Uma visão para WASH pós-2015

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Transcrição:

Uma visão para WASH pós-2015 A visão da WaterAid para pós-2015 é uma estrutura de desenvolvimento nova e ambiciosa que unifica a erradicação da pobreza e os objectivos sustentáveis de desenvolvimento, apoiada por uma parceria global renovada assegurando uma mobilização de recursos eficaz e responsabilidade mútua pelos progressos realizados. Para garantir que toda a gente, em todo o lado tem acesso à água segura, ao saneamento e à higiene (WASH), a estrutura deveria: 1 Incluir uma meta específica para a água e o saneamento e definir objectivos ambiciosos para se conseguir acesso universal a WASH até 2030 que dêem prioridade ao que se segue 1 : Ninguém pratica defecação ao ar livre. Toda a gente tem água segura, saneamento e higiene em casa. Todas as escolas e instalações de saúde têm água segura, saneamento e higiene. A água, o saneamento e a higiene são sustentáveis e as desigualdades de acesso têm sido eliminadas progressivamente. 2 Reconhecer que o acesso universal a WASH é um componente essencial de uma abordagem integrada para lidar com a pobreza, a fome, a falta de saúde e a desigualdade. 3 Reconhecer que conseguir e manter o acesso universal a WASH depende do estabelecimento de sistemas responsáveis por uma gestão equitativa e sustentável dos recursos hídricos. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) tinham como meta diminuir para metade a proporção de pessoas sem acesso à água e ao saneamento entre 1990 e 2015. Apesar do objectivo da água já ter sido cumprido 2, uma em cada dez das pessoas do planeta ainda não tem acesso a fontes melhoradas de água potável 3, e os indicadores existentes não se dirigem à segurança ou à fiabilidade das provisões. Em especial, nem a gestão de desperdícios, nem a provisão da higiene foram tomadas em consideração nas metas. O saneamento é, de todos os objectivos, o que está mais longe do alvo, com mais de 2,5 mil milhões de pessoas, quase 40% da população mundial, actualmente sem acesso a saneamento melhorado 4. Se as tendências actuais continuarem, o alvo do ODM para o saneamento não será cumprido até 2025 5. Portanto, a primeira prioridade é solucionar a questão por concluir dos ODMs existentes. 1

Um dos principais pontos fortes da estrutura dos ODMs é que proporciona uma ordem do dia clara e abrangente que estabeleceu práticas e normas consistentes para a cooperação internacional para o desenvolvimento. No entanto, tem sido criticada por se concentrar demasiado na pobreza (e no desenvolvimento social) à custa de questões económicas, ambientais e de governação dentro de uma estrutura mais geral de sustentabilidade. Para além do mais, a falta de integração entre as metas e os indicadores do progresso tem desencorajado a colaboração entre sectores, que é necessária para lidar com as dificuldades de desenvolvimento interrelacionadas da pobreza, da fome, da falta de saúde e da desigualdade, particularmente as que têm impacto sobre as raparigas e as mulheres. A evidência mostra agora que o progresso para se conseguirem as metas globais agregadas esconde enormes desigualdades, cada vez maiores, entre países, comunidades e secções da sociedade 6. O modo como os ODMs negligenciaram o saneamento demonstra que a arquitectura internacional existente para monitorizar o progresso, identificando as áreas em atraso e mobilizando os recursos domésticos e externos para as solucionar, continua a ser fraca nesta área. A estrutura pós-2015 tem portanto que se basear nos pontos fortes dos ODMs ao mesmo tempo que aplica as lições aprendidas das limitações dos mesmos. Como os ODMs, as metas pós-2015 têm que ter um número limitado, e ser claras, específicas, fáceis de comunicar, mensuráveis, com limite de tempo e concretizáveis. A WaterAid pede uma estrutura nova e ambiciosa que se concentre claramente em erradicar a pobreza e em apoiar metas para promover o desenvolvimento sustentável. A estrutura tem que ser apoiada por uma parceria global renovada que garanta a mobilização eficaz dos recursos e a responsabilidade mútua pelo progresso conseguido. Especificamente, a estrutura deveria: 1 Incluir uma meta dedicada para a água e o saneamento e definir objectivos ambiciosos para se conseguir acesso universal a WASH até 2030 A estrutura pós-2015 deveria ser centrada nas pessoas, concentrar-se nos resultados e ser guiada por princípios estabelecidos dos direitos humanos, equidade, igualdade entre os géneros, sustentabilidade e prestação de contas. A estrutura deveria concentrar-se num pequeno número de questões que são universalmente importantes para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Deveria reconhecer que o acesso universal à água e ao saneamento é um direito humano que apoia todos os outros aspectos do desenvolvimento. As metas do ODM para a água e o saneamento tiveram uma prioridade baixa no âmbito de uma meta ambiental geral e foram isoladas dos esforços para se concretizarem as metas da pobreza, saúde, nutrição, educação e igualdade dos géneros. A nova estrutura deve reflectir muito melhor a importância central da água, do saneamento e da higiene para o desenvolvimento social e económico. 2

