ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE. RESUMO Objetivos: avaliar os resultados obtidos em pacientes portadores



Documentos relacionados
METÁSTASES ÓSSEAS. Felipe Trevisan Radioterapia HCFMRP USP. Fevereiro de 2012

Fratura do Sacro no Adulto Jovem

TRATAMENTO CONSERVATIVO E CIRÚRGICO DE HÉRNIA DE DISCO (TIPO I) TORACOLOMBAR GRAU V EM CÃO RELATO DE CASO

CARCINOMA MAMÁRIO COM METÁSTASE PULMONAR EM FELINO RELATO DE CASO

Cirurgia Radical para Metástases em Coluna. Dr Marcos Maldaun

A situação do câncer no Brasil 1

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

12º Imagem da Semana: Ressonância Magnética de Coluna

Tuberculose óssea na coluna vertebral: aspectos clínicos e cirúrgicos Vertebral tuberculosis of the spine: clinical aspects and surgery

FRATURAS TORACO-LOMBARES POR OSTEOPOROSE VERTEBROPLASTIA. Simone Tortato

Enfermagem em Oncologia e Cuidados Paliativos

Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) no Tratamento do. Câncer de Cabeça e Pescoço. Contexto da Medicina Baseada em Evidências

ANEXO III DIRETRIZES CLÍNICAS

Impacto Fêmoro Acetabular e Lesões do Labrum

RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

Data: 23/12/2013. NTRR 261/2013 Solicitante: Drª. Juliana Mendes Pedrosa Juiza de Direito - Itambacuri Numeração:

RASTREIO DO CANCRO E RECTO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO CENTRO,I.P.


Estudo prospectivo comparativo entre o tratamento cirúrgico e radioterápico com a imobilização externa e radioterapia

Numeração Única: TEMA: TAMOXIFENO NO TRATAMENTO ADJUVANTE DO CANCER DE MAMA

FADIGA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM RADIOTERAPIA CONVENCIONAL.

Escoliose Idiopática no Adolescente: Instrumentação Posterior

FARINGE. Rinofaringe. Orofaringe. Hipofaringe. Esôfago. Laringe. Traquéia

AURICULOTERAPIA NO TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT): UMA AVALIAÇÃO RETROSPECTIVA

ESTUDO RETROSPECTIVO DE CIRURGIAS DESCOMPRESSIVAS DA COLUNA TORACOLOMBAR REALIZADAS APÓS RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Modelagem Fuzzy para Predizer os Riscos de Recidiva e Progressão de Tumores Superficiais de Bexiga

Seminário Metástases Pulmonares

I Seminário de Controvérsias rsias em Aparelho Digestivo I Encontro Norte-Nordeste Nordeste de Videocirurgia no Aparelho Digestivo

04/06/2012. Curso Nacional de Atualização em Pneumologia SBPT Tratamento da dor oncológica. Definição. Dr Guilherme Costa

Tratado do Paris contra o câncer

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DE IDOSOS COM LOMBALGIA E SUA INTERFERÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

COBERTURA DE MAMOGRAFIAS REALIZADAS NO MUNICÍPIO DE SOUSA PARAÍBA COM REGISTRO NO SISMAMA

OF/AMUCC-043/ ADV Florianópolis, 02 de maio de 2013.

MS777: Projeto Supervisionado Estudos sobre aplicações da lógica Fuzzy em biomedicina

A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NA CIRURGIA BARIÁTRICA

Arn Migowski. Diretrizes Nacionais para a Detecção Precoce do Câncer de Mama

TEMA: Octreotida LAR no tratamento de tumor neuroendócrino

Gaudencio Barbosa R3 CCP Hospital Universitário Walter Cantídio UFC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

MEDICINA PREVENTIVA SAÚDE DO HOMEM

Patologias da coluna vertebral

AVALIAÇÃO DE MORBIDADES E ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA: ANÁLISE RETROSPECTIVA DE 2008 A 2012

ANÁLISE DOS INDICADORES DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO

4. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO MIELOIDE CRÔNICA (LMC)? E MONITORAMENTO DE LMC? É uma doença relativamente rara, que ocorre

TEMA: Tratamento com Sunitinibe (Sutent ) do Carcinoma de Células Renais metastático (do tipo carcinoma de células claras).

Tema: NIVOLUMABE EM ADENOCARCINOMA MUCINOSO DE PULMÃO ESTADIO IV

Dermato-funcional nas Estrias

Tipos de Câncer. Saber identifi car sinais é essencial.

Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008

DIA MUNDIAL DO CÂNCER 08 DE ABRIL

TEXTO 2 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DO CÂNCER DE MAMA. Tânia Aparecida Correia Furquim 1

Analisar a sobrevida em cinco anos de mulheres. que foram submetidas a tratamento cirúrgico, rgico, seguida de quimioterapia adjuvante.

O CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA REALIZAÇÃO DO EXAME CLÍNICO DAS MAMAS

Imagem da Semana: Radiografia, Tomografia Computadorizada

Dossier Informativo. Osteoporose. Epidemia silenciosa que afecta pessoas em Portugal

O IMPACTO DA DOR CRÔNICA NA VIDA DAS PESSOAS QUE ENVELHECEM

INCIDÊNCIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO NO PÓS-OPERATÓRIO DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA ORTOPÉDICA DE QUADRIL E JOELHO EM UM HOSPITAL DE GOIÂNIA.

CORRELAÇÃO ENTRE A SOBREVIDA REAL E OS ESCORES DE TOKUHASHI E TOMITA EM METÁSTASES DE COLUNA VERTEBRAL

Numeração Única: ou

Metástases espinhais: Tratamento cirúrgico

Gomes,Gustavo V.; Abreu,Daniel D.G.; Magalhães,Gustavo S.C.; Calapodopulos,George H.;

Câncer Colorretal Hereditário

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DA COLUNA LOMBAR

Cancro do Pulmão. Serviço de Pneumologia Director: Dr. Fernando Rodrigues Orientador: Dr. José Pedro Boléo-Tomé

ABORDAGEM E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL E MEDULA ESPINHAL

Avaliação da sobrevida dos pacientes com câncer colorretal tratado em hospital oncológico terciário


Numeração Única: TEMA: TAMOXIFENO NO TRATAMENTO ADJUVANTE DO CANCER DE MAMA

Cenário da Saúde da Criança e da Oncologia Pediátrica: avanços e desafios para a organização da rede assistencial

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

PERFIL DOS PACIENTES PORTADORES DA OSTEOPOROSE ATENDIDOS PELO COMPONENTE ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Clínica da Universidade de Navarra (CUN):

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

O que é câncer? Grupo de doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo.

IFRS TESTE DE RECUPERABILIDADE CPC 01 / IAS 36

Oncogenética: quando suspeitar e encaminhar para avaliação.

Circular 0078/2000 São Paulo, 21 de Fevereiro de 2000.

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.


Dor no Ombro. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Dr. Marcello Castiglia

Qual é o papel da ressecção ou da radiocirurgia em pacientes com múltiplas metástases? Janio Nogueira

Artroscopia do Cotovelo

1 TÍTULO DO PROJETO. Ame a Vida. Previna-se. 2 QUEM PODE PARTICIPAR?

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

1 O que é o pectus? Fotografia de paciente portador de pectus carinatum. Fotografia de paciente portador de pectus excavatum.

NORMA Nº 003/2016 PARA EXECUÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE IMPLANTE ODONTOLÓGICO

Gaudencio Barbosa R4 CCP HUWC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

LIGA DA MAMA: AÇÕES COMUNITÁRIAS DE PREVENÇÃO E RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA EM Palavras-chave: Câncer de mama; rastreamento, prevenção.

A AIDS NA TERCEIRA IDADE: O CONHECIMENTO DOS IDOSOS DE UMA CASA DE APOIO NO INTERIOR DE MATO GROSSO

UTILIZAÇÃO DA MEIA ELÁSTICA NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE?

QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES SUBMETIDOS À DESCOMPRESSÃO POR LESÃO VERTEBRAL METASTÁTICA

Médico Neurocirurgia da Coluna

SISCOLO RELATÓRIO PRÁ-SABER DIGITAL: Informações de Interesse à Saúde SISCOLO Porto Alegre 2008

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA. PROJETO DE LEI Nº DE 2010 (Apenso Projeto de Lei Nº 6.909/2010)

Título: Achados Clínicos da deglutição e do comportamento alimentar de idosos com demência avançada

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA O EXAME DE MEMBRO TITULAR DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ONCOLOGIA ORTOPÉDICA - ABOO

Transcrição:

