Bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ) mantém a firmeza de frutos de bergamota Clementina inoculados com Penicillium digitatum

Documentos relacionados
Revista Iberoamericana de Tecnología Postcosecha ISSN: Asociación Iberoamericana de Tecnología Postcosecha, S.C.

ABSTRACT. Anais 1 o Congresso Brasileiro de Processamento mínimo e Pós-colheita de frutas, flores e hortaliças (CD ROM), Maio de 2015.

TRATAMENTO HIDROTÉRMICO POR ASPERSÃO COM ESCOVAÇÃO NO CONTROLE DE DOENÇAS PÓS-COLHEITA DE MANGA.

TÍTULO: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS EM MONTES CLAROS-MG

QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE Citrus deliciosa Tenore SUBMETIDA A ARMAZENAMENTO REFRIGERADO.

EFEITO DE DANOS MECÂNICOS POR QUEDA, CORTE, COMPRESSÃO E ABRASÃO SOBRE A QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE BERGAMOTAS PONKAN NAS SAFRAS 2014 E 2015

CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE MELÕES AF 646 E ROCHEDO EM DIFERENTES TEMPERATURAS

CARACTERÍSTICAS FÍSICO QUÍMICAS E VIDA ÚTIL DE BANANAS ARMAZENAEDAS SOB REFRIGERAÇÃO E SOB CONDIÇÃO AMBIENTE

APLICAÇÃO DE RECOBRIMENTOS À BASE DE CARBOIDRATOS CONTENDO DIFERENTES FONTES LIPÍDICAS EM MANGA TOMMY ATKINS

Área de Publicação: Controle de Qualidade na Indústria de Alimentos / Físico-química de Alimentos

QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE BERGAMOTAS PONKAN SUBMETIDAS AO EFEITO DE DANOS MECÂNICOS NA SAFRA 2016

Estádio de Maturação para a Colheita de Caquis Costata em Sistema Produtivo no Vale do São Francisco

Almas-BA.

EFEITO DA TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO SOBRE A QUALIDADE DO MAROLO IN NATURA

Caracterização físico-química de lima àcida Tahiti cultivada no Norte de Minas Gerais

Utilização de revestimentos à base de alginato na conservação pós-colheita de manga

Caracterização física e química da lima ácida Tahiti 2000 sobre o porta-enxerto Índio em Petrolina, PE

Revista Iberoamericana de Tecnología Postcosecha ISSN: Asociación Iberoamericana de Tecnología Postcosecha, S.C.

Avaliação Produtiva e Qualitativa de Diferentes Cultivares de Citros em Combinação Com Limoeiro Cravo em Sistema de Cultivo Solteiro

MUDANÇAS NOS ATRIBUTOS FÍSICOS E FÍSICO-QUÍMICOS DE LARANJA BAÍA DURANTE A MATURAÇÃO

Postharvest 'pêra' orange fruit quality, treated with pyraclostrobin (f500) during the marketing period, after cooling

TEMPERATURA E ATMOSFERA MODIFICADA NA CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE FIGO ROXO DE VALINHOS

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE CINCO CULTIVARES DE MARACUJÁ AMARELO NA REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS

Acid lime postharvest conservation 'Tahiti' with cassava starch use and cloves and cinnamon extract.

QUALIDADE DE FRUTOS DE LIMEIRA ÁCIDA TAHITI EM COMBINAÇÃO COM DIFERENTES PORTA-ENXERTOS

DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA DE COLHEITA DA LARANJA VARIEDADE PIRALIMA (Citrus sinensis L. Osbeck) NA REGIÃO DE PELOTAS - RS RESUMO

Conservação Pós-Colheita de Umbu sob Diferentes Temperaturas de Armazenamento

Incidência de distúrbios fisiológicos e qualidade pós-colheita de maçãs produzidas no Vale do São Francisco

ATRIBUTOS FÍSICOS DE VARIEDADES DE LARANJA DA MICRORREGIÃO DA BORBOREMA

Características Químicas de Frutos de Pimentão de Três Cultivares Pulverizadas com Biofertilizante AGROBIO e Oxicloreto de Cobre.

