MULHERES E ARTESANATO NO RIO GRANDE DO SUL: TENSIONANDO TRABALHO E EDUCAÇÃO



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Transcrição:

MULHERES E ARTESANATO NO RIO GRANDE DO SUL: TENSIONANDO TRABALHO E EDUCAÇÃO Márcia Regina Becker- UNISINOS Bolsista CAPES/PROEX Eixo 5: Trabalho-educação e a formação dos trabalhadores (educação profissional, tecnologias da educação, trabalho como princípio educativo) Resumo: Atualmente, o campo educacional ainda desconhece o artesanato no Rio Grande Sul, visto a inexistência de currículos na educação formal voltados para a profissionalização de artesãos. Ainda há poucos estudos qualitativos voltados para esse campo. Também são escassos os estudos quantitativos. Nesse sentido, propomos apresentar alguns dados quantitativos e que aqui serão analisados. Levaremos ainda em consideração nossa participação em Projeto de Pesquisa, durante o curso de graduação como bolsista de iniciação científica no qual acompanhamos mulheres tecelãs num atelier de tecelagem localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre. A imersão neste projeto nos levará a algumas análisesqualitativas em conjunto com a análise dos dados quantitativos. Os dados quantitativos foram coletados junto ao PGA e elaborados durante trabalho de conclusão de cursode ensino superior e pretende-se neste evento poder divulgar essa pesquisa que terá sua continuidadeno curso de mestrado. O trabalho pretende tencionar o campo da educação com o do artesanato com o objetivo de trazer reflexões para a formação de mulheres artesãs. Palavras-chave: Mulheres, artesanato, educação, Rio Grande do Sul. Introdução Observa-se um grande movimento, nos últimos anos, em que o artesanato e a arte popular vêm sendo alvos de discussões de políticas governamentais. Fato esse que levanta a suspeita da decorrência de uma tentativa de tirar da informalidade muitos trabalhadores e trabalhadoras que se situam no campo do trabalho artesanal. Resultado da pesquisa realizada para o trabalho de conclusão de curso no curso de Pedagogia, este texto pretende apresentar dados sobre o artesanato e os artesãos no Rio Grande do Sul e apontar reflexões no campo da educação para a formação de mulheres artesãs. O artesanato é uma atividade permanentemente regulamentada no Rio Grande do Sul. A Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), órgão ligado a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, é a instituição responsável pelo artesanato e pela legalização da profissão de artesão no Rio Grande do Sul, por meio do Programa Gaúcho de Artesanato (PGA), que é regulado por leis e decretos, sendo dessa forma que são coordenadas as atividades artesanais no estado. O PGA possui como sede administrativa a Casa do Artesão em Porto Alegre, onde são elaboradas políticas públicas para o setor artesanal, tais como: de profissionalização, de qualificação e de comercialização.a FGTAS, juntamente com o PGA, elaboram, anualmente, relatórios com dados sobre o artesanato e os artesãos no estado. Esses relatórios são elaborados com base nas fichas cadastrais dos artesãos.

2 O objetivo aqui é apresentar alguns dados que podem fornecer uma visão geral sobre a atual situação do artesanato e dos artesãos no Rio Grande do Sul. Tomaremos por base os últimos relatórios elaborados pela FGTAS e pelo PGA, ou seja, dos anos de 2008, 2009 e 2010. Atualmente, o PGA responsável pelo cadastro dos artesãos classifica-os em duas modalidades: uma é a que se refere aos artesãos ativos e a outra aos inativos. Os artesãos ativos são aqueles que estão com toda a documentação em dia junto ao PGA, ou seja, estão com seu cadastro atualizado. Todo artesão deve, conforme consta na legislação em vigor, (FGTAS, 2010a) renovar a cada dois anos a sua carteira profissional, sendo que para as pessoas idosas esse tempo é determinado para cada quatro anos. Dessa maneira, os artesãos inativos são todos aqueles que deixaram de renovar a sua carteira profissional, o que não quer dizer que deixaram de exercer a atividade, podendo estar apenas em falta com a documentação exigida. Os dados que serão apresentados a seguir serão importantes para entendermos a atualidade do artesanato no estado, a fim de que possamos contribuir na construção de políticas educacionais para os trabalhadores nesse campo de trabalho. Por fim, nas considerações finais deste texto apresentaremos algumas considerações cruzando esses dados com as observações realizadas junto ao trabalho de um grupo de mulheres tecelãs. Percentual de artesãos cadastrados por sexo Observemos, na tabela a seguir, os dados sobre o número total de artesãos ativos e inativos por sexo, cadastrados até dezembro de 2010. Tabela 1 - Número de artesãos ativos/inativos por sexo em 2010 SEXO MASCULINO % FEMININO % SOMA Artesãos Cadastrados Ativos 7.336 21 26.870 79 34.206 Artesãos Cadastrados Inativos 8.763 23 29.896 77 38.659 SOMA 16.099 22 56.766 78 72.865 Fonte: FGTAS ([2011]) Até dezembro de 2010, o PGA apresenta em seus cadastros um total de 72.865 artesãos entre ativos e inativos, sendo que as mulheres são maioria tanto na ativa como na inativa. Dos artesãos ativos, ou seja, aqueles que realmente estão em dia com o exercício da atividade artesanal perante o PGA, 34.206 são mulheres e 7.336 apenas são homens, o que mostra que 79% dos artesãos ativos são mulheres. Vejamos como os dados apresentados na tabela acima se distribuem em anos anteriores como em 2008 e 2009.