210 RTIGO ORIGINL / ORIGINL RTICLE Descompressão e estabilização posterior na doença metastática da coluna toracolombar Decompression and posterior stabilization in metastatic disease of the spine lejandro Enzo Cassone 1 José Carlos -Gonçalves 1 Cristian Rogers Cordeiro 2 RESUMO Objetivos: avaliar os resultados obtidos em pacientes portadores de doença metastática da coluna toracolombar, submetidos à descompressão e estabilização posterior. Métodos: foram avaliados 34 pacientes portadores de doença metastática da coluna toracolombar, submetidos à descompressão e estabilização posterior com retângulo de Hartshill, no período de fevereiro de 1998 à maio de 2004, sendo 16 (47,1%) do sexo masculino e 18 (52,9%) do sexo feminino. idade média era de 51,5 anos (variando de 27 a 70). Resultados: quanto ao diagnóstico histológico, a maior freqüência do sítio primário foi carcinoma de mama com dez casos (29,4%). dor estava presente em todos os pacientes, déficit neurológico em 23 (67,6%) e instabilidade vertebral em 26 (76,4%). Foi utilizada análise estatística para avaliar a taxa de sobrevida e comparar os resultados no pré e pós-operatório. Do total de pacientes, 32 (94,1%) evoluíram com melhora da dor e 20 (86,9%) com melhora do quadro neurológico (p=0,001*). Conclusão: a descompressão e estabilização posterior na doença metastática da coluna toracolombar melhora a dor e o déficit neurológico quando realizado precocemente, permitindo uma razoável qualidade de vida dos pacientes. DESCRITORES: Metástase neoplásica; Coluna vertebral/ cirurgia; Coluna vertebral/patologia STRCT Objective: to evaluate the results of patients with metastatic thoracolumbar disease submitted to posterior decompression stabilization. Methods: thirty four patients with metastatic disease of the spine submitted to decompression and posterior stabilization with Hartshill device, between February 1998 and may 2004 were evaluated. There were 16 (41.7%) male and 18 (52.9%) female; the average age was 51,5 years (ranging 27 to 70). Statistical analysis was performed to evaluate survival rate and to compare pre and post-operative results. Results: the most frequent primary tumor was breast cancer in 10 cases (29.4%). Pain was present in all patients, neurologic deficit in 23 (67.6%) and vertebral instability in 26 (76.4%). Thirty-three patients (94.1%) were painless after surgery and 20 (86.9%) presented improvement in the neurologic deficit (p=0.001*). Conclusion: decompression and posterior stabilization in metastatic disease of the spine improve pain and neurologic deficit, and restore patient s quality of life. KEYWORDS: Neoplasm metastasis; Spine/surgery; Spine/pathology Trabalho realizado no Setor de Oncologia Ortopédica do Centro de Oncologia Infantil Domingos oldrini e Centro Médico de Campinas - Campinas (SP), rasil. 1 Doutor em Ortopedia e Traumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo USP São Paulo (SP), rasil ; Médico do Grupo de Oncologia Ortopédica do Centro de Oncologia Infantil Domingos oldrini e Centro Médico de Campinas (SP), rasil. 2 Médico Residente em Ortopedia e Traumatologia do Centro Médico de Campinas (SP), rasil. Recebido: 12/04/2006 - provado: 16/08/2006 COLUN/COLUMN. 2006;5(1):13-18

