ST7 - A Amazônia no cenário sul-americano Coordenadores: Prof. Luis E. Aragón, Universidade Federal do Pará, Belém Prof. José Aldemir de Oliveira, Universidade Federal do Amazonas, Manaus Introdução Esta Sessão Temática focaliza a Amazônia e suas relações com outras regiões do interior do Brasil e com países sul-americanos, temas presentes em linhas de pesquisa de vários programas de PG da Anpur. A orientação observada na política nacional é a de traçar medidas que reforcem a integração de mercados com os países que se alinham nas amplas fronteiras com o Brasil. Neste contexto a Amazônia tem um papel importante a desempenhar. Nela se concentra uma extraordinária experiência social com realidades multi-étnicas que atravessam fronteiras, como também a exuberante riqueza natural da floresta e dos mananciais de água potável. Os textos Foram selecionadas 18 apresentações orais e um poster. As apresentações orais foram agrupadas em quatro temáticas, conforme os objetivos da sessão: (1) Visões da invenção da Amazônia, (2) Desafios do desenvolvimento amazônico no contexto da globalização, (3) A Amazônia e a integração sul-americana, (4) Relações trans-fronteiriças. Visões da invenção da Amazônia 1
Desde quando Gaspar de Carvajal pensou haver encontrado as Amazonas, mulheres guerreiras e temidas da mitologia grega, a Amazônia tem sido alvo de mitos e lendas, que tem influenciado a sua própria concepção. Poder-se-ia dizer, sem muitas controvérsias, que a Amazônia representa um processo de constante invenção, seja para justificar sua exploração, seja para argüir sobre sua preservação e conservação. Face às sucessivas invenções da Amazônia, surgem respostas de pesquisa científica em busca da verdade sobre sua realidade, e das melhores propostas para seu desenvolvimento. Os quatro textos incluídos aqui dão conta desse debate. Partindo do trabalho de Steinbrenner sobre a invisibilidade com que se trata a questão urbana nos estudos regionais contemporâneos, decorrente principalmente da abundância e foco central das pesquisas nos estudos ambientais dirigidos à floresta, a sub-seção termina com um estudo de caso que analisa a questão geopolítica da fronteira, no lugar conhecido como a Cabeça do Cachorro (estado do Amazonas). Os outros dois textos tratam da gênese da Amazônia Legal e da produção de conhecimento sobre a Amazônia em instituições brasileiras, americanas e latino-americanas. Desafios do desenvolvimento amazônico no contexto da globalização A Amazônia tornou-se, hoje, queira-se ou não, uma questão global e nacional. Problemáticas como as mudanças climáticas mundiais, a regulação do mercado dos recursos naturais como os da água e da biodiversidade, e o mercado do carbono, ligam-se, de uma forma ou de outra à Amazônia. Questiona-se até a soberania nacional dos países amazônicos sobre suas respectivas Amazônias. Não resta dúvida que para entender o processo de desenvolvimento da região, hoje, é absolutamente necessário estudar o papel que a Amazônia desempenha 2
no atual contexto internacional, o que, certamente, afetará a visão da Amazônia nos dias atuais. Cinco textos foram incluídos nesta sub-seção, os quais tratam, desde diversos ângulos, de problemas relacionados com a globalização, o desenvolvimento endógeno, a dependência dos processos econômicos, a expansão agrícola, a relação universidade-empresa e a gestão dos recursos hídricos. A Amazônia e a integração sul-americana Movimentos ambientalistas e de direitos humanos ao redor do mundo, junto com questões relacionadas à preservação e utilização dos enormes estoques de recursos naturais existentes na região, têm alertado os países amazônicos sobre o importante papel que joga a Amazônia na geopolítica ambiental em nossos dias, e sobre a soberania desses países sobre os destinos da região. Todos esses fenômenos têm fortalecido o papel estratégico e geopolítico que joga ou deverá jogar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) no processo de integração sul-americana, na negociação em bloco com países e outros blocos poderosos em assuntos de interesse da região e na coordenação de ações macro relacionadas com o ideário do desenvolvimento sustentável. Os quatro textos enfocam o papel estratégico da Amazônia no processo de integração sul-americana através dos estudos da Iniciativa de Integração da Infra- Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), da OTCA e dos conflitos da integração na fronteira Brasil-Guiana Francesa. 3
Relações trans-fronteiriças Todos os países da América do Sul, exceto Equador e Chile, fazem fronteira com o Brasil. Ao longo da fronteira com os países amazônicos ocorrem fenômenos de integração e conflito que merecem destaque especial nesta subseção. Ainda que esses fenômenos sejam antigos, o seu estudo sistemático é recente. Desde a fronteira com a Guiana Francesa até a fronteira com a Bolívia certos lugares representam importantes pontos de passagem de pessoas e mercadorias gerando processos, que só se pode entender se analisados de forma integrada e comparativa. Os cinco textos incluídos aqui analisam problemas relacionados com a migração internacional, as cidades gêmeas, as novas territorialidades nas zonas da fronteira, e com diversos conflitos que afetam as populações que habitam essas áreas. Conclusões A sessão temática Amazônia no cenário sul-americano em sintonia com o tema do XII Encontro Nacional da ANPUR apresenta resultados de pesquisas que se não possibilitam inventar de novo a Amazônia, ou inventar uma nova Amazônia põem à discussão questões que são recorrentes na agenda científica ou na determinação das políticas públicas para os vários países que compartilham a região. Correspondendo as demandas da chamada de trabalhos para a sessão os trabalhos abordam temas como a permanência do aviamento, tratado de cooperação amazônica, planos de ação para a fronteira, cotidiano das guarnições militares um tema ausente nas discussões acadêmicas, projetos de logísticas, questão urbana, expansão da fronteira agrícola, