Guia: defesa em processo administrativo disciplinar Por: Dr. Deoclécio Barreto Machado Advogado. Professor. Mestre em Direito das Relações Sociais.
Objetivo: este guia tem o objetivo de dar uma visão geral dos 3 importantes argumentos que guiam a defesa de empregados que passam por processo administrativo disciplinar.
Introdução: se você é empregado de empresa pública, você deve saber o que significa viver em um regime de trabalho misto. Por um lado, aplica-se nesta relação de emprego as normas jurídicas da CLT. Por outro, também incidem sobre os empregados regras que regem as atividades dos servidores públicos e de Direito Administrativo. Em qualquer empresa privada, o superior que desconfiar de alguma atitude imprópria do empregado, irá apurar o ocorrido e, no pior dos casos, demitir sem ou com justa causa o empregado na maioria das vezes sem maiores repercussões civis ou penais. Já no caso do empregado de uma empresa pública, esse sofrerá um Processo Administrativo Disciplinar e, se ele for julgado culpado por algum ato infracional, além de poder ser demitido por justa causa (de acordo com a CLT), ele também poderá sofrer processo crime por Dano ao Patrimônio Público e até ser condenado a ressarcir enormes somas em dinheiro. Sabemos que muitas irregularidades podem ocorrer durante o Processo Administrativo em prejuízo ao empregado público. Indispensável e necessária a análise de todo procedimento para garantir o pleno direito de defesa. Preparamos este material pinçando importantes argumentos que merecem destaque e atenção para que proteger os seus Direitos.
1. Nulidade do procedimento por cerceamento do direito de defesa. Ausência de intimação para o depoimento das testemunhas e demais atos processuais....
Este primeiro argumento de defesa se relaciona com o Direito de qualquer pessoa que passa por processo, judicial ou administrativo disciplinar. É o direito ao contraditório. Antes de se adentrar no mérito do caso, ou seja, nos fatos e argumentos que originaram a acusação, é preciso verificar se o Processo Administrativo deu ampla oportunidade de defesa ao empregado investigado. Assim, se o empregado não foi notificado do processo no momento da instauração dele, é preciso argumentar pela própria NULIDADE DO PROCESSO. Não basta que o empregado tenha ciência do processo no momento da comunicação para defesa pessoal. Além disso, é preciso que o empregado seja comunicado de todos os atos processuais, para que se utilize, assim, de todos os meios de defesa, tais como arrolar testemunhas, apresentar documentos e valer-se de profissional advogado para este fim.
Orientações práticas. Para começar a pensar nesse ponto de defesa, faça as seguintes perguntas: - Fui notificado da instauração do processo formalmente? - Fui notificado sobre as testemunhas arroladas e dos depoimentos? - Tive acesso a todas as provas colhidas? Caso algumas das respostas acima seja negativa, deve-se arguir a nulidade do procedimento.
2. Procedimentos que não fazem parte da rotina do empregado e do ambiente habitual de trabalho...
Muitos funcionários de empresas públicas passam pela situação de trabalharem em AMBIENTE ACIMA DAS CONDIÇÕES DE NORMALIDADE Muitas funções repassadas a empregados de empresas públicas não fazem parte de suas atribuições corriqueiras, mas são cumulativas de outras entidades de Estado. Isso pode ser um fator atenuante, pois o empregado nessas condições apenas faz o que a ele é repassado pela gestão da entidade, desconhecendo a fundo as suas obrigações em âmbito legal. Podemos considerar que esse contexto atenua as acusações em Processo administrativo, ou até mesmo, exclui qualquer responsabilidade do empregado. Assim é preciso descrever, em defesas administrativas, a visão sistemática do ambiente onde os fatos sucederam. Acúmulo de funções, incidentes e acidentes, tarefas acima da capacidade humana normal, número reduzido de empregados, demanda elevadíssima de clientes, são expressões que inclinam qualquer julgador a retirar a responsabilidade do dorso dos empregados.
Em ambiente com condições atípicas ou extenuantes, o erro, caso ocorra, constitui atitude previsível de cada empregado, uma vez que ele está submetido a condições anormais de trabalho. O erro, caso ocorra, constitui atitude previsível de cada empregado quando submetido a condições anormais de trabalho. É como admitir que um piloto faça sozinho um trajeto intercontinental de 24 horas em avião com passageiros, sem escalas, sem copiloto, sem descanso. O risco do acidente é infinito. Esses pontos devem ser atacados na defesa do empregado, pois caracteriza a ausência de culpa nos fatos ocorridos.
Orientações práticas. Para este ponto de defesa, faça as seguintes perguntas: - A acusação imputada ocorreu durante rotina corriqueira da empresa? - Houve ordem superior expressa para que os procedimentos ocorressem como ocorreram? - Como era o ambiente de trabalho no momento dos fatos? Havia alguma pressão? Havia tempo hábil para a realização de todas as demandas da empresa? Responda as questões acima, no sentido de arguir a ausência de culpa ou condições atenuantes.
3. Boa fé, ausência de proveito e inexistência de procedimentos normativos....
Para complementar o argumento de ausência de culpa nas acusações imputadas, é interessante deixar explícito nos argumentos de defesa que não houve a intenção do empregado de tirar proveito próprio nos fatos narrados. Muitos problemas no âmbito da rotina de trabalho em empresas públicas ocorrem devido à má fé de terceiros, apesar da boa fé do empregado. Muitas vezes pressionado, o empregado é levado a pequenos erros. Tais erros, no entanto, não geram qualquer benefício ao empregado, o que significa, analisando-se friamente os fatos, não haver dolo em sua conduta. Argumentar nesse sentido pode ser importante para que o julgador entenda que a real motivação do empregado não foi se beneficiar de tais atos, mas sim atender uma demanda. Além disso, em muitos casos, há um vácuo normativo para guiar de forma clara o empregado em sua conduta diária. Muitas vezes o empregado é pressionado a agir, sabe que é preciso entregar resultados, mas não tem muito claro o como agir. Assim, não é possível atribuir a culpabilidade em procedimentos não sistematizados através de normativas claras e específicas.
Orientações práticas. Para este ponto de defesa, faça as seguintes perguntas: - O erro atribuído ao empregado ocorreu em benefício próprio? Ele se beneficiou financeiramente disso? - Houve a má fé de outros agentes internos ou externos à empresa que possam ter levado o empregado a erro? - Existe normativa que vá no sentido contrário à conduta do empregado? Responda as questões acima, no sentido de arguir ausência de dolo, culpa e boa fé na conduta de trabalho.
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