NARRATIVAS DE SI: REFLEXÕES TEÓRICO- METODOLÓGICAS DA PESQUISA (AUTO)BIOGRÁFICA COMO ABORDAGEM DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO DOCENTE



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Transcrição:

NARRATIVAS DE SI: REFLEXÕES TEÓRICO- METODOLÓGICAS DA PESQUISA (AUTO)BIOGRÁFICA COMO ABORDAGEM DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO DOCENTE Gislene de Araújo Alves IFRN gislene.araujoifrn@gmail.com RESUMO Este estudo traz algumas reflexões e apontamentos sobre a Pesquisa (Auto)Biográfica, além de traçar uma breve trajetória histórica e os percursos metodológicos desta abordagem, assim como algumas reflexões sobre a utilização do método da pesquisa na área da Educação. Através dos autores como Josso (2002; 2008; 2010), Nòvoa (2010), Abrahão (2010), Souza (2010) entre outros, que nos possibilita a conhecer a abordagem biográfica como método de investigação e de formação profissional. Nota-se que nos últimos anos, os estudos na área da Educação procuram dar voz aos sujeitos envolvidos nas pesquisas, o que leva em consideração as narrativas orais, escritas, documentos pessoais, fotografias entre outros registros e reflexões do próprio sujeito sobre sua trajetória de vida e de formação. Conclui-se que a Pesquisa (Auto)Biográfica revela-se como uma abordagem de pesquisa valida, no qual permite conhecer e compreender as experiências de vida e de formação traçadas pelo sujeito, e que tornam-se referências importante para reflexão crítica do próprio sujeito sobre si. Palavras-chave: Pesquisa (Auto)Biográfica. Narrativas. Formação de professores INTRODUÇÃO Este estudo é fruto de minhas pesquisas na busca por um método de pesquisa que viabilizasse conhecer a fundo os significados e a construção da identidade profissional dos sujeitos analisados estavam construindo durante suas trajetórias de vida e de formação profissional. Este artigo de caráter qualitativo, centra-se na abordagem bibliográfica, com o objetivo de descrever e refletir sobre a Pesquisa (Auto)Biográfica. A partir dos estudos sobre a formação docente e os conceitos da Pesquisa (Auto)biográfica este estudo apresenta como referencial teórico as contribuições de Josso (2007; 2010), Nòvoa (2010), Dominicé (Abrahão (2010), Souza (2010), considerando estes estudos um aprofundamento nos diversos conceitos epistemológicos e metodológicos sobre os estudos (auto)biográficos docente, histórias de vida (pessoal e profissional), narrativas de formação, narrativas educativas, memórias de escolarização e processos de formação profissional. Para Josso (2002) a abordagem biográfica é um caminhar para si, e que articula-se as diferentes significações que o sujeito constrói de si mesmo em suas narrativas, o que torna a

narrativa um meio de reflexão e autoavaliação sobre suas experiências e aprendizagens ao longo da vida. O estudo parte da necessidade de ampliar os estudos sobre as narrativas de formação e ao mesmo tempo de conhecer e dá voz ao futuro professor de música, conhecendo suas estratégias de formação e autoformação durante a formação inicial. Escrever sobre si torna-se um recurso de pesquisa e de formação sobre o cotidiano e a prática profissional docente, compondo-se como método de construção do conhecimento e de reflexão das significações do próprio fazer pedagógico. É por meio da pesquisa (auto)biográfica que pretendemos analisar as narrativas de licenciandos em música no processo de construção da identidade profissional. Os primeiros estudos que envolvem o método (auto)biográfico, como método de investigação sobre as relações sociais e culturais do indivíduo e seu(s) diferente(s) contextos(s) sociais aconteceram na área das Ciências Sociais. A Escola de Chicago foi uma das primeiras instituições a adotar esse tipo de abordagem nas pesquisas que envolviam comunidades imigrantes e vítimas de exclusão social, no início do século XX, tendo como incentivadores dessas investigações Robert Park e Willian Isaac Thomas, ambos mestres da Escola de Chicago. Clifford Shaw (1930) dedicou-se ao estudo de histórias de vida, realizando investigações em meios sociais delicados, principalmente envolvendo adolescentes menores, onde recolheu diversas autobiografias e histórias de vida dessas crianças/adolescentes. Publicou a obra The Jack Roller Delinquent boy s own story, a qual continha diversas (auto)biografias, mostrando as dificuldades familiares e o percurso de jovens nas instituições de atendimento. Em 1963, Oscar Lewis, publicou a obra The Children of Sanchez, trabalho que visava à investigação de uma família mexicana, buscando conhecer os diversos aspectos culturais da família. (ALVES, 2014). A pesquisa (auto)biográfica no Brasil, na área da Educação, surge por volta da década de 1990, adotando as histórias de vida, como método (auto)biográfico e as narrativas de formação como movimento de investigação-formação, tanto na formação inicial quanto na continuada centrando-se nas memórias e trajetórias de vida de professores, destacando-se os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos dobre Docência, Memória e Gênero coordenado por Catani, Souza, Bueno e Souza na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo USP. É a partir da década de 90 que observa-se um crescimento de pesquisas que seguem o Movimento Pesquisa-Formação nas investigações sobre a formação de professores no Brasil.