EFEITOS DE ARMAZENAMENTO EM EMBALAGENS PLÁSTICAS LOCAL REFRIGERADO E TEMPERATURA AMBIENTE NA QUALIDADE DE TOMATE

AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MANGA VISANDO O MERCADO DE CONSUMO IN NATURA LAERTE SCANAVACA JUNIOR 1 ; NELSON FONSECA 2

Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 7254

TRATAMIENTOS TÉRMICOS COMO FORMA DE AUMENTAR LA RESISTENCIA DE LAS FRUTAS CÍTRICAS A LA BAJA TEMPERATURA

TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS E QUÍMICAS DE DIFERENTES VARIEDADES DE BANANA EM TRÊS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO

Armazenamento de Quiabos em Diferentes Temperaturas.

CARACTERIZAÇÃO DE ACESSOS DE ACEROLEIRA COM BASE EM DESCRITORES DO FRUTO MATERIAL E MÉTODOS

A aplicação de 1-metilciclopropeno (1-MCP) aumenta a conservação pós-colheita de peras

CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DO ABACAXI (CULTIVAR PÉROLA) EM DIFERENTES EMBALAGENS SOB ARMAZENAMENTO REFRIGERADO

TAKATA, WHS; SILVA, EG; ALMEIDA, GVB; EVANGELISTA RM; ONO EO; RODRIGUES, JD Uso de ethephon sobre a qualidade de frutos de pimentão.

CARACTERIZAÇÃO DE FRUTOS DE LARANJEIRAS, CULTIVADOS NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO. Apresentação: Pôster

PONTOS DE MATURAÇÃO E FILMES PLÁSTICOS NA CONSERVAÇÃO PÓS- COLHEITA DE CAQUI FUYU

Physical and physical-chemical characterization of the "Tahiti" fruits (Citrus latifolia T.) cultivated in Guaraciaba do Norte-CE

CARACTERÍSTICAS FÍSICO QUÍMICAS, NUTRICIONAIS E VIDA ÚTIL DE JILÓ (Solanum gilo Raddi) RESUMO

VIDA ÚTIL E EMBALAGEM PARA MELANCIA MINIMAMENTE PROCESSADA. Graduanda do Curso de Engenharia Agrícola, UnUCET Anápolis - UEG.

IELER, Jeferson 1 ; GUTZ, Tainá 2 ; BARA, Orlando 3 ; SOUZA, Alexandra Goede de 4 ; NEVES, Leonardo de Oliveira 5

USO DE BIOFILMES NA CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE LIMA-DA-PÉRSIA (CITRUS LIMETTIOIDES TANAKA)

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABACAXI PÉROLA CULTIVADO NO SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA DE CAMU-CAMU (Myrciaria dúbia (H.B.K.) McVaugh)

DANOS DE FRIO E QUALIDADE DE FRUTAS CÍTRICAS TRATADAS TERMICAMENTE E ARMAZENADAS SOB REFRIGERAÇÃO 1

EMBALAGEM NA CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE AMORAS-PRETAS cv. XAVANTE

Resumos do IV Seminário de Agroecologia do Distrito Federal e Entorno Brasília/DF 07 a 09/10/2014

Conservação pós-colheita de pimentas da espécie Capsicum chinense

Efeito da Embalagem e Corte na Manutenção da Qualidade Química de Mamão Formosa Minimamente Processado e Armazenado à 8 C

Utilização da atmosfera modificada na conservação pós-colheita de cebola (Allium cepa, L.).

MELO, Christiane de Oliveira 1 ; NAVES, Ronaldo Veloso 2. Palavras-chave: maracujá amarelo, irrigação.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais Câmpus Muzambinho.Muzambinho/MG,

Resumo: O objetivo do trabalho foi avaliar as características físico-químicas dos

Congresso Brasileiro de Processamento mínimo e Pós-colheita de frutas, flores e hortaliças

DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA DE TAPEREBÁ (Spondias mombin L.)

Introdução. Universidade Federal da Paraíba, Departamento Química e Física, Areia-PB. Brasil,

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E SENSORIAL DE RAÍZES DE RABANETE MINIMAMENTE PROCESSADAS TRATADAS TERMICAMENTE

Conservação pós-colheita de melão amarelo AF 682 produzido sob cultivo orgânico.

