1 CARACTERIZAÇÃO METODOLÓGICA DAS DISSERTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA UFSCAR Garrutti, E. A.; Hayashi, M. C. P. I. Programa de Pós-Graduação em Educação Especial Universidade Federal de São Carlos. 1 RESUMO: A análise dos conhecimentos científicos sobre Educação Especial, produzidos essencialmente nos Programas de Pós-Graduação em Educação, Educação Especial e Psicologia no Brasil, é crescente e, de modo geral, possibilita a identificação de tendências e lacunas. Desse modo, possibilita-se a caracterização do estágio de desenvolvimento da área e a hierarquização das suas prioridades. Os debates sobre a produção científica são cruciais não somente para identificação dos trabalhos cientificamente relevantes, mas, também, para dimensionar a qualidade das investigações. Em vista disso, no presente estudo, foram analisadas dissertações produzidas no Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGEEs) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com o objetivo de proceder a uma caracterização metodológica dessa produção. A fonte de dados constitui-se de 42 dissertações produzidas no PPGEEs, no período de 2000 a 2003, selecionadas por meio de amostragem estratificada proporcional. Para coleta de dados, inicialmente, realizouse a leitura das dissertações selecionadas, seguindo-se um protocolo elaborado de maneira a facilitar e uniformizar a coleta de dados. Em tal processo, realizou-se a transcrição de trechos das dissertações que informavam sobre cada item do roteiro. A seguir, as informações coletadas foram agrupadas nas categorias: temas, delineamentos de pesquisa, técnicas de coleta e formas de análise dos dados. Os resultados indicaram que as dissertações do PPGEEs da UFSCar analisadas enfocaram o ensinoaprendizagem como tema estudado; a descrição, o experimento e o quase-experimento como delineamentos de pesquisa; a entrevista, a observação e o teste como técnicas de coleta de dados; a abordagem quantitativa articulada à qualitativa na análise de seus dados ou somente a abordagem quantitativa; e, dentre as dissertações que utilizam algum procedimento de quantificação, as ferramentas da estatística descritiva como recurso de mensuração. Finalizando, revela-se a importância de uma diversificação das temáticas e dos delineamentos nos estudos conduzidos sobre Educação Especial e do investimento na utilização de diferentes técnicas e na articulação entre procedimentos de análise quantitativa e qualitativa no corpo de cada produção científica. 1 egarrutti@yahoo.com.br
2 INTRODUÇÃO No que concerne à Educação Especial no Brasil, as atividades de pesquisa sobre essa temática, desenvolvidas essencialmente nos Programas de Pós-Graduação em Educação, Educação Especial e Psicologia, tiveram início em meados de 1960 e passaram por um notável crescimento a partir da década de 1980. O interesse em se abordar e desvendar problemáticas referentes à Educação Especial permeia os esforços empreendidos por diversos profissionais, já que são inúmeras as indagações enfrentadas por psicólogos, médicos, educadores e por outras pessoas ligadas direta ou indiretamente a essa área da Educação. Ainda, pode-se verificar, desde meados dos anos 1980, o crescente interesse em debates sobre a produção e disseminação do conhecimento em Educação Especial no Brasil, que indicam, de modo geral, a ampliação processual na produção de investigações sobre os indivíduos com necessidades especiais na realidade nacional. Além do aumento das produções sobre Educação Especial, pode se verificar a evolução temática caracterizada pela maior aproximação às reais problemáticas educacionais e também uma maior preocupação com o rigor metodológico. Nesse sentido, Nunes et al (2004), mediante a análise de dissertações e teses dos Programas de Pós-Graduação em Educação e Psicologia do Brasil, enfocam a tendência do crescente abandono da visão clínica sobre a excepcionalidade, do aumento das pesquisas que tratam do cotidiano escolar, da maior interação com as discussões metodológicas presentes na educação comum e do aumento de estudos realizados em situações naturais. Em relação aos métodos, conforme ressalta Omote (2003), a
