NA RAIZ DO SABER, O DIREITO DE ENSINAR



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Transcrição:

NA RAIZ DO SABER, O DIREITO DE ENSINAR [Entrevista feita por Cecília Fazzini com Rosaura Soligo, para publicação na Revista da TV Escola em Fevereiro de 2002, que nunca foi publicada] Cenas como as do filme Central do Brasil, em que a protagonista Dora (encarnada por Fernanda Montenegro) aplaca a ansiedade de uma população de analfabetos que desejam se comunicar pela escrita tendem a se apagar de nossas memórias. Pelo menos, é esta uma das intenções do PROFA Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Esse programa, desenvolvido pela Secretaria do Ensino Fundamental do Ministério da Educação, se esmera em virar essa página de um livro em que as estatísticas retratam uma realidade difícil de aceitar. Para falar da dinâmica desse programa, que envolve uma comunidade ativa de professores comprometidos com o êxito da empreitada da alfabetização, atentos a sua própria formação e à utilização de suas novas ferramentas de trabalho, convidamos Rosaura Soligo, da Coordenação Geral do PROFA. PROFA O que é: um curso de formação professores alfabetizadores com a duração de 180 horas (em três módulos de 60 horas cada um) que acontece durante 45 semanas, sendo 3 horas de trabalho em grupo e 1 hora de estudo individual. Finalidade principal: socializar o conhecimento disponível sobre a didática da alfabetização, tendo como apoio programas de vídeo gravados em salas de aula de alfabetizadores com experiências bem-sucedidas na Educação Infantil e no Ensino Fundamental em creche, escola urbana, classe multisseriada da zona rural, classe de educação de jovens e adultos e classe de aceleração. Materiais que compõem o Programa Material impresso Documento de Apresentação do Programa Guia de Orientações Metodológicas Gerais Guia do Formador Coletânea de Textos do Professor Fichário/Caderno de Registro Catálogo de Resenhas de Filmes Trinta programas de vídeo, em três séries: Processos de Aprendizagem, Propostas Didáticas I e Propostas Didáticas II. Fases de formação: Fase 1: contato inicial dos futuros formadores com a metodologia, os principais conteúdos e os materiais de subsídio, em um Encontro com duração de 30 horas. Fase 2: 180 horas de formação para os professores inscritos e 180 horas também para os formadores que se reúnem quinzenalmente em núcleos (reuniões de formação), sob a coordenação de um representante da Equipe Pedagógica do Programa (apelidada de REDE-PROFA). 1

TV ESCOLA Como nasceu o PROFA? Rosaura Soligo É uma história um tanto longa, mas vale a pena contá-la, ou pelo menos dar um resumo do que aconteceu pelos bastidores, antes que o projeto ganhasse vida própria. Em 1999, teve início o Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado "Parâmetros em Ação", uma parceria entre o MEC e as secretarias de educação de todo o país. Enquanto o programa ainda estava sendo concebido, a equipe responsável pela organização de módulos de atividades de formação de professores de 1ª a 4ª série resolveu produzir um módulo específico de alfabetização, considerando a relevância desse tema na formação de professores. E assim foi feito o "Alfabetizar com textos", um livro de atividades seqüenciadas de formação de professores, com carga horária de cerca de 32 horas, para integrar o conjunto de módulos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos. A avaliação da SEF, na época, quanto à importância de se dar um tratamento especial à alfabetização ganhou força quando parte da equipe responsável pela elaboração dos módulos do Parâmetros em Ação entrou em contato com a experiência de uma secretaria de educação de um município paulista. TV ESCOLA Em que consistia essa experiência? Rosaura A situação era a seguinte: foi realizada uma pesquisa com todos os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental (cerca de seiscentos, ao todo), para identificar suas maiores dificuldades didáticas, os pontos críticos para os alunos e os temas que os professores consideravam relevantes para sua formação profissional. O objetivo era organizar um programa de formação a partir das respostas colhidas nessa pesquisa. A resposta unânime aos três blocos de questões propostos na pesquisa era: alfabetização, alfabetização, alfabetização. Ou seja, a maior dificuldade dos professores era alfabetizar; a dos alunos, se alfabetizar, e o conteúdo considerado relevante para sua formação era "como alfabetizar a todos". E nesse caso, paradoxalmente, tratava-se de uma secretaria de educação com elevado nível de investimento na formação dos educadores. Apesar disso, a pesquisa revelou que a questão de como ensinar a ler e escrever não estava resolvida para esses professores. 