Avaliação sobre o conhecimento da prevenção de parasitoses realizada em escola de educação básica no município de Avaré-SP Beatriz Bello de Miranda*, Nicoly Ruotolo de Almeida e Tarsila Ferraz Frezza: Instituto Federal de São Paulo, Campus Avaré, Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Bolsa de Extensão IFSP, *biah_belloh@gmail.com Eixo 2: "Os Valores para Teorias e Práticas Vitais" Resumo As parasitoses, provocadas por helmintos ou protozoários, consistem numa das maiores causas de morbidade e mortalidade em diversos países tropicais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estas afetam bilhões de pessoas levando ao óbito, anualmente, outras milhões. Essa realidade acaba comprometendo o desenvolvimento físico e intelectual, principalmente de crianças em idade escolar. Entretanto, a maioria das geohelmintíases, bem como outras parasitoses de transmissão oral-fecal, possuem medidas profiláticas relativamente simples, como o saneamento ambiental, higiene pessoal e alimentar, tratamento individual e a educação em saúde. Esta última é essencial, pois promove a conscientização e a aquisição de hábitos que levem a uma melhoria da qualidade de vida da população, prevenindo doenças. O presente trabalho visa, inicialmente, realizar uma avaliação diagnóstica sobre o conhecimento de professores e funcionários que trabalham em uma instituição escolar infantil (cujo público-alvo são crianças de 6 a 10 anos), no município de Avaré-SP, sobre as parasitoses. Desta forma será possível a escolha de intervenções educativas que ampliem o conhecimento sobre este assunto na comunidade escolar. Palavras- chaves: Parasitoses, Profilaxia, Educação em saúde. Abstract Parasitic infections caused by helminths or Protozoa, consist of a major cause of morbidity and mortality in many tropical countries. According to the World Health Organization (WHO), these diseases affect billions of people and can promote the death of millions. This reality compromises the physical and intellectual development of children, specially scholar ones. However, the prevention of the most soil-transmitted helminths-infections and other parasitic diseases that have oral-fecal transmission, are relatively simple, involving environmental sanitation, individual and alimentar hygiene, individual treatment and health-education. In particular, the health-education is essential because it promotes awareness and the acquisition of habits that improve the life quality of the population and prevent diseases. This study aims to evaluate the knowledge of teachers and workers at a children's school institution (that attend children from 6 to 10 years), in the city of Avaré- SP, about parasitosis prevention. The evaluation will permit to choose which educational interventions are appropriates to improve the knowledge about parasitosis in the scholar community. Keywords: Parasitosis, Prevention, Health-education. Introdução As doenças parasitárias, provocadas por helmintos ou protozoários, consistem numa das maiores causas de morbidade e mortalidade em diversos países tropicais, sendo endêmicas e negligenciadas naqueles em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as parasitoses afetam bilhões de pessoas levando ao óbito, anualmente, outras milhões. É estimado que uma pessoa em cada quatro encontra-se infectada por algum tipo de parasito (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013). Nem sempre, contudo, essas infecções promovem o aparecimento de manifestações clínicas, porém, continuam proporcionando transmissões. Nos casos mais severos, produzem déficits orgânicos, sendo uns dos principais fatores debilitantes da população, associando-se, frequentemente, a quadros de diarreia crônica e desnutrição (SILVA et al., 2003;
