NOÇÕES IMPORTANTES NA PRÁTICA (CLÍNICA) COM A LINGUAGEM: GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL NA NEUROLINGUÍSTICA DISCURSIVA



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Transcrição:

1 NOÇÕES IMPORTANTES NA PRÁTICA (CLÍNICA) COM A LINGUAGEM: GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL NA NEUROLINGUÍSTICA DISCURSIVA Nirvana Ferraz Santos Sampaio Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar a importância das noções de gênero textual e tipo textual para a prática (clínica) com a linguagem a partir da Neurolinguística Discursiva. ABSTRACT: The aim of this paper is to show the importance of textual genre and textual type notions for the clinical practice with language from the Dircursive Neurolinguistics. 1. Introdução Neste artigo, pretendemos elucidar a importância das noções de gênero textual e tipo textual para a prática (clínica) com a linguagem exercida no Centro de Convivência de Afásicos (CCA), do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Observa-se nessa prática (clínica) o distanciamento de abordagens de orientação reeducativa das práticas contemporâneas, quais sejam: a abordagem tradicional, a cognitiva e a abordagem pragmática, que veremos detalhadamente no item a seguir. 2. Abordagens: a tradicional, a cognitivista, a pragmática e a discusivamente orientada Empregamos o termo tradicional no mesmo sentido que lhe confere Coudry (1986/1988), essa autora se refere à Fonoaudiologia para a qual está ausente qualquer reflexão da Linguística ou a que a linguagem e a Linguística são usadas na avaliação e terapia da afasia de forma que impede a compreensão da afasia enquanto fenômeno. As tarefas realizadas nessa abordagem pelos pacientes com patologias de linguagem são descontextualizadas baseadas em atividades metalinguísticas. Assim, privilegia-se a linguagem escrita com exercícios baseados em: compreensão oral das palavras, de frases simples, de frases complexas; compreensão escrita de palavras, de frases simples, de frases complexas; escrita automática, cópia, ditado; leitura em voz alta de sílabas simples, palavras e frases simples e complexas; transcrição em letra

2 cursiva de um texto escrito em letras maiúsculas; execução de ordens escritas; resumo de texto que acabou de ser lido; nomeação de objetos e expressão de pensamentos na forma escrita; leitura e escrita de palavras e não palavras; palavras de ortografia regular e irregular e palavras de função gramatical; identificação de palavras homófonas e heterógrafas; pseudo-homófonos de palavras irregulares; identificação de definições e de erros ortográficos de natureza visual, entre outras. A abordagem cognitiva assevera que é presumível descrever e compreender o funcionamento mental por meio de modelos de processamento de informação. Algumas críticas são feitas a essa corrente. Seron (1993, p. 133), por exemplo, apresenta três críticas: (i) relacionada à natureza da ligação entre interpretação cognitiva da alteração e os procedimentos empreendidos no processo terapêutico; (ii) a falta de realismo; (iii) a falta de pragmatismo, ou seja, de contextualização e (iv) a falta de ajuda na determinação das operações específicas a serem realizadas em terapias. A abordagem pragmática, por outro lado, enfatiza as funções da linguagem, principalmente, a função comunicativa. De acordo com Seron (1993, p.140), as situações tradicionais de terapia fonoaudiológica são afastadas das situações habituais de comunicação vivenciadas pelos pacientes enquanto que, na abordagem pragmática, buscam-se estratégias comunicativas para se observar o paciente. Entretanto, verifica-se que a Pragmática é usada aqui em meio a exercícios que visam isolar os déficits a serem reeducados, treinos a partir de tarefas que deverão se encaixar nas situações cotidianas. A abordagem Neurolinguística Discursiva (ND) leva em consideração a concepção de linguagem como atividade constitutiva historicamente concebida, abrangente e pública. Essa posição teórica leva em conta do papel central da cultura e da linguagem nas atividades psíquica ou cognitiva ao longo da história humana (Cf. Coudry, 1988, 1993, 1995, 1999, 2002a, 2002b). A avaliação da linguagem em contextos patológicos, nessa perspectiva, não pode ser dissociada das situações de uso social, verifica-se a presença de sujeito (e não paciente). Em relação ao sujeito na afasia, Coudry (2002a) afirma que há linguagem na afasia quando há sujeito e que afásico e não afásico partilham de um sentimento/atitude comum de incompletude frente à linguagem e à língua. A concepção abrangente e pública nessa Neurolinguística, segundo a autora, não é posta para banalizar a afasia, mas, ao contrário, para compreendê-la. Nessa perspectiva há lugar para o sujeito, o que torna possível estudar a linguagem pública usada por sujeitos afásicos.

