A CONSTRUÇÃO DE MEMES E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DA FANPAGE ÉÉÉGUAAA IRONIA E IMAGEM PROJETANDO O COTIDIANO DA CIDADE 1

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Transcrição:

A CONSTRUÇÃO DE MEMES E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DA FANPAGE ÉÉÉGUAAA IRONIA E IMAGEM PROJETANDO O COTIDIANO DA CIDADE 1 Tema, objeto de estudo e objetivo Silvio Simão de Matos 2 O destaque que a fanpage ÉÉÉguaaa tem entre os moradores de Joinville não está descolado da onipresença dos dispositivos móveis e dos aplicativos de mídias sociais no seio da vida em rede, provocando um verdadeiro apagamento da fronteira entre o público e o privado. Dos quase 160 mil seguidores que a fanpage possui, 90% são moradores de Joinville, cidade catarinense conhecida pela força da indústria, pela história de imigração europeia e por nomenclaturas locais muito próprias para identificar elementos do cotidiano. Para citar um post, em forma de meme (conceito de humor utilizado para representar vídeos e imagens na internet e que se espalha de forma rápida), relacionando a separação de jornalistas globais, publicado na fanpage, contou com quase três mil curtidas. Essa crescente interação de moradores da cidade com a fanpage reforça a noção desenvolvida por Muniz Sodré de que os novos processos comunicacionais se tornaram uma extensão da nossa vida, formando um bios virtual (2002). Para problematizar o fluxo de sentido que se estabelece a partir da fanpage ÉÉÉguaaa, o objetivo é compreender o novo paradigma comunicacional que se forma a partir da popularização da Internet, principalmente por meio dos dispositivos, e como esta realidade afetará, sobretudo, a juventude. Palavras-chave: Subjetivação; mídias sociais; jovens; humor; ironia. Bases teóricas Jovem, mídias sociais e o nascimento do bios virtual O impacto causado pela evolução constante nos dispositivos comunicacionais que usam a Internet como plataforma, influência indivíduos, organizações e grupos sociais. São novos pontos de contato que afetam toda uma realidade, a tal ponto que Sodré propõe pensar a mídia como uma nova forma de vida, na qual chama de bios virtual (2002). O modo como nos 1. Artigo apresentado ao Eixo Temático 10 Subjetividade/Identidade, do IX Simpósio Nacional da ABCiber. 2. Pesquisador é professor e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade da Região de Joinville (Univille). É Doutorando em Comunicação pela UFRJ. E-mail: simon@univille.br

relacionamos é, cada vez mais, atravessado pelos discursos da mídia, diluindo as fronteiras do público e do privado. Como trata-se de uma tecnologia que não somente oferece conteúdo, mais também habilita os usuários a gerar, disseminar ideias, compartilhar e interagir com um ambiente novo, algumas vezes desconhecido, outras totalmente sinérgicas com o usuário, tem-se a possibilidade de investigar os processos de identificação e de subjetivação dos jovens que se enquadram nos discursos da Geração Z no ambiente da web. O meio tradicional, passivo, dá lugar para novos meios, interativos e de onde o jovem não só vê, mais torna-se sujeito se subjetiva na produção e disseminação de conteúdo (discursos). O jovem que se vê e interage na web A interação entre jovens e a construção de processos de subjetivação entre eles vem sendo constituída ao longo dos anos por diferentes plataformas e modelos de interação. Freire Filho (2007), em Reinvenções da resistência juvenil, transcorre inúmeras discussões realizadas com base no jovem, no seu comportamento e na mediação que faz com o outro, com a sociedade e com a mídia, na busca por seus ideais. As redes sem fio substituem, conforme Santaella; Lemos (2010, p 17) formações estáveis de lugar, identidade e nação por arquiteturas flexíveis, geografias variáveis e fluxos maleáveis para os quais não existem fronteiras, permitindo que se constitua uma comunicação multimodal, onde os sujeitos se conectam e configuram uma comunicação de qualquer lugar para qualquer lugar, sem obstáculos, de forma dirigida ou não. Os jovens passam a ter em canais de comunicação como Facebook, Twitter, Youtube, espaços para se expor e para ver, para interagir e conhecer, para compartilhar vozes, imagens e discursos (SANTAELLA; LEMOS, 2010). Tem-se uma nova dimensão, onde o público e o privado se misturam, onde a web se fixa como um meio democrático, de liberdade de expressão e compartilhamento livre de ideias (GONÇALVES, 2016), mais que também gera uma base de dados ampla e irrestrita de informações (SANTAELLA; LEMOS, 2010). Uma ação caracterizada por voluntariedade, por participação, interação, que tem uma língua universal digital que promove a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e imagens de nossa cultura como personalizados pelos indivíduos (GONÇALVES, 2016). Processos de subjetivação e juventude Pode ser observado um certo modo de subjetivação de seguidores do ÉÉÉGUA a partir do ato enunciativo ou seja, de sua inscrição no discurso a partir de comentário. Guattari nos ajuda a compreender melhor esses processos de subjetivação:

