CONFIRA COMO ESTÁ O CENÁRIO DE ACESSIBILIDADE CULTURAL NO ESTADO PROFESSORA RELATA SUA EXPERIÊNCIA COM A ACESSIBILIDADE CULTURAL



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Gabriela Zilioti, graduanda de Licenciatura e Bacharelado em Geografia na Universidade Estadual de Campinas.

Transcrição:

Acessibilidade em pauta Ainda que a passos tímidos, a acessibilidade cultural para pessoas com deficiência vem avançando no Brasil. Em julho deste ano, a presidente Dilma Rousseff sancionou o Estatuto da Pessoa com Deficiência. De acordo com o governo, o objetivo é assegurar direitos e oportunidades a este público, concedendo-lhe autonomia. Por meio do estatuto, segundo a presidente, será possível garantir igualdade ao cidadão com deficiência, classificado pela nova lei como o sujeito "que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual, sensorial que podem obstruir a sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas". Mas será que a busca e o investimento para a consolidação desta igualdade ocorre plenamente em Fortaleza? A ocupação e fruição dos equipamentos culturais por pessoas com deficiência auditiva e/ou visual são vistas com frequência na Cidade? A tecnologia atua como uma aliada neste processo de acessibilidade? Confira nas entrevistas, a seguir. CONFIRA COMO ESTÁ O CENÁRIO DE ACESSIBILIDADE CULTURAL NO ESTADO PROFESSORA RELATA SUA EXPERIÊNCIA COM A ACESSIBILIDADE CULTURAL TEATRO ACESSÍVEL CONFIRA A MATÉRIA A SEGUIR ESTE SITE FOI PRODUZIDO PELA EQUIPE: BEATRIZ BARRETO, LÍGIA COSTA, JAMILE PRAZERES, SUÉLEN RAMOS E JÚLIO CEZAR; PARA A DISCIPLINA OFICINA EM JORNALISMO, SEMESTRE 2015.2, SOB ORIENTAÇÃO DO PROFESSOR EDUARDO FREIRE.

Cenário de acessibilidade cultural no Ceará A acessibilidade é um ponto crucial para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária. É importante que ferramentas possibilitem que todos possam ter acesso à cultura. O audiodescritor da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Klístenes Braga, conta que ao longo de oito anos, foram realizados esporadicamente festivais e eventos que possibilitaram aos deficientes conhecerem os equipamentos e acessarem a cultura, gerando uma recepção muito positiva por parte do público. Klístenes destaca ainda a 19ª edição do Festival Cine Ceará que trouxe uma amostra com curtas e longa metragens com audiodescrição. Porém, não existe atualmente em Fortaleza uma programação regular com audiodescrição. Ele explica que avanços virão através de novas leis e projetos, que a consolidem na televisão e no cinema. Atualmente, nenhuma sala de cinema em Fortaleza possui equipamentos de audiodescrição. Como novidade, ele diz que, em relação ao teatro, os editais já estão cobrando acessibilidade como um dos critérios de avaliação. E em alguns casos, isso já é obrigatório. Para facilitar, orçamentos são conversados e propostos para este fim. Como um marco importante, ele cita a Semana de Acessibilidade Cultural, comemorada em setembro. Aconteceram visitas guiadas ao Theatro José de Alencar, sessões de cinema com audiodescrição e legenda para surdos no Cine São Luiz. Uma sessão, com interpretação em libras ao vivo, no Teatro Carlos Câmara. No Museu Sacro São José do Ribamar que é um dos equipamentos culturais com a melhor estrutura de acessibilidade no estado, o acervo conta com audiodescrição e etiquetas em braille. E a 5º edição do Festival de Teatro Infantil do Ceará, realizado no Teatro José de Alencar, cerca de 200 crianças com deficiência puderam assistir a dois espetáculos. Foram eventos importantes, porém com a falta de uma programação fixa, a política não é ainda muito efetiva. O Fundo Estadual de Cultura (FEC), um dos financiadores da cultura no Estado, ainda não contempla recursos para a acessibilidade. Klístenis destaca que o grande desafio é organizar os fundos para financiar essas ações, e que o plano da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará é ouvir o que os deficientes buscam para fornecer cultura acessível a todos, em consonância com o que o público almeja. (Suélen Ramos)