3 Será deste ponto de vista teórico que estaremos discutindo a relevância das noções de gênero e tipo textuais para a prática (clínica) com a linguagem nos próximos itens. 3. Noções de gênero e tipo textual na Neurolinguística Discursiva: a necessidade de contextualizar O ser humano em suas atividades cotidianas se serve da língua e de acordo com: interesse, intencionalidade e finalidade específicos de cada atividade, os enunciados linguísticos se realizarão de maneiras diversas. Isso incide diretamente na noção de gêneros do discurso em Bakhtin. A essas diferentes formas de incidência dos enunciados, o autor denomina gêneros do discurso, já que [...] cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados. (BAKHTIN, 1992, p. 277). Essa noção está na base da prática (clínica) com a linguagem porque esta se dá em meio a um processo com variadas, heterogêneas e múltiplas maneiras de realização. Verificamos o percurso da utilização dessa noção no banco de teses da biblioteca do IEL/UNICAMP. Após a tese fundadora dos estudos neurolinguísticos de orientação discursiva Coudry (1986/88), observa-se o desenvolvimento da proposta teóricometodológica da ND em trabalhos como: Novaes-Pinto (1994 e 1999), continuidade à crítica aos testes-padrão; Gandolfo (1996), utilização de relatos, comentários sobre o telejornal, fábulas, piadas 1 nas sessões de acompanhamento de um sujeito com Síndrome Frontal e apontando a importância, de forma diluída, de se trabalhar com os diversos gêneros no acompanhamento terapêutico; Santana (1999) aborda a linguagem escrita na afasia, utilizando, também, a noção de gênero ao trabalhar com o bilhete; Freire (2005) estuda um caso de Síndrome Frontal Leve e observa as relações entre linguagem, memória, corpo e percepção, para conduzir seu estudo de caso, a autora lança mão da escrita na Agenda Mágica, além da escrita de e-mails. A agenda é usada, nesse trabalho, como lugar de reconstrução da relação do sujeito com a escrita e com a sua subjetividade. Analisando cada um dos trabalhos supracitados quanto à mobilização da noção de gênero textual, verificamos que essa noção se encontra presente de forma diluída nos textos, pois o trabalho com a linguagem na prática embasada na ND leva em conta 1 Sobre piadas, verificar o trabalho de Coudry e Possenti (1993) Do que riem os afásicos. Nesse trabalho, os autores ressaltam a importância de se observar a necessidade que tanto os ouvintes quanto os contadores de piadas têm de conhecer questões culturais e ideológicas problemáticas e complexas da sociedade, sem as quais as piadas não teriam razão de ser, pois esses seriam ingredientes fundamentais.

4 situações contextualizadas que ocorrem por meio de enunciados que se realizam de maneiras diversas, tanto oral quanto escrita, o que está na base da noção de gênero. Os acompanhamentos clínicos no Laboratório de Neurolinguística (LABONE) têm como um dos pontos centrais, de acordo com Coudry e Freire (2005), a linguagem em funcionamento, tanto na enunciação oral quanto na escrita. Observando as alterações em cada um dos níveis linguísticos na articulação entre eles. Dessa forma, o interesse, do ponto de vista clínico, está no uso da linguagem em diversos contextos verbais (temas, interlocutores, suportes, gêneros de discurso), considerando as condições de produção do discurso e as imagens que se fazem entre si os interlocutores, o que põe uma direção para os vários papéis enunciativos, que, por sua vez, se submetem a regras que regulam o uso da linguagem. Ensinas (2007) investiga a circulação de gêneros discursivos (a partir, principalmente, de BAKTHIN, 1952-53/1997) nas sessões coletivas do CCA e a forma como os sujeitos afásicos lidam com os recursos verbais de que dispõem além da inserção de recursos não verbais para expressar seu dizer/escrever/ler. Ao trazer a noção de gênero para o aporte teórico-metodológico, a ND se preocupa, também, a meu ver, com a noção de tipo textual (ou de configuração textual); para tanto, consideramos, em parte, a distinção feita por Marcuschi (2001) entre gênero textual e tipo textual, a saber: Tipo textual: (também designado tipo de discurso) é aqui tomado como um construto teórico que abrange pouco mais de meia dúzia de categorias, designadas narração, argumentação, exposição, descrição injunção e, para alguns autores (p. ex. ADAM, 1991), diálogo. Trata-se de um agrupamento pela natureza linguística do texto produzido. Mais do que textos concretos e completos, estas são designações para sequências típicas. Os tipos textuais não têm uma existência empírica. Gênero textual: (também designado gênero discursivo do (de) discurso) 2 é aqui tomado como uma forma textual concretamente realizada e encontrada como texto empírico, materializado. O gênero tem existência concreta expressa em designações diversas, contituindo, em princípio, conjuntos abertos. Podem ser exemplificados em textos orais e escritos tais como: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal índice remissivo, romance, cantiga de ninar, lista de compras, publicidade, cardápio, bilhete, reportagem jornalística, aula 2 Neste trabalho, diferenciamos gênero textual de gênero do discurso.

5 expositiva, debate, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, fofoca, confissão, entrevista televisiva, inquirição policial, e-mail, artigo científico, tirinha de jornal, piada, instrução de uso outdooor etc. (MARCUSCHI, 2001, p.42-43) Essas noções são levadas em conta na prática (clínica) com a linguagem no CCA onde são vivenciadas, verbal e não verbalmente, situações discursivas que ocorrem em [...] um ambiente de linguagem em que interlocutores (afásicos e de não afásicos) constroem e partilham de vários interesses, papéis e conhecimentos que os identificam como falantes de uma língua natural; um ambiente em que a linguagem acontece em suas mais diversas formas, simples e complexas, heterogêneas, carregadas de marcas particulares e de dizeres/escritos partilhados; onde se abrem as mais diversas possibilidades de construção de sentidos entre interlocutores afásicos e não afásicos, mediados por recursos metodológicos e pelos acontecimentos de que se fala/escreve/lê/imagina na vida organizada em sociedade. (COUDRY, 2006, p. 3) Fazem parte das atividades linguístico-cognitivas desenvolvidas no CCA: dramatizar cenas da vida cotidiana, cozinhar, fazer festas, pintar e desenhar, dançar, cantar, assistir a filmes, ler e comentar o noticiário escrito e falado, bem como as anotações dos participantes em sua agenda; em cada uma dessas atividades, observa-se que os sujeitos envolvidos lançam mão da competência comunicativa. Consideramos que o conceito de competência comunicativa está encaixado na noção de competência cultural, ou totalmente fixada no conhecimento e habilidades que falantes trazem para uma situação comunicativa. Assim, ao nos depararmos com os eventos comunicativos no CCA e olharmos para o conhecimento da língua, não será suficiente apreendê-la somente do ponto de vista gramatical, será necessário saber o que é social e culturalmente aceitável entre os seus falantes, a combinação entre o saber gramatical com o saber social; teremos assim a competência comunicativa dos indivíduos. No repertório comunicativo, diversos gêneros farão parte da experiência de cada sujeito pertencente ao grupo. Entretanto, esse saber é compartilhado na comunidade de fala. Olhando para os gêneros, chegamos ao tipo textual (ou aos tipos) envolvido no que está materializado nas diversas práticas sociais presentes na prática (clínica) com a linguagem de orientação enunciativo-