o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território auto-referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva (1998, p. 19). Para Guattari, os contextos sociais e semiológicos, a subjetividade se individua (1998, p. 19), mas em outras, se faz coletiva. Ora, o modo como os sujeitos se articulam numa dada produção cultural como na fanpage pode também ser para afirmar uma subjetividade que se singulariza, ou seja, se diferencia de regimes discursivos dominante, ou se dá em condições coletivas, isto quer dizer de uma multiplicidade que se desenvolve para além do indivíduo [...] (GUATTARI, 1998, p. 19). É nas práticas discursivas que se pode também analisar as regularidades discursivas do que constitui o sentido de juventude, não como um dado natural da fase humana, mas, justamente, como uma construção discursivas. Nesse sentido, via Foucault, pode-se observar como a ideia de juventude se modifica na história constituindo-se nas relações de saber e de poder que se tramam. Freire Filho (2007, p. 127) diz que em relação a inserção social de adolescentes presume-se que, neste período formativo fundamental da identidade e da subjetividade, época de experimentação e auto-afirmação, certos traços congeniais da condição feminina (insegurança, suscetibilidade, volubilidade) tendam a estar exacerbados. SANTAELLA; LEMOS (2010, p. 93) observam que passamos a selecionar, interferir e criar nosso próprio design no entrelaçamento dos fluxos informacionais que nos chegam através de canais que fazem por sua vez, a busca, a captura e o compartilhamento das informações que nos interessam. Por meio das mídias sociais, passamos a enfatizar não somente a informação que buscamos, mais também o que chega até nós por meio das nossas conexões virtuais. Base das análises O cotidiano representado em memes na web Com ironia e humor, parte dos acontecimentos de Joinville ganham visibilidade na fanpage ÉÉÉguaaa quase em tempo real e seguem despertando as mais diversas reações que se expressam em comentários e compartilhamentos, como se, a partir de cada postagem, um corpo pulsante fosse ganhando forma no modo como os visitantes da fanpage interagem. Além de acontecimentos específicos, ícones do cotidiano de Joinville como designar ônibus (Zarco), bicicleta (Zica), pão doce (chineque), por exemplo, estão presentes de forma frequente nos vários posts feitos na fanpage, quase sempre com humor e tom irônico. O humor e a ironia funcionam neste espaço contrário ao sentido regulado, disciplinado, que está a serviço de um status quo social. Entre os autores que ajudam a trabalhar com o

humor e a ironia transitando neste fluxo de sentidos e afetos que desestruturam a realidade socialmente disciplinada é Deleuze. Para o filósofo, o humor é contrário da moral: melhor ser copista de música que pensionista do rei (DELEUZE, 2006, p. 76). No que se refere aos sentidos, a transgressão pode ser compreendida no espaço discursivo que traz para o primeiro plano o que estaria subentendido, o que é partilhado no sentido, mas nunca é dito de forma explícita. Em uma das imagens postadas na ÉÉÉguaaa (figura 1) aparece uma foto do casal William Bonner e Fátima Bernardes. O post foi realizado no dia 30 de agosto de 2016, após o anúncio da separação do casal e faz uma crítica ao transporte público local, realizado por muitas décadas pelas duas empresas citadas no post (Gidion e Transtusa). O post com o título Amor eterno teve 2,9 mil curtidas e quase 1,7 mil compartilhamentos. Figura 1 Post amor eterno Fonte: https://www.facebook.com/eeeguaaa Não se busca em ÉÉÉguaaa um ponto de coerência ou de unificação do discurso, mas, bem ao contrário, um espaço que permite que sentidos latentes na sociedade possam fluir e que se expressam num circuito de atos tanto da ordem do senso quanto do não-senso. Onde a riqueza do humor e da ironia é, justamente, fomentar a multiplicidade de sentidos que se

podem formar sobre um mesmo fato, o que constitui, na perspectiva deleuziana, o próprio acontecimento. Considerações e relevância do trabalho O cotidiano atual de um indivíduo que interage com outro utilizando-se de smartphones e tablets, por exemplo, faz com que tenhamos maior interação e aproximação entre as pessoas. Isso também constrói oportunidades para que cenas reais, muitas delas veiculadas nos meios de informação tradicionais de massa e popularizadas pelos canais virtuais, transformem-se em memes, que geram envolvimento e engajamento dos personagens inseridos nas mídias sociais. Isso mostrou-se claramente presente na fanpage ÉÉÉguaaa, evidenciado que os fluxos comunicacionais, por onde transitam os afetos implicam aos sujeitos uma nova produção de sentidos, que se dão com mais intensidades nas redes de relacionamento da Internet do que nas mídias tradicionais e que por muitas vezes estruturam um campo de transgressão dos sentidos estabelecidos no status quo da sociedade. Referências DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 2007. FREIRE FILHO, João. Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do cotidiano. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 16. ed. São Paulo: Loyola, 2008. GONÇALVES, Denise Mafra. A internet no olhar da comunicação brasileira. Curitiba: Appris editora, 2016, 307p. GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1998. SANTAELLA, Lucia; LEMOS, Renata. Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter. São Paulo: Paulos, 2010. SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.