3 Tabela 2 Número de artesãos ativos/inativos por sexo em 2008 SEXO MASCULINO % FEMININO % SOMA Artesãos Cadastrados Ativos 5.947 22 21.307 78 27.254 Artesãos Cadastrados Inativos 9.011 23 30.753 77 39.764 SOMA 14.958 22 52.060 78 67.018 Fonte: FGTAS ([2009]) Tabela 3 Número de artesãos ativos/inativos por sexo em 2009 SEXO MASCULINO % FEMININO % SOMA Artesãos Cadastrados Ativos 6.715 22 24.358 78 31.073 Artesãos Cadastrados Inativos 8.850 23 30.238 77 39.088 SOMA 15.565 22 54.596 78 70.161 Fonte: FGTAS ([2010b]) Considerando-se as três tabelas apresentadas acima, houve um crescimento significativo de 2008 para 2010 com 5.847 novos artesãos. Esse aumento no número de artesãos ocorreu gradativamente de 2008 para 2009 com 3.143 e de 2009 para 2010 com 2.704 artesãos novos. As mulheres são as que mais contribuíram nesse avanço. Outro dado importante a ser analisado é o de artesãos inativos, que para o PGA são os artesãos que não estão em dia com as renovações da Carteira do Artesão. Não se sabe se todos os inativos continuam na atividade, sendo que nesse caso estariam trabalhando irregularmente, ou se deixaram de exercer a profissão e por isso não realizam a renovação do cadastro do artesão. Uma das hipóteses que podemos levantar é a de que os inativos estão praticando outras atividades de trabalho ou outras profissões e têm no artesanato uma segunda profissão que somente exercem na ausência de outra ocupação que lhes traga retorno financeiro. Outra hipótese é a de que os artesãos não estariam dando devida importância para a Carteira do Artesão e por isso não estariam realizando a renovação. Para essa hipótese, temos por base algumas conversas realizadas com artesãs no setor da tecelagem em que elas nos relataram possuírem a Carteira de Artesão, mas não realizam a renovação pelo fato disso ter um custo e também porque a carteira não estaria trazendo benefícios para elas. Não temos aqui dados mais fundamentados que possam comprovar essas hipóteses por nós levantadas, no entanto, o número de artesãos inativos é um número bem elevado ultrapassando inclusive em 2010 do total de artesãos ativos, ou seja, do número total de artesãos cadastrados pelo PGA em 2010 mais da metade são inativos. Isso também nos leva a pensar que a atual política de governo adotada nesse campo de trabalho não esta sendo eficiente o suficiente para manter o diálogo com aqueles que, tendo uma vez procurado o PGA, não conseguem manter sua situação de regularidade perante o programa. Dessa

4 maneira, o próprio programa necessitaria ser investigado para podermos entender de fato um pouco melhor as ações do PGA no Rio Grande do Sul além de uma investigação que pudesse fornecer subsídios para entender a atual situação dos artesãos tanto ativos como inativos. O número de inativos, tanto de homens como de mulheres, gradativamente vem caindo, o que pode ser um indicativo de que esteja ocorrendo um movimento o qual poderíamos chamar de: movimento de retorno ao artesanato. Nesse movimento de retorno, as mulheres estão se movendo mais do que os homens, uma vez que, no período de 2008/2009, 515 artesãos do sexo feminino migraram da situação de inativo para ativo. O número de homens que realizaram esse mesmo movimento, no mesmo período, foi de apenas 161. No período seguinte, correspondente a 2009/2010, 342 artesãos do sexo feminino migraram da situação de inativo para ativo e apenas 87 homens voltaram para a ativa. A soma do número de mulheres que desde 2008 até 2010 voltaram para o artesanato é de 857, enquanto que apenas 248 homens retornaram a exercer a profissão de artesão no mesmo período. Não temos aqui instrumentos e dados o suficiente para realizar uma análise mais aprofundada a respeito do porque desse movimento de retorno ao artesanato. Um dos motivos de retorno, ou seja, da efetiva renovação da Carteira do Artesão possa estar ligado ao fato de que, para expor e vender em feiras de artesanato, os artesãos necessitam estar em dia com o cadastro. No entanto, acreditamos que existam variados fatores que possam estar contribuindo para o aumento das mulheres no campo do artesanato e principalmente no retorno delas para a atividade artesanal. Mesmo que exista uma política orientadora da atividade artesanal, por meio de leis e manuais elaborados pelo estado que determinam o que é e como deve ser a prática da atividade, isso não quer dizer que o artesanato é um campo livre da atual precarização do trabalho, assim como passivo de uma análise da divisão sexual do trabalho1. Talvez pudéssemos pensar o próprio artesanato como uma espécie de escape, de fuga antes de tudo, mas que por isso mesmo acaba alimentando a precarização e a flexibilização do trabalho, pois sabemos das condições atuais em que o trabalho e o emprego se encontram: precários e flexíveis. Nessas condições, o próprio artesanato pode estar se constituindo, ele mesmo, em uma forma de trabalho precário resultado da flexibilização2 que atinge hoje de maneira generalizada as áreas da atividade produtiva. 1 Veja-se em Hirata (2009) sobre uma explicação da precarização e da divisão sexual do trabalho que atinge as mulheres no mundo. Ainda os estudos de Eggert (2010) sobre a precarização do artesanato que atinge mulheres das camadas populares no Sul do Brasil. 2 Veja-se em Hirata (2007) a definição e a dimensão da flexibilidade que atinge o trabalho e o emprego no mundo.