6 discursiva. A partir de Coudry (1986/1988), que discute a avaliação de sujeitos afásicos por meio de testes-padrão, a descontinuidade entre a avaliação e o processo terapêutico privilegia o sujeito e confere-lhe um lugar prioritário em relação à afasia de que é portador; surge, dessa forma, a avaliação em meio a encontros dos sujeitos (afásicos e não afásicos) em episódios contextualizados que não mascaram os processos linguísticos de construção ou organização das significações. Apresenta-se aqui o fato de que há um vínculo entre a utilização da linguagem e a atividade humana, assim, todas as esferas da atividade humana estão sempre relacionadas com a linguagem. E essa utilização efetua-se em forma de enunciados que emanam de integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana (Cf. a leitura de FARACO, 2003, p. 111 sobre a obra de Bakhtin). Novaes-Pinto (2006), analisando o conceito de grau de severidade a partir de dados de sujeitos afásicos e em relação ao conceito bakhtiniano de querer dizer ou intuito discursivo, conclui que o grau de severidade apresentado nos testes metalinguísticos está longe de traduzir as dificuldades que os sujeitos têm na produção efetiva de linguagem. A abrangência do conceito de grau de severidade pode ser expandida com a incorporação da análise de enunciados obtidos em situações dialógicas nos momentos em que os sujeitos afásicos avaliam suas dificuldades, comparando-as com as de outros sujeitos e com a sua atividade linguística anterior ao episódio neurológico. A autora afirma que como diria Bakhtin, tal conceito da forma como é abordado na literatura neuropsicológica faz parte do inventário de noções que contribuem para a formulação de teorias que são, a seu ver, ficção científica, que não contribuem para abordar o fenômeno real da linguagem humana, que só se dá em situações de uso concreto, nas relações dialógicas. (NOVAES-PINTO, 2006, p.1735) Nesse sentido, verificamos que tanto a noção de gênero do discurso (com a preocupação de explicitar o caráter dialógico dinamizador - presente na obra de Bakhtin) quanto a noção de gênero textual (quando se observa a configuração textual apresentada) são importantes na prática (clínica) com a linguagem. Quando se estuda a afasia, a partir da noção da linguagem em funcionamento, leva-se em consideração que estamos sempre nos remetendo a uma esfera da atividade humana, os enunciados (orais

7 e escritos) têm um conteúdo temático, organização componencial próprios e correlacionados às condições específicas e às finalidades de cada esfera de atividade e não a atividades descontextualizadas. Coudry, (1986/88); Novaes-Pinto (1992, 1999); (1996); Freire (1999, 2005); Fedosse (2000, 2008); Mármora (2000); Marcolino (2008) e Ishara (2008), entre outros, apresentam críticas a avaliação de linguagem em contextos patológicos a partir de uma abordagem tradicional, assentada em tarefas metalinguísticas, descontextualizadas e baseadas em uma concepção normativa e culta da língua. Esses trabalhos apontam, por meio de estudos de casos, que, no exercício de práticas que fazem sentido para o sujeito, relacionadas a práticas sociais com a linguagem, o sujeito afásico engajados nessas práticas exercem a competência comunicativa, sem desmerecer a condição de estar afásico, mas considerando-os como sujeitos de linguagem. Dessa forma, nas atividades em grupo, de acordo com o interesse, intencionalidade e finalidade (específicas de cada atividade), os enunciados linguísticos se realizam de maneiras diversas e os sujeitos afásicos servindo-se da língua, nas diferentes formas de incidência dos enunciados, ou seja, nos gêneros do discurso, estarão em uma prática (clínica) com a linguagem, em meio a um processo com variadas, heterogêneas e múltiplas maneiras de realização. 4. Considerações finais Verificamos que a noção de gênero (tanto discursivo, quanto textual) se encontra presente de forma diluída nos textos da ND, pois o trabalho com a linguagem na prática embasada nesse quadro teórico-metodológico leva em conta situações contextualizadas que ocorrem por meio de enunciados que se realizam de maneiras diversas, no uso concreto tanto oral quanto escrito e nas relações dialógicas, o que está na base da noção de gênero. Os trabalhos aqui citados evidenciam que mesmo os testes cujos pressupostos teóricos apresentam preocupação com uma caracterização social, com o padrão da lesão, a inserção e a história do sujeito, acabam por reduzir os aspectos avaliados a nomes a partir de funções metalinguísticas descontextualizadas. Dessa forma, por meio de atividades contextualizadas, que buscam a realização da atividade discursiva de linguagem (oral e escrita) de modo consciente, o sujeito afásico é considerado como sujeito que age com e sobre a linguagem sem as restrições dos testes.