2 TV ESCOLA Como isso iria repercutir nos projetos da SEF? Rosaura Bem, se num município grande de São Paulo, com uma rede de ensino de tamanho considerável e com expressivo investimento anterior na formação de professores a situação era preocupante, por certo essa amostra seria significativa do restante do país... Assim, o conhecimento dessa experiência referendou uma avaliação que já se tinha na SEF. Quando o Programa Parâmetros em Ação começou a ser desenvolvido em todo o país, nossa hipótese se confirmou: de Norte a Sul, o que ouvíamos de professores, técnicos e secretários de educação era, insistentemente: seria preciso tratar muito a sério a questão da alfabetização, nos cursos de formação inicial e nos programas de formação continuada de professores. Portanto, o PROFA nasceu como uma resposta a essa necessidade, com a tarefa de contribuir para a formação dos professores alfabetizadores, o que, em última (e principal) instância, significa contribuir para a qualidade da aprendizagem dos alunos no período em que aprendem a ler e escrever. É essa a natureza do compromisso assumido pelo Programa. TV ESCOLA Quais são os princípios básicos da proposta do PROFA? Rosaura Um trecho do documento Referenciais para a Formação de Professores, publicado pelo MEC em 1998, explicita bem um dos princípios essenciais que orientam o PROFA: "Profissionalismo exige compreensão das questões envolvidas no trabalho, competência para identificá-las e resolvê-las, autonomia para tomar decisões, responsabilidade pelas opções feitas.

Exige também capacidade de avaliar criticamente a própria atuação e o contexto em que ela ocorre, de interagir cooperativamente com a comunidade profissional da qual se faz parte e de manter-se continuamente atualizado. Além disso, no caso dos professores, é preciso elaborar coletivamente o projeto educativo da escola, identificar diferentes opções e adotar as consideradas mais adequadas do ponto de vista pedagógico. Essa perspectiva traz para a formação de professores o conceito de competência profissional, entendida como a capacidade de mobilizar múltiplos recursos entre os quais os conhecimentos teóricos e as experiências da vida profissional e pessoal para responder às diferentes demandas colocadas pelo exercício da profissão, ou seja, a capacidade de responder aos desafios inerentes à prática, de identificar e resolver problemas, de pôr em uso o conhecimento e os recursos disponíveis." TV ESCOLA Como se poderia descrever o pano de fundo desse quadro? Rosaura Atualmente, vem se formando um consenso em relação à idéia de que os cursos de formação inicial e os programas de formação continuada dos professores (e dos profissionais em geral) devem ter como objetivo o desenvolvimento de competências profissionais, nessa perspectiva. Quando se assume de fato o desafio de organizar um curso ou um programa de formação com o objetivo de desenvolver competências profissionais, tudo muda: tanto os conteúdos como a forma de abordá-los. A perspectiva de "colocar em uso" o conhecimento para resolver problemas pressupõe metodologias muito diferentes das tradicionais. É preciso criar situações que possibilitem a aprendizagem em parceria, o trabalho coletivo, a reflexão sobre a prática pedagógica, a participação em situações reais ou simuladas de resolução de problemas... Embora fundamental, não basta apenas estudar conceitos teóricos. TV ESCOLA Em relação ao PROFA, o que se pretende que os professores aprendam ou desenvolvam? 3 Rosaura O Programa foi organizado para que os professores participantes (que alfabetizam crianças, jovens e adultos) se tornem cada vez mais capazes de: encarar os alunos como sujeitos que precisam ter sucesso em suas aprendizagens para que se desenvolvam pessoalmente e tenham uma imagem positiva de si mesmos, orientando-se por esse pressuposto; desenvolver um trabalho de alfabetização adequado às necessidades de aprendizagem dos alunos, acreditando que todos são capazes de aprender; reconhecer-se como modelo de referência para os alunos: como leitor, como usuário da escrita e como parceiro durante as atividades; utilizar o conhecimento disponível sobre os processos de aprendizagem dos quais depende a alfabetização, para planejar as atividades de leitura e escrita; observar o desempenho dos alunos durante as atividades, bem como as suas interações nas situações de parceria, para fazer intervenções pedagógicas adequadas; planejar atividades de alfabetização desafiadoras, considerando o nível de conhecimento real dos alunos; formar agrupamentos produtivos de alunos, considerando seus conhecimentos e suas características pessoais; selecionar diferentes tipos de texto, que sejam apropriados para o trabalho; utilizar instrumentos funcionais de registro do desempenho e da evolução dos alunos, de planejamento e de documentação do trabalho pedagógico; responsabilizar-se pelos resultados obtidos em relação às aprendizagens dos alunos.