Esse movimento, apresenta estudos na Suíça e na França sobre formation des adultes (formação de adultos) e apresentam perspectivas que aproximam a pesquisa do processo de formação através das abordagens autobiográficas, acreditando que as vivências e histórias de vida narradas podem conduzir por processos reflexivos e formativos de sujeito-narrador. A partir do ano de 2000, observa-se um aumento dos estudos e pesquisas de abordagem autobiográfica no Brasil, o que favoreceu a criação de associações de pesquisadores conveniados com entidades internacionais, eventos sobre a temática, além de diversos grupos de pesquisas cadastrados no CNPq e publicação da coleção (auto)biográfica. Em 2004, foi realizado o I Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)biográfica I CIPA, promovida de Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS, e teve por objetivo aprofundar as discussões acerca da abordagem (auto)biográfica e seu veio teóricometodológico da investigação científica, propiciando uma maior visibilidade à diversidade de objetivos de pesquisa ancoradas no método (Auto)biográfico, o que reuniu pesquisadores de diversos países e do Brasil e que propiciou a publicação de um livro sobre a abordagem (Auto)biográfica, intitulado A Aventura (Auto)biográfica teoria e empiria. Participaram como convidados quatorze pesquisadores com reconhecida produção científica e diversos países: Israel, Estados Unidos da América do Norte, Itália, Portugal, Dinamarca, Inglaterra, Espanha, Canadá vinte pesquisadores brasileiros atuando em Programas de Pós Graduação das região Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. O II CIPA, foi promovido pela UNEB em 2006 na cidade de Salvador, e que teve por tema: Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Em 2008, o III CIPA, aconteceu na cidade de Natal e foi promovido pela UFRN, neste evento teve como tema (Auto)Biografia: formação, territórios e saberes, situando a noção de espaço com o propósito criar relações dialéticas entre memórias e lugares, espaços e aprendizagens, lugares e construção de saberes, e neste mesmo evento criasse a Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica BIOgraph. O IV CIPA foi promovido pela USP e pela BIOgraph na cidade de São Paulo em 2010, e tratou da temática Espaço (auto)biográfico: artes de viver, conhecer e formar e manteve a cooperação interuniversitária ao reunir dezessete Programas de Pós-Graduação em Educação do país além da cooperação internacional com os países França, Suíca, Dinamarca, Portugal, Espanha, México, Argentina, Estados Unidos da América do Norte, Canadá e Colômbia, o que proporcionou o intercâmbio de projetos e publicações de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Em 2012, aconteceu o V CIPA, na cidade de Porto Alegre com o tema central Pesquisa (auto)biográfica: lugares, trajetos e desafios e aconteceu na PUCRS. Em 2014, o VI