Qualidade pós-colheita e potencial de armazenamento de peras produzidas com diferentes doses de nitrogênio no Vale do São Francisco

XXX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO Eficiência nas cadeias produtivas e o abastecimento global

CONDICIONAMENTO TÉRMICO DE PÊSSEGOS Prunus persica (L.) Batsch CV. CHIMARRITA SOB ARMAZENAMENTO REFRIGERADO

RADIAÇÃO UV-C NA QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE PINHA

ABACAXI MINIMAMENTE PROCESSADO EM DIFERENTES CORTES

Conservação pós-colheita de lima ácida tahiti com uso de ácido giberélico, cera de carnaúba e filme plástico em condição refrigerada

Conservação pós-colheita da uva Crimson Seedless sob influência da aplicação de reguladores de crescimento e restrição hídrica

Análises físico-químicas da lima ácida Tahiti 2001 sobre o porta-enxerto Índio no Semiárido nordestino

CONSERVAÇÃO DE PIMENTA BIQUINHO EM ATMOSFERA NORMAL E MODIFICADA

Conseqüências fisiológicas do manejo inadequado da irrigação em citros: fotossíntese, crescimento e florescimento

Armazenamento refrigerado de melão Cantaloupe Torreon, sob atmosfera modificada. Fábio V. de S. Mendonça; Josivan B. Menezes;

Bolsista, Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, 2

CONSERVAÇÃO E QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE LARANJAS FOLHA MURCHA ARMAZENADAS EM DUAS TEMPERATURAS

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO DE BANANA RESISTENTE À SIGATOKA NEGRA VARIEDADE THAP MAEO

Qualidade e conservação de tangerina minimamente processada

Estudos Preliminares para Uso da Técnica de Choque de CO 2 em Manga Tommy Atkins Armazenada Sob Refrigeração

AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO DE SUCO E DA QUANTIFICAÇÃO DE SEMENTES DE 19 CLONES DE TANGERINA FREEMONT

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE MAÇÃS (Malus domestica Borkh.) CV. GALA MINIMAMENTE PROCESSADAS, TRATADAS COM DIFERENTES COBERTURAS COMESTÍVEIS

QUALIDADE DOS FRUTOS DA LIMA ÁCIDA TAHITÍ QUANDO CONDUZIDA SOBRE A DIFERENTES SISTEMAS DE MICROASPERSÃO

6º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC a 15 de agosto de 2012 Jaguariúna, SP

INIBIÇÃO DO ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO DE GUARIROBA MINIMAMENTE PROCESSADA

CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE ALGODÃO COLORIDO. RESUMO

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MELÃO

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

ÁCIDO SALICÍLICO NA CONSERVAÇÃO DE PÊSSEGOS MACIEL SOB REFRIGERAÇÃO

ATMOSFERA MODIFICADA NA CONSERVAÇÃO DA QUALIDADE DE PINHA

PRESERVAÇÃO DA QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE PÊSSEGOS CV. RUBIMEL MINIMAMAMENTE PROCESSADOS

QUALIDADE DE MAMÃO TAINUNG 01 PRODUZIDO POR SECAMENTO PARCIAL DO SISTEMA RADICULAR

Filmes comestíveis na conservação de laranjas Salustiana. Edible films in the preservation of oranges 'Salustiana'

INCIDÊNCIA DE DANOS POR FRIO NO ARMAZENAMENTO REFRIGERADO DE PÊSSEGOS MARLI SUBMETIDOS A TRATAMENTOS TÉRMICOS

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE MAMONA (Ricinus communis L.) CULTIVAR NORDESTINA, SOB DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO.