5 O simples fato de poder ser realizado no espaço da vida privada e sem a proteção de direitos trabalhistas é um exemplo bem claro da situação descrita acima, isso quando o caso não é mais extremo e se constitui em maneiras de exploração por organizações tais como associações e cooperativas de fachada que funcionam aparentemente na legalidade mas conseguem burlar fronteiras legais e usurpar da mão de obra e de todo processo de criação da artesã. As suspeitas recaem sobre a precarização do artesanato, pois sabemos muito bem que essa é uma atividade de trabalho realizada em grande parte pelas mulheres no espaço da casa, junto com o trabalho doméstico e no cuidado dos filhos. Em um estudo realizado no Ceará com mulheres artesãs, pesquisadoras retratam da seguinte maneira a situação daquelas mulheres e exemplificam a precarização do trabalho artesanal ao qual estamos querendo apontar: Todas as entrevistadas tinham a casa como espaço de produção e reprodução social, utilizada para fins de moradia e também como espaço de trabalho. Isso possibilita que, dentre outros, o lócus da produção artesanal dilua-se com o mesmo dos afazeres domésticos, modificando de forma intensa as relações na esfera privada. Essas mulheres encaram uma dupla, por vezes, tripla jornada de trabalho no espaço do lar (BARROSO; FROTA, 2010, p. 6). Eggert et al. (2011) fornece mais subsídios para pensarmos na questão da precarização do trabalho artesanal a partir da pesquisa que realiza em um atelier de tecelagem com um grupo de tecelãs. A precarização do trabalho ocorre duplamente para essas mulheres, tanto no trabalho de tecelagem como no trabalho das atividades domésticas. No atelier, encontramos condições que nos permitem considerar o trabalho de tecer precário pela falta de estrutura física do imóvel, pela baixa renda, pela pouca perspectiva de formação e crescimento profissional e pela dificuldade em ampliar e garantir os direitos trabalhistas, pois a participação nas cooperativas implica tempo que precisa ser investido por meio de horas de reuniões, coisa que nem sempre as mulheres conseguem conciliar. (...) Encontramos, portanto duas formas imbricadas no artesanato realizado por mulheres se assim pudermos chamar uma que é a invisibilidade do trabalho da tecelagem e outra que é a precarização da atividade artesanal (EGGERT et al., 2011, p. 82). Somente a partir dos dados elaborados pela FGTAS/PGA, não é possível fazer uma reflexão mais aprofundada sobre a precarização do artesanato, pois os dados quantitativos aos quais tivemos acesso não nos permitem realizar conclusões e diagnósticos mais seguros, ficando nas entrelinhas muitas questões. São necessárias investigações empíricas de caráter qualitativo a fim de realizar uma discussão mais aprofundada sobre a realidade no artesanato

6 gaúcho e brasileiro tendo em vista a precariedade no trabalho artesanal de mulheres, em especial. Percentual de artesãos cadastrados por idade PGA. Os dados a seguir nos fornecem o percentual por idade dos artesãos cadastrados pelo Tabela 4 Número de artesãos ativos/inativos por idade em 2010 IDADE Artesão ativo % Artesão Inativo % Até 20 anos 256 0,75 43 0,11 De 21 a 30 anos 3.250 9,50 1.389 3,59 De 31 a 40 anos 6.370 18,62 6.424 16,62 De 41 a 50 anos 8.458 24,73 9.590 24,81 De 51 a 60 anos 8.706 25,45 9.474 24,51 De 61 a 70 anos 5.177 15,13 6.441 16,66 Acima de 70 anos 1.649 4,82 4.465 11,55 Não Respondeu 340 0,99 833 2,15 Soma 34.206 100,00 38.659 100,00 Fonte: FGTAS ([2011]) Observa-se que o maior contingente de artesãos (ativos e inativos) se concentra nas faixas etárias que vão dos 41 aos 50 anos e dos 51 aos 60 anos. Somando-se os artesãos ativos dessas duas faixas etárias, temos uma soma de 50.18% da categoria de artesãos ativos, ou seja, a metade dos ativos está nessas faixas etárias. O percentual se repete na categoria de inativos, onde alcança a somatória de 49,32% do total nessa categoria, ou seja, faltando 1% para alcançar a metade. Em segundo lugar, na categoria dos artesãos ativos, aparece à faixa etária de 31 a 40 anos com 18,62% do total de ativos e em terceiro lugar, na mesma categoria, se destacam os artesãos na faixa etária de 61 a 70 anos com 15,13%. Ficando em quarto lugar a faixa etária dos 21 a 30 anos com 9,50% dos ativos. O percentual de artesãos com até 20 anos é bem pequeno chegando apenas a 0,75% do total dos ativos, já o percentual de artesãos acima de 70 anos é até um tanto significativo: 4,82% do total de ativos. Esses percentuais se aproximam em anos anteriores apresentando pouca alteração. Se somarmos os artesãos ativos entre 31 a 70 anos, teremos 83,93% do total de ativos. Podemos, portanto, afirmar que a maioria dos trabalhadores no artesanato gaúcho são mulheres adultas. Chama a atenção o fato de a faixa etária de maior concentração de artesãos ser aquela em que se sabe que as mulheres gradativamente vão apresentando mais dificuldades de inserção em outras atividades de trabalho, sendo que isso está muito relacionado com a escolaridade.

7 Percentual de artesãos cadastrados por escolaridade Esse texto tem o intuito de provocar reflexões no campo da educação formal tendo em vista o artesanato.o nível de escolaridade é sempre um dado relevante a ser analisado. Na tabela a seguir, apresentamos os dados relativos à instrução escolar. Tabela 5 Número de artesãos ativos/inativos por grau de instrução escolar em 2010 INSTRUÇÃO Artesão ativo % Artesão Inativo % Sem instrução 311 0,91 590 1,53 1º grau incompleto 7.396 21,62 10.143 26,24 1º grau completo 4.063 11,88 6.017 15,56 2º grau incompleto 3.069 8,97 3.479 9,00 2º grau completo 10.453 30,56 9.465 24,48 Superior incompleto 3.137 9,17 2.820 7,29 Superior completo 3.922 11,47 4.657 12,05 Não respondeu 1.227 3,59 1.330 3,44 Pós graduação 628 1,84 158 0,41 Soma 34.206 100,00 38.659 100,00 Fonte: FGTAS ([2011]) A partir dessa tabela, observamos que 43,38% dos artesãos ativos não concluíram seu estudo até o ensino médio, o que pode ser considerado como um índice alto e que 30,56% dos ativos apresentam o ensino médio concluído. Entre aqueles e aquelas que avançaram os estudos no ensino superior, se somadas as categorias de ensino superior incompleto, completo e com pós-graduação, alcançam 22,48% do total. O fato de a maioria dos artesãos ativos no estado ser formada por mulheres (79%) que estão situadas na faixa dos 31 aos 70 anos (83,93%) e somarem 43,38% entre as que não concluíram os estudos até o ensino médio são dados que merecem nossa atenção e necessitam ser analisados também pelo viés do gênero, cabendo algumas perguntas aqui: porque as mulheres mais do que os homens estão neste campo de trabalho? Porque o nível de instrução é tão baixo e porque não existem cursos específicos no ensino formal de formação profissional para mulheres artesãs? Sabemos que os dados apresentados até aqui tem grande importância, pois permitem, mesmo que de uma maneira generalizada, dar rosto ao artesanato e aos artesãos. Eggert (2010), ao acompanhar o grupo de mulheres tecelãs, aponta para a dificuldade que elas enfrentam em avançar seus estudos no ensino formal: Das cinco tecelãs que hoje freqüentam o ateliê uma esta cursando o ensino médio e as outras todas tiveram que abandonar a escola em diferentes estágios a partir da sétima série do ensino fundamental. Em algumas das conversas entabuladas durante a observação participante onde elas seguiam tecendo e nós acompanhávamos ajudando no preenchimento de navetes ou simplesmente olhando o tecer delas, elas

8 nos relataram que tentaram voltar para os cursos de Educação de Jovens e Adultos - EJA, mas rapidamente perceberam que não seria possível cursar. O trabalho no atelier, que depende das encomendas, gera um ritmo as vezes mais intenso e as vezes mais lento. Isso faz com que em semanas de entrega de pedido algumas delas chegavam atrasadas todos os dias e nem todos os professores eram compreensivos com essa realidade. Havia ainda o comprometimento de trabalho na família que fazia com que três das cinco precisa dedicar um tempo maior para o pai doente ou os filhos pequenos (EGGERT, 2010, p. 4-5) Esse dado empírico é uma forte evidência para aquilo que Rosenberg (1994) e Nogueira (2003) dizem a respeito das limitações e dificuldades especificamente enfrentadas por parte das mulheres no que diz respeito ao acesso a escola. Mesmo que o nível de escolaridade das mulheres tenha se elevado nos últimos anos e em parte tendo ultrapassado os anos de escolaridade dos homens, conforme essas autoras, as mulheres principalmente de baixa renda ainda apresentam dificuldades no acesso à escola. Percentual de artesãos ativos cadastrados por renda Suzana Albornoz (2011), no prefácio ao livro sobre o artesanato praticado por mulheres no Rio Grande do Sul,aponta que o artesanato é na vida das mulheres, um instrumento útil para a sobrevivência econômica e para a autonomia social delas. Não obstante, é do artesanato que muitas mulheres conseguem tirar sua única fonte de renda e também um pouco de reconhecimento social. Ao acompanhar a tabela a seguir, podemos observar a renda que mulheres e homens adquirem com esse trabalho. Tabela 6 Renda dos artesãos em 2010 RENDA COM ARTESANATO Artesão ativo - % Sem Renda 4,4 De 01 a 03 Salários Mínimos 82,5 De 03 a 05 Salários Mínimos 8,8 De 05 a 08 Salários Mínimos 2,7 Mais de 08 Salários Mínimos 1,6 Soma 100,0 Fonte: FGTAS ([2011]) Percebe-se que o ganho financeiro da maioria dos artesãos é pequeno estando entre um a cinco salários mínimos. Pelos dados da FGTAS/PGA, não conseguimos identificar os ganhos totais do núcleo familiar de cada artesão, mas certamente é com a renda desse trabalho que muitas mulheres, possivelmente, mantêm o gerenciamento do lar, como acontece com as tecelãs do atelier de tecelagem o qual temos acompanhado, em que elas, na sua maioria, mantêm sozinhas a casa e os filhos com o dinheiro que conseguem tecendo.

9 Percentual de artesãos cadastrados por Corede e por Região Funcional de Planejamento Conforme Rio Grande do Sul (2011a), os Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEssão um fórum de discussão e decisão a respeito de políticas e ações que visam o desenvolvimento regional. Seu principal objetivo é a promoção do desenvolvimento regional. A divisão regional conta atualmente com 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento. Para fins de melhor planejamento, os COREDEs são agregados em nove Regiões Funcionais de Planejamento - RF. Tendo em vista que para tomadas de ações educacionais do campo formal de ensino, especialmente no caso da implantação de currículos para a formação profissional de artesãos e artesãs, como por exemplo, torna-se necessário o conhecimento da distribuição dos artesãos e das artesãs no território do nosso estado. Por isso, apresentamos logo abaixo duas tabelas com a distribuição por percentual de artesãos nas COREDEs e nas nove Regiões Funcionais de Planejamento (RF). Tabela 7 Percentual de Artesãos Ativos por COREDE em 2009 CÓDIGO COREDES NOME COREDES MUNICÍPIO SEDE Nº ARTESÃOS ATIVOS % POR COREDE 1 Alto Jacuí Ibirubá 414 1,33 2 Campanha Bagé 728 2,34 3 Central Santa 772 2,48 Maria 4 Centro-Sul Tapes 708 2,28 5 Fronteira Noroeste Santo Cristo 379 1,22 6 Fronteira Oeste Uruguaiana 1092 3,51 7 Hortênsias Bom Jesus 995 3,20 8 Litoral Osório 2328 7,49 9 Médio Alto do Frederico 480 1,54 Uruguai Westphalen 10 Missões Santo Angelo 629 2,02 11 Nordeste Lagoa Vermelha 140 0,45 12 Noroeste Colonial Ijui 480 1,54 13 Norte Erechim 292 0,94 14 Paranhana Taquara 592 1,91 Encosta da Serra 15 Produção Passo Fundo 746 2,40 16 Serra Caxias do Sul 1946 6,26 17 Sul Pelotas 2470 7,95 18 Vale do Caí São Sebastião do 532 1,71 Caí 19 Vale do Rio dos São Leopoldo 3667 11,80 Sinos 20 Vale do Rio Pardo Venâncio Aires 1107 3,56 21 Vale do Taquari Lajeado 1125 3,62 22 Metropolitano Delta do Jacuí Porto Alegre 8123 26,14

10 23 Alto da Serra do Soledade 102 0,33 Botucaraí 24 Jacuí Centro Cachoeira do Sul 256 0,82 25 Campo de Cima da Vacaria 457 1,47 Serra 26 Rio da Várzea Palmeira das 98 0,32 Missões 27 Vale do Jaguari Santiago 241 0,78 28 Celeiro Tenente Portela 174 0,56 SOMA 31.073 100,00 Fonte: FGTAS ([2010b]) Tabela 8 Percentual de Artesãos Ativos por Região Funcional (RF) em 2009 REGIÕES FUNCIONAIS Nº ARTESÃOS ATIVOS % DE ARTESÃOS POR REGIÃO FUNCIONAL 1 13.622 43,84 2 2.232 7,18 3 3.398 10,94 4 2.328 7,49 5 2.470 7,95 6 1.820 5,86 7 1.662 5,35 8 1.683 5,42 9 1.858 5,98 SOMA 31.073 100,00 Fonte: FGTAS ([2010b]) A COREDE que apresenta o maior número de artesãos ativos, é a Metropolitano Delta do Jacuí seguido do Vale do Rio dos Sinos, que por sua vez, pertencem a Região Funcional 1 que é a com maior número de artesãos ativos. As COREDEs que vem em seguida com maior número de artesãos ativos são: Sul que compõe a Região Funcional 5, Litoral que compõe a Região Funcional 4 e Serra que faz parte da Região Funcional 3. Ainda com base nos dados elaborados pela FGTAS/PGA no ano de 2009,3 elaboramos uma tabela com os municípios que tinham nesse ano mais de duzentos artesãos ativos. Deixamos de fora os municípios abaixo desse número, pois nos estenderíamos muito, uma vez que temos por pretexto localizar os maiores focos de artesãos cadastrados. Vale lembrar que em muitos municípios a soma de artesãos ativos e inativos alcança os duzentos, 3 Não tivemos acesso aos dados em relação ao número de artesãos por COREDE e RF de outros anos, talvez não tenham sido elaborados.