COOPER et al., 2008; JENSEN et al., 2009; NORMAN et al., 2010; ORTEGA et al., 2010; PÉREZ-MOLINA et al., 2010). Uchoa et al. (2004), afirmam que essa realidade compromete o desenvolvimento físico e intelectual, principalmente de crianças em idade escolar. Nesse sentido, é sabido que a intensidade das infecções parasitárias pode refletir as condições de vida de uma população. Isso porque a maioria das geohelmintíases e outras parasitoses de transmissão oral-fecal possuem medidas profiláticas simples como o saneamento ambiental, higiene pessoal e alimentar, o tratamento dos casos sintomáticos e assintomáticos e, finalmente, a educação em saúde. Dessa forma, apesar da existência de incentivo a pesquisas relacionadas às parasitoses, a produção científica resultante dessas pouco contribuiu, de fato, para aumentar o arsenal terapêutico e de novos métodos de diagnóstico (BRASIL, 2010). Assim, ações profiláticas podem resultar em maior ou menor proeminência de tais doenças, fazendo com que, num outro extremo, elas deixem de constituir preocupações (CHIEFF e AMATO-NETO, 2003). Objetivos Este estudo visou avaliar o conhecimento de funcionários e professores que trabalham em uma escola de educação infantil (que atende crianças entre 6 a 10 anos), no município de Avaré-SP, sobre parasitoses e suas formas de prevenção. A partir desta avaliação foi possível decidir quais tipos de intervenções educativas poderão ser realizadas com estes profissionais, uma vez que, na escola, estes são os responsáveis pelos cuidados com as crianças. Material e Métodos O projeto atrelado ao estudo aqui apresentado vem sendo desenvolvido em uma Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) do Município de Avaré- SP, localizada na região central, que atende crianças de 6 à 10 anos. A escolha da escola ocorreu conforme a distribuição de ocorrência de Doença Diarreica Aguda no município, proposta por César (2005). Desta forma, foi aplicado um questionário para professores e para os funcionários da escola, uma vez que ambos se relacionam diretamente aos cuidados com as crianças no período de aula. As questões foram formuladas visando à avaliação do conhecimento sobre as parasitoses e suas formas de prevenção. O questionário foi aplicado individualmente com questões objetivas, sendo permitida, em todos os casos, da escolha de mais de uma alternativa, com espaços também destinados à observações. Após a aplicação, os dados foram tabulados sendo realizado um diagnóstico acerca das noções que funcionários e professores possuem sobre as parasitoses. A partir do diagnóstico foi escolhida a forma de intervenção educativa a ser realizada. Resultados Preliminares e Discussão A Tabela 1 mostra a porcentagem de respostas obtidas e esperadas para algumas dessas questões. As avaliação das respostas esperadas foram baseadas nos conceitos de Neves et al. (2011) e Rey (2011), visando analisar os resultados de acordo com os conhecimentos científicos corretos. Com a aplicação do questionário foi possível realizar uma avaliação diagnóstica do conhecimento geral acerca das parasitoses. Sendo assim, percebeu-se principalmente o desconhecimento dos tipos de patógenos que podem causar diarreias, bem como os meios de transmissão de parasitoses, controle, prevenção e formas de tratamento. Com relação aos meios de transmissão, percebeuse alta porcentagem de pessoas que desconhecem que coleções de água doce podem transmitir parasitoses, o que pode ocorrer, por exemplo, no caso da esquistossomose mansônica (barriga d água). Certos sintomas de helmintíases, como a tosse, é de desconhecimento de todos os professores e da maioria dos funcionários. Entretanto, sabe-se que determinados helmintos, que apresentam ciclo pulmonar e que necessitam passar pelos pulmões durante seu estágio de larva (como lombrigas, por exemplo), podem levar a quadros de tosse, como sintoma inicial da doença. É também de desconhecimento entre funcionários e professores que essas enfermidades podem diminuir a concentração da pessoa parasitada. A enterobíase ou oxiurose (comum em crianças em idade escolar), pode, por exemplo, causar irritabilidade e diminuição da concentração, o que culmina em menor rendimento escolar. Além disso, notou-se que ambos os profissionais desconhecem os patógenos que podem causar diarreia. Frente a esse questionário, percebeu-se a necessidade urgente de intervenções educativas para ampliar o conhecimento da comunidade escolar sobre o tema, principalmente em relação à