QUALIDADE DE SEMENTES DE ALGODOEIRO, CULTIVARES BRS VERDE E CNPA 7H, ARMAZENADAS EM CÂMARA SECA

APLICAÇÃO PÓS-COLHEITA DE 1- METILCICLOPROPENO EM AMEIXA REUBENNEL

Tipos de TesTes 1. Cor da epiderme 2. Consistência da polpa 3. Concentração de açúcares 4. Acidez total 5. Teor de amido

Efeito de Moringa oleifera na qualidade de frutos de manga CV Tommy Atkins

Qualidade Físico-química de Peras Produzidas no Semiárido Brasileiro e Armazenadas em Ambiente Refrigerado

Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 7192

Transcrição:

14731 - Bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ) mantém a firmeza de frutos de bergamota Clementina inoculados com Penicillium digitatum Sodium bicarbonate (NaHCO 3 ) maintains the firmness of tangerine Clementina fruit inoculated with Penicillium digitatum TOMAZETTI, Tiago Camponogara 1 ; ROSSAROLLA, Márcia Denise 1 ; HEIFFIG-DEL AGUILA, Lília Sichmann 2 ; SAAVEDRA DEL AGUILA, Juan 3 ; RADMANN, Elizete Beatriz 1 1 Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA, Campus Itaqui/RS, tctomazetti@gmail.com, mdrossarolla@gmail.com, elizeteradmann@unipampa.edu.br; 2 EMBRAPA Clima Temperado, lilia.sichmann@embrapa.br; 3 UNIPAMPA, Campus Dom Pedrito/RS, juanaguila@unipampa.edu.br Resumo: Objetivou-se avaliar o NaHCO 3 (bicarbonato de sódio) no controle do Penicillium digitatum na pós-colheita de bergamota Clementina. Os frutos foram oriundos de pomar comercial, aplicaram-se os tratamentos: T1: água destilada; T2: água destilada + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum, com cinco repetições de 12 frutos, avaliou-se o índice de coloração do pericarpo (ICP), perda de massa fresca, rendimento de suco, sólidos solúveis, acidez titulável; ratio ; ácido ascórbico; firmeza e severidade do P. digitatum, na colheita, aos 7 e 14 dias de armazenamento refrigerado a 5 ºC e após três dias em temperatura ambiente a 22 ºC. O ICP foi maior no T1 quando mantido em temperatura ambiente por 3 dias, a firmeza foi menor nos tratamentos sem aplicação do NaHCO 3. O NaHCO 3 causa pouca variação na pós-colheita da bergamota Clementina, sendo responsável por manter a firmeza dos frutos mesmo quando inoculados com P. digitatum. Palavras-chave: Citrus sinensis (L.) Osbeck; metabolismo secundário; mofo verde. Abstract: The objective was to evaluate the NaHCO 3 (sodium bicarbonate) in the control of Penicillium digitatum on postharvest tangerine Clementina. The fruits were from a commercial orchard, was applied the treatments: T1: distilled water; T2: distilled water + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum, with five replicates of 12 fruits, evaluated the pericarp coloration index (PCI), fresh weight loss, juice yield, soluble solids, titratable acidity, ratio, ascorbic acid, firmness and severity of the P. digitatum, at harvest, at 7 and 14 days of cold storage at 5 ºC and after three days at environment temperature at 22 ºC. The PCI was higher in T1 when stored at environment temperature for 3 days, the firmness was lowest in the treatments without application of NaHCO 3. The NaHCO 3 causes little variation in the postharvest tangerine Clementina, being responsible for maintaining fruit firmness even when inoculated with P. digitatum. Keywords: Citrus sinensis (L.) Osbeck; secondary metabolism; green mold. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 1