11 mas tomaremos por base os municípios que apresentam apenas acima de duzentos artesãos na ativa. Tabela 9 Artesãos Ativos/Inativos por município com mais de 200 artesãos ativos cadastrados em 2009 MUNICÍPIO Nº ARTESÃOS ATIVOS Nº ARTESÃOS INATIVOS Alvorada 310 374 Bagé 349 572 Bento Gonçalves 241 256 Cachoeirinha 231 355 Campo Bom 231 122 Canela 315 352 Canoas 727 1.195 Capão da Canoa 333 214 Caxias do Sul 1.021 1.012 Esteio 272 365 Gravataí 715 826 Ijuí 300 391 Imbé 208 88 Lajeado 237 287 Montenegro 221 228 Novo Hamburgo 780 588 Osório 220 325 Passo Fundo 361 578 Pelotas 858 652 Porto Alegre 5.559 10.918 Rio Grande 791 585 Santa Cruz do Sul 381 343 Santa Maria 476 757 Santana do Livramento 330 418 Santo Ângelo 217 267 São Leopoldo 644 471 Sapucaia do Sul 326 259 Torres 273 414 Tramandaí 515 315 Vacaria 271 307 Venâncio Aires 274 248 Viamão 714 617 Fonte: Organizado pela autora com base: FGTAS ([2010b])

12 A partir das tabelas 6, 7 e 8, podemos conhecer a distribuição dos artesãos no estado. Esse conhecimento é relevante, pois permite identificar onde o artesanato é praticado com maior intensidade. O dado já imaginado se confirma de que é nas áreas de maior densidade populacional. Considerações Finais Atualmente, boa parte dos estudos voltados para o campo do trabalho não tem medido esforços em mostrar que as mulheres estão mais afastadas dos postos de trabalho em que há tecnologias sofisticadas de última geração, embora as mulheres venham conquistando melhores níveis de escolaridade que os homens, ou seja, boa parte da discussão dos novos estudos gira em torno dessa questão. A Pedagogia e a Educação muito pouco têm se dedicado a estudar espaços de trabalho como no artesanato e na arte popular, fato que no Rio Grande do Sul não há uma pedagogia pensada para esse tipo de trabalho. Segundo Bartra (2004), estudar o artesanato e a arte popular significa recuperar uma história ignorada pela cultura ocidental e permite conhecer o que as mulheres produzem como arte. Estudiar el arte popular desde el punto de vista de la división genérica que permite ver las mujeres sigue sendo, pues, um verdadero reto em el mundo y en particular en América Latina. Es una cuestion absolutamente fundamental tomarla em consideración por dos razones que por obviedadad casi parecen perogrulladas. Por um lado, estudiar lo que han creado y crean las mujeres ayuda a conocer sustancialmente mejor a este grupo social, para apreciar em qué medida su processo creativo es igual o diferente de los hombres, lo cual puede contribuir em la elaboración de una identidad femenina más íntegra y ayuda a cambiar la existencia, em la medida en que reconocer el trabajo creativo femenino significa tanto la recuperación de una história ignorada como el reconocimiento de que una parte de la cultura es propria. Por outro lado, estudiar el arte popular desde el punto de vista de la división genérica sirve para entender más a fondo todo lo referente a la creación, la distribuición, el consumo y la iconografia de este arte (BARTRA, 2004, p. 12). A antropóloga mexicana levanta três questões importantes além da questão de gênero como uma categoria de análise: a necessidade de um olhar atento a criação, a distribuição e ao consumo da arte produzida pelas mulheres no artesanato e na arte popular. Lauer (1983, p.5) aponta igualmente para essa questão na perspectiva do campo da sociologia: uma teoria social tem a obrigação de ser efetivamente social, isto é capaz de integrar, em sua perspectiva, as múltiplas facetas da produção, da distribuição e do consumo da plástica. A partir daquilo que observamos nesse campo de trabalho pode-se apontar para a invisibilidade e precariedade contida nos processos de criação, de produção e de distribuição, principalmente no processo da produção, que é o processo que temos