3 aplicabilidade e a preocupação com rigor metodológico, têm sido crescentes no processo de produção do conhecimento científico para a área de Educação Especial. Atualmente, a seleção dos procedimentos metodológicos mais adequados à questão levantada pelo autor da pesquisa, em diversas vezes, torna-se uma das dificuldades enfrentadas pelos alunos da Pós-Graduação que tratam de temáticas inerentes à Educação Especial essencialmente em decorrência das particularidades da área. Em vista disso, o presente trabalho teve o objetivo de identificar os delineamentos de pesquisa, as técnicas de coleta e as formas de análise dos dados mais freqüentes nas dissertações e teses produzidas no PPGEEs da UFSCar. MÉTODO Fonte de Dados: A pesquisa teve como fonte de coleta de dados uma amostra de 42 dissertações defendidas no PPGEEs da UFSCar, no período de 2000 a 2003, selecionadas por meio da amostragem estratificada proporcional. Procedimentos de Coleta: As dissertações amostradas foram submetidas a uma análise detalhada, pela leitura da introdução, do método e dos resultados. Com a leitura da introdução, identificaram-se os objetivos da pesquisa; com a leitura dos métodos, coletaram-se informações sobre os procedimentos metodológicos; e com a leitura dos resultados, registraram-se dados sobre os procedimentos metodológicos não mencionados nos tópicos anteriores e as principais conclusões. Tal leitura foi orientada por um protocolo, construído preliminarmente com base nos estudos de Nunes et al (1999), Grácio e Garrutti (2003) e Oliveira (1996) e testado pela leitura de 3 dissertações. Após a delimitação do roteiro, cada produção foi lida e
4 decomposta nos itens do roteiro, transcrevendo em protocolos trechos das dissertações e teses que informavam sobre cada item, a fim de facilitar a categorização dos dados. Procedimentos de análise: Com base nos protocolos preenchidos e em um sistema de categorias/subcategorias dos itens do protocolo, organizado preliminarmente, realizouse a categorização das dissertações que compõem a amostra deste estudo. Nesse processo, os itens do protocolo, com as informações coletadas nas dissertações foram analisados separadamente para agrupá-las nas categorias: tema, delineamento, técnicas de coleta e formas de análise dos dados. A seguir, a fim de possibilitar uma primeira visualização, construiu-se um banco de dados no programa computacional do Excel. Tomando por base o rol de dados construído e, sempre que necessário, os protocolos preenchidos, os dados foram sintetizados em tabelas, possibilitando uma melhor organização e sistematização das informações contidas em cada item do protocolo. RESULTADOS Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4 são apresentados os dados referentes à análise individual das categorias organizadas (tema, delineamento, técnicas de coleta e formas de análise dos dados). Tabela 1. Distribuição de freqüências, em números absolutos e relativos, dos temas presentes nas dissertações
5 TEMA N. de Dissertações % Ensino-Aprendizagem 22 52,4 Identificação/Diagnóstico/Caracterização 5 11,9 Formação de Recursos Humanos 5 11,9 Profissionalização 3 7,1 Reabilitação/Saúde 3 7,1 Integração/Inclusão 3 7,1 Auto-percepção 1 2,4 TOTAL 42 100 Com base na Tabela 1, verifica-se que o tema ensino-aprendizagem está presente na maioria das dissertações (52,4%). Cada uma das demais subcategorias temáticas (identificação/diagnóstico/caracterização, formação de recursos humanos, profissionalização, reabilitação/saúde, integração/inclusão e auto-percepção) é empregada entre 2% a 11% das dissertações. Tabela 2. Distribuição de freqüências, em números absolutos e relativos, dos delineamentos presentes nas dissertações DELINEAMENTO N. de Dissertações % Descritivo 12 28,6 Experimental 9 21,4 Quase-experimental 8 19 Estudo de Caso 6 14,3 Longitudinal 2 4,8 Correlacional 2 4,8 Ex-Post-Facto 2 4,8 Pesquisa-ação 1 2,4 TOTAL 42 100 Os dados da Tabela 2 revelam que os delineamentos que mais se destacam são os do tipo descritivo (28,6%), experimental (21,4%), quase-experimental (19%) e estudo de caso (14,3), que juntos representam 83,3% das dissertações analisadas. Cada uma das demais subcategorias de delineamentos (correlacional, longitudinal, ex-postfacto e pesquisa-ação) é empregada em pelos menos 4% ou 2% das dissertações. Tabela 3. Distribuição de freqüências, em números absolutos e relativos, das técnicas de coleta presentes nas dissertações
