de eucalipto e vegetação nativa no município de and native vegetations in the municipality of



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Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa no município de Capitão, Rio Grande do Sul Fabiane Rodrigues da Silva Fröhlich 1, Andreia Aparecida Guimarães Strohschoen 2, Claudete Rempel 3, Noeli Juarez Ferla 4 Resumo: Este estudo tem o objetivo de descrever a fauna de formigas arbóreas e de solo e comparar a diversidade deste grupo em floresta nativa e em eucaliptal no município de Capitão, Rio Grande do Sul. As formigas foram pesquisadas uma vez por mês, entre agosto e dezembro de 2008. Foram encontradas 20 morfoespécies de formigas, pertencentes a seis subfamílias, 11 tribos e 14 gêneros, sendo 833 indivíduos na vegetação nativa e 1.020 no eucaliptal. Foram exclusivas da vegetação nativa Azteca sp., Solenopsis sp.1, Crematogaster sp.1 e sp.2 e Labidus sp., enquanto no eucaliptal foram exclusivas Acromyrmex sp. e Atta sp. O índice de Margalef (D Mg ) demonstrou uma diversidade relativamente baixa de indivíduos para os locais estudados, sendo necessários estudos mais específicos sobre a taxonomia e ecologia das formigas nessa região com um maior tempo e maior número de coletas. Palavras-chave: Floresta nativa. Eucalyptus. Ecologia de formigas. Pit-fall. Diversity of ants (formicidae) in areas of eucalyptus and native vegetations in the municipality of Capitão, Rio Grande do Sul Abstract: This study aims to describe the arboreal and soil ant fauna and compare the diversity of this group in native forest and eucalypt plantation in the municipality of Capitão, Rio Grande do Sul. Ants were analyzed once a month between August and December 2008. We found 20 morphospecies of ants belonging to 6 subfamilies, 11 tribes and 14 genera, with 833 individuals in native vegetation and 1020 in eucalypt plantation. Azteca sp., Solenopsis sp.1, Crematogaster sp.1 and sp.2 and Labidus sp. were exclusive of native vegetation while Acromyrmex sp. and Atta sp. were exclusive of the eucalypt plantation. The Margalef (D Mg ) index showed a relatively low diversity of individuals for the sites studied, what requires further studies of the taxonomy and ecology of ants in this region for a longer time and with a larger number of samples. Keywords: Native Forest. Eucalyptus. Ecology of Ants. Pit-fall. 1 Bióloga Centro Unviersitário UNIVATES. 2 Bióloga, Doutora em Ecologia Centro Universitário UNIVATES e Universidade de Santa Cruz do Sul. 3 Bióloga, Doutora em Ecologia Centro Universitário UNIVATES. 4 Biólogo, Doutor em Entomologia Centro Universitário UNIVATES. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 109

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... 1 INTRODUÇÃO As formigas vêm sendo consideradas como um dos principais componentes biológicos de ambientes estruturalmente complexos como as florestas (FITKAU; KLINGE, 1973). Muitas espécies são consideradas detritívoras e/ou predadoras de outros insetos, contribuindo dessa forma para a reciclagem dos nutrientes e influenciando a dinâmica populacional de insetos herbívoros (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990). As comunidades de formigas podem ser modificadas tanto naturalmente quanto pelas atividades humanas, sendo que o grau de mudança depende especificamente da natureza do impacto, sua intensidade e duração (Rao; Terborgh; Nuñez, 2001). Os formicídeos são insetos dominantes na mesofauna constituinte de florestas de eucaliptos e matas secundárias heterogêneas (Vallejo; Fonseca; Gonçalves, 1987). Além disso, são organismos importantes e altamente organizados que procuraram alimento sob a superfície do solo, na serrapilheira ou sobre as plantas (FOWLER et al., 1991). Nos eucaliptais, exemplo de floresta industrial, o ambiente é simplificado, enquanto que na vegetação nativa é observada maior diversidade de espécies (OLIVEIRA et al., 1995). As plantações comerciais visam a suprir a crescente demanda de madeira como matéria-prima, podendo assim reduzir teoricamente o corte das florestas naturais remanescentes. No entanto, a implantação dessas florestas comerciais tem como resultado a alteração total dos hábitats naturais não só pela modificação do estrato arbóreo, da vegetação arbustiva e herbácea do sub-bosque (POGGIANI; OLIVEIRA, 1998), mas também pela perda da biodiversidade local devido às perturbações causadas pela sua implantação (VIANA, 1995). O plantio de Eucalyptus sp. (Myrtaceae) em forma de cultivos homogêneos ocupa grandes áreas do Estado do Rio Grande do Sul. A partir do momento que se reconheceu o valor de sua madeira, houve a preocupação de explorar mais racionalmente as áreas plantadas, enquanto os problemas ligados à conservação do ambiente e as consequências do plantio somente foram enfocados a posteriori (GOLFARI, 1975; LIMA, 1993), visto que muitos impactos sobre a biodiversidade têm sido detectados (PAULA, 1997; Peck; Mcquaid; Campbell, 1998; Louzada; Sanches; Schilindwein, 2000; ANDERSEN et al., 2002). O eucalipto é a essência florestal mais plantada no Brasil, pois apresenta crescimento rápido. Devido a esse aumento significativo na área plantada têm aumentado os problemas entomológicos com formigas cortadeiras, lagartas, cupins e besouros, com danos significativos aos reflorestamentos. Dessa forma, espécies nativas sem importância econômica passaram à condição de praga. Isso ocorreu, principalmente, em plantios homogêneos, que favoreceram o desenvolvimento de insetos, como formigas dos gêneros Atta e Acromyrmex que são de ampla distribuição geográfica, consideradas uma das principais pragas florestais das Américas (DELLA LUCIA, 1993). Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 110