TV ESCOLA O PROFA tem pretensões de proporcionar ao professor ferramentas a serem utilizadas além das esferas do programa? Rosaura Como se pode observar, não é possível desenvolver esses saberes todos apenas estudando: é preciso passar por experiências, no trabalho de formação, que possibilitem a ampliação ou a construção progressiva desse conjunto de saberes. E, aqui, vale lembrar que estamos tratando apenas de saberes relacionados à condição de professor alfabetizador todas as demais, que dizem respeito à condição de professor polivalente, seja da Educação Infantil ou do Ensino Fundamental, não são objetivos do PROFA, que é um curso de 180 horas com foco específico nas questões do ensino e da aprendizagem inicial da leitura e escrita. TV ESCOLA Os professores têm dificuldade para se familiarizar com a proposta do Curso? Rosaura De início, não há propriamente uma dificuldade, mas uma certa estranheza. Sempre que somos convocados ou convidados a participar de um curso (ou de qualquer evento, mesmo que uma festa ou passeio), vamos sempre com uma "idéia na cabeça" do que vamos encontrar pela frente. Se vamos a um curso, antecipamos as possibilidades do que encontraremos a partir da nossa experiência anterior com os cursos que já fizemos. Acontece que o PROFA tem um formato muito diferente do que em geral se espera de um curso. Algumas atividades são bem pouco convencionais. Posso dar alguns exemplos. Em cada um dos 45 encontros semanais, o coordenador do grupo de formação lê textos literários de diferentes gêneros para os professores. Sempre é aberto um espaço, no início, para os cursistas falarem de suas dificuldades, dúvidas e descobertas com as "lições de casa" (a que chamamos Trabalho Pessoal), que são semanais, obrigatórias e parte integrante da carga horária do curso. A prática pedagógica é "trazida" para conhecimento e reflexão do grupo por meio de programas de vídeo, produzidos em sala de aula, mostrando professores com experiências bem-sucedidas em alfabetização. A perspectiva é de que as dificuldades de compreensão e realização de tarefas sejam discutidas fraternalmente. Os textos indicados para leitura se relacionam e se remetem com o conteúdo dos programas de vídeo. A relação teoria-prática é um pressuposto orientador de tudo que é proposto. Estão previstas inúmeras situações em que os professores precisam escrever e tornar públicas suas escritas. E há muitas outras peculiaridades que fazem do PROFA um programa especial. 4 TV ESCOLA Como tem sido a resposta dos profissionais do ensino que participam do programa? Rosaura O PROFA tem representado uma surpresa boa para os professores alfabetizadores. Certamente por isso, o percentual de evasão é bem baixo e a avaliação dos cursistas, muito positiva. A realidade vem mostrando que, embora enfrentem muitas exigências estudo intenso, registro escrito, observação de situações práticas em sala de aula, planejamento e documentação do trabalho os professores têm se mostrado satisfeitos. A avaliação da Equipe de Coordenação Geral do Programa é de que isso está acontecendo porque, além da qualidade das propostas e dos materiais, o PROFA tem um formato que atende às expectativas e necessidades dos profissionais da educação: trata-se de um projeto de formação continuada em que os professores se encontram semanalmente, sob a coordenação de um formador que se propõe a exercer o papel de parceiro experiente. Ao que tudo indica, essa receita tem dado muito certo. Mais ainda porque, embora os primeiros grupos tenham iniciado os trabalhos apenas em abril de 2001, já há depoimentos significativos de muitos professores sobre os resultados que têm conquistado com seus alunos. Há casos, por exemplo, como o de professores de Educação Infantil (de Teixeira de Freitas/BA) que trabalharam em 2001 com turmas de crianças de 5 e 6 anos: grande parte já estava praticamente alfabetizada no mês de outubro. Em um país em que o fracasso escolar está assentado na incapacidade da escola de alfabetizar a todos os alunos no primeiro ano do Ensino Fundamental, essa é