Introdução A citricultura é o ramo que mais se destaca na fruticultura mundial, o que faz dos citros as frutas mais produzidas no mundo (COUTO; CANNIATTI-BRAZACCA, 2010). O Brasil toma lugar de destaque entre os produtores mundiais. Entretanto, a pós-colheita de frutos cítricos é limitada principalmente pelo aparecimento de alterações fisiológicas e pelo ataque de patógenos que depreciam o valor comercial dos produtos sendo a causa de importantes perdas econômicas (NASCIMENTO; AZEVEDO, 2006). As podridões constituem-se na principal causa de danos qualitativos e quantitativos em pós-colheita de citros e se expressam desde a colheita até o consumidor, tornando-se um gargalo para o cultivo de citros (FISCHER et al., 2007). O bolor verde ou mofo verde, causado pelo P. digitatum é a principal doença em pós-colheita de frutos cítricos em todo o mundo (FRANCO; BETTIOL, 2002). Sendo seu controle comumente efetuado utilizando fungicidas de síntese. Na ultima década, a busca por produtos seguros, sem microorganismos patogênicos ao homem e sem resíduos de defensivos, tem tornado a legislação fitossanitária mais severa em muitos países. A proibição do comercio de frutos com resíduos de defensivos em níveis superiores ao limite mínimo estabelecido na legislação de cada país e a proibição de uso de vários fungicidas pós-colheita estimulou a busca por formas alternativas de controle (Bassetto et al., 2007). O bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ) se apresenta como uma forma alternativa para evitar a utilização de fungicidas convencionais no controle pós colheita do mofo verde, evitando o desgaste do meio ambiente e preservando a saúde do consumidor (NASCIMENTO; SANTOS, 2013). Com vistas nesta possibilidade, objetivou-se avaliar os efeitos da aplicação de bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ) nas características físico-químicas e no controle do mofo-verde causado pelo Penicillium digitatum na pós-colheita de bergamota Clementina. Metodologia Os frutos foram colhidos em pomar comercial da região de Maçambara RS e cuidadosamente transportados ao Laboratório de Fisiologia e Pós-colheita de Frutas da UNIPAMPA Campus Itaqui. Foram montados quatro tratamentos de pós colheita, sendo; T1: água destilada; T2: água destilada + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum. Os tratamentos foram constituídos de cinco repetições com 12 frutos cada um, distribuídos em delineamento inteiramente casualisado. A solução de NaHCO 3 foi preparada com 2 g 100 ml -1 e aplicado 5 ml por fruto do tratamento, a solução de inoculação do P. digitatum foi preparada contendo 2x10 5 esporos ml -1 contados em câmara de Neubauer e aplicado 5 ml por fruto. As soluções foram aplicadas por aspersão, os frutos foram postos para secar em temperatura ambiente por 60 minutos e acomodados em câmara fria a 5 ºC onde foram armazenados até a avaliação. As avaliações foram realizadas na colheita, em 7 (dia 7) e 14 (dia 14) dias de armazenamento refrigerado a 5 ºC e 3 dias após o armazenamento refrigerado mantidas em temperatura ambiente a 22 ºC (dia 7+3 e 14+3) para simulação do período de comercialização. Avaliou-se o índice de coloração do pericarpo (ICP), perda de massa fresca (%) (PMF), rendimento de suco (%), sólidos solúveis (SS) 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