Descompressão e estabilização posterior na doença metastática da coluna toracolombar 211 INTRODUÇÃO coluna vertebral é o terceiro sítio mais freqüente de acometimento de doença metastática dos carcinomas, cuja maior incidência é pulmonar, hepática e óssea 1-2. O esqueleto axial é responsável por mais de 60% do acometimento ósseo nestes pacientes 2-3. Segundo a literatura, o segmento vertebral torácico é o mais acometido e 85% dos casos acometem o corpo vertebral 2-3. Em relação à fisiopatologia, acredita-se que a maior disseminação na coluna vertebral ocorre devido à medula óssea ativa e sua rica rede de capilares, além do plexo venoso descrito por atson em 1940 que permite a disseminação neoplásica vinda da região pélvica 1,3. Os sítios primários de maior freqüência em ordem decrescente são os carcinomas de mama, próstata, pulmão, rim e tireóide 2. abordagem cirúrgica está indicada nos casos de dor intratável, instabilidade vertebral e déficit neurológico. O objetivo principal é manter uma razoável qualidade de vida nos pacientes com expectativa de vida limitada. O objetivo do estudo é avaliar os resultados obtidos em pacientes portadores de doença metastática da coluna toracolombar, submetidos á descompressão e estabilização posterior. MÉTODOS casuística deste estudo retrospectivo é constituída de 34 pacientes, sendo 16 deles ou 47,1% do sexo masculino e 18 ou 52,9% do sexo feminino, com idade média de 51,5 anos variando de 27 à 70, portadores de doença metastática da coluna toracolombar submetidos à descompressão e estabilização posterior no período de fevereiro de 1998 a maio de 2004. Quanto ao diagnóstico histológico, a freqüência do sítio primário está ilustrada no Gráfico 1. Com relação ao tratamento sistêmico e local realizado previamente está descrito no Gráfico 2. Do total de pacientes, 19 (55,8%) apresentavam comprometimento predominante em coluna torácica e 15 ( 44,2%) na lombar; 18 pacientes (52,9%) apresentavam doença metastática em outros órgãos e sistemas, excluindo sistema músculoesquelético; todos os pacientes apresentavam doença metastática multifocal. Em relação à sintomatologia prévia ao procedimento, a dor estava presente em todos os casos e o déficit neurológico em 23 (67,6%); em média, a duração dos sinais e sintomas foi de quatro meses. Instabilidade vertebral foi determinada em 26 pacientes (76,4%). Os critérios de inclusão foram pacientes portadores de doença metastática em coluna toracolombar decorrentes de carcinomas, submetidos à descompressão e estabilização posterior com retângulo de Hartshill (Figuras 1-4). indicação para o procedimento cirúrgico baseou-se em dor intratável, déficit neurológico e instabilidade do segmento vertebral acometido. Todos os pacientes foram avaliados por meio do exame clínico, cintilografia óssea, radiografia simples e ressonância magnética da coluna vertebral. dor foi avaliada pela escala Numérica de Dor 4, o quadro neurológico pela escala de Frankel et al. (1969) 5, e a presença de instabilidade vertebral pelo método das três colunas de Denis (1984) 6. análise estatística foi realizada para avaliar a sobrevida global contruindo a curva de Kaplan-Meier, e o resultado do quadro neurológico comparando o pré e pós-operatório pelo Teste de Wilcoxon. Foi adotado índice de significância de 5% (0,05*). GRÁFICO 1 Diagnóstico histológico GRÁFICO 2 Tratamento prévio COLUN/COLUMN. 2006;5(1):13-18

212 Cassone E, -Gonçalves JC, Cordeiro CR Figura 1 (/) Radiografia simples da coluna toracolombar em P e P mostrando colapso vertebral em T12 Figura 2 Cintilografia óssea mostrando hipercaptação em região Figura 3 (/) Ressonância magnética mostrando colapso de T12, cifose e compressão medular Figura 4 (/) Radiografia simples da coluna toracolombar em P e P pós-operatória de descompressão e estabilização posterior com retângulo de Hartshill RESULTDOS O tempo de seguimento médio do estudo foi de 18,3 meses (variando de 1 à 70); a sobrevida global dos pacientes em 24, 36 e 60 meses foi de 36%, 28% e 16%, respectivamente (Gráfico 3). Com relação ao quadro neurológico segundo o método de avaliação adotado, a comparação no pré e pós-operatório esta descrito no Gráfico 4, cuja melhora do resultado obtido foi estatisticamente significativo (p=0,001*). Daqueles onze pacientes que não apresentavam déficit neurológico, dois evoluiram com piora do quadro no pós-operatório imediato; um deles melhorou após intervenção cirúrgica dez meses depois e o outro foi a óbito por progressão da doença após 16 meses. Com relação à complicação do procedimento cirúrgico, ocorreu apenas um caso infecção, com boa resolução após desbridamento amplo e antibioticoterapia endovenosa sem perda da estabilização da coluna vertebral. DISCUSSÃO doença metastática vertebral deve ser identificada o mais precocemente possível em pacientes com diagnóstico de câncer, uma vez que o comprometimento ósseo é o terceiro sítio de maior freqüência de doença metastática de carcinomas, principalmente o esqueleto axial 1-2,7. Nestes pacientes, a cintilografia óssea é mandatória no estadiamento ao diagnóstico e durante o seguimento. O corpo vertebral é a re- COLUN/COLUMN. 2006;5(1):13-18