8 Assim, como em Sampaio (2006), afirmamos que os problemas de linguagem como a afasia podem ser estudados considerando a relação língua(gem), cultura e sociedade. Neste trabalho, mobilizamos as noções de gênero (textual e de discurso) e de tipo textual para auxiliar também na caracterização do CCA, a partir da prática (clínica) com a linguagem que nele se exerce, como uma comunidade. Os sujeitos afásicos nesta comunidade são atuantes no curso de suas vidas, por meio do exercício - reflexivo e intersubjetivo - com a linguagem, a memória, a percepção, o corpo, tal como que se estabelece na sociedade em que se inserem. Pensando, também, nos gêneros como formas textuais estabilizadas, histórica e socialmente situadas e a sua natureza sóciocomunicativa. Acreditamos que olhar para o CCA comunidade de fala, o que está aprofundado em Sampaio (2006), a noção de gênero, a partir da prática (clínica) com a linguagem, nela exercida possibilita repensar os chamados programas de reabilitação correntes na prática terapêutica com sujeitos em estado de afasia, que pautam a avaliação e a terapia em tarefas essencialmente metalinguísticas (que ainda assim não recobrem a totalidade das atividades metalinguísticas) e não na linguagem em funcionamento e uso por sujeitos falantes. Com a descrição do funcionamento da comunidade CCA, a partir dessa prática (clínica) com a linguagem, esperamos ter mostrado que esses sujeitos precisam e desejam conviver em sociedade para que suas vidas façam sentido e sejam retomadas. Referências BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1991. BACHMANN, C. et al. Langage et Communications Sociales. Paris: Halier-Credif, 1981. COUDRY, M.I.H. (1986) Diário de Narciso - Discurso e Afasia. São Paulo: Martins, 1988. (1993) Neuropsicologia: aspectos biológicos e sociais. In: RODRIGUES, N. ; MANSUR, L.L.(Eds) Temas em Neuropsicologia e Neurolinguística Vol. I (3857 )São Paulo: Tec Art.-57) (1995) Intervenção neuropsicologia: um enfoque (1996) O que é o dado em Neurolinguística. In: CASTRO, M.F.P.(Org.) O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas, SP: Editora da UNICAMP.

9 (1997) 10 anos de Neurolinguística no IE, Cadernos de Estudos Linguísticos, 32: 09-23. (1999) Pressupostos teóricos e dinâmica de funcionamento do Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Mesa Redonda: Aspectos neuropsicológicos e discursivos: Centro de Convivência de Afásicos (CCA). In: IV Congresso Brasileiro de Neuropsicologia. Sociedade Brasileira de Neurologia, Rio de Janeiro, R.J. (2002a) Linguagem e Afasia: Uma abordagem discursiva da Neurolinguística, Cadernos de Estudos Linguísticos, 42, Campinas, IEL, UNICAMP, 99-129. (2002b) Conceitos de Afasia: clássico é clássico e vice-versa. Aula apresentada à Banca Examinadora do Concurso de Livre-docência do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Projeto Integrado em Neurolinguística: avaliação e banco de dados. CNPq: 521773/95-4 (impresso), 2006. COUDRY, M. I. H. & FREIRE F. M. P. O Pequeno Grande VV, Estudos Linguísticos XXXIV, p. 1009-1014, 2005. COUDRY, M. I. H.; POSSENTI, S. Do que riem os afásicos, Cadernos de Estudos Linguísticos 24. Campinas: Unicamp. 1993. ENSINAS, R. V. Reflexões sobre gêneros discursivos na afasia. Dissertação de mestrado. Pontificia Universidade Católica de São Paulo. 2007 FARACO, C. A. Linguagem e diálogo, as idéias linguísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar, 2003. FREIRE, F. M. P. Agenda mágica: linguagem e memória. Tese de Doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005. GANDOLFO, M. C. Às Margens do Sentido. São Paulo: Plexus. 1996. ISHARA, C. A-FA-SI-A: Um sujeiro em cena. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 2008. MACEDO, H. O. Os Gêneros Textuais Escritos e as Afasias: o Continuum Oralidade e Escrita em Evidência, Estudos Linguísticos XXXIV, p. 1111-1116, 2005. MARCOLINO, N. L. C. (Des)atenção e memória: um estudo neurolinguístico. Dissertação de Mestrado. IEL/ Unicamp. 2008. MARCUSCHI, L. A. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. In: SIGNORINI et al. (Org.). Investigando a relação oral/escrita e as teorias de letramento. Campinas/SP: Mercado das Letras. 2001.

10 MÁRMORA, C. H. C. Linguagem, afasia, (a)praxia: uma perspectiva neurolinguística. Dissertação de Mestrado. IEL/UNICAMP. 2000. NOVAES-PINTO, R.C. A contribuição do estudo discursivo para uma análise crítica das categorias clínicas. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 1999.. Uma reinterpretação do conceito de grau de severidade a partir de uma concepção enunciativo-discursiva de linguagem e dos relatos dos sujeitos afásicos sobre suas dificuldades, Estudos Linguísticos XXXV, p. 1730-1735, 2006. SAMPAIO, N. F. S. Uma abordagem sociolinguística da afasia: o Centro de Convivência de Afásicos (UNICAMP) como uma comunidade de fala em foco. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 2006. SANTANA, A. P. O. O lugar da linguagem escrita na afasiologia: implicações e perspectivas para a neurolinguística. Dissertação de Mestrado. IEL/ Unicamp. 1999. SAVILLE-TROIKE, M. (1982). The Ethnography of communication: an introduction. New York: Basil Blackwell.1989. SERON, X. Reeducação neuropsicológica: as abordagens cognitivista e pragmática. In: MANSUR, L.L.; RODRIGUES, N.(Orgs.). Temas em Neurolinguística. São Paulo: SBNp. 1993. NOÇÕES IMPORTANTES NA PRÁTICA (CLÍNICA) COM A LINGUAGEM: GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL NA NEUROLINGUÍSTICA DISCURSIVA Nirvana Ferraz Santos Sampaio Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar a importância das noções de gênero textual e tipo textual para a prática (clínica) com a linguagem a partir da Neurolinguística Discursiva. ABSTRACT: The aim of this paper is to show the importance of textual genre and textual type notions for the clinical practice with language from the Dircursive Neurolinguistics. 1. Introdução Neste artigo, pretendemos elucidar a importância das noções de gênero textual e tipo textual para a prática (clínica) com a linguagem exercida no Centro de Convivência