CIPA aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela UERJ em parceria com a BIOgraph e que teve como tema Entre o público e o privado: modos de viver, narrar e guardar, o que permitiu ampliar as discussões sobre a diversidade metodológica da pesquisa (auto)biográfica nos movimentos de investigação-formação. Pesquisa (Auto)Biográfica: abordagem de investigação e formação do sujeito O eu que importa é aquele que há sempre além daquele que se toma habitualmente por sujeito: não está por descobrir, mas por inventar; não por realizar, mas por conquistar; não por explorar, mas por criar da mesma maneira que um artista quando cria uma obra. Para chegar a ser o que se é, tem que ser artista de si mesmo. (LARROSA, 2002b, p. 76) A pesquisa (Auto)Biográfica consiste num estudo do sujeito, no qual visa conhecer a trajetória de vida pessoal e profissional do indivíduo e as significações que o próprio sujeito constrói sobre si, tratando de uma descrição de momentos significativos na vida do indivíduo, assim como suas relações pessoais, acadêmicas e profissionais. Os materiais de recolha de dados e informações nos estudos (Auto)Biográficos podem ser divididos em dois momentos: 1) Relação primária da pesquisa (Auto)Biográfica, momento em que acontece as primeiras relações de aproximação entre pesquisador e sujeito-objeto do estudo; 2) Recolha de materiais autobiográficos específicos, que acontecem através de entrevista estruturada, narrativas orais e escritas, memoriais, diários íntimos e temáticos, fotografias, documentários, relatórios entre outros materiais que permitam o pesquisador compreender e analisar o sujeito-objeto de pesquisa. Os estudos com as narrativas de vida permitem compreender as mudanças sociais e culturais nas vidas dos sujeitos e que se coloca as relações em diversos contextos, nos quais passam a significar suas ações e sua própria trajetória de vida pessoal e profissional. A Pesquisa (Auto)Biográfica na área da Educação, principalmente na formação docente, encontramos autores como Josso (2007), em cujos trabalhos a abordagem (auto)biográfica faz parte de projetos de formação 1, e que tem por objetivo buscar 1 Denominação adotada por Josso (2002) em seus estudos com jovens adultos em formação, no qual desenvolve a abordagem biográfica como pesquisa-formação dos sujeitos.

reflexões docentes sobre a formação e atuação de professores. Essa autora diz que a aprendizagem está ancorada na experiência, entre o conhecimento teórico e a prática (saber-fazer), funcionalidade e a significação, além de descobrir técnicas e valores do indivíduo, tornando-se uma ação reflexiva da formação e da prática docente. Josso (2007) denomina o trabalho com narrativas de histórias de vida como uma abordagem biográfica ou abordagem experiencial, pois traz à tona a totalidade da vida e das experiências pessoais e de formação do indivíduo em sua (re)significações de si mesmo. Para Josso (2008, p. 19), o estudo sobre histórias de vida é: [...] uma mediação do conhecimento de si na sua existencialidade que oferece, para a reflexão do seu autor, oportunidades de tomada de consciência dos vários registros de expressão e de representação de si, assim como sobre as dinâmicas que orientam a sua formação. As narrativas de si e das experiências vividas caracterizam-se como processo de formação e processo de conhecimento. A abordagem biográfica nos projetos de formação realizados pela autora desenvolve-se em situações educativas de jovens adultos e que tem por objetivo a construção da narrativa escrita, Co-análise e Cointerpretação em grupos, centrando-se na compreensão dos processos de formação, de conhecimento e de aprendizagem (JOSSO, 2008, p.18). Para Pierre Dominicé o estudo autobiográfico na Educação é denominado como biografia educativa, pois procura percorrer a trajetória educativa do indivíduo, para a partir dela compreender os elementos significativos para o sujeito, o autor relata o objetivo do estudo autobiográfico com adultos em formação. O relato autobiográfico é um instrumento cuja utilização depende sempre do objetivo visado pela pesquisa [...]Ao pedir aos adultos para percorrer sua trajetória educativa, para dela extrair os elementos formadores, eu solicito uma informação muito pessoal, que eles fornecerão de acordo com o modo que que lhes convier [...] a descoberta de que a dimensão formadora dos relatos constituir-se-ia numa das condições para a qualidade da pesquisa, convenceu-me definitivamente sobre a necessidade de dar liberdade aos autores na apresentação dos relatos. Em consonância com Josso (2008) e Dominicé (1991), o estudo das trajetórias de formação, é preciso reconhecer que o sujeito precisa compreender o sentindo da

