao sinistro, afirmou.actuamosdeforma imediataeconseguimosnãoapenas que a imagem da seguradora seja importante, como que o lesionado confiequenofinaldasuapatologia ou acidente, aseguradoravai estar lá,porqueestevedesdeoinício.desde aprimeiravisita, que vemos se estáarecebertratamentoequetratamentosprecisaparaospropormos àseguradora. Apartir daí vamos fazervisitas até que sejadada alta. Aseguradoraé imediatamenteinformadasobreopontodevista médico e do ponto de vistaeconómico, disseoresponsáveldaced. Quanto àsituação de Portugal, JerónimodeSousa,directordocentro de reabilitação profissional de Gaia,consideraquehouveumamudançanaformacomoossinistrados são vistos, bemcomo os impactos decorrentes e areparação daquilo queconsideramosodano.nopassado,peranteumsinistrotínhamos umavisãodebandaestreitadanatureza dos impactos. Tínhamos uma atitude muito resignada de constataçãodessesimpactosedereparação restritaao nível dos danos apenas numadas suas dimensões. Hoje,aperspectivavainosentidode alargaro âmbito dos impactos e da reparaçãododano.integramosaqui ostrês R :reparaçãofinanceiratradicional, reabilitação e reintegração,acrescentouoresponsáveldurante asuaintervenção. Jerónimo desousadefendeaindaqueemmatériade danos corporais é necessáriaaconjugaçãodeconhecimentos paraqueareparaçãodosdanospossaevoluir. ANA LARANJEIRO ANTONIO HERNANDEZ Médico Actuamos de forma imediata e conseguimos não apenas que a imagem da seguradora seja importante, como que o lesionado confie que, no final da sua patologia ou acidente, a seguradora vai estar lá porque esteve desde o início. JOSÉ COBOS Director-Geral da CED

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