O Direito Humano à Água e ao Saneamento, reafirmado por resoluções da Assembleia Geral da ONU 7 e pelo Conselho dos Direitos Humanos em 2010 8 e no documento dos resultados do Rio+20 9, apresenta obrigações legalmente vinculativas para todos os estados proverem à concretização progressiva do acesso universal. Em consultas recentes a nível global e nacional, os cidadãos classificaram rotineiramente a água e o saneamento entre as principais dez prioridades para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável 10. A WaterAid pede que os líderes internacionais respondam estabelecendo uma meta dedicada com objectivos de apoio que se concentrem em ampliar o acesso à água, ao saneamento e à higiene para toda a gente, em todo o lado, melhorando progressivamente os níveis existentes dos serviços e assegurando uma gestão equitativa e sustentável dos recursos hídricos para a sobrevivência, o crescimento económico e a manutenção dos ecossistemas. Aceitamos calorosamente a ambição de "acabar com a pobreza extrema sob todas as formas" até 2030 11 e acreditamos que a estrutura pós-2015 deva assegurar coerência através das metas e objectivos universais ou zero que contribuem para o objectivo. Especificamente, deve reconhecer que o acesso universal à água, ao saneamento e à higiene é um pré-requisito essencial para lidar com a pobreza, a fome, a falta de saúde, a desigualdade e melhorar as vidas das mulheres e das crianças. A estrutura deve definir a data a visar, igualmente ambiciosa, de 2030 para se conseguir o acesso universal a WASH. A WaterAid apoiou activamente as consultas técnicas do Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF para elaborar propostas para uma melhor monitorização da água potável, do saneamento e da higiene pós-2015. As propostas técnicas consolidadas sancionadas durante a 2ª Consulta Internacional sobre a Monitorização Global da Provisão de Água e de Saneamento 12 delineiam metas e indicadores para monitorizar a concretização progressiva do Direito Humano à Água e ao Saneamento em todos os países, ampliando o acesso às pessoas actualmente sem serviços e progressivamente melhorando os níveis dos serviços. Também incluem recomendações explícitas para monitorizar a eliminação progressiva das desigualdades entre as pessoas ricas e as pobres, urbano e rural, povoações urbanas formais e informais, e os grupos desfavorecidos e a população em geral. Apoiamos o consenso emergente entre os profissionais do sector de que os objectivos do acesso universal a WASH na estrutura pós-2015 se devem aplicar a todos os países e reflectir princípios e obrigações essenciais derivados dos tratados existentes relacionados com os direitos humanos. A WaterAid recomenda o que se segue: Meta e objectivos para WASH pós-2015 Meta: Acesso universal à água e ao saneamento Objectivo: Acesso universal à água, ao saneamento e à higiene até 2030 3

A WaterAid exige um objectivo ambicioso de modo a conseguir acesso universal a WASH até 2030 e apoia as prioridades que se seguem, recomendadas pelo JMP da OMS/UNICEF 13 : 1 Ninguém pratica defecação ao ar livre. 2 Toda a gente tem água, saneamento e higiene em casa. 3 Todas as escolas e centros de saúde têm água, saneamento e higiene. 4 A água, o saneamento e a higiene são sustentáveis e as desigualdades de acesso têm sido eliminadas progressivamente. 2 Reconhecer que a água, o saneamento e a higiene são um componente essencial de uma abordagem integrada para lidar com a pobreza, a fome, a saúde e a desigualdade "Acabar com a pobreza extrema sob todas as formas deveria ser o principal foco de atenção da estrutura pós-2015 que deve encorajar uma abordagem integrada para lidar com a pobreza, a fome, a falta de saúde e a desigualdade, que reconheça a natureza interdependente dos resultados em cada uma dessas áreas. 32 anos de experiência a trabalhar em WASH demonstrou-nos que os problemas associados ao acesso inadequado a estes serviços vitais têm impacto sobre todos os outros aspectos do desenvolvimento humano. Melhorar o acesso a WASH é essencial para aumentar as receitas dos indivíduos e dos agregados familiares que vivem na pobreza. A diarreia associada a WASH inadequado é uma das principais causas de mortes evitáveis nas crianças com menos de cinco anos a nível global, e, juntamente com outras infecções relacionadas com WASH, contribui significativamente para a desnutrição e atrasos no crescimento. Melhor WASH reduz significativamente a carga das doenças, desse modo melhorando a saúde em todas as fases da vida e permitindo que as pessoas sejam mais produtivas. A água potável segura, o saneamento e a higiene também têm um papel crucial para permitir uma boa nutrição. Melhorar WASH nas escolas é vital para melhorar a frequência e para os resultados da educação, particularmente entre as raparigas adolescentes. Reduzir o tempo gasto a recolher água melhora a saúde, o bem-estar e o estatuto económico das mulheres e das raparigas pobres e é um primeiro passo essencial para a igualdade dos géneros. A natureza multidimensional da pobreza significa que as desigualdades no acesso a WASH e outras formas de desigualdade e discriminação contra os grupos pobres e marginalizados têm que ser solucionadas em conjunto. 4