uma vitória importante em favor do direito de cidadania dos alunos. Na verdade, para assegurar esse direito das crianças, os professores precisam ter assegurado seu próprio direito de aprender a ensinar! TV ESCOLA Na prática, como se dá o trabalho de formação no PROFA? Como definir suas linhas mestras? Rosaura A proposta é a seguinte: inicialmente, as secretarias de educação interessadas oficializam sua intenção de aderir ao PROFA, e assinam um Termo de Cooperação Técnica com o MEC, no qual se comprometem em oferecer as condições necessárias para a implementação do Programa. Entre outras, tais condições incluem profissionais com o perfil necessário para a função de coordenadores gerais ou coordenadores dos grupos; liberação de pelo menos 20 horas da jornada semanal desses profissionais, para que possam estudar e preparar o trabalho; acesso à internet; constituição do acervo de materiais de estudo; subsídios que garantam o deslocamento e a estadia desses profissionais para as reuniões de formação de que devem participar fora de seus municípios de origem; valorização profissional para os professores cursistas; reprodução dos materiais de estudo para todos. Depois disso, segundo critérios definidos pela Coordenação Geral do PROFA, as secretarias de educação que estabeleceram parceria selecionam seus profissionais, se agrupam e organizam um Encontro a que chamamos Fase 1. A SEF então envia o material necessário para todos os futuros coordenadores (programas de vídeo e material impresso), além de uma equipe que desenvolve o primeiro trabalho de formação. Esse Encontro, que ocorre durante quatro dias aproximadamente trinta horas de trabalho tem como finalidade principal tornar conhecidos os materiais, os principais conteúdos e a proposta metodológica do curso. No último dia do encontro, os futuros coordenadores locais do Programa (também chamados de formadores) recebem um Plano Orientado de Estudos para um período de três semanas, tempo que em geral corresponde ao que antecede o trabalho com os professores. A depender da quantidade de participantes do Encontro da Fase 1, os formadores são subdivididos em vários núcleos grupos de estudo que se reunirão quinzenalmente com um formador da Equipe da Rede Nacional de Formadores, por pelo menos oito horas. Essas reuniões, cujas pautas são organizadas a partir de relatórios enviados com antecedência pelos coordenadores dos grupos e pelo coordenador geral (o responsável pela implementação do PROFA em cada Secretaria de Educação) têm como principal finalidade responder às necessidades de formação dos profissionais que implementam o Programa na base. 5 TV ESCOLA Como se dão o monitoramento e a avaliação do PROFA? Rosaura Isso é feito por meio da Rede Nacional de Formadores, uma equipe de profissionais cuja tarefa central consiste em acompanhar os programas de formação desencadeados pela SEF e que no nosso programa, recebeu o apelido de Rede-PROFA. Nesse caso, são os formadores que se reúnem quinzenalmente com os coordenadores gerais e de grupo de municípios próximos, nos núcleos montados no Encontro da Fase 1. Dessa equipe, composta por profissionais do próprio estado em que o Programa está se desenvolvendo, depende em grande medida o sucesso do projeto. O desempenho dos coordenadores e o acompanhamento do trabalho por eles realizado são como costumamos dizer a alma do PROFA. Em um programa dessa natureza, limitar-se a travar contato com o material, ou mesmo a participar do Encontro da Fase 1, se mostra totalmente insuficiente para garantir um trabalho adequado. É por isso que o atendimento à demanda do PROFA está sempre condicionado à possibilidade de a SEF acompanhar os núcleos de coordenadores (e responsabilizar-se por sua formação) do início ao final do Programa.