11 de Afásicos (CCA), do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Observa-se nessa prática (clínica) o distanciamento de abordagens de orientação reeducativa das práticas contemporâneas, quais sejam: a abordagem tradicional, a cognitiva e a abordagem pragmática, que veremos detalhadamente no item a seguir. 2. Abordagens: a tradicional, a cognitivista, a pragmática e a discusivamente orientada Empregamos o termo tradicional no mesmo sentido que lhe confere Coudry (1986/1988); essa autora se refere à Fonoaudiologia para a qual está ausente qualquer reflexão da Linguística ou a que a linguagem e a Linguística são usadas na avaliação e terapia da afasia de forma que impede a compreensão da afasia enquanto fenômeno. As tarefas realizadas nessa abordagem pelos pacientes com patologias de linguagem são descontextualizadas baseadas em atividades metalinguísticas. Assim, privilegia-se a linguagem escrita com exercícios baseados em: compreensão oral das palavras, de frases simples, de frases complexas; compreensão escrita de palavras, de frases simples, de frases complexas; escrita automática, cópia, ditado; leitura em voz alta de sílabas simples, palavras e frases simples e complexas; transcrição em letra cursiva de um texto escrito em letras maiúsculas; execução de ordens escritas; resumo de texto que acabou de ser lido; nomeação de objetos e expressão de pensamentos na forma escrita; leitura e escrita de palavras e não palavras; palavras de ortografia regular e irregular e palavras de função gramatical; identificação de palavras homófonas e heterógrafas; pseudo-homófonos de palavras irregulares; identificação de definições e de erros ortográficos de natureza visual, entre outras. A abordagem cognitiva assevera que é presumível descrever e compreender o funcionamento mental por meio de modelos de processamento de informação. Algumas críticas são feitas a essa corrente. Seron (1993, p.133), por exemplo, apresenta três críticas: (i) relacionada à natureza da ligação entre interpretação cognitiva da alteração e os procedimentos empreendidos no processo terapêutico; (ii) a falta de realismo; (iii) a falta de pragmatismo, ou seja, de contextualização e (iv) a falta de ajuda na determinação das operações específicas a serem realizadas em terapias. A abordagem pragmática, por outro lado, enfatiza as funções da linguagem, principalmente, a função comunicativa. De acordo com Seron (1993, p.140), as situações tradicionais de terapia fonoaudiológica são afastadas das situações habituais de comunicação vivenciadas pelos pacientes enquanto que na abordagem pragmática

12 buscam-se estratégias comunicativas para se observar o paciente. Entretanto, verifica-se que a Pragmática é usada aqui em meio a exercícios que visam isolar os déficits a serem reeducados, treinos a partir de tarefas que deverão se encaixar nas situações cotidianas. A abordagem Neurolinguística Discursiva (ND) leva em consideração a concepção de linguagem como atividade constitutiva historicamente concebida, abrangente e pública. Essa posição teórica leva em conta do papel central da cultura e da linguagem nas atividades psíquica ou cognitiva ao longo da história humana (Cf. Coudry, 1988, 1993, 1999, 2002a, 2002b). A avaliação da linguagem em contextos patológicos, nessa perspectiva, não pode ser dissociada das situações de uso social, verifica-se a presença de sujeito (e não paciente). Em relação ao sujeito na afasia, Coudry (2002a) afirma que há linguagem na afasia quando há sujeito e que afásico e não afásico partilham de um sentimento/atitude comum de incompletude frente à linguagem e à língua. A concepção abrangente e pública nessa Neurolinguística, segundo a autora, não é posta para banalizar a afasia, mas, ao contrário, para compreendê-la. Nessa perspectiva há lugar para o sujeito, o que torna possível estudar a linguagem pública usada por sujeitos afásicos. Será deste ponto de vista teórico que estaremos discutindo a relevância das noções de gênero e tipo textuais para a prática (clínica) com a linguagem nos próximos itens. 3. Noções de gênero e tipo textual na Neurolinguística Discursiva: a necessidade de contextualizar O ser humano em suas atividades cotidianas se serve da língua e de acordo com: interesse, intencionalidade e finalidade específicos de cada atividade, os enunciados linguísticos se realizarão de maneiras diversas. Isso incide diretamente na noção de gêneros do discurso em Bakhtin. A essas diferentes formas de incidência dos enunciados, o autor denomina gêneros do discurso, já que [...] cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados. (BAKHTIN, 1992, p. 277). Essa noção está na base da prática (clínica) com a linguagem porque esta se dá em meio a um processo com variadas, heterogêneas e múltiplas maneiras de realização. Verificamos o percurso da utilização dessa noção no banco de teses da biblioteca do IEL/UNICAMP. Após a tese fundadora dos estudos neurolinguísticos de orientação discursiva Coudry (1986/88), observa-se o desenvolvimento da proposta teóricometodológica da ND em trabalhos como: Novaes-Pinto (1994 e 1999), continuidade à