autoformação e perceber as próprias significações de sua formação educativa e formativa através de suas aprendizagens ao longo da vida. Para Nóvoa (2010) o estudo das histórias de vida e o método (auto)biográfico permite repensar as questões que circundam a formação do indivíduo, e acentua a ideia de que ninguém forma ninguém, o que nos leva a compreender que o próprio indivíduo significa e escolhe a trajetória de sua própria formação, levando a um trabalho de reflexão sobre o próprio percurso de vida. Na pesquisa (auto)biográfica de Marie-Christine Josso (2010a) 2 inicia por três perguntas essenciais, e que deve nortear a abordagem em Educação: 1) Que é a formação do ponto de vista do sujeito? 2) Como se forma o sujeito? 3) Como aprende o sujeito? A autora, tece reflexões metodológicas sobre o método (auto)biográfico e a compreensão dos processos de formação (autoformação) dos sujeitos, o que torna o método uma abordagem de pesquisa-formação do sujeito. Josso (2010b) em seu livro Experiências de vida e formação 3, no qual traçar reflexões sobre o estudo das narrativas como um fenômeno de pesquisa, prática social de formação e de intervenção educativa. Tratando a abordagem biográfica como um processo de investigação e formação que nasceu de suas experiências de vida reelaboradas nos diversos espaços de formação e em diferentes contextos, configurando-se um trabalho em busca do conhecimento das relações de formação dos sujeitos e suas experiências: ter experiência, fazer experiência e pensar a experiência. A dupla função, entre investigação e formação, da abordagem (auto)biográfica está vinculada aos sentidos construídos pelos narradores-autores sobre a própria formação/autoformação, no qual o próprio narrador-ator revela suas significações na construção de sua identidade pessoal e profissional, em que aprendizagem experiencial e a formação se integram no saber-fazer, e na reflexão desse saber-fazer. As experiências ao longo da vida formam nossa identidade e subjetividade sobre o que somos e nos tornamos. Ao longo da formação docente, o licenciando passa 2 Ver JOSSO, Marie-Christine. Da formação do sujeito... Ao sujeito da formação. In. NÒVOA, Antonio; FINGER, Matthias. O método (auto)biográfico e a Formação. Natal, EDUFRN; São Paulo:Paulus, 2010. (Coleção Pesquisa (auto)biográfica Educação. Clássicos das Histórias de Vida). 3 Ver JOSSO, Marie-Christine. Experiência e vida e formação. 2º Ed. revista e ampl. Natal, EDUFRN; São Paulo, Paulus, 2010. (Coleção Pesquisa (auto)biográfica Educação. Clássicos das Histórias de Vida).

por diversos processos de socialização os quais refletem suas capacidades de interagir com os outros em diversos contextos. A construção da identidade profissional é um processo que se constitui nas relações e nas experiências pessoais e sociais do indivíduo, configurando se como ator e autor de sua trajetória ade vida pessoal e profissional. Neste estudo, pretende-se refletir sobre a construção da identidade docente no processo da formação inicial do licenciando em música, tecendo contribuições de autores como Pimenta (1996) e Dubar (2005), com o objetivo de compreender as significações dos licenciandos nesse processo da formação e identificação com a profissão. A identidade é uma construção singular e coletiva ao mesmo tempo, e é construída dentro das relações sociais, dentro do coletivo/grupo. Para Dubar (1997), o indivíduo nunca a constrói sozinho: ela depende tanto dos julgamentos dos outros como das suas próprias orientações e autodefinições. Para Dubar (2005) a construção da identidade profissional apresenta-se como um resultado que acontece em extremos entre o estável e o provisório, o individual e o coletivo, o subjetivo e o objetivo, constituindo-se um processo de socialização que acontece em diversos contextos. É importante salientar que a significação construída durante o processo de formação profissional incide diretamente na maneira como o sujeito se identifica com a futura profissão, mesmo apresentando a mesma formação acadêmica, cada indivíduo constrói relações pessoais e profissionais diferentes, pois atua e convive com diversos grupos sociais no seu percurso de formação. A identidade pessoal é uma manifestação do que os sujeitos dizem que são e que desejam vir a ser, por meio das histórias de suas vidas e das memórias de formação pessoal e profissional. O desenvolvimento da identidade caracteriza-se como um processo evolutivo do sujeito, é um processo de interpretação de si mesmo como pessoa nos diversos contexos em que está inserido. A identidade pode ser compreendida quando procuramos responder a pergunta: Quem sou eu nesse contexto? A consciência de reconhecer a identidade de si é através da imagem que o próprio indivíduo vê de si. O processo de construção da identidade profissional durante a formação profissional é um momento complexo e dinâmico no