Fabiane R. S. Fröhlich, Andreia A. G. Strohschoen, Claudete Rempel, Noeli J. Ferla Segundo Lima (1993), a diversidade de espécies da fauna está associada à quantidade, à distribuição e principalmente à qualidade dos recursos e aos atributos oferecidos pelos ecossistemas. Em geral, ambientes mais complexos suportam uma maior diversidade de nichos, resultando em uma maior quantidade de sítios para nidificação e de alimento para as formigas e diminuindo, assim, a competição entre as espécies coexistentes (GREENSLADE, 1971; LEVINGS, 1983; SAVOLAINEN; VEPSÄLÄINEN, 1988; MATOS et al., 1994; LEAL, 2002). Hábitats mais heterogêneos disponibilizam maior variedade de sítios para nidificação, alimento, microclimas e interações interespecíficas para as formigas se estabelecerem (BENSIN; HARADA, 1988; HÖLLDOBLER; WILSON, 1990; Reyes-Lopes; Ruiz; Fernandes-Haeger, 2003). Devido à abundância e à estabilidade das populações, as formigas são fáceis de amostrar, de identificação possível e sua diversidade tem sido correlacionada com o clima (BENSIN; HARADA, 1988), complexidade da vegetação (LEAL; LOPES, 1992; MAJER, 1997; LEAL, 2002), disponibilidade de recursos (LEVINGS; FRANKS, 1982; LEVINGS, 1983), grau de perturbação (ANDERSEN, 1995; VASCONCELOS, 1998) e interações interespecíficas (GRENSLADE, 1971; DAVIDSON, 1977). Estes organismos podem ser considerados um dos melhores grupos de Arthropoda para avaliação e monitoramento ambiental (MORAIS; BENSON, 1988; ANDERSEN, 1995). As formigas cortadeiras são insetos eussociais e estão disseminadas em todo o território nacional atacando praticamente todas as plantas cultivadas, causando elevados prejuízos à agricultura convencional, ao reflorestamento e às pastagens (LOECK; GRUTZMACHER, 2001). No estado do Rio Grande do Sul, as formigas cortadeiras predominantes pertencem aos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns), pertencem à tribo Attini e à subfamília Myrmicinae. Espécies destes gêneros cortam folhas e as transportam para o interior do formigueiro onde, em câmaras especiais, são utilizadas como meio de cultura de um fungo, do qual se alimentam. Segundo Loeck e Grutzmacher (2001), no RS são encontradas dez espécies de formigas cortadeiras pertencentes ao gênero Acromyrmex: A. laticeps (Emery 1905); A. crassispinus (Forel 1909); A. heyeri (Forel 1899); A. lundi (Guerin 1838); A. ambiguus (Emery 1887); A. striatus (Roger 1863); A. lobicornis (Emery 1887); A. coronatus (Fabricius 1804); A. landolti balzani (Emery 1890) e A. aspersus (F. Smith 1858), enquanto Gusmão e Loeck (1999), estudando apenas a Região Sul do Estado do RS, encontraram sete espécies: A. heyeri (Forel), A. lundi (Guerin), A. ambiguus (Emery), A. striatus (Roger), A. crassispinus (Forel), A. laticeps (Emery), A. lobicornis (Emery). Segundo Zanetti et al. (2002), o ataque realizado pelas formigas dos gêneros Atta e Acromyrmex são de maneira intensa e constante, podendo ocorrer danos em qualquer fase do desenvolvimento da planta, ocasionados por cortes de folhas, brotos, ramos finos e flores, os quais são carregados para o interior de ninhos subterrâneos. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 111

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... As formigas do gênero Atta caracterizam-se por possuírem três pares de espinhos no dorso do tórax e apresentam a superfície dorsal do gáster lisa e sem tubérculos. Os indivíduos que compõem a colônia apresentam elevado grau polimórfico (ANJOS; DELLA LUCIA; MAYHÉ-NUNES, 1998). Além disso, Loureiro e Queiroz (1990) ainda as caracterizam pelas carenas frontais muito separadas. As formigas pertencentes ao gênero Acromyrmex caracterizam-se por apresentar quatro ou mais pares de espinhos dorsais. Também apresentam o primeiro segmento do gáster com rugosidades com exceção para a espécie Atta striatus (LOECK; GRÜRTZMACHER, 2001). A principal subfamília de formigas cortadeiras é a Myrmicinae e dentre elas, os dois gêneros de maior importância agrícola são a Atta e a Acromyrmex (Lima; Della Lucia; Silva, 2001). Amante (1967) cita que um sauveiro adulto pode consumir uma tonelada de folhas de Eucaliptus sp. por ano. Dentro das estratégias de controle de formigas cortadeiras, o método químico é o mais utilizado e pode ser realizado de diferentes formas e com diferentes produtos (BARATA, 2009). Cada espécie apresenta hábito de corte diferente e nidificação própria, o que exige métodos de controle diferenciados, fato este já observado por Gonçalves (1945) quando citou que, embora as diferentes espécies de formigas cortadeiras possam ser combatidas de maneira semelhante, elas apresentam hábitos próprios, constroem formigueiros característicos, cortam plantas diversas e vivem em regiões determinadas. Matos et al. (1994) encontraram aumento da diversidade de formigas com o aumento da complexibilidade da vegetação e da serrapilheira. Oliveira et al. (1995) também relataram que existe variação na diversidade de formigas influenciadas pelas características do ambiente, verificando que quanto maior sua complexibilidade, maior a diversidade de espécies. Majer e Recher (1999) argumentaram que a serrapilheira produzida pelo cultivo de eucalipto apresenta baixa diversidade de organismos, comprometendo a ciclagem de nutrientes, entre outros processos. Para estudos da mimercofauna utiliza-se a armadilha do tipo pit-fall, que é um método bem conhecido de se amostrar artrópodos (MAJER, 1978; CASTRO; QUEIROZ; ARAÚJO, 1989) e a amostragem sobre plantas é importante pela riqueza em espécies que não é observada apenas com armadilhas de solo. Armadilhas iscadas com atum, sardinha, carne ou mel servem para a captura da maioria das formigas tropicais (ROMERO; JAFFE, 1989), com exceção das formigas cortadeiras saúvas e quenquéns. Constantemente, a biodiversidade de formigas tem sido estudada com o objetivo de compreender as perturbações ocasionadas pelas constantes simplificações dos ecossistemas naturais, como é o caso da monocultura de eucalipto (MAJER, 1996), pois além de responderem ao estresse do meio, as formigas apresentam ampla distribuição e abundância local, alta riqueza de espécies e são facilmente amostradas (ALONSO; AGOSTI, 2000). Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 112

Fabiane R. S. Fröhlich, Andreia A. G. Strohschoen, Claudete Rempel, Noeli J. Ferla São inexistentes as informações relativas à mirmecofauna em ambiente de mata nativa e eucaliptal no município de Capitão-RS, sugerindo a necessidade de avaliação da diversidade de formigas. Por apresentar regiões montanhosas, os produtores do município de Capitão investem na implantação de florestas industriais, em especial de eucalipto, pinus e acácia-negra, alterando assim o ambiente natural, que originalmente era composto pela Floresta Estacional, tanto decidual quanto ilhas de semidecidual (Rempel; Suertegaray; Jasper, 2001) e surgindo uma nova configuração estrutural. Dessa forma, o presente estudo objetivou o levantamento da fauna de formigas associadas a uma área de plantação de eucalipto e uma de mata nativa, comparando-se a diversidade desses insetos nos dois ambientes. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo Capitão é um município brasileiro do Estado do Rio Grande do Sul. Localiza-se a uma latitude 29º16 08 sul e a uma longitude 51º59 22 oeste, estando a uma altitude de 465 metros. Sua população estimada em 2004 era de 2 751 habitantes, numa área de 70,176 km². Este município integra a região da Encosta Inferior do Nordeste. O clima tropical úmido é ameno com uma temperatura média de 18 a 20º C, chuvas abundantes, geadas fortes de maio a setembro e nevoeiros frequentes. O relevo é formado em grande parte por regiões montanhosas onde predominam matas nativas de Floresta Estacional Decidual ou áreas de reflorestamento de eucaliptos (Eucalyptus saligna Smith), acácianegra (Acácia mearnsii De Wild) e pinus (Pinus elliotti Engelm). Sendo as terras montanhosas ou de difícil manejo, os produtores investem muito em reflorestamento, significando atualmente 20% da área total do município. A área de vegetação nativa era um fragmento de Floresta Estacional Decidual ainda preservado, sem registro de intervenção humana, com dossel superior bem definido, sub-bosque ralo, camada de serrapilheira variando de 5 a 18 cm e composição fitossociológica diversificada e abundante. A faixa de vegetação nativa encontrava-se entre um povoamento de acácia-negra com oito anos de idade e uma estrada de terra, compreendendo 7,6 ha de área total. A área de eucalipto era composta por E. saligna, no espaçamento 3,0 m x 3,0 m, altura e diâmetro médio de 32,5m e 68 cm, com cerca de 12 anos de idade, compreendendo 3,2 ha de área total, separados por estradas de terra. O sub-bosque era denso composto por plantas herbáceas, arbustivas e arbóreas típicas de vegetação nativa, com altura média de 1,80 m. Somente nos cinco primeiros anos de área plantada utilizou-se o controle químico localizado contra formigas cortadeiras com iscas formicidas seis vezes ao ano. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 113

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... Também não houve nenhum tipo de manejo após a plantação como roçada, desbastes, capinas ou outras práticas silviculturais comuns em plantações de eucalipto. 2.2 Métodos de coleta As coletas foram realizadas mensalmente no período de agosto a dezembro de 2008 nas duas áreas acima descritas. A amostragem das formigas nas áreas foi realizada com o uso de armadilhas do tipo pit-fall arbóreo (PA), semelhante ao realizado por Ribas et al. (2003) e pit-fall no solo (PS), semelhante a Majer (1997). A armadilha pit-fall consistiu de um recipiente de 10 cm de diâmetro e 10 cm de altura, enterrado no solo acompanhando a sua superfície. Em cada área selecionada foram delimitados três quadrados de 10 m x 10 m, distantes 50 m um do outro. A distância da borda foi de no mínimo 50 m. Em cada quadrado foram instaladas oito armadilhas no solo, totalizando 24 armadilhas por ambiente e seis armadilhas no tronco das árvores, totalizando 18 armadilhas em cada coleta, em plantas que apresentassem circunferência a altura do peito (CAP) igual ou superior a 60 cm e próximas aos pit-falls no solo. Cada armadilha de solo consistiu de dois copos plásticos de 200 ml encaixados um dentro do outro, enterrados no solo de modo que a borda do copo interno situou-se ao nível da superfície do solo. No interior do copo interno foram colocados 120 ml de água acrescida de algumas gotas de detergente e iscadas com mel na borda superior do copo. As gotas de detergente servem para quebrar a tensão superficial da água, fazendo com que o artrópode afunde. Após a instalação do copo externo esperou-se sete dias para colocar-se o copo interno e iniciar a coleta, evitando assim o digging-in effect, que é uma captura acentuada de invertebrados que se tornam mais ativos devido ao distúrbio provocado pelo revolvimento do solo (GREENSLADE, 1973). As armadilhas arbóreas foram instaladas a uma altura de 1,30 m do solo e também foram iscadas com mel, água e algumas gotas de detergente. As armadilhas permaneceram no campo por um período de 72 horas. Todas as formigas coletadas foram armazenadas em frascos com álcool 70%GL, devidamente etiquetados, para posterior triagem e identificação. Para evitar o efeito de borda foi dada uma distância de 200 m dos limites da área para iniciar a amostragem, garantindo a independência das amostras, semelhante ao realizado por Lucimeire et al. (2003). Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 114

Fabiane R. S. Fröhlich, Andreia A. G. Strohschoen, Claudete Rempel, Noeli J. Ferla 2.3 Triagem e identificação dos indivíduos A triagem dos espécimes coletados foi realizada no Laboratório de Ecologia do Centro Universitário UNIVATES. Em laboratório as formigas foram identificadas sob microscópio estereoscópio ao nível de subfamília e gênero com auxílio de chaves dicotômicas de Bolton (1994). Após a triagem, as formigas foram conservadas em microtubos tipo Eppendorf e pequenos recipientes de vidro contendo álcool 70%. Para a definição das morfoespécies foram analisadas somente características relativas à morfologia externa. 2.4 Análise dos dados No presente trabalho realizou-se o índice Jacknife 1, o qual, segundo Palmer (1991), representa com maior fidelidade a riqueza total de espécies da comunidade amostrada. A diversidade, geralmente expressa pela riqueza e pela abundância das espécies dentro da comunidade, é no caso de insetos sociais, foi avaliada por meio da frequência de registros obtidos; uma vez que o registro de um indivíduo obtido é indicador da probabilidade de encontrar-se uma colônia. A análise da diversidade de gêneros de formicídeos no presente estudo foi feita com o índice de Margalef (D Mg ), que expressa a riqueza ponderada pelo tamanho amostral (MARGALEF, 1956). O índice de Shannon-Wiener foi escolhido também como índice de diversidade não paramétrico. Para avaliar a distribuição das espécies nas áreas amostradas, foi utilizado o índice de equitabilidade. A Análise de Cluster foi utilizada para comparar o grau de aproximação (similaridade) das comunidades, tendo como base as frequências absolutas dos registros feitos para cada espécie, em cada comunidade; construído por meio do programa PAST, ver. 1.89 (Hammer; Harper; Ryan, 2001). Todos os cálculos dos índices de diversidade, similaridade para as áreas analisadas, foram realizados a partir do número de registros de cada espécie, para cada área, uma vez que as características sociais das formigas podem afetar estas análises, quando realizadas sobre os números absolutos de espécimes coletados (ROMERO; JAFFÉ, 1989). Para detectar possíveis diferenças entre o pit-fall arbóreo e o de solo entre a área 1 e a área 2, foi feita análise não paramétrica de Kruskal-Wallis. As análises de abundância entre as áreas analisadas foram realizadas com a aplicação do teste estatístico do quiquadrado (c 2 ). Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 115

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo foram coletados 833 espécimes na mata nativa e 1.020 espécimes no eucaliptal, sendo identificadas 20 morfoespécies, pertencentes a seis subfamílias, 11 tribos, 14 gêneros (TABELA 1). Tabela 1 Registros das morfoespécies de formigas capturadas com armadilhas do tipo pit-fall arbórea (PA) e de solo (PS) em área de vegetação nativa e eucaliptal. A presença de um organismo em uma armadilha bastou para considerar-se como registro naquele tipo de armadilha. Capitão, RS, agosto a dezembro de 2008. Subfamília Floresta nativa Floresta Industrial Pit-fall solo Pit-fall arbóreo Pit-fall solo Pit-fall arbóreo Subfamília Ponerinae Tribo Ponerini Pachycondyla sp. 1 X X X X Pachycondyla sp. 2 X X X X Hypoponera sp. 1 - X X - Hypoponera sp. 2 X X - X Hypoponera sp. 3 X - X - Subfamília Dolichoderinae Tribo Tapinomini Azteca sp. X X - - Tapinoma sp. X X X X Subfamília Myrmicinae Tribo Myrmicini Pheidole sp. X X X X Tribo Solenopsidini Solenopsis sp.1 X X - - Solenopsis sp. 2 X - X X Tribo Attini Acromyrmex sp. - - X X Atta sp. - - X - Tribo Crematogastrini Crematogaster sp.1 X X - - Crematogaster sp.2 - X - - Subfamília Formicinae Tribo Brachymyrmicini Brachymyrmex sp.1 X - X X Brachymyrmex sp. 2 - X - X Tribo Camponitini Camponotus sp. X X X X Tribo Lasiini Paratrechina sp. X - X X Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 116

Fabiane R. S. Fröhlich, Andreia A. G. Strohschoen, Claudete Rempel, Noeli J. Ferla Subfamília Floresta nativa Floresta Industrial Pit-fall solo Pit-fall arbóreo Pit-fall solo Pit-fall arbóreo Subfamília Ecitoninae Tribo Ecitonini Labidus sp. X X - - Subfamília Pseudomyrmicinae Tribo Pseudomyricini Pseudomyrmex sp. - X X X Total de registros 14 14 13 12 Na área de mata nativa foram encontradas 14 morfoespécies tanto no pit-fall de solo como no arbóreo; na área de eucaliptal foram 13 morfoespécies com pit-fall de solo e 12 com o arbóreo. Esperava-se encontrar maior número de espécies na mata nativa, conforme trabalhos realizados por Marinho et al. (2002) e Oliveira et al. (1995). Segundo estes autores, as áreas de vegetação nativa apresentam maior diversidade de espécies em comparação com os eucaliptais que são ambientes simplificados. Porém, acredita-se que pelo curto período de tempo de coleta e pela utilização de somente um método de coleta este número não reflita a realidade das áreas analisadas, devendo-se proceder a novas investigações e com outras metodologias de coleta. Quanto maior a complexidade da vegetação, maior a diversidade da comunidade de formigas que pode ser sustentada (SOARES et al., 2003). Embora estudos de correlação entre estes fatores não tenham sido objeto deste estudo, a disponibilidade de alimento e os locais para nidificação, que são mais abundantes e diversificados na área de mata nativa, explicam a diversidade de espécies encontrada neste nicho (TABELA 2). Tabela 2 Valores de riqueza de Jacknife 1, índice de diversidade de Margalef e de Shannon Wiener e equitabilidade por ambiente e método de coleta. Capitão, RS, agosto a dezembro de 2008. Amostras Mata nativa pit-fall solo Mata nativa pit-fall arbóreo Eucaliptal pit-fall solo Eucaliptal pit-fall arbóreo Diversidade de Margalef Diversidade de Shannon Wiener Riqueza de Jacknife 1 Equitabilidade 4,146 2,525 14,0 0,9567 3,687 2,518 21,0 0,954 3,942 2,331 21,7 0,9089 3,338 2,24 21,0 0,9015 Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 117

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... A subfamília que apresentou o maior número de indivíduos coletados foi a Myrmicinae. Esta predominância era esperada, pois este grupo é mais abundante e extremamente adaptável aos mais diversos nichos ecológicos na região Neotropical (FOWLER et al., 1991). Quanto ao número de indivíduos, destacam-se Pachycondyla sp. 2, Acromyrmex sp. e Atta sp. com maior número de indivíduos no eucaliptal. Os gêneros Acromyrmex e Atta agrupam formigas cortadeiras e podem estar associadas a áreas alteradas com grandes populações por ter acesso a maior disponibilidade de alimento e diminuição de predadores. Segundo Grürzmacher, Loeck e Medeiros (2002), no Rio Grande do Sul, as principais espécies de formigas cortadeiras pertencem aos gêneros Atta e Acromyrmex. Estes dois grupos cortam plantas e transportam os pedaços para os formigueiros, onde em câmaras especiais eles são utilizados como meio de cultura para cultivo de um fungo, do qual elas se alimentam. Pheidole sp. teve mais indivíduos encontrados na mata nativa e Labidus sp., as conhecidas formigas-de-correição, também. Apesar das formigas deste gênero serem bastante tolerantes às perturbações ambientais, como ocorre em área de eucalipto, neste estudo, não houve nenhuma ocorrência identificada. Acredita-se que isto tenha sido em função do método e do tempo de coleta empreendido no presente estudo. O índice de Margalef (D Mg ) demonstrou uma diversidade relativamente baixa para os locais estudados (TABELA 2). Segundo Odum (1985), áreas degradadas bem como ambientes com baixa diversidade tendem a ter alta dominância de espécies e baixo índice de diversidade. Os maiores valores de equitabilidade foram encontrados para a área com mata nativa, indicando uma distribuição mais uniforme da fauna de formicídeos nesta comunidade. Por meio do dendrograma (FIGURA 1) é possível observar que houve similaridade entre as populações da área de mata nativa e de eucaliptal, embora a monocultura ecologicamente represente uma barreira para o estabelecimento da diversidade da flora e da fauna. O povoamento foi capaz de exercer um papel sobre a fauna de formicídeos semelhante àquela exercida pela mata nativa. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 118

Fabiane R. S. Fröhlich, Andreia A. G. Strohschoen, Claudete Rempel, Noeli J. Ferla Legenda: 1 Mata nativa pit-fall solo, 2 Mata nativa pit-fall arbóreo, 3 Eucaliptal pit-fall arbóreo e 4 Eucaliptal pit-fall solo. Figura 1 - Análise de Cluster baseada nos registros para cada ponto de amostragem, analisando a similaridade entre as populações de formigas em áreas de mata nativa e eucaliptal. Capitão, RS, agosto a dezembro de 2008. Comparando-se os métodos de amostragem, observou-se que houve diferença estatística significativa, para um a = 0,05, entre o pit-fall no solo e na parte arbórea na área 1 e na área 2 (c 2 = 13,054; p = 0,0003). Não se observou diferença estatística significativa, para um a = 0,05, entre o pit-fall no solo e na parte arbórea da área 1 (H = 0,0311; p (Kruskal-Wallis) = 0,8601), da mesma forma, não há diferença estatística significativa entre o pit-fall no solo e na parte arbórea área 2 (H = 0,9402; p (Kruskal-Wallis) = 0,3322). Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 119

Diversidade de formigas (formicidae) em áreas de eucalipto e vegetação nativa... Neste mesmo sentido, não houve diferença estatística significativa entre o pit-fall no solo entre a área 1 e a área 2 (H = 0,0158; p (Kruskal-Wallis) = 0,8999), assim como não há diferença estatística significativa entre o pit-fall na parte arbórea da área 1 e da área 2 (H = 1,6490; p (Kruskal-Wallis) = 0,1991). Acredita-se que estes resultados devem-se às limitações da metodologia empreendida, pois segundo Wall e Morre (1999), esperava-se maior riqueza de formigas no solo do que nas plantas, visto que a maioria das espécies está associada ao solo e à serrapilheira. Com isso, o presente estudo sugere que a riqueza específica não depende somente da complexibilidade dos ambientes estudados; apesar da aparente pobreza do cultivo do eucalipto na manutenção da diversidade em geral. É evidente que os ecossistemas nativos preservam inúmeros elementos de diversidade da fauna e flora e que a antropização desses ambientes interfere grandemente na manutenção da diversidade. As formigas podem ser bioindicadores de ambientes degradados, porém para uma melhor análise do grau de integridade da região estudada são necessários estudos posteriores que utilizem maior número de coletas e com outros métodos de coleta também. REFERÊNCIAS ALONSO, L.E.; AGOSTI, D. Biodiversity studies, monitoring, and ants: an overview. In: AGOSTI, D. et al. (Eds.) Ants: standard methods for measuring and monitoring biodiversity. Washington: Smithsonian Institution Press. 2000. p. 1-8. AMANTE, E. Prejuízos causados pela formiga saúva em plantações de Eucaliptus e Pinus no Estado de São Paulo. Silvicultura em São Paulo, v.6, p. 335-363, 1967. ANDERSEN, A. N. A classification of Australian ant communities, based on functional groups which parallel plant life forms in relation to stress and disturbance. Journal of Biogeography, n. 22, p. 15-29, 1995. ANDERSEN, A.N. et al. Using ants as bioindicators in land management: simplifying assessment of ant community responses. Journal of Applied Ecology, v. 39, p. 8-17, 2002. ANJOS, N.; DELLA LUCIA, T. M. C.; MAYHÉ-NUNES, A. J. Guia prático sobre formigas cortadeiras em reflorestamentos. Ponte Nova: Graff Cor, 1998. BARATA, G. Avanços no conhecimento não impedem dificuldades no controle das cortadeiras. Ciência e Cultura, v. 61, n. 3, 2009. Disponível em: <http://cienciaecultura. bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s000967252009000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 fev. 2010. BENSON, W.W.; HARADA, A. Y. Local diversity of tropical and temperate ant faunas. Acta Amazonica, v. 18, p. 275-289, 1988. BOLTON, B. Identification guide to the ant genera of the world. Massachusetts: Harvard University Press, 1994. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 8, n. 2, p. 109-124, 2011 120

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