Professora Vera Santiago relata sua experiência com a acessibilidade cultural em Fortaleza Desde 2000, quando escolheu abordar legendagem para ouvinte em sua tese de doutorado, a professora universitária Vera Lúcia Santiago Araújo ingressou na luta pela acessibilidade para surdos e cegos nos meios audiovisuais. Fui fazer a primeira pesquisa sobre legendagem no Instituto dos Surdos. Desde aí, o tema não me soltou mais, revela a pesquisadora, que atua desde 2008 como coordenadora do grupo Lead (Legendagem e Audiodescrição) da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Dentre as atividades desenvolvidas pelo Lead estão: formação de audiodescritores, formação de legendistas focados na legendagem para surdos e ensurdecidos e pesquisas na área. Conforme complementa Vera, atualmente o grupo passou também a enveredar pelo campo da educação. A gente está trabalhando agora com uma pesquisa voltada para a acessibilização de vídeoaulas para educação à distância, para acesso de pessoas com deficiência visual à educação à distância, afirma. Desde a sua implantação, o Lead vem desenvolvendo, por meio da formação de tradutores, legendistas e audiodescritores e diversas ações de fomento à acessibilidade cultural no Ceará. Fizemos o Cine Ceará, tornamos acessíveis todos os filmes em 2009, com exceção de um cineasta que não nos deu acesso; fizemos audiodescrição e legendagem de peças de teatro; fizemos cinco DVD s acessíveis, pelo edital BNB de Cultura; e várias exposições de arte, pontua Vera. O grupo ainda viveu neste ano a experiência de levar pessoas com deficiência visual ao Estádio. Fizemos a audiodescrição de um jogo do Ceará e Portuguesa. Foi o trabalho de mestrado do meu aluno Celso, que é deficiente visual, conta a pesquisadora, que se dedica ainda a realizar pesquisas experimentais, no intuito de materializar um modelo brasileiro de locução na audiodescrição e de legendagem para surdos e ensurdecidos. Os profissionais estão aí e os produtores culturais não estão fazendo. Ainda não entrou essa cultura. Eu fui à Bienal de Dança, no sábado, dar uma palestra sobre isso e acabaram não tendo recursos para tornar nenhum dos espetáculos acessíveis, mas a gente espera que as coisas mudem, desabafa a pesquisadora. Apesar de atentar para as dificuldades de efetivação da acessibilidade cultural, ela se mantém otimista. Inclusive, no próximo dia 18 de novembro, deve participar do lançamento de um guia orientador pela Secretaria do Audiovisual, em Brasília. Agora todos os filmes, documentários, minisséries de TV e o tudo que for financiado pela secretaria terá que ser acessível, com janela de libras, legendagem para surdos e ensurdecidos e audiodescrição para pessoas com deficiência visual. Então, pelo menos neste segmento as coisas vão começar, comemora. Falta de conhecimento A acessibilidade aos produtos culturais é um tema que, segundo Vera, exige ainda muitas discussões por parte da sociedade e do governo. Porém, ela ressalta que em instituições, como escolas e fundações, há receptividade e engajamento, mas falta conhecimento, inclusive por parte de pessoas com deficiência.

A gente sempre foi muito bem recebido em escolas como o ICE, Instituto Cearense de Educação dos Surdos; e o Instituto dos Cegos; tanto para fazer pesquisa como para fazer exibição. Mas as escolas ainda, digamos assim, têm poucos alunos com deficiência. Então a discussão ainda não está na frente, na pauta dessas escolas, analisa a pesquisadora. Ausência de investimento Qual o principal problema da acessibilidade cultural em Fortaleza? Eu acho que é financiamento mesmo, responde prontamente a professora. De acordo com ela, os produtores culturais e o governo devem lembrar do público formado por pessoas com deficiência e buscar realizar investimentos na área, pois o retorno financeiro vem depois. Todas as vezes que o governo lançar seus editais, que ele coloque a questão da acessibilidade como premissa, lembrando desse público. Principalmente porque precisa ser um investimento, também dos produtores, para formar plateia. O retorno vai vir depois, mas tem que ter esse esforço antes. O ideal é que isso se popularize e que as pessoas comecem a consumir esses produtos, a ir a eventos como um desfile de escola de samba, um jogo de futebol, uma exposição de arte ou mesmo um show com suas próprias pernas, sugere. Quanto à cena cultural e sua acessilidade nos próximos anos, ela se mantém firme e esperançosa. Tudo pode se tornar acessível, via audescrição e legendagem para surdos e ensurdecidos. Eu quero que a acessibilidade esteja em todos os lugares, finaliza. (Lígia Costa)

