A SALA DOS RÉPTEIS. l Desventuras em Série l. de LE MONY SNIC KET. Livro segundo. Ilustrações de Brett Hel quist Tradução de Carlos Sussekind



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Transcrição:

l Desventuras em Série l Livro segundo A SALA DOS RÉPTEIS de LE MONY SNIC KET Ilustrações de Brett Hel quist Tradução de Carlos Sussekind 22 ª- reimpressão

Copy right do tex to 1999 by Le mony Snic ket Copy right das ilus tra ções 1999 by Brett Hel quist O selo Seguinte pertence à Editora Schwarcz s.a. Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Publicado mediante acordo com HarperCollins Children s Books, divisão da HarperCollins Publishers, Inc. Título original: The Reptile Room Preparação: Cristina Yamazaki Revisão: Carmen S. da Costa Cláudia Cantarin Atualização ortográfica: Verba Editorial Os personagens e situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles não emitem opinião. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Snicket, Lemony A Sala dos Répteis / Lemony Snicket ; ilustrações de Brett Helquist ; tradução de Carlos Sussekind. São Pau lo : Compa nhia das Letras, 2001. Título original: The Reptile Room. ISBN 978-85-359-0143-6 1. Literatura infantojuvenil I. Helquist, Brett. ii. Título. 01-2429 CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5 2014 Todos os direitos desta edição reservados à edi to ra schwarcz s.a. Rua Ban dei ra Pau lis ta, 702 cj. 32 04532-002 São Pau lo sp Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br

capítulo Um O tre cho da es tra da que sai da ci da de, pas sa pe lo Por to Ene voa do e vai até a al deia vi zi nha de Té dia, talvez seja o mais desagradável do mundo. É chamado de Mau Ca mi nho. O Mau Ca mi nho atra ves sa cam pos de um cin zen to doen tio, em que um pu nhado de ár vo res es que lé ti cas pro duz ma çãs tão áci das que só de olhar pa ra elas já nos sen ti mos doen tes. O Mau Ca mi nho cru za o rio da Amar gu ra, mas sa d água que tem no ven ta por cen to de la ma e uma po pu la ção de pei xes es quá li dos, apo dre cen do por fal ta de oxi gê nio, e que ain da por ci ma cir cun da uma fá bri ca de raiz-for te, de mo do que to da a área tem um cheiro ardido e avassalador. l 9 l

La men to ter de con tar pa ra vo cês que a his tó ria co me ça com os ór fãos Bau de lai re avan çan do por es sa es tra da hor rí vel, e que da qui por dian te a histó ria só vai pio rar. De to das as pes soas no mun do com vi das de plo rá veis e vo cês bem sa bem que há um bom nú me ro de las, os jo vens Bau de lai re ga nham o prê mio, ex pres são aqui usa da pa ra sig nifi car que eles pas sa ram por mais coi sas abo mi ná veis do que qual quer ou tra pes soa que co nhe ço. A infe li ci da de de les co me çou com um in cên dio gi gantes co que des truiu a ca sa em que moravam e ma tou seus que ri dos pais tris te za su fi cien te ca paz de du rar por to da a vi da, mas, no ca so des sas três crian ças, foi ape nas o mau co me ço. De pois do incên dio, os ir mãos fo ram man da dos pa ra a ca sa de um pa ren te dis tan te, o con de Olaf, um ho mem ter rí vel e ga nan cio so. Os Bau de lai re pais dei xa ram uma enor me for tu na que se ria dos fi lhos quan do Vio let atin gis se a maio ri da de, e o con de Olaf es tava tão ob ce ca do pa ra pôr as mãos nes se di nhei ro que ar qui te tou um pla no dia bó li co que até ho je me dá pe sa de los quan do pen so ne le. Foi des mas ca ra do em tem po, mas fu giu an tes que o pren des sem e ju rou que ain da en con tra ria um jei to de se apos sar da for tu na al gum dia. Vio let, Klaus e Sunny conti nua vam ten do pe sa de los com os olhos de bri lho l 10 l