Se desejar informação adicional sobre estas áreas, veja os comunicados informativos relevantes neste kit de ferramentas. A estrutura pós-2015 deve procurar promover uma colaboração melhor entre os sectores reforçando as ligações entre as submetas e os objectivos que contribuem para acabar com a pobreza. Em particular, deveria reconhecer que o acesso à água, ao saneamento e à higiene é um elemento determinante essencial para a saúde e a nutrição. Deveria assegurar que os objectivos que visam melhorar a saúde, eliminar as mortes infantis e maternas evitáveis, e reduzir a carga dos atrasos no crescimento e das principais doenças, são apoiados por objectivos de acesso universal a WASH em casa, nas escolas e nas instalações de saúde. Uma abordagem realmente eficaz e integrada vai exigir que se adoptem indicadores do progresso apropriados sobre acesso a WASH no âmbito de outros objectivos e programas de desenvolvimento, assim como incentivos financeiros para os ministérios e agências do sector trabalharem juntos. Também se deve concentrar explicitamente em reduzir progressivamente as desigualdades entre os indivíduos e os grupos ao mesmo tempo que avança na direcção de metas e objectivos universais ou zero. Tudo isso vai necessitar de melhorias significativas nos sistemas existentes de monitorização e de participação do progresso a nível global. Para assegurar ligações eficazes, os objectivos de WASH devem ser integrados no âmbito de outras metas relevantes. Exemplos de objectivos que apoiam uma abordagem integrada para lidar com a pobreza, a nutrição, a saúde e a desigualdade Objectivos de saúde centrados na cobertura universal de saúde devem ir para além dos serviços de assistência médica e devem incluir indicadores dirigidos à promoção, prevenção, tratamentos e reabilitação. Devem fazer-se ligações explícitas entre as metas sobre a aceleração do progresso em prevenção da doença e a redução da mortalidade e os objectivos de acesso a WASH. Objectivos de nutrição centrados em lidar com a desnutrição e o atraso no crescimento devem combinar medidas com base na alimentação com indicadores do acesso à água potável segura e ao saneamento e comportamentos de higiene. Objectivos da educação centrados em melhorar os resultados educacionais devem ser apoiados por indicadores relacionados com a qualidade dos contextos de ensino, incluindo a provisão de instalações para a gestão da higiene menstrual para as raparigas adolescentes. Objectivos da igualdade dos géneros centrados em reduzir a violência contra as raparigas e as mulheres e dando-lhes poder político e económico devem ser apoiados por metas de acesso universal a WASH. Por exemplo, a gestão da higiene menstrual nas escolas seria um indicador substituto poderoso da capacitação das raparigas. 5