TV ESCOLA Qual a maneira de formar usuários competentes da escrita alunos letrados, como hoje se diz? Rosaura Nos últimos anos, vem se formando um consenso de que a aprendizagem inicial da leitura e da escrita a alfabetização deve ocorrer necessariamente em um contexto de letramento. Só para ficar mais claro, chamamos de alfabetização o processo de aprendizagem (e de ensino) inicial da leitura e escrita e chamamos de letramento o processo de aprendizagem progressiva (e de ensino) dos diferentes usos e formas da linguagem, especialmente em situações significativas de leitura e escrita de textos. Embora esses processos sejam diferentes, devem se dar simultaneamente, desde que a criança entra na escola (tal como ocorre na vida dos que se alfabetizam precocemente). De modo geral especialmente nas séries iniciais a escola não tem orientado suas práticas no sentido de formar alunos letrados; quando são letrados, em geral, isso é produto das experiências que trazem de casa, da família, dos grupos nos quais convivem. Nas séries iniciais, a escola tem se ocupado basicamente com a alfabetização no sentido estrito, no que tem de mais específico: o ensino da correspondência entre letras e sons. Mesmo assim, desde que dispomos dos índices de fracasso aferidos pelo IBGE e pelo INEP, observa-se que não se consegue garantir a alfabetização na passagem da primeira para a segunda série: em geral apenas cerca de metade das crianças se alfabetiza (recentemente um pouco mais, o que não ultrapassa 68%, se considerarmos os índices nacionais lembrando que nos últimos anos várias secretarias de educação adotaram o sistema de ciclo, que não pressupõe retenção na passagem da primeira para a segunda série). TV ESCOLA Como chegar ao êxito nessa tarefa? Rosaura A realidade vem mostrando que, quando as práticas de ensino inicial se concentram no processo de alfabetização (no sentido estrito), não se formam usuários competentes da escrita. Assim, é enorme o risco de a escola "produzir" analfabetos funcionais, alunos que "tecnicamente" sabem ler e escrever (pois conhecem a correspondência entre letras e sons), mas não conseguem compreender o que lêem, ou se comunicar por escrito. Por outro lado, quando o foco das práticas de ensino como aconteceu em algumas experiências da década de 90 se coloca exclusivamente no processo de letramento, corre-se o risco de formar alunos letrados, mas que demoram a se alfabetizar. A perspectiva de alfabetização e letramento desde a educação infantil pressupõe a garantia de acesso à diversidade de textos e de situações comunicativas de uso da leitura e da escrita, bem como a possibilidade de refletir continuamente sobre as características e o funcionamento da escrita. Para a escola assumir o compromisso de letrar os seus alunos, além de trazer os textos do mundo para dentro da sala de aula, deve tomar a leitura feita pelo professor como uma atividade e um compromisso diários: por meio da leitura do outro (uma vez que não podem ainda ler por si próprios) os alunos terão acesso à diversidade de textos que circulam socialmente e a todo tipo de informação que veiculam. Além disso, é perfeitamente possível propor que os alunos produzam textos de diferentes tipos para que o professor (ou outra pessoa alfabetizada) escreva para eles: o que permite a produção de bons textos não é a possibilidade de grafá-los de próprio punho, mas o conhecimento do que se pode dizer por meio dos textos e de como eles se estruturam: enquanto não podem ler por si mesmos, serve-lhes de intermediária a leitura feita por outras pessoas. 6 É possível (e desejável) que os alunos leiam e produzam textos antes, durante e depois da alfabetização inicial: isso permitirá que se ampliem tanto o repertório de conhecimentos quanto seu processo de letramento.