13 acompanhado concretamente em um atelier de tecelagem. A invisibilidade: porque é um trabalho sequer reconhecido pelas próprias tecelãs, muito menos por seus familiares e comunidade como apontado em Eggert et al. (2011, p. 82). A precariedade: pelas poucas condições de ambiente, ou seja, de estrutura física, mas também porque elas gostariam muito de ter a carteira assinada e seus direitos trabalhistas Eggert et al. (2011, p. 85), o que elas não tem sendo tecelãs. Tanto a invisibilidade quanto a precariedade do trabalho, como esse realizado pelas mulheres no campo do artesanato, parecem ser constantes ao longo da história das. Talvez porque esses trabalhos sempre foram vistos apenas como habilidades femininas e por isso as longas horas que a cabeça vai acompanhando as passadas da agulha no tecido, como por exemplo, não chegam a ser consideradas um trabalho. Os dados quantitativos que apresentamos, esses sabemos que são insuficientes para nos ajudar a pensar questões mais pontuais como essas que acabamos de levantar sobre a invisibilidade e a precariedade, porque pelos números não conseguimos identificar a realidade que as mulheres enfrentam no dia a dia do trabalho artesanal. Nas visitas realizadas ao atelier que temos acompanhado, as tecelãs nos relataram que possuem o cadastro junto ao PGA há algum tempo, no entanto, não realizaram a renovação e quando perguntadas sobre o fato elas nos responderam que a Carteira Profissional de Artesão, no caso delas, não lhes oferece algo que possam tirar proveito. O que nos leva a recorrer ao elevado número de artesãos inativos frente ao PGA e que podem estar na ativa, como no caso das tecelãs. Estudar a pedagogia envolvida no artesanato, os processos de ensino e aprendizagem de técnicas artesanais, permite entender como e o que as mulheres produzem nesse campo de trabalho, além de visibilizar o que Eggert et al. (2011) chama de conhecimento invisibilizado. A invisibilidade não está só no não reconhecimento do artesanato como um trabalho, mas também na negação ou então na invisibilização por parte das próprias tecelãs e de uma maneira geral pelas pessoas que conhecem seu trabalho em não reconhecer o conhecimento adquirido e construído no cotidiano do trabalho artesanal. É por isso que Eggert et al. (2011, p. 89) aponta para a necessidade de significação dos processos que já estão automatizados/ invisibilizados o que somente poderá ocorrer se nos voltarmos ao nível da experiência, ou seja, ao ateórico que para Weller (2005) seria como definir e explicitar teoricamente esse conhecimento com as tecelãs como um compromisso de quem pesquisa.

14 O movimento feminista possibilitou que a mulher adentrasse no universo masculino, mas essas conquistas também trouxeram conseqüências nefastas, e uma delas, a que consideramos mais marcante, foi a deslegitimação ainda mais forte da experiência das mulheres. As mulheres passaram a sentir vergonha de dizer o que faziam, quando esse fazer estava relacionando apenas com a casa, com os espaços interiores, com a experiência construída no cotidiano (STIMAMIGLIO, 2010, p. 28). Com isso, vale ressaltar que as feministas se afastaram do artesanato praticado pelas mulheres por acreditarem que muitas das técnicas artesanais eram ensinadas a elas com o propósito de manter as mulheres no espaço privado sob submissão e opressão. Para Eggert (2009. p.68), entretanto, esses trabalhos podem ser vistos a partir de outra perspectiva: como uma possibilidade de pensar e agir, trazendo a tona um conhecimento silenciado, que foi construído pelas mulheres. O fato das tecelãs, ao buscarem a escolarização e não encontrarem espaço e currículo acolhedor para elas se configura como um indicativo que a realidade vivida por essas mulheres é desconhecida do ensino formal. Paulo Freire, ao longo de sua trajetória de vida insistiu na necessidade do reconhecimento dos saberes dos educandos e assinala em Pedagogia da Autonomia: ensinar exige respeito aos saberes dos educandos (FREIRE,1996, p. 30), e que ensinar exige disponibilidade para o diálogo (FREIRE, 1996, p. 135). O conhecimento adquirido pelas tecelãs muito possivelmente é relevado para segundo plano ou sequer é reconhecido nos projetos de EJA, ficando as possibilidades para a construção e produção do conhecimento negado a elas. Para Acácia Zeneida Kuenzer (2008) entre os diversos problemas que ainda existem no sistema de ensino brasileiro um deles está no acesso à escola e os outros problemas se dão depois do acesso: Ao invés da explícita negação das oportunidades de acesso à educação continuada e de qualidade, há uma aparente disponibilização das oportunidades educacionais, por meio de múltiplas modalidades e diferentes naturezas, que se caracterizam por seu caráter desigual e, na maioria das vezes, meramente certificatório, que não asseguram domínio de conhecimentos necessários ao desenvolvimento de competências cognitivas complexas vinculadas à autonomia intelectual, ética e estética (KUENZER, 2008, p. 413). Essa é sem dúvida uma crítica que denuncia o sistema de ensino no Brasil. Serve-nos como argumento frente ao que acompanhamos com as mulheres tecelãs em suas tentativas frustradas de concluir seus estudos no ensino fundamental e médio. Diante disso pensamos que é preciso que se invista na formação dos professores de EJA e também na propagação de mais estudos voltados para o trabalho de mulheres que estão no artesanato e no campo da arte popular, pois esses poderiam servir de subsídio na própria