13 crítica aos testes-padrão; Gandolfo (1996), utilização de relatos, comentários sobre o telejornal, fábulas, piadas 3 nas sessões de acompanhamento de um sujeito com Síndrome Frontal e apontando a importância, de forma diluída, de se trabalhar com os diversos gêneros no acompanhamento terapêutico; Santana (1999), aborda a linguagem escrita na afasia, utilizando, também, a noção de gênero, ao trabalhar com o bilhete; Freire (2005) estuda um caso de Síndrome Frontal Leve e observa as relações entre linguagem, memória, corpo e percepção; para conduzir seu estudo de caso, a autora lança mão da escrita na Agenda Mágica, além da escrita de e-mails. A agenda é usada, nesse trabalho, como lugar de reconstrução da relação do sujeito com a escrita e com a sua subjetividade. Analisando cada um dos trabalhos supracitados quanto à mobilização da noção de gênero textual, verificamos que essa noção se encontra presente de forma diluída nos textos, pois o trabalho com a linguagem na prática embasada na ND leva em conta situações contextualizadas que ocorrem por meio de enunciados que se realizam de maneiras diversas, tanto oral quanto escrita, o que está na base da noção de gênero. Os acompanhamentos clínicos no Laboratório de Neurolinguística (LABONE) têm como um dos pontos centrais, de acordo com Coudry e Freire (2005), a linguagem em funcionamento, tanto na enunciação oral quanto na escrita. Observando as alterações em cada um dos níveis linguísticos na articulação entre eles. Dessa forma, o interesse, do ponto de vista clínico, está no uso da linguagem em diversos contextos verbais (temas, interlocutores, suportes, gêneros de discurso), considerando as condições de produção do discurso e as imagens que se fazem entre si os interlocutores, o que põe uma direção para os vários papéis enunciativos, que por sua vez se submetem a regras que regulam o uso da linguagem. Ensinas (2007), investiga a circulação de gêneros discursivos (a partir, principalmente, de BAKTHIN, 1952-53/1997) nas sessões coletivas do CCA e a forma como os sujeitos afásicos lidam com os recursos verbais de que dispõem além da inserção de recursos não verbais para expressar seu dizer/escrever/ler. Ao trazer a noção de gênero para o aporte teórico-metodológico, a ND se preocupa, também, a meu ver, com a noção de tipo textual (ou de configuração textual), 3 Sobre piadas, verificar o trabalho de Coudry e Possenti (1993) Do que riem os afásicos. Nesse trabalho, os autores ressaltam a importância de se observar a necessidade que tanto os ouvintes quanto os contadores de piadas tem de conhecer questões culturais e ideológicas problemáticas e complexas da sociedade, sem as quais as piadas não teriam razão de ser, pois esses seriam ingredientes fundamentais.

14 para tanto, consideramos, em parte, a distinção feita por Marcuschi (2001) entre gênero textual e tipo textual, a saber: Tipo textual: (também designado tipo de discurso) é aqui tomado como um construto teórico que abrange pouco mais de meia dúzia de categorias, designadas narração, argumentação, exposição, descrição injunção e, para alguns autores (p. ex., Adam, 1991), diálogo. Trata-se de um agrupamento pela natureza linguística do texto produzido. Mais do que textos concretos e completos, estas são designações para sequências típicas. Os tipos textuais não têm uma existência empírica. Gênero textual: (também designado gênero discursivo do (de) discurso) 4 é aqui tomado como uma forma textual concretamente realizada e encontrada como texto empírico, materializado. O gênero tem existência concreta expressa em designações diversas, contituindo, em princípio, conjuntos abertos. Podem ser exemplificados em textos orais e escritos tais como: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal índice remissivo, romance, cantiga de ninar, lista de compras, publicidade, cardápio, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, debate, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, fofoca, confissão, entrevista televisiva, inquirição policial, e-mail, artigo científico, tirinha de jornal, piada, instrução de uso outdooor etc. (MARCUSCHI, 2001, p. 42-43) Essas noções são levadas em conta na prática (clínica) com a linguagem no CCA onde são vivenciadas, verbal e não verbalmente, situações discursivas que ocorrem em um ambiente de linguagem em que interlocutores (afásicos e de não afásicos) constroem e partilham de vários interesses, papéis e conhecimentos que os identificam como falantes de uma língua natural; um ambiente em que a linguagem acontece em suas mais diversas formas, simples e complexas, heterogêneas, carregadas de marcas particulares e de dizeres/escritos partilhados; onde se abrem as mais diversas possibilidades de construção de sentidos entre interlocutores afásicos e não afásicos, mediados por recursos metodológicos e pelos acontecimentos de que se fala/escreve/lê/imagina na vida organizada em sociedade. (COUDRY, 2006, p. 3) 4 Neste trabalho, diferenciamos gênero textual de gênero do discurso.