Descompressão e estabilização posterior na doença metastática da coluna toracolombar 213 GRÁFICO 3 Curva de sobrevida global dos pacientes GRÁFICO 4 Comparação do quadro neurológico no pré e pós-operatório segundo a escala de Frankel et al. (1969) (p=0,001*) gião mais acometida da vértebra, resultado de suas particularidades anatômicas. Considerando toda a extensão da coluna vertebral, não existe consenso quanto ao segmento mais vulnerável 2-3 ; em nosso estudo, houve discreta prevalência pela coluna torácica em comparação à lombar (55,8% x 44,2%). O câncer de mama é o principal sítio de origem primária seguido da próstata, pulmão, rim e tireóide 1-3 ; conceito compatível com os achados da nossa série: um terço dos casos foram provenientes da mama (29,4%). Oportuno citar que apesar do mieloma múltiplo ser uma neoplasia óssea primária, seu comprometimento sistêmico requer uma abordagem similar aqueles metastáticos obedecendo aos mesmos critérios. idade dos pacientes do estudo (média de 51,5 anos, variando de 27 à 70) segue as décadas de maior freqüência epidemiológica dos tumores primários 8. doença metastática vertebral geralmente está associada à dor e déficit neurológico, prejudicando a qualidade de vida. lém disso, dependendo da extensão do tumor, pode ocorrer fratura patológica, levando ao colapso da vértebra e instabilidade, e piorando o quadro álgico e neurológico. Portanto, uma vez diagnosticada a metástase vertebral, a tomografia computadorizada e de preferência, a ressonância magnética, são obrigatórias e devem ser realizadas obrigatoriamente, pois têm como objetivo determinar com exatidão a real extensão do tumor, avaliar a presença de instabilidade e compressão neurológica. compressão neurológica é resultado da presença de fragmentos ósseos da fratura patológica e de massa neoplásica infiltrando o canal vertebral. Toda a extensão da coluna vertebral deve ser avaliada a procura de comprometimento multifocal, para evitar a necessidade de procedimentos futuros em outros níveis mesmo em pacientes com expectativa de vida limitada. abordagem nestes casos deve ser individual, levando-se em consideração alguns fatores importantes: extensão do comprometimento vertebral, presença de dor, déficit neurológico, instabilidade, origem do tumor primário, presença de doença metastática óssea e em outros órgãos, condições clínicas do paciente e expectativa de vida estimada. radioterapia é o tratamento de escolha nas lesões metastáticas da coluna vertebral, principalmente em lesões pequenas e com sintomatologia dolorosa 2,9. Porém, apesar de muito eficiente no controle da dor, tem eficácia limitada em pacientes com comprometimento neurológico decorrente de compressão e na presença de fratura patológica e instabilidade vertebral. Por outro lado, a cirurgia esta indicada em pacientes com dor incontrolável, lesão metastática única, na presença de lesões radioresistentes, fratura patológica e instabilidade, e déficit neurológico 10. Considerando-se que o acometimento geralmente é no corpo vertebral, sugere-se uma abordagem cirúrgica anterior 1,3,8. Porém, a abordagem anterior apresenta grande morbidade e uma ressecção em bloco através de espondilectomia só têm sentido em pacientes com neoplasia óssea maligna primária ou em doença metastática vertebral única em paciente com expectativa de vida longa 11-,12. Nesta série, todos os pacientes presentavam doença metastática multifocal óssea e visceral, contra-indicando uma abordagem anterior. Este conceito esta reforçado pelo sistema de pontuação descrito por Tokuhashi et al. (1990) 13 que consideram vários fatores. Para determinar uma abordagem curativa via anterior (pontuação maior que nove), espondilectomia com substituição e estabilização, ou paliativa via posterior (pontu- COLUN/COLUMN. 2006;5(1):13-18