3 Reconhecer que o acesso universal a WASH depende de sistemas responsáveis por uma gestão equitativa e sustentável dos recursos hídricos. O acesso à água segura e ao saneamento é reconhecido amplamente como um direito humano básico, e as melhorias em WASH trazem diversos benefícios sociais e económicos. A água também é essencial para os meios de subsistência - para a agricultura, para a criação de gado, produzir mercadorias e prover serviços - e para a indústria, para produzir alimentos e para a produção de energia. A água da chuva pode portanto ter um impacto directo sobre os meios de subsistência e o crescimento quando as economias dependem dos sectores expostos à variabilidade climática. A água tem um papel importante para manter os ecossistemas de água doce dos quais as sociedades humanas dependem e é também uma fonte principal de risco social e económico. Portanto, a estrutura pós-2015 tem que reconhecer que conseguir e manter o acesso universal a WASH depende por seu lado de estabelecer sistemas responsáveis por uma atribuição equitativa e de gerir os recursos hídricos de modo sustentável. A sustentabilidade das melhorias em WASH está estreitamente ligada à gestão eficaz das questões de recursos hídricos a montante e às questões de águas residuais e poluição a jusante. Os ODMs incluem um objectivo que se concentra no desenvolvimento de planos integrados de gestão dos recursos hídricos (JWRM). Apesar do conceito de JWRM se basear em princípios robustos, exige instituições que funcionem, com funções e responsabilidades claras, que não existem em muitos países de rendimentos baixos ou médios, especialmente a nível local. Consequentemente, os recursos hídricos continuam por gerir e os serviços ficam mais sujeitos ao falhanço. A gestão das águas residuais tem sido negligenciada no âmbito dos ODMs. A grande maioria das águas residuais (90%) nos países em desenvolvimento é eliminada sem ser tratada, levando à contaminação dos recursos hídricos, a uma maior prevalência de doenças e à destruição dos ecossistemas 14. A gestão inadequada das lamas residuais fecais nas instalações de saneamento no local está a transformar-se num problema crítico nas áreas urbanas com densidade populacional elevada, que estão a crescer em todo o mundo. A estrutura pós-2015 deveria encorajar uma abordagem integrada para a gestão das águas residuais e para manter a qualidade da água, e incluir objectivos e indicadores explícitos centrados em garantir uma gestão segura das lamas residuais fecais. Na experiência da WaterAid, as dificuldades da gestão dos recursos hídricos e das águas residuais são altamente específicos ao contexto. A estrutura pós-2015 deve portanto concentrar-se na razão pela qual a água importa (concentrando-se nos fins e não nos meios). Em particular, os objectivos e os indicadores para gerir os recursos hídricos devem concentrar-se em: 6

Incluir toda a gente (dando prioridade ao acesso universal à água, ao saneamento e à higiene como direito humano). Partilhar os benefícios imparcialmente (para a sociedade, para a economia e para o planeta). Viver dentro dos nossos meios (protegendo a sociedade e a economia dos riscos relacionados com a água, respeitando os limites planetários e gerindo melhor os riscos relacionados com a água). Recomendamos incluir os objectivos de apoio que se seguem no âmbito da meta da água, do saneamento e da higiene para assegurar uma gestão equitativa e sustentável dos recursos hídricos Tratar ou voltar a usar todos os desperdícios municipais e industriais antes de os eliminar. Uniformizar as extracções de água com a provisão renovável, e aumentar a eficiência em todos os sectores importantes em x% Aumentar a qualidade de todas as massas de água para satisfazer as necessidades dos seres humanos e dos ecossistemas. Reduzir o preço humano das perdas em desastres relacionados com a água e o saneamento em x% e o custo económico em y%. 7

Notas finais 1 O Programa Conjunto de Monitorização da OMS/UNICEF partilhou uma visão para a realização progressiva do direito humano à água e ao saneamento. Ver www.wssinfo.org/post-2015- monitoring/overview se desejar propostas técnicas completas para objectivos e indicadores de WASH pós-2015 2 Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2010) Progress on drinking water and sanitation, actualização de 2010. 3 768 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte melhorada de água potável. Esse número representa aproximadamente um décimo da população mundial. Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2013) Progress on drinking water and sanitation, actualização de 2013. 4 Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2013) Progress on drinking water and sanitation, actualização de 2013. 5 Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2013) Progress on drinking water and sanitation, actualização de 2013. 6 Por exemplo, no Sul da Ásia, os 20% mais pobres quase não viram melhorias no acesso ao saneamento entre 1995 e 2008. Ver Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2013) Progress on drinking water and sanitation, actualização de 2012.p.30 7 Resolução 64/292, adoptada pela Assembleia Geral da ONU, 28 de Julho de 2010 8 Resolução 15/9 Human rights and access to safe drinking water and sanitation, adoptada pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU, 30 de Setembro de 2010 9 Resolução 66/288 The future we want, adoptada pela Assembleia Geral da ONU, 27 de Julho de 2012 10 Tirado dos resultados do inquérito My world. Disponível em: www.myworld2015.org/?page=results [último acesso: 8 de Julho de 2013] 11 O Painel de Alto Nível de Pessoas Eminentes (2013) A new global partnership: Eradicate poverty and transform economies through sustainable development. The report of the High Level Panel of Eminent Persons on the post-2015 development agenda. Disponível em: www.un.org/sg/management/pdf/hlp_p2015_report.pdf 12 Programa Conjunto de Monitorização (JMP) da OMS/UNICEF (2012) Report of the second consultation on post-2015 monitoring of drinking-water, sanitation and hygiene. Disponível em: www.wssinfo.org/fileadmin/user_upload/resources/who_unicef_jmp_hague_consultation_dec2013. pdf 13 Para obter os detalhes completos das propostas técnicas do Programa Conjunto de Monitorização da OMS/UNICEF para os objectivos, definições e indicadores de WASH pós-2015 veja: www.wssinfo.org/post-2015-monitoring/overview 14 UN HABITAT (2012) Sick water: The central role of wastewater management in sustainable development 8