Quando os alunos puderem ler e escrever com autonomia porque já se alfabetizaram terão acumulado muitos conhecimentos por meio da "leitura escutada", e terão melhores condições de produzir agora por si mesmos diferentes tipos de texto escrito, com as mais variadas finalidades. TV ESCOLA O que é necessário para alfabetizar nessa perspectiva? Rosaura Para a escola abraçar o compromisso de alfabetizar todos os alunos, precisa garantir também um trabalho contínuo de reflexão sobre as características e o funcionamento da escrita alfabética (principalmente quando se chega com pouco conhecimento prévio a esse respeito). Isso implica uma rotina pedagógica planejada de forma a garantir um trabalho regular e sistemático que inclua: leitura diária do professor para os alunos (de diferentes tipos de textos de qualidade); produção de textos pelos alunos, escritos pelo professor; revisão coletiva de textos e discussão sobre suas características discursivas; e leitura e escrita pelos alunos em atividades que funcionem como situações-problema capazes de desafiá-los a pensar sobre a escrita e sobre como se faz para ler e escrever. Práticas pedagógicas que tenham como meta a ampliação do processo de letramento e a garantia da alfabetização de todos permitem subverter a lógica perversa da educação escolar tradicional, na qual as situações de leitura, produção e revisão de textos somente são propostas aos alunos depois de estarem alfabetizados. TV ESCOLA O Programa prevê algum tipo de subsídio para ajudar os professores a trabalhar com a diversidade e a heterogeneidade inerentes à sala de aula? Rosaura Sim, a didática da alfabetização proposta no PROFA pressupõe o trabalho com a diversidade. O princípio geral é que toda proposta de ensino deve responder às necessidades de aprendizagem dos alunos, de todos os alunos. Por essa razão, como sabemos da dificuldade que é, para os professores, trabalhar com turmas heterogêneas, apresentamos e discutimos (tanto nos vídeos quanto nas atividades do curso) situações que incluem propostas de alfabetização para desafiar alunos com diferentes tipos de conhecimento: os que já estão praticamente alfabetizados, os que ainda têm hipóteses de escrita muito primitivas, e os que estão a meio caminho... 7 TV ESCOLA Será que essa nova didática da alfabetização contribui para motivar novas pessoas a abraçar a carreira de professor, e/ou dá estímulos àquelas que já estão em pleno exercício profissional? Rosaura Na verdade, é mais fácil falar dos professores que estão em exercício, que compõem a maioria dos cursistas do PROFA. O que verificamos, nesse caso, é um entusiasmo geral dos professores com o Programa: isso, sem dúvida, pode ser entendido como um estímulo do ponto de vista profissional. Mas tem havido interesse das universidades em aderir ao PROFA, tornando-o parte integrante dos cursos de graduação e pós-graduação, e há várias experiências já em andamento. No entanto, o trabalho de parceria do MEC com as universidades começou em meados de 2001, meses após se iniciar a implementação do Programa no âmbito das secretarias de educação. No caso da formação inicial, as experiências mais "antigas" (de apenas alguns meses) são da UNIR (Universidade Federal de Rondônia), UFAC (Universidade Federal do Acre), UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da UNIFIEO, em São Paulo. Em alguns desses casos, o PROFA foi inserido no curso da Pedagogia (que atende a futuros professores e a professores já em exercício) e, ao que tudo indica, os resultados prometem ser muito positivos. Não basta uma boa didática para tornar sedutora a carreira de professor, sabemos muito bem disso. Mas temos esperança de que propostas mais eficazes de ensino possam constituir um atrativo para a profissão de professor, uma das mais importantes do ponto de vista social. No entanto, todos sabemos que são inúmeros os fatores que interferem na opção profissional: salário, condições de trabalho, valor social da profissão.

TV ESCOLA As novas tecnologias de comunicação e informação vídeo, computador e outros recursos são importantes para o trabalho de formação de professores? Rosaura No trabalho de formação de professores, os recursos tecnológicos são sempre meios. E, como meios, devem estar a serviço das finalidades que lhes dão sentido. A importância especial do vídeo e do computador pode ser a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento dos saberes pretendidos. No PROFA, por exemplo, os programas de vídeo cumprem principalmente o objetivo de "trazer" a prática pedagógica de alfabetização para a reflexão dos grupos de formação. E o computador cumpre principalmente o objetivo de "trazer" a experiência de outros locais para os formadores do Programa, via internet. TV ESCOLA E como a internet entra nesse processo? Rosaura Paralelamente à implementação do PROFA, desenvolvemos em 2001 um projeto-piloto, que consistiu no acompanhamento do curso e de seus desdobramentos em duas escolas (uma em