214 ação menor que cinco), descompressão e estabilização. pontuação intermediária de cinco a nove requer uma conduta individualizada. pesar de a abordagem anterior permitir melhores resultados 2-3,12, a abordagem posterior é ideal em pacientes com indicação para procedimento paliativo e nos casos intermediários segundo o protocolo, como nos casos desta série. Isto se confirma visto a taxa de sobrevida global em 24 (36%), 36 (28%) e 60 (16%) meses dos pacientes deste estudo com seguimento médio de 18 meses, expectativa de vida limitada e candidatos para procedimento paliativo. Portanto, consideramos adequado o sistema de pontuação citado, o qual deve ser utilizado para indicar a abordagem destes pacientes 13. abordagem posterior por meio de laminectomia ampla, associada a costotransversectomia na coluna torácica permite uma descompressão adequada inclusive anterior por um acesso póstero-lateral. ssim se obtém uma descompressão circunferencial da medula ou saco dural. Isto se comprova quando observamos a melhora do déficit neurológico dos casos neste estudo: 86,9% obtiveram melhora na escala de Frankel, cujo resultado em comparação com o pré-operatório foi estatisticamente significativo (p=0,001*). estabilização através do retângulo de Hartshill com amarria sublaminar é adequada, devendo se estender dois níveis proximal e distal à compressão, e deve incluir outros níveis com lesões na cintilografia óssea e confirmada na ressonância magnética. ssim, evita-se o risco de fenômenos compressivos futuros em outros níveis, fato descrito na Cassone E, -Gonçalves JC, Cordeiro CR literatura 8. dor também melhorou consideravelmente no pósoperatório imediato (94,1% dos casos), devido à descompressão neurológica, à estabilização do segmento vertebral, e à radioterapia adjuvante no pós-operatório. Radioterapia pós-operatória foi realizada em todos os casos na dose média de 3000CGy após três semanas da cirurgia, exceto naqueles irradiados previamente. Em conclusão, consideramos a abordagem nestes pacientes adequada. descompressão e estabilização posterior com retângulo de Hartshill na doença metastática da coluna toracolombar permite melhora da dor e do déficit neurológico, restaurando a qualidade de vida destes pacientes. Deve-se determinar com exatidão o estadiamento atual do paciente na indicação do tratamento, em conjunto com a equipe da oncologia clínica e radioterapia. È conceito atual intervir em pacientes com expectativa de vida de pelo menos seis a 12 semanas, justificado pelos resultados obtidos mesmo em casos de doença avançada, com objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida. CONCLUSÃO Os autores concluem que a descompressão e a estabilização posterior na doença metastática da coluna toracolombar melhora a dor e o déficit neurológico quando realizados precocemente. Esta abordagem permite uma razoável qualidade de vida nestes pacientes com expectativa de vida limitada. REFERÊNCIS 1. Schaberg J, Gainor J. profile of metastatic carcinoma of the spine. Spine. 1985; 10(1): 19-20. 2. ell GR. Surgical treatment of spinal tumors. Clin Orthop Relat Res. 1997; (335): 54-63. 3. Metastatic Tumors of the Spine: Diagnosis and Treatment. J m cad Orthop Surg. 1993; 1(2):76-86. 4.Daut RL, Cleeland CS, Flanery RC. Development of the Wisconsin rief Pain Questionnaire to assess pain in cancer and other diseases. Pain. 1983; 17(2): 197-210. 5. Frankel HL, Hancock DO, Hyslop G, Melzak J, Michaelis LS, Ungar GH, et al. The value of postural reduction in the initial management of closed injuries of the spine with paraplegia and tetraplegia. I. Paraplegia. 1969; 7(3): 179-92. 6. Denis F. Spinal instability as defined by the threecolumn spine concept in acute spinal trauma. Clin Orthop Relat Res. 1984; (189): 65-76. 7. Defino H, Rodrigues Fuentes E, Vianna L. Tratamento cirúrgico dos tumores da coluna vertebral. Rev ras Ortop. 1996; 31(2):111-8. 8. Lauffer R, Maçaneiro C, Miyamoto R. Estabilização cirúrgica posterior nas metástases da coluna toraco-lombar. Coluna. 2004; 3(1): 39-43. 9. Casadei R, Greggi T, Miglietta, Perozzi M, archetti M, Parisini P. Posterior surgery for the treatment of thoracolumbar pathologic fractures in metastatic patients. Chir Organi Mov. 1998; 83(1-2):149-58. 10. DeWald RL, ridwell KH, Prodromas C, Rodts MF. Reconstructive spinal surgery as palliation for metastatic malignancies of the spine. Spine. 1985; 10(1): 21-6. 11. Harrington KD. nterior decompression and stabilization of the spine as a treatment for vertebral collapse and spinal cord compression from metastatic malignancy. Clin Orthop Relat Res. 1988; (233): 177-97. 12. Manabe S, Tateishi, be M, Ohno T. Surgical treatment of metastatic tumors of the spine. Spine. 1989; 14(1): 41-7. 13. Tokuhashi Y, Matsuzaki H, Toriyama S, Kawano H, Ohsaka S. Scoring system for the preoperative evaluation of metastatic spine tumor prognosis. Spine. 1990; 15(11): 1110-3. Correspondência lejandro Enzo Cassone Rua José Morano, 503 13095-450 - CMPINS (SP) (55) 19 3252-4052 / 3242-1322 (55) 19 9791-4550 E-mail: acassone@boldrini.org.br COLUN/COLUMN. 2006;5(1):13-18