15 formação docente e na formulação de currículos específicos para o campo do artesanato. Na modalidade de ensino do PROEJA poderia ser projetado, no Rio Grande do Sul, o ensino técnico profissional voltado para mulheres no setor do artesanato. Com base no que temos visto no campo do artesanato as mulheres artesãs tem tido participação exclusivamente nos processos de criação/produção, ficando o processo da distribuição e do consumo de seus produtos em mãos de terceiros, muitas vezes homens e mulheres que tendem a explorá-las, como aponta Jacques Van de Beuque: Ponto de convergência de aspectos críticos da arte popular, a comercialização envolve problemas ligados a finalização, ao transporte, à embalagem e à estocagem do produto acabado. Isso sem mencionar questões mais delicadas tais como a interferência do comercialmente inescrupuloso no próprio processo de criação, condicionando a seu gosto ou a sua lucratividade o produto do artista. Este, pressionado e por falta de escolha devido à necessidade de trabalhar, acaba-se submetendo ao negociante (BEUQUE, 2000, p. 72). Um projeto pedagógico de formação profissional para artesãs gaúchas, evidentemente necessitaria considerar toda a cadeia que está envolvida no artesanato e na arte popular, ou seja, que considerasse os três grandes processos: à criação, à produção e à distribuição. Desse modo compreendo que podemos imaginar uma poética no artesanato e na educação: dos fios postos para outras criações! Referências ALBORNOZ, Suzana. Prefácio. In: EGGERT, Edla (Org.). Processos educativos no fazer artesanal de mulheres no Rio Grande do Sul. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011. p. 7-9. BARTRA, Eli (Org.). Creatividad invisible: mujeres y arte popular en América Latina y Caribe. Xochimilco: Universidade Autônoma Metropolitana-Xochimilco, 2004. BARROSO, Hayeska Costa; FROTA, Maria Helena de Paula. A trama do trabalho artesanal para mulheres cearenses: desvendando códigos de gênero. In: FAZENDO GÊNERO, 9., 2010, Florianópolis. Diásporas, diversidades, deslocamentos: anais eletrônicos. Florianópolis: UFSC, 2010. p. 1-11. Disponível em: <http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1278297991_arquivo_fazendogener o.pdf>. Acesso em: 19 set. 2011. BEUQUE, Jaques Van de. Arte Popular Brasileira. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 1., São Paulo, 2000. Arte Popular. São Paulo: Associação Brasil 500 anos artesã visuais, 2000. p. 64-76. EGGERT, Edla et al. A produção da tecelagem num atelier de Alvorada, RS: a trama de pesquisar um tema invisível. In: EGGERT, Edla (Org.). Processos educativos no fazer artesanal de mulheres no Rio Grande do Sul. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011. p. 77-96.

16 EGGERT, Edla. Trabalho precário X Profissionalização de tecelãs: um desafio para a formação educacional no campo do artesanato gaucho. In: CONGRESSO IBEROAMERICANO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 8., 2010, Curitiba. Anais... Curitiba: UFTPR, 2010. 1 CD-ROM. EGGERT, Edla. Narrar processos: tramas da violência doméstica e possibilidades para a Educação. Florianópolis: Editora Mulheres, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FUNDAÇÃO GAÚCHA DO TRABALHO E AÇÃO SOCIAL - FGTAS. Programa gaúcho do artesanato: relatório: 2008. Porto Alegre, [2009]. FUNDAÇÃO GAÚCHA DO TRABALHO E AÇÃO SOCIAL - FGTAS. Programa gaúcho do artesanato: relatório: 2009. Porto Alegre, [2010b]. FUNDAÇÃO GAÚCHA DO TRABALHO E AÇÃO SOCIAL - FGTAS. Programa gaúcho do artesanato: relatório: 2010. Porto Alegre, [2011]. KUENZER, Acácia Zeneida. Desafios para a educação sob a ótica do trabalho, na perspectiva dos trabalhadores. In: QUARTIEIRO, Elisa M; SOMMER, Luís H (Org.). Pesquisa, educação e inserção social: olhares para a região sul. Canoas: Editora ULBRA, 2008. p. 405-418. LAUER, Mirko. Crítica do artesanato: plástica e sociedade nos Andes Peruanos. Tradução de Heloisa Vilhena de Araújo. São Paulo: Nobel, 1983 NOGUEIRA, Vera Lúcia. Educação de Jovens e Adultos e Gênero: um diálogo imprescindível à elaboração de políticas educacionais destinadas às mulheres das camadas populares. In: SOARES, Leôncio (Org.). Aprendendo com a diferença: estudos e pesquisas em educação de jovens e adultos. Belo horizonte: Autêntica, 2003. p. 65-90. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Atlas socioeconômico Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011a. Disponível em: <http://www.seplag.rs.gov.br/atlas/>. Acesso em: 07 nov. 2011. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Conselhos Regionais de Desenvolvimento COREDES. In: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Atlas socioeconômico Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011b. Disponível em: <http://www.scp.rs.gov.br/atlas/atlas.asp?menu=631#>. Acesso em: 07 nov. 2011. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Regiões funcionais de planejamento. In: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Atlas socioeconômico Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011c. Disponível em: <http://www.seplag.rs.gov.br/atlas/atlas.asp?menu=662>. Acesso em: 07 nov. 2011. ROSENBERG, Fulvia. A educação de mulheres jovens e adultas no Brasil. In: SAFFIOTI, Heleieth I. B.; MUÑOZ-VARGAS, Mônica. Mulher brasileira é assim. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994. p. 27-62

17 STIMAMIGLIO, Neusa Maria Roveda; ROVEDA, Fernando. Bordando Sonhos. Caxias do Sul, RS: Lorigraf, 2010 WELLER, Wivian. A contribuição de Karl Mannheim para a pesquisa qualitativa: aspectos teóricos e metodológicos. Revista sociologias, Porto Alegre, ano 7, n. 13, p. 260-300, jan./jun. 2005.