Salvador, outra em São Paulo). Nessas escolas, os grupos de formação começaram antes de todos os demais e foram coordenados por formadoras vinculadas à Equipe Pedagógica do Programa. O projeto-piloto tinha como objetivos: contribuir para o desenvolvimento de metodologias e instrumentos de avaliação; avaliar a adequação dos materiais escritos e videográficos; documentar o percurso de formação dos dois grupos, para aferir alguns dos principais fatores institucionais e pedagógicos que interferem na formação dos professores e nas aprendizagens dos alunos; coletar indicadores que pudessem ser utilizados na elaboração das propostas e dos materiais dos módulos 2 e 3 do Programa (em processo de elaboração, simultaneamente à implementação do Módulo 1); servir de referência para os demais formadores, ao permitir que eles acompanhassem a prática das formadoras das duas escolas, que desenvolviam as unidades do Curso antes deles. 8 O principal instrumento de veiculação das informações dessa experiência é a internet: os relatórios produzidos descrevem os encontros das formadoras com os grupos de professores das escolas envolvidas e procuram compartilhar estratégias formativas, antecipar possíveis problemas na discussão das unidades, divulgar a repercussão do projeto e fornecer pistas para que outros formadores reflitam sobre sua prática e a corrijam, se for o caso, ou sigam com maior segurança em sua rota de trabalho. Ou seja, num projeto desse tipo, o computador e a internet estão a serviço da formação dos formadores do Programa, especialmente de sua capacidade de antecipar possibilidades e refletir sobre a prática a priori. São esses os motivos que impõem a necessidade de exigir que as secretarias de educação envolvidas contem com tais recursos. TV ESCOLA As parcerias com governos estaduais e municipais e outras instituições têm evoluído? Quais as condições básicas para o êxito desse tipo de trabalho compartilhado? Rosaura As formas de parceria têm evoluído, sim. Os problemas na área da educação são tão graves que a única solução é somar e tentar multiplicar. Entre as condições básicas para desenvolver esse trabalho compartilhado estão a confiança mútua (pelo menos em relação ao compromisso com as contrapartidas combinadas); a colocação dos objetivos que justificam a parceria acima das dificuldades circunstanciais que sempre existem; e a maturidade para trabalhar com a diversidade de opiniões e perspectivas. Tivemos uma situação de parceria "a quatro" muito positiva, que foi o Projeto PROFA-Formar, no Espírito Santo, fruto da ação conjunta entre o MEC, várias secretarias de educação do norte do estado, uma ONG (a Ried Rede Interdisciplinar de Educação) e uma empresa privada (a Aracruz Celulose).

Experiências como essa nos fazem acreditar que as parcerias são possíveis e necessárias no campo da educação. TV ESCOLA E quais são, para o professor, as vantagens funcionais de fazer o PROFA? Há algum benefício na carreira? Rosaura Uma das condições de adesão das secretarias de educação ao PROFA é o compromisso de valorizar profissionalmente os formadores e os professores cursistas cada secretaria define o tipo de benefício que será oferecido em função da própria legislação. Todo cursista com freqüência regular e avaliação positiva recebe um certificado de professor alfabetizador emitido pela Secretaria de Educação responsável pelo desenvolvimento do Programa, assinado também pelo Ministério da Educação. TV ESCOLA Um pouco de números. Desde o início do Programa, quantos professores já foram formados? Rosaura Segundo os últimos dados levantados pela SEF, em 2001, o PROFA deu início à formação de 465 Coordenadores Gerais e 1.631 Coordenadores de Grupo, distribuídos em 144 núcleos que se reúnem quinzenalmente em 22 estados brasileiros. Esse trabalho de formação dos formadores do Programa envolve 60 profissionais da REDE-PROFA e beneficia 43.081 professores o que corresponde a mais de 150 mil alunos atendidos em escolas públicas de 694 municípios do país. A implementação do Programa se dividiu em três etapas: a 1ª, em março e abril, a 2ª em junho, julho e agosto, e a 3ª, em outubro, novembro e dezembro de 2001 (neste último caso, o início do trabalho com os professores ficou para fevereiro de 2002). Embora os dados ainda não tenham sido divulgados oficialmente pela SEF, a quantidade de municípios atendidos deve dobrar em 2002, porém com a ampliação inicial de cerca de um terço de formadores, professores e alunos. A estratégia é enraizar o Programa em muitos municípios, porém começando com um atendimento restrito, que depois pode se expandir internamente por iniciativa das próprias secretarias de educação, e com recursos fornecidos por elas. 9 TV ESCOLA Novas etapas em vista? Quais? Rosaura A 3ª etapa de implementação do Programa junto aos professores ocorrerá ao longo de 2002, envolvendo as secretarias de educação e universidades que participaram da Fase 1, em 2001. Não estão previstas novas etapas para este ano.