15 Fazem parte das atividades linguístico-cognitivas desenvolvidas no CCA: dramatizar cenas da vida cotidiana, cozinhar, fazer festas, pintar e desenhar, dançar, cantar, assistir a filmes, ler e comentar o noticiário escrito e falado, bem como as anotações dos participantes em sua agenda, em cada uma dessas atividades, observa-se que os sujeitos envolvidos lançam mão da competência comunicativa. Consideramos que o conceito de competência comunicativa está encaixado na noção de competência cultural, ou totalmente fixada no conhecimento e habilidades que falantes trazem para uma situação comunicativa. Assim, ao nos depararmos com os eventos comunicativos no CCA e olhar para o conhecimento da língua não será suficiente apreendê-la somente do ponto de vista gramatical será necessário saber o que é social e culturalmente aceitável entre os seus falantes, a combinação entre o saber gramatical com saber social, teremos assim a competência comunicativa dos indivíduos. No repertório comunicativo, diversos gêneros farão parte da experiência de cada sujeito pertencente ao grupo. Entretanto, esse saber é compartilhado na comunidade de fala. Olhando para os gêneros, chegamos ao tipo textual (ou aos tipos) envolvido no que está materializado nas diversas práticas sociais presentes na prática (clínica) com a linguagem de orientação enunciativodiscursiva. A partir de Coudry (1986/1988) que discute a avaliação de sujeitos afásicos por meio de testes-padrão, a descontinuidade entre avaliação e o processo terapêutico privilegia o sujeito e confere-lhe um lugar prioritário em relação à afasia de que é portador; surge, dessa forma, a avaliação em meio a encontros dos sujeitos (afásicos e não afásicos) em episódios contextualizados que não mascaram os processos linguísticos de construção ou organização das significações. Apresenta-se aqui o fato de que há um vínculo entre a utilização da linguagem e a atividade humana, assim, todas as esferas da atividade humana estão sempre relacionadas com a linguagem. E essa utilização efetua-se em forma de enunciados que emanam de integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana (Cf. a leitura de FARACO, 2003, p. 111 sobre a obra de Bakhtin). Novaes-Pinto (2006), analisando o conceito de grau de severidade a partir de dados de sujeitos afásicos e em relação ao conceito bakhtiniano de querer dizer ou intuito discursivo, conclui que o grau de severidade apresentado nos testes metalinguísticos está longe de traduzir as dificuldades que os sujeitos têm na produção efetiva de linguagem. A abrangência do conceito de grau de severidade pode ser

16 expandida com a incorporação da análise de enunciados obtidos em situações dialógicas nos momentos em que os sujeitos afásicos avaliam suas dificuldades, comparando-as com as de outros sujeitos e com a sua atividade linguística anterior ao episódio neurológico. A autora afirma que como diria Bakhtin, tal conceito da forma como é abordado na literatura neuropsicológica faz parte do inventário de noções que contribuem para a formulação de teorias que são, a seu ver, ficção científica, que não contribuem para abordar o fenômeno real da linguagem humana, que só se dá em situações de uso concreto, nas relações dialógicas. (NOVAES-PINTO, 2006, p.1735) Nesse sentido, verificamos que tanto a noção de gênero do discurso (com a preocupação de explicitar o caráter dialógico dinamizador - presente na obra de Bakhtin) quanto à noção de gênero textual (quando se observa a configuração textual apresentada) são importantes na prática (clínica) com a linguagem. Quando se estuda a afasia, a partir da noção da linguagem em funcionamento, leva-se em consideração que estamos sempre nos remetendo a uma esfera da atividade humana, os enunciados (orais e escritos) têm um conteúdo temático, organização componencial próprios e correlacionados às condições específicas e às finalidades de cada esfera de atividade e não a atividades descontextualizadas. Coudry, (1986/88); Novaes-Pinto (1992, 1999); (1996); Freire (1999, 2005); Fedosse (2000, 2008); Mármora (2000); Marcolino (2008) e Ishara (2008), entre outros, apresentam críticas a avaliação de linguagem em contextos patológicos a partir de uma abordagem tradicional, assentada em tarefas metalinguísticas, descontextualizadas e baseadas em uma concepção normativa e culta da língua. Esses trabalhos apontam, por meio de estudos de casos, que, no exercício de práticas que fazem sentido para o sujeito, relacionadas a práticas sociais com a linguagem, o sujeito afásico engajados nessas práticas exercem a competência comunicativa, sem desmerecer a condição de estar afásico, mas considerando-os como sujeitos de linguagem. Dessa forma, nas atividades em grupo, de acordo com o interesse, intencionalidade e finalidade (específicas de cada atividade), os enunciados linguísticos se realizam de maneiras diversas e os sujeitos afásicos servindo-se da língua, nas diferentes formas de incidência dos enunciados, ou seja, nos gêneros do discurso,

17 estarão em uma prática (clínica) com a linguagem, em meio a um processo com variadas, heterogêneas e múltiplas maneiras de realização. 4. Considerações finais Verificamos que a noção de gênero (tanto discursivo, quanto textual) se encontra presente de forma diluída nos textos da ND, pois o trabalho com a linguagem na prática embasada nesse quadro teórico-metodológico leva em conta situações contextualizadas que ocorrem por meio de enunciados que se realizam de maneiras diversas, no uso concreto tanto oral quanto escrita e nas relações dialógicas, o que está na base da noção de gênero. Os trabalhos aqui citados evidenciam que mesmo os testes cujos pressupostos teóricos apresentam preocupação com uma caracterização social, com o padrão da lesão, a inserção e a história do sujeito, acabam por reduzir os aspectos avaliados a nomes a partir de funções metalinguísticas descontextualizadas. Dessa forma, por meio de atividades contextualizadas, que buscam a realização da atividade discursiva de linguagem (oral e escrita) de modo consciente, o sujeito afásico é considerado como sujeito que age com e sobre a linguagem sem as restrições dos testes. Assim, como em Sampaio (2006), afirmamos que os problemas de linguagem como a afasia podem ser estudados considerando a relação língua(gem), cultura e sociedade. Neste trabalho, mobilizamos as noções de gênero (textual e de discurso) e de tipo textual para auxiliar também na caracterização do CCA, a partir da prática (clínica) com a linguagem que nele se exerce, como uma comunidade. Os sujeitos afásicos nesta comunidade são atuantes no curso de suas vidas, por meio do exercício - reflexivo e intersubjetivo - com a linguagem, a memória, a percepção, o corpo, tal como que se estabelece na sociedade em que se inserem. Pensando, também, nos gêneros como formas textuais estabilizadas, histórica e socialmente situadas e a sua natureza sóciocomunicativa. Acreditamos que olhar para o CCA comunidade de fala, o que está aprofundado em Sampaio (2006), a noção de gênero, a partir da prática (clínica) com a linguagem, nela exercida possibilita repensar os chamados programas de reabilitação correntes na prática terapêutica com sujeitos em estado de afasia, que pautam a avaliação e a terapia em tarefas essencialmente metalinguísticas (que ainda assim não recobrem a totalidade das atividades metalinguísticas) e não na linguagem em funcionamento e uso por sujeitos falantes. Com a descrição do funcionamento da comunidade CCA, a partir