qual o licenciando começa a harmonizar sua própria imagem com a futura carreira docente. A identidade profissional é um proceso evolutivo, no qual o indivíduo está permanentemente em processo de interpretação e reinterpretação de suas experiências durante todo o processo de formação e atuação profissional, sendo um longo processo para toda a vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo pudemos traçar os caminhos históricos e metodológicos da Pesquisa (Auto)Biográfica e colaborar para novas discussões sobre este método e trazer contribuições para novas abordagens de pesquisa na área da Educação. Obseva-se que a construção da identidade profissional depende de diversos fatores (individual e coletivo) que proporcionarão a construção do perfil profissional docente, principalmente durante a formação inicial, momento em que o licenciando começa a tormar conciência e a direcionar o(s) rumo(s) da profissão e a visão do próprio licenciando em construir sua identidade profissional. A abordagem (Auto)Biográfica torna-se um recurso importante quando envolve a formação do sujeito, pois este a partir de suas reflexões sobre a própria trajetória de vida traz significados que o próprio sujeito não tinha consciência. A partir das narrativas de si para outro o sujeito/narrador passa a compreender sua trajetória e suas escolhas de vida pessoa e profissional. Muitos são os saberes que os professores constroem durante a formação e atuação docente, pois isso à necessidade de ouvir a voz do professor, suas experiências, suas histórias de vida e de formação profissional são reveladoras, pois tratam de reflexões do próprio narrador/professor. A pesquisa (Auto)Biográfica permite que possamos estudar, escrever, recompor e compreender as narrativas e trajetórias de vida como processos de investigação e formação que nos permitem (re)pensar quem somos, pensamos, agimos como professores educadores em constante (trans)formação de si. O estudo (auto)biográfico mostra ser um método que permite revelar e compreender o sujeito e suas significações com relação as próprias construções e trajetórias de formação pessoal

e profissional, através das narrativas orais ou escritas, documentos pessoais, diários íntimos ou diários de formação REFERÊNCIAS DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Tradução de Andrea Stahel M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DOMINICÉ, Pierre. A biografia educativa: instrumento de investigação para a educação de adultos. In: NÒVOA, Antonio; FINGER, Matthias. O método (auto)biográfico e a Formação. Natal, EDUFRN; São Paulo:Paulus, 2010. (Coleção Pesquisa (auto)biográfica Educação. Clássicos das Histórias de Vida). JOSSO, Marie-Christine. A transformação de si a partir da narração de histórias de vida. Revista Educação, ano XXX, p. 413-438, 2007. JOSSO, Marie-Christine. Experiência e vida e formação. 2º Ed. revista e ampl. Natal, EDUFRN; São Paulo, Paulus, 2010. (Coleção Pesquisa (auto)biográfica Educação. Clássicos das Histórias de Vida). LARROSA, Jorge. Nietzsche e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002b. NÒVOA, Antonio; FINGER, Matthias. O método (auto)biográfico e a Formação. Natal, EDUFRN; São Paulo:Paulus, 2010. (Coleção Pesquisa (auto)biográfica Educação. Clássicos das Histórias de Vida). NÒVOA, A. (Org.). Profissão professor. 2. ed. Porto: Editora Porto, 1995. PIMENTA, Selma. Formação de Professores Saberes da docência e identidade do professor. Ver. Fac. Educ. São Paulo, v. 22, n. 2, p. 72 89, jul./dez., 1992. SOUZA, Elizeu Clementino. Abordagem experiencial: pesquisa educacional, formação e histórias de vida. In: Salto para o futuro: histórias de vida e formação de professores. TV Escola. Boletim 01, mar. 2007.