prevenção e transmissão de parasitoses. Nessas palestras serão apresentados os patógenos causadores de diarreia, formas de controle, sintomas relacionados e o que fazer em caso de suspeita. Pretende-se, portanto, numa segunda etapa deste trabalho, a apresentação de palestras para professores e funcionários, separadamente, visto que houve diferença quanto ao conhecimento, em partes específicas (Tabela 1). Aos funcionários, será dada ênfase para as formas de transmissão de parasitoses e profilaxia. Aos professores, serão abordados na palestra, além das formas de transmissão, profilaxia e controle, os sintomas das parasitoses mais comuns em crianças em idade escolar, treinando este profissional a reconhecer algumas características relacionadas às doenças provocadas por parasitos, e permitir a comunicação desses sintomas aos responsáveis legais pela criança. O conhecimento adquirido pelo professor poderá ser de grande valia, quando forem ministrar aulas cujo conteúdo esteja relacionado à saúde. De acordo com Monroe et al. (2013), é de extrema importância as ações de educação em saúde, uma vez que essas não são valorizadas pelo poder público. Assim, para que aconteçam intervenções pontuais e planejadas de prevenção das parasitoses nas escolas, é necessário compreender as representações, principalmente, dos docentes sobre temas voltados à saúde, para que possam ser planejadas intervenções preventivas que levem em conta os conhecimentos e saberes dos professores. As palestras serão, portanto, essenciais para ampliação e aprimoramento do conhecimento dos profissionais da escola, pois de acordo com os resultados obtidos no presente estudo, os saberes são limitados e, por vezes, norteados pelo senso comum. Ainda de acordo com Monroe et al. (2013), muitas ideias e percepções sobre a transmissão e a prevenção das parasitoses, em particular das intestinais, estão estruturadas em saberes do senso comum os quais devem ser questionados e problematizados (MONROE et al., 2013). Finalmente, para que seja possível avaliar se houve melhora no conhecimento sobre as parasitoses será aplicado um novo questionário, após a realização das palestras. Vale também salientar que este trabalho está atrelado a um projeto de extensão desenvolvido no IFSP-Avaré, intitulado Avaliação do conhecimento sobre prevenção de parasitoses antes e após intervenções educativas em escolas de educação básica no município de Avaré-SP. QUESTÃO Você acha que diarreia pode ser causada por: PROFESSORES (%) Bactérias: Vírus: 8.3 Vermes: 58,3 Fungos: 0 Protozoários: 8.3 FUNCIONÁRIOS (%) Bactérias: 33,3 Vírus: 11.1 Vermes: 55.5 Fungos: 0 Protozoários: 22.2 ESPERADAS (%)* Bactérias: Vírus: Vermes: Fungos: Protozoários: É um meio de transmissão de parasitoses: Como pode ser feito o controle da transmissão de parasitas: No caso de parasitose deve-se: Banhos de piscina: 16.6 Fezes de animais: 75 75 Água contaminada: 75 lagoas, represas: 41.6 água: 50 Cuidado com alimentos: 75 lixos: 75 Saneamento Básico: 41.6 como vermífugos: 58.3 Sempre ir ao médico: 75 : 58.3 Banhos de piscina: 0 Fezes de animais: 88.8 Água contaminada: 88.8 lagoas, represas: 0 água: 88.8 Cuidado com alimentos: 88.8 lixos: 44.4 Saneamento Básico: 77.7 como vermífugos: Sempre ir ao médico: 55.5 : 77.7 Banhos de piscina: Fezes de animais: Água contaminada: lagoas, represas: água: Cuidado com alimentos: lixos: Saneamento Básico: como vermífugos: Sempre ir ao médico: : Utilizar chá caseiro: 0 Benzer a pessoa: 0