18 dessa prática (clínica) com a linguagem, esperamos ter mostrado que esses sujeitos precisam e desejam conviver em sociedade para que suas vidas façam sentido e sejam retomadas. Referências Bibliográficas BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1991. COUDRY, M.I.H. (1986) Diário de Narciso - Discurso e Afasia. São Paulo: Martins, 1988. (1993) Neuropsicologia: Aspectos biológicos e sociais. In: Temas em Neuropsicologia e Neurolinguística Vol. I (38-57). Rodrigues, N. & Mansur, L.L. (eds). São Paulo: Tec Art. (1996) O que é o dado em Neurolinguística. In: O método e o dado no estudo da linguagem (CASTRO, M.F.P.org.) Campinas, SP: Editora da UNICAMP. (1997) 10 anos de Neurolinguística no IEL. In: Cadernos de Estudos Linguísticos, 32: 09-23. (1999) Pressupostos teóricos e dinâmica de funcionamento do Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Mesa Redonda: Aspectos neuropsicológicos e discursivos: Centro de Convivência de Afásicos (CCA). In: IV Congresso Brasileiro de Neuropsicologia. Sociedade Brasileira de Neurologia, Rio de Janeiro, R.J. (2002a) Linguagem e Afasia: Uma abordagem discursiva da Neurolinguística. In: Cadernos de Estudos Linguísticos, 42, Campinas, IEL, UNICAMP, 99-129. (2002b) Conceitos de Afasia: clássico é clássico e vice-versa. Aula apresentada à Banca Examinadora do Concurso de Livre-docência do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Projeto Integrado em Neurolinguística: avaliação e banco de dados. CNPq: 521773/95-4 (impresso), 2006 COUDRY, M. I. H. & FREIRE F. M. P. O Pequeno Grande VV In: Estudos Linguísticos XXXIV, p. 1009-1014, 2005. COUDRY, M. I. H & POSSENTI, S. Do que riem os afásicos. In: Cadernos de Estudos Linguísticos 24. Campinas: Unicamp. 1993. ENSINAS, R. V. Reflexões sobre gêneros discursivos na afasia. Dissertação de mestrado. Pontificia Universidade Católica de São Paulo. 2007

19 FARACO, C. A. Linguagem e diálogo, as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar, 2003. FEDOSSE, E. Da Relação Linguagem e Praxia: Estudo Neurolinguístico de um caso de Afasia. Dissertação de Mestrado. IEL/ Unicamp, 2000. Processos Alternativos de Significação de um Poeta Afásico. Tese de Doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2008. FREIRE, F. M. P. Agenda mágica: linguagem e memória. Tese de Doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005. GANDOLFO, M. C. Às margens do sentido. São Paulo: Plexus. 1996. ISHARA, C. A-FA-SI-A: Um sujeiro em cena. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 2008. MACEDO, H. O. Os Gêneros Textuais Escritos e as Afasias: o Continuum Oralidade e Escrita em Evidência. In: Estudos Linguísticos XXXIV, p. 1111-1116, 2005. MARCOLINO, N. L. C. (Des)atenção e memória: um estudo neurolinguístico. Dissertação de Mestrado. IEL/ Unicamp. 2008. MARCUSCHI, L. A. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. In: Signorini et al. (org.). Investigando a relação oral/escrita e as teorias de letramento. Campinas/SP: Mercado das Letras. 2001. MÁRMORA, C. H. C. Linguagem, afasia, (a)praxia: uma perspectiva neurolinguística. Dissertação de Mestrado. IEL/UNICAMP. 2000. NOVAES-PINTO, R.C. A contribuição do estudo discursivo para uma análise crítica das categorias clínicas. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 1999.. Uma reinterpretação do conceito de grau de severidade a partir de uma concepção enunciativo-discursiva de linguagem e dos relatos dos sujeitos afásicos sobre suas dificuldades. In: Estudos Linguísticos XXXV, p. 1730-1735, 2006. SAMPAIO, N. F. S. Uma abordagem sociolinguística da afasia: o Centro de Convivência de Afásicos (UNICAMP) como uma comunidade de fala em foco. Tese de Doutoramento. Inédita. Campinas: IEL/UNICAMP, 2006. SANTANA, A. P. O. O lugar da linguagem escrita na afasiologia: implicações e perspectivas para a neurolinguística. Dissertação de Mestrado. IEL/ Unicamp. 1999. SAVILLE-TROIKE, M. (1982). The Ethnography of communication: an introduction. New York: Basil Blackwell.1989

20 SERON, X. Reeducação neuropsicológica: as abordagens cognitivista e pragmática. In: Mansur,L.L. & Rodrigues, N.(orgs.), Temas em Neurolinguística. São Paulo: SBNp. 1993.