Grupo de teatro é pioneiro na acessibilidade cultural do Estado Com 16 anos de história, o grupo de teatro cearense Alumiar Cenas & Cirandas, dirigido pela arteeducadora Socorro Machado, é um dos pioneiros na questão da acessibilidade cultural a portadores de deficiências auditivas e visuais no estado do Ceará. Sob a batuta de Socorro Machado, com mais de 20 anos de experiência nos palcos cearenses, o grupo Alumiar Cenas & Cirandas em sua trajetória sempre teve como filosofia o Teatro pedagógico, objetivando a transformação do indivíduo através da educação. É através do Teatro que buscamos sensibilizar a plateia para transformações a partir de si mesmo, começando pelo atores ou aqueles que fariam da interpretação uma forma de educar, ou melhor, de sensibilizar, afirma Socorro Machado. O grupo é formado por pesquisadores e estudiosos da cultura popular, além de pedagogos, comunicadores e estudantes que buscam através da arte redescobrir-se para assim transformar o mundo que os rodeia. Os Cavaleiros Por Beatriz Barreto Em 2015, o grupo estreou o espetáculo Os Cavaleiros, com um texto feito a partir de figuras fantásticas e reais da Cultura Popular. O espetáculo conta com a participação de dois atores deficientes visuais e, disponibilizava em todas as sessões a tradução simultânea em Libras (Língua Brasileira de Sinais) para surdos e ensurdecidos e a audiodescrição para portadores de deficiência visual. A partir de um personagem da história, o Assum, portador de uma deficiência visual, surgiu a ideia de tornar a peça acessível. E com isso, veio desafio de trabalhar dois deficientes visuais para dividir esse papel com o ator vidente Diego Goulart. Foram cerca de dois anos de trabalho, onde a professora e diretora Socorro Machado ensinou a arte de interpretar e trabalhou questões como deslocamento e espiritualidade em cena para o Professor Paulo Roberto e Carlos Ranielli.

Sessões acessíveis "Sempre tivemos nossos olhos voltados para as especialidades", nos conta Socorro Machado. Segundo a arte- educadora durante os anos de atuação na cena cearense de teatro, o grupo sempre proporcionou sessões especiais para públicos específicos, como portadores de câncer, idosos e crianças que não tinham acesso direto à cultura. Com Os Cavaleiros, um passo adiante foi dado. O Grupo Alumiar tornou suas sessões acessíveis para pessoas portadoras de deficiências visuais e auditivas. Através da tradução simultânea em Libras( Língua Brasileira de Sinais), feita por dois intérpretes que ficavam na lateral do palco, traduzindo em tempo real a peça, e com a audiodescrição feita em uma cabine no teatro, no qual o áudio-descritor descrevia os cenários, figurinos e cenas em detalhes, dando espaço para as falas dos atores. A arte precisa do povo Foto: Emílio Bamblitz et, consectetur adipisicing oluptate qui officia unde et magni inventore dolorem uisquam necessitatibus rem. oto: Emílio Bamblitz Segundo Socorro Machado, a arte precisa daqueles para quem ela é feita: o povo. " Os portadores de deficiência precisam saber que a arte também é feita para eles, que existe ambientes culturais acessíveis, que eles fazem parte desse povo do qual a arte precisa para sobreviver", afirma a arte-educadora. A diretora do grupo Alumiar destaca a dificuldade de formação de platéia desse público com especialidades, pois não existe o hábito de frequentar teatro e ambientes culturais, o que para ela é resultado da falta de informação sobre a existência desses serviços somado a falta de investimento do governo quanto à políticas públicas que favorecem esse tipo de trabalho. Saiba mais sobre o Grupo Alumiar Cenas & Cirandas e, como foi o processo de construção de uma das primeiras peças acessíveis do teatro cearense. Confira a seguir:

O ideal era que todos soubessem Libras, diz o intérprete José Cavalcante A acessibilidade é o direito de uma pessoa usar todos os espaços e serviços que a sociedade oferece, independente de sua capacidade física. Hoje, essa prática está sendo vencida pela iniciativa de grupos que visam possibilitar o acesso das pessoas com deficiência a todas as atividades diárias, incluindo também as atividades culturais. Diante da presença e participação dos surdos no meio social, cultural e educacional é necessário ter acesso a toda e qualquer forma de comunicação. Um dos meios utilizados para essa inserção dos deficientes auditivos é o uso da interpretação através da Língua Brasileira de Sinais (Libras), pois é uma importante ferramenta de inclusão social. José Cavalcante é intérprete de Libras e seu contato com a língua começou desde cedo. Ele concedeu uma entrevista para a reportagem da Oficina de Jornalismo. Oficina de Jornalismo - Há quanto tempo você trabalha com a Libras e como o senhor define a importância de um profissional saber essa língua? José Cavalcante Comecei a aprender Libras em 2007, em uma viagem missionária, em Cuiabá. Desde então, a Libras fez parte da minha vida. Voltando a Fortaleza, fui estudar e me formei em 2013 como intérprete da Língua Brasileira de Sinais. Acho uma profissão de extrema importância. O ideal era que todos soubessem Libras, já que é a 2ª língua oficial do Brasil. OJ - Desde quando usa a Língua Brasileira de Sinais como ferramenta de trabalho? JC - Uso Libras, na verdade, desde quando comecei a aprender. Uso cotidianamente, pois trabalho com 19 profissionais surdos.

OJ - Qual o papel de um intérprete de Libras na inclusão das pessoas com deficiência? JC - Na verdade, o papel é facilitar a comunicação de surdos e ouvintes que não sabem Libras. Interpreto de surdo para ouvintes e vice-versa: Libras/ Português, Português/Libras. OJ - Como você vê a importância dessa inclusão dentro da acessibilidade cultural aqui em Fortaleza? JC Bem na verdade acredito que estamos melhorando na inclusão das Libras no campo da cultura. Porém acredito que ainda existe muito espaço para progresso. Tanto na área da interpretação como na cultura em geral. Vejo sempre intérpretes interpretando algo cultural como, por exemplo, teatro de forma que parece mais uma palestra. Defendo que precisamos conhecer e estudar previamente o que vamos fazer, também em Fortaleza tem crescido o número de eventos culturais com acessibilidade em Libras, o que nos mostra que existem líderes preocupados com a inclusão. OJ - O teatro proporciona uma vibrante troca de experiências. Você participou da peça teatral Cavaleiros. Pode contar um pouco dessa experiência? E qual o retorno para você? JC Bom, na verdade foi uma experiência magnífica onde pude ser mais de 25 personagens. O trabalho começou um mês antes da apresentação, com ensaios e sondagens dos personagens. Após essa etapa, desenvolvemos sinais para cada personagem e assim interpretando com clareza a atuação de cada um. Esse espetáculo me trouxe um grande retorno pois fiz vários outros, auxiliando na acessibilidade cultural do nosso estado. OJ - A Libras possui uma estrutura gramatical própria? JC - Sim, pois é uma língua. Mesmo sendo derivada do Português ela possui suas regras. OJ - Atualmente, como você define a acessibilidade cultural na cidade? Precisa melhorar? Em que aspecto? JC - Acredito que estamos dando um grande passo no quesito acessibilidade em Libras na cidade, mas precisamos ainda mais. Na verdade, creio que chegará o dia em que terão disponíveis intérpretes em todos os espaços culturais. (Jamile Prazeres)