Para prevenir as parasitoses é importante: São sintomas comuns em parasitoses intestinais: Doenças provocadas por parasitas podem causar: Número Amostral (Quantidade de profissionais que responderam ao Tomar vermífugo: parasitose: 75 Andar calçado: 33.3 alimentos: 75 Lavar as mãos: 91.6 ao ano: 58.3 periodicamente: 58.3 animais de rua: 16.6 assunto: 50 fervida: 58.3 Dores abdominais: 75 Diarreia: 58.3 Gases: 25 Falta de apetite: 33.3 Vômito: 50 Náuseas: 25 Perda de Peso: 33.3 Tosse: 0 Anemia: 16.6 Prurido anal: 25 Fraqueza:50 Sono: 33.3 Dor abdominal: 83.3 Anemia: 41.6 Emagrecimento: 50.0 Diarreia: Febre: 16.6 Dermatite: 8.3 apetite: 33.3 Disenteria: 58.3 Flatulência: 16.6 Mal-estar: 33.3 Falta de concentração: 25 Tomar vermífugo: 77.7 parasitose: 66.6 Andar calçado: 33.3 alimentos: 77.7 Lavar as mãos: 88.8 ao ano: 88.8 periodicamente: 11.1 animais de rua: 11.1 assunto: 33.3 fervida: 88.8 Dores abdominais: 88.8 Diarreia: Gases: 22.2 Falta de apetite: 44.4 Vômito: 77.7 Náuseas: 77.7 Perda de Peso: 0 Tosse: 22.2 Anemia: 16.6 Prurido anal: 11.1 Fraqueza: 66.6 Sono: 22.2 Dor abdominal: 77.7 Anemia: 33.3 Emagrecimento: 66.6 Diarreia: Febre: 11.1 Dermatite: 0 apetite: 11.1 Disenteria: 33.3 Flatulência: 11.1 Mal-estar: 44.4 Falta de concentração: 0 Tomar vermífugo: parasitose: Andar calçado: alimentos: Lavar as mãos: ao ano: 0 periodicamente: animais de rua: assunto: fervida: Dores abdominais: Diarreia: Gases: Falta de apetite: Vômito: Náuseas: Perda de Peso: Tosse: Anemia: Prurido anal: Fraqueza: Sono: Dor abdominal: Anemia: Emagrecimento: Diarreia: Febre: Dermatite: apetite: Disenteria: Flatulência: Mal-estar: Falta de concentração: 12 9 - questionário) Tabela 1: Principais questões aplicadas a professores e funcionários. *Porcentagem esperada para cada resposta.
Conclusões O presente estudo visou avaliar o conhecimento de funcionários e professores de uma escola municipal de educação infantil em Avaré-SP, através da aplicação de questionários. Dessa forma, percebeuse uma urgente necessidade de práticas extensionistas, que visem ampliar o conhecimento da comunidade escolar sobre as parasitoses, por meio de palestras, especificamente para professores e funcionários. Agradecimentos Os autores agradecem ao IFSP-Avaré pelo auxílio financeiro, através de bolsas institucionais de extensão. BRASIL. Doenças negligenciadas: estratégias do Ministério da Saúde. Informe Técnico. Ministério da Saúde. Revista de Saúde Pública, v. 44, p. 200, 2010. CHIEFFI, P. P.; AMATO-NETO, V. Vermes, verminoses e a saúde pública. Ciência e Cultura, v. 55, p. 41-43, 2003. CÉSAR, M. L. V. S. Doença diarreica aguda: aspectos epidemiológicos e vigilância no município de Avaré, interior do Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 82 p. 2005. COOPER, P. et al. Environmental determinants of total IgE among school children living in the rural Tropics: importance of geohelminth infections and effect of anthelmintic treatment. BMC Immunology, v.9, p. 9-33, 2008. JENSEN, P. K. M. et al. Survival of Ascaris eggs and hygienic quality of human excreta in Vietnamese composting latrines. Environmental Health. v. 8, p. 1-9, 2009. MONROE, N. B. et al. O tema transversal saúde e o ensino de ciências: representações sociais de professores sobre as parasitoses intestinais. Investigações em Ensino de Ciências, v. 18, p. 7-22, 2013. NEVES, D. P. et al. Parasitologia Humana. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. 264 p. NORMAN; F. F. et al. Neglected Tropical Diseases outside the Tropics. PLoS Neglected Tropical Disease, v. 4, n. 7, p. e762, 2010. ORTEGA, C. D. et al. Helminthic Diseases in the Abdomen: An Epidemiologic and Radiologic. RadioGraphics. v. 30, p. 253-267, 2010. REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 424 p. SILVA, N. R. et al. Soil-transmitted helminth infectious: updating the global picture. Trends in Parasitology. v. 19, n. 12, p 547-551, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Parasitic diseases. 2013. Disonível em: http://www.who.int/vaccine_research/diseases/soa_ parasitic/en/index.html. Acesso em: 15 ago. 2015.