6 TÉCNICAS N. de Dissertações %* Entrevista 20 47,6 Teste 18 42,8 Observação 17 40,5 Questionário 10 23,8 Escala 7 16,7 Análise documental 7 16,7 * Porcentagem calculada em relação ao total de 42 dissertações. Com base na Tabela 3, observa-se que os percentuais das técnicas de coleta de dados são bastante próximos, tendo relativo destaque a entrevista (47,6%), o teste (42,8%) e a observação (40,5%). De modo geral, em cada dissertação, empregam-se mais de uma técnica de coleta provavelmente na tentativa de compreender o fenômeno sob diferentes perspectivas. Tabela 4. Distribuição de freqüências, em números absolutos e relativos, das formas de análise presentes nas dissertações ANÁLISE N. de Dissertações % Quantitativa/Qualitativa 21 50,0 Quantitativa 19 45,2 Qualitativa 2 4,8 TOTAL 42 100 A Tabela 4 indica que o enfoque articulado das abordagens quantitativa e qualitativa representa 50% das dissertações analisadas. Pode-se observar, ainda, que 45,2% dissertações utilizam procedimentos de análise essencialmente quantitativos, ao passo que a abordagem estritamente qualitativa está presente em apenas 4,8% das dissertações. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 O estudo se propôs a analisar o produto do conhecimento gerado por distintas práticas de pesquisa, processo que deve ser relevado quando se tem o objetivo de propiciar o avanço da produção científica. O conhecimento devido da realidade da produção científica é fator decisivo na proposição de novas perspectivas para pesquisas futuras. Desse modo, aspectos inerentes aos delineamentos, técnicas de coleta de dados, formas de análise dos resultados são abordados neste estudo. Em linhas gerais, as dissertações do PPGEEs da UFSCar analisadas enfocam o ensino-aprendizagem como principal temática estudada; a descrição, o experimento e o quase-experimento como delineamentos de pesquisa; a entrevista, a observação e o teste como técnicas de coleta de dados; procedimentos quantitativos articulados aos qualitativos na análise de seus dados ou somente procedimentos quantitativos; e dentre as dissertações que utilizam algum procedimento de quantificação, ferramentas da estatística descritiva como recurso de mensuração. Em relação a tais dados, revela-se a importância de os esforços dos docentes, discentes e orientadores estarem centrados na perspectiva de uma maior abertura para diversificação das temáticas investigadas e delineamentos empregados, tendo em vista a abrangência da referida área; a continuidade da diversificação das técnicas de coleta para, quando possível, alcançar-se triangulação metodológica em cada dissertação; e o investimento na utilização da quantificação articulada à abordagem qualitativa com o objetivo de se possibilitar uma compreensão mais detalhada acerca dos fenômenos investigados. REFERÊNCIAS GRÁCIO, M. C. C.; GARRUTTI, E. A. A disciplina Estatística na área de Educação: seleção e organização de conteúdos. Educação Matemática em Revista-RS, Lajeado, n. 5, p. 12-20, 2003.
8 NUNES, L. R. O. P.; FERREIRA, J. R.; GLAT, R.; MENDES, E. G. A pós-graduação em educação especial no Brasil: análise crítica da produção discente. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.3, n.5, p. 113-126, 1999. NUNES, L. R. O. P.; FERREIRA, J. R.; MENDES, E. G. A produção discente da pósgraduação em Educação e Psicologia sobre os indivíduos com necessidades educacionais especiais. In: MENDES, E. G.; ALMEIDA, M. A.; WILLIAMS, L. C. A. Temas em Educação Especial: avanços recentes. São Carlos: EdUFSCar, 2004. p.131-142. OLIVEIRA, E. F. T. O ensino das disciplinas instrumentais para análises quantitativas no currículo do curso de graduação em Biblioteconomia. 1996. 116 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília. OMOTE, S. A pesquisa em Educação Especial. In: MARQUEZINE, M.C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE, S. (orgs). Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003, p. XVII XXI.