(ºBrix) com auxilio de refratômetro, acidez titulável (AT) (% ácido cítrico); ratio relação SS/AT; teor de ácido ascórbico (AA) (mg 100g -1 ); firmeza do fruto e severidade visual do ataque de P. digitatum. O ICP foi obtido através da metodologia disposta por Rossarolla et al. (2012). A AT foi obtida por titulação de uma alíquota de 10 g de suco com hidróxido de sódio (0,1 N) até atingir ph 8,1 e calculado com base no.equivalente grama do ácido cítrico. A determinação do teor de AA foi realizada conforme a metodologia apresentada por Couto; Canniatti-Brazacca (2010). A firmeza foi determinada por notas atribuídas subjetivamente de 1 a 5, quanto mais próximo de 1 mais firme e mais próximo a 5 menos firme. A analise estatística foi realizada com o auxilio de programa estatístico R (2012). As médias foram comparadas através do teste de Skott-Knott (α=0,05), as variáveis expressas em percentagem foram transformadas para arco seno de (x/100) 0,5. Resultados e discussões Não foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos ou durante os dias de avaliação para os SS, rendimento de suco e teor de AA. Também não se verificou diferença entre os tratamentos para o ICP em nenhum período de avaliação, entretanto para o T1 (água destilada) observa-se que o índice foi reduzido durante os períodos de armazenamento refrigerado por 7 e 14 dias (Tabela 1). O ICP varia de -20 a +20 e indica o grau de maturação do fruto, quanto menor o ICP maior presença de pigmentos de coloração verde no pericarpo (PETRY et al., 2012). De acordo com vários pesquisadores, os níveis de AA se manterem constantes indica baixa agressividade aos frutos dos tratamentos empregados (TAMURA et al., 2010). Demonstrando que o NaHCO 3 não apresenta danos à qualidade fisiológica dos frutos de bergamoteira Clementina. TABELA 1. Sólidos solúveis ( Brix), Rendimento do suco (%), teor de ácido ascórbico (mg 100 g -1 ) e índice de coloração do pericarpo em pós-colheita de bergamota Clementina tratada ou não com NaHCO 3 e inoculada ou não com Penicillium digitatum. Dia * T1** T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 ----- Sólido soluveis ( Brix) ----- --- Rendimento de suco (%) --- 0 15,71 ns 15,71 15,71 15,71 43,91 ns 43,91 43,91 43,91 7 15,70 15,57 15,53 15,80 51,43 44,43 52,83 49,75 7+3 16,50 15,83 16,07 15,60 55,17 47,17 54,84 48,92 14 15,90 15,83 16,47 16,03 48,62 48,54 52,20 52,77 14+3 17,10 16,40 16,80 16,60 49,72 53,26 52,49 46,86 ------- Teor de AA (mg 100 g -1 )------- -- Índice de coloração do pericarpo -- 0 42,09 ns 42,09 42,09 42,09 7,27 aa 7,27 aa 7,27 aa 7,27 aa 7 42,38 38,95 42,35 40,27 6,21 ab 6,93 aa 6,64 aa 7,29 aa 7+3 43,87 35,91 30,65 40,92 6,96 aa 7,18 aa 7,04 aa 6,83 aa 14 50,23 42,90 47,25 43,18 6,77 ab 7,30 aa 7,54 aa 6,60 aa 14+3 47,25 42,91 39,94 39,48 7,52 aa 6,65 aa 7,18 aa 7,17 aa * médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem, pelo teste de Sckott-Knott (α=0,05); ns não significativo pelo teste de Sckott-Knott (α=0,05). Dia 0 = colheita, dias 7 e 14 = período de armazenamento refrigerado (5 ºC) e dias 7+3 e 14+3 período de 3 dias em temperatura ambiente (22 ºC) após armazenamento Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 3

refrigerado. T1: água destilada; T2: água destilada + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum. Os frutos apresentaram PMF ascendente durante o armazenamento, refrigerado ou em temperatura ambiente, independente do tratamento aplicado (Figura 1 A), não se diferindo entre os tratamentos, somente entre os períodos de armazenamento. A AT manteve-se constante durante os períodos de avaliação, entretanto para os períodos de armazenamento em temperatura ambiente (7+3 e 14+3) ocorreu ligeiro acréscimo na acides em comparação ao armazenamento refrigerado (7 e 14) respectivamente (Figura 1 B). A B Figura 1. Perda de massa fresca e acides titulável em pós-colheita de bergamotas Clementina durante os períodos de armazenamento refrigerado a 5 ºC (7 e 14 dias) e posterior armazenamento a temperatura ambiente 22 ºC (7+3 e 14+3). T1: água destilada; T2: água destilada + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum. Barras verticais representam o erro padrão da média (n=5). O ratio não diferiu entre os tratamentos, entretanto, apresentou evolução ao longo do armazenamento, no dia 14 e 14+3 o T3 (NaHCO 3 ) apresentou ratio maior que no momento da colheita (Tabela 2). Tabela 2. Ratio (SS/AT) e firmeza em pós-colheita de bergamota Clementina tratada ou não com NaHCO 3 e inoculada ou não com Penicillium digitatum. Dia * T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 ---------- Ratio (SS/AT) ---------- --------------- Flacidez --------------- 0 17,80 aa 17,80 aa 17,80 ab 17,80 aa 1,00 ad 1,00 ad 1,00 ad 1,00 ab 7 18,18 aa 18,16 aa 17,43 ab 18,37 aa 2,22 ac 2,67 ac 2,78 ab 3,67 aa 7+3 14,57 ab 15,34 aa 15,03 ab 14,28 ab 4,56 aa 4,55 aa 4,33 aa 3,89 aa 14 18,88 aa 17,30 aa 18,87 aa 18,55 aa 2,67 ac 2,22 ac 2,22 ac 2,89 aa 14+3 18,46 aa 18,22 aa 18,40 aa 19,28 aa 3,89 ab 3,78 ab 3,33 bb 3,33 ba 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

* médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem, pelo teste de Sckott-Knott (α=0,05). Dia 0 = colheita, dias 7 e 14 = período de armazenamento refrigerado (5 ºC) e dias 7+3 e 14+3 período de 3 dias em temperatura ambiente (22 ºC) após armazenamento refrigerado. T1: água destilada; T2: água destilada + P. digitatum; T3: NaHCO 3 e T4: NaHCO 3 + P. digitatum. O T1 (água destilada) e T4 (NaHCO 3 + P. digitatum) apresentaram menor ratio em 7+3 devido a elevação da AT, mesmo desta forma estando adequado para o consumo de frutos de mesa (PETRY et al., 2012). A firmeza dos frutos foi decrescente ao longo do armazenamento, entretanto, os frutos tratados com NaHCO 3 apresentaram-se mais firme ao final do armazenamento, mesmo quando inoculados com P. digitatum (Tabela 2). Ao longo do armazenamento não foi verificado formação de micélio de P. digitatum nos frutos. Conclusões O bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ) não causa danos às características físico-químicas de pós-colheita da bergamota Clementina, sendo responsável por manter a firmeza dos frutos mesmo quando inoculados com Penicillium digitatum. Referências bibliográficas: BASSETTO, E.; AMORIM, L.; BENATO, E. A.; GONÇALVES, F. P.; LOURENÇO, S. A. Efeito da irradiação UV-C no controle da podridão parda (Monilinia fructicola) e da podridão mole (Rhyzopus stolonifer) em pós colheita de pêssegos. Fitopatologia Brasileira, v. 32, n. 5, p. 393-399, 2007. COUTO, M. A. L.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Quantificação da vitamina C e capacidade antioxidante de variedades cítricas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 30, n. 1, p. 15-19, 2010. FISCHER, I. H.; TOFFANO, L.; LOURENÇO, S. A.; AMORIM, L. Caracterização dos danos pós-colheita em citros procedentes de Packinghouse. Fitopatologia Brasileira, v. 32, n. 4, p. 304-310, 2007. FRANCO, D. A. S.; BETTIOL, W. Efeitos de produtos alternativos para o controle de bolor verde (Penicillium digitatum) em pós-colheita de citros. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 569-572, 2002. NASCIMENTO, L. M.; AZEVEDO, F. A. Avaliação da eficiência da aplicação de diferentes doses de Sporekill em tangor Murcott para o controle de Penicillium digitatum. Revista Iberoamericana de Tecnología Postcosecha, Hermosilo, v. 7, n. 2, p. 93-103, 2006. NASCIMENTO, L. M.; SANTOS, P. C. Controle de doenças fúngicas e de danos por frio em pós-colheita de lima ácida Tahiti. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v. 80, n. 2, p. 193-205, 2013. PETRY, H. B.; KOLLER, O. C.; BENDER, R. J.; SCHWARZ, S. F. Qualidade de laranjas Valencia produzidas sob sistemas de cultivo orgânico e convencional. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 34, n. 1, p. 167-174, 2012. R Core Team (2012). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, URL http://www.r-project.org/. ROSSAROLLA, M. D.; TOMAZETTI, T. C.; COPATTI, A. S.; MONTEIRO, A. M.; RIGHI, P. S.; AGUILA, L. S. H.; AGUILA, J. S. O ácido salicílico em pré-colheita Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 5

influencia o controle pós-colheita de Penicillium digitatum de laranja Salustiana? Revista Iberoamericana de Tecnologia Postcosecha, Hermosilo, v. 13, n. 2, p. 140-145, 2012. TAMURA, M. S.; OLIVEIRA, R. F.; MOLINA, S. C.; CLEMENTE, E. Avaliação pós-colheita dos parâmetros físico-químicos das limas ácidas Tahiti que sofreram danos mecânicos. Revista Brasileira de Pesquisa em Alimentos, Campo Mourão, v. 1, n. 2, p. 79-82, 2010. 6 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013