Conheça o Instituto dos cegos Em uma importante avenida de Fortaleza, ocupada por lojas e comércios de vários tipos, um espaço se destaca por sua área espaçosa e construções que fogem do amontoado comum na região. Na esquina da Avenida Bezerra de Menezes com a Rua Padre Anchieta está a Sociedade de Assistência aos Cegos. Ocupando meio quarteirão do bairro São Gerardo a própria instituição se divide em dois espaços, em uma metade está o Hospital Alberto Baquit Junior, especializado na área oftalmológica, seu atendimento por convênios e particulares financiam a outra metade do quarteirão, o Instituto Hélio Goes. O Instituto, fundado em 1943, é basicamente uma escola, tem cerca de 270 alunos matriculados que se revezam nos períodos da manhã e tarde em turmas que vão da pré-escola a 9 serie. O diferencial do Instituto é o fato de todos seus alunos serem portadores de deficiência visual. Além do conteúdo regular os alunos têm aula de leitura em Braille e de adaptação e locomoção. A escola mantém várias atividades culturais para os alunos, grupos de dança, maracatu e artesanato estimulam a criatividade dos alunos, porém ela também exerce papel fundamental como formadora de um público consumidor de cultura. Até hoje, a única biblioteca no estado inteiramente acessível para os deficientes visuais está no Instituto Hélio Goes. A Biblioteca Braille Josélia Almeida é um espaço bem movimentado do instituto, se trata de uma grande sala de leitura de onde se tem acesso a outras três salas menores, uma brinquedoteca, o acervo de livros em Braille e um cubículo com uma cadeira e um equipamento de som onde os alunos usam o áudiolivro. A biblioteca tem cerca de 10.000 títulos e está passando por um novo cadastramento de obras. Nas três mesas da sala de leitura sempre se vê alunos concentrados nos livros. Andréia Barros, bibliotecária do local, destaca Ruth Rocha e Monteiro Lobato como os autores preferidos e com mais livros sob empréstimo. Entre os alunos uma se destaca pelo gosto à leitura, Maria Eduarda, 11anos, está na terceira série e sempre que tem tempo vai a biblioteca para ler, porém não é só nos tempos de aula que ela mantem o hábito, Quando estou de férias, sempre peço para minha mãe vir aqui pegar livros para mim, ressalta a menina que mora no Montese. Andreia explica que grande parte das obras são obtidas por doações, porém uma parcela é feita no próprio Instituto, a imprensa Braille é responsável por suprir demandas de livros didáticos não satisfeitas com as doações, também é nela que se imprime as provas e comunicados para os alunos. A máquina que é a única de tal porte no estado é importada da Noruega, está no Instituto desde 1993. Uma máquina com cerca de 1,50m de altura imprime com agulhas os relevos que possibilitam a identificação do Braille. Além dessa impressora uma outra de menor porte tem a função de imprimir em Braille e em tinta para alunos de cegueira parcial. Outro setor importante é o estúdio para gravação dos audiolivros, ali uma secretária agenda horários para que possam ler e gravar áudios que abastecem a biblioteca. Grande parte da população cega não tem acesso a esses bens culturais, apesar do esforço do Instituto para manter a escola gratuita para todos os alunos, além da biblioteca que é aberta ao público. O professor de Dosvox (ferramenta que propicia a pessoa cega o uso do computador) e presidente da Alasac(Academia de Letras e Artes do SAC) explica as dificuldades dos deficientes visuais, pelas peculiaridades dos problemas dos cegos, a sociedade acaba colocando esses indivíduos em guetos, acham que só esse deve ser o nosso lugar. As dificuldades de quem é cego e quer ir ao teatro começa com a locomoção até os centros de cultura. Chegando lá, nenhum equipamento da cidade está apto para receber um deficiente. Nos temos que nos contentar com exibições pontuais onde temos uma única sessão para assistir a um espetáculo com audiodescrição, denuncia. Paulo Roberto ainda mostra-se otimista por observar que nunca se falou tanto em acessibilidade e que futuros editais possam ter a acessibilidade como questão obrigatória.