ful mi nan te do con de Olaf, com sua so bran ce lha far pea da (duas nu ma só) e, mais que tu do, com a ta tua gem de olho que ele ti nha no tor no ze lo. Aquele olho pa re cia vi giar os ór fãos Bau de lai re pa ra onde quer que eles fos sem. Devo avisá-los, portanto, que se abriram este livro com a es pe ran ça de ler que de pois de tu do o que lhes acon te ceu os me ni nos vi ve ram fe li zes pa ra sem pre, o me lhor é fe char o li vro e pro cu rar ou tra lei tu ra qual quer. Por que Vio let, Klaus e Sunny, mui to aperta dos num car ro pe que no sem es pa ço pa ra mais nada e olhan do pe las ja ne las pa ra o Mau Ca mi nho, rodavam em direção a um destino ainda mais sobrecarregado de desgraças e tristezas. O rio da Amargura e a fá bri ca de raiz-for te eram ape nas os pri mei ros de uma sequência de trágicos e lamentáveis aconteci men tos ca da vez que pen so ne les, uma lá gri ma ro la no meu ros to e fi co ten so de raiva. Quem di ri gia o car ro era o sr. Poe, ami go da família que tra ba lha va num ban co e que ti nha uma tosse que não parava. Ele estava encarregado de zelar pelos in te res ses dos ór fãos, de mo do que foi ele quem decidiu que, depois de todas as contrariedades vividas com o con de Olaf, os me ni nos fi ca riam sob os cuida dos de um pa ren te que mo ra va no campo. Vo cês me des cul pem se es tão mal aco mo da dos l 11 l

aí atrás, dis se o sr. Poe, tos sin do num len ço, mas nes se meu car ro no vo não ca bem mui tas pes soas. Não foi possível sequer colocar nenhuma das malas de vo cês. Den tro de uma se ma na mais ou me nos voltarei aqui trazendo as malas. Obri ga da, dis se Vio let que, com ca tor ze anos, era a mais ve lha dos ir mãos Bau de lai re. Qual quer um que co nhe ces se Vio let po dia ver que o pen samen to de la na ver da de não es ta va nas pa la vras do sr. Poe, por que nes se mo men to a me ni na trazia os longos ca be los pre sos por uma fi ta pa ra afas tá-los dos olhos. Vio let era uma in ven to ra e quan do es ta va con cen tra da em al gu ma de suas in ven ções gos ta va de amar rar os ca be los des sa ma nei ra. Uma for ma de aju dá-la a pen sar com maior cla re za nas vá rias engrenagens, arames e cordas envolvidas na maior parte de suas cria ções. De pois de te rem mo ra do tan to tem po na ci dade, pros se guiu o sr. Poe, acho que o cam po vai ser uma mu dan ça agra dá vel pa ra vo cês. Pron to, es ta é a cur va on de pre ci sa mos vi rar. Es ta mos qua se chegan do. Ain da bem, dis se Klaus bai xi nho. Klaus es ta va bastante entediado, como muitas pessoas costumam ficar durante trajetos de automóveis, e triste por não ter tra zi do um li vro com ele. Klaus ado ra va ler, e nos l 12 l

seus aproximadamente doze anos de idade havia devorado mais li vros do que mui ta gen te é ca paz de ler ao lon go de to da a vi da. Às ve zes lia até bem tarde da noi te, e de ma nhã po dia-se ver que caí ra no so no com o li vro nas mãos e sem se quer ti rar os óculos. Acho que vo cês vão gos tar do dr. Mont go mery, dis se o sr. Poe. Ele via jou mui to, de for ma que tem uma por ção de his tó rias pa ra con tar. Ou vi di zer que a ca sa de le es tá re ple ta de coi sas que ele trou xe dos lugares por onde passou. Bax!, gri tou Sunny. Sunny, a mais no va dos órfãos, fre quen te men te fa la va as sim, que é o jei to de fa lar dos be bês. Na ver da de, quan do não es ta va morden do coi sas com seus qua tro den tes bem afia dos, Sunny pas sa va a maior par te do tem po sol tan do esses frag men tos de fa la. Mui tas ve zes era di fí cil entender o que ela estava querendo dizer. Naquele momen to o sen ti do de sua ex cla ma ção pro va vel men te ti nha a ver com estou nervosa com isso de conhecer um no vo pa ren te. Não era só ela que es ta va ner vosa, mas to dos os três. Qual é exa ta men te o pa ren tes co que dr. Montgomery tem conosco?, perguntou Klaus. O dr. Mont go mery vem a ser... dei xe-me ver... ir mão da mu lher do pri mo de seu fa le ci do pai. Acho que é is so. É um cien tis ta de cer to re no me, e re ce be l 13 l

muito dinheiro do governo. Como banqueiro, o sr. Poe estava sempre interessado em dinheiro. Co mo é que a gen te de ve cha má-lo?, per gun tou Klaus. Chamem de doutor Montgomery, respondeu o sr. Poe, a não ser que ele di ga pa ra vo cês o cha marem de Mont go mery. Mas tan to o seu pre no me como o seu so bre no me são Mont go mery, de mo do que na verdade não faz muita diferença. Seu nome é Montgomery Montgomery?, Klaus riu ao perguntar. Sim, e te nho cer te za de que ele não apre cia brinca dei ras com is so, de mo do que é bom não fa ze rem tro ça, dis se o sr. Poe tos sin do no va men te no seu lenço. Fazer troça é o mes mo que ca çoar. Klaus deu um sus pi ro: Eu sei o que quer di zer fa zer tro ça. Ele só não acres cen tou que, cla ro, tam bém sa bia que não se de ve ca çoar do no me de nin guém. Às ve zes as pessoas pen sa vam que os ór fãos, por serem in fe li zes, eram também abobalhados. Vio let tam bém sus pi rou, e sol tou a fi ta dos ca belos. Ela es ti ve ra pen san do nu ma in ven ção que conse guis se im pe dir o chei ro de raiz-for te a che gar às na ri nas das pes soas, mas a preo cu pa ção com o encontro próximo com o dr. Montgomery não deixava l 14 l

ela se con cen trar. Vo cê sa be que ti po de cien tis ta ele é?, per gun tou. Ela es ta va pen san do se o dr. Montgomery não teria um laboratório que ela também pudesse usar. Não te nho bem cer te za, ad mi tiu o sr. Poe. Estive muito ocupado tratando das condições em que vo cês fi ca riam aqui e não ti ve tem po pa ra pu xar outros assuntos. Olhem, aí está a entrada. Chegamos. O sr. Poe con du ziu o car ro por uma es tra di nha de cas ca lho bas tan te in cli na da, em di re ção a uma enor me ca sa de pe dra. A ca sa ti nha uma por ta de entrada de madeira escura, com algumas colunas na varanda. De cada lado da porta havia luminárias em for ma de to chas, to das ace sas, ape sar de ser ma nhã. Aci ma da por ta da fren te, a ca sa pos suía fi lei ras e mais fi lei ras de ja ne las qua dra das, a maio ria de las aber ta pa ra dei xar que a bri sa en tras se. Mas, dian te da casa, via-se algo verdadeiramente fora do comum: um vasto e bem cuidado gramado, repleto de longos e finos arbustos que haviam sido podados para ficar com a apa rên cia de co bras. Ca da ar bus to era um tipo diverso de serpente: umas longas, outras curtas, umas de lín gua pa ra fo ra e ou tras de bo ca aber ta revelando dentes verdes assustadores. Todas bem intimidativas, tanto que Violet, Klaus e Sunny mostral 15 l

ram cer ta he si ta ção em ca mi nhar pas san do ao la do de las no tra je to até a ca sa. O sr. Poe, que ia na fren te, nem pa re ceu no tar os ar bus tos, pos si vel men te por que es ta va con cen tra do em pas sar às crian ças ins tru ções so bre co mo se comportar. Escute, Klaus, não faça muitas perguntas logo no co me ço. Vio let, o que foi que hou ve com a fi ta em seus ca be los? Achei que aquele pen tea do lhe dava uma apa rên cia tão dis tin ta! E, por fa vor, al guém vi gie Sunny e não dei xe que ela mor da o dr. Mont go mery. Seria desfavorável como primeira impressão. O sr. Poe apres sou o pas so até a por ta e to cou uma cam pai nha que soa va mais al to que qual quer ou tra campainha já ouvida pelos meninos. Depois de uma curta pausa, ouviram passos se aproximando, e Violet, Klaus e Sunny se en treo lha ram. Não ti nham como sa ber, é cla ro, que mui to em bre ve mais des graças estariam afligindo sua infortunada família, mas, de qual quer mo do, es ta vam in quie tos. O dr. Montgomery seria uma pessoa legal?, pensavam. Melhor que o con de Olaf, pe lo me nos? Se ria pos sí vel que fos se pior? A por ta abriu-se com um rangido, vagarosamente, e os órfãos Baudelaire prenderam a respiração ao olhar pa ra den tro do es cu ro hall de en tra da. Vi ram um ta pe te púr pu ra-es cu ro es ten di do so bre o chão. l 16 l

Vi ram um lus tre em vi tral que pen dia do te to. Vi ram na pa re de uma gran de pin tu ra a óleo que re pre sentava duas cobras entrelaçadas. Mas onde estava o dr. Montgomery? Olá!?!, in da gou em voz al ta o sr. Poe. Olá!?! Olá, olá, olá!, ou viu-se, al to e bom som, de al guém que sur giu de trás da por ta, um ho mem baixi nho e re chon chu do de ros to bem re don do e averme lha do. Sou seu tio Monty, e vo cês che ga ram bem na ho ra! Aca bei de pre pa rar um bo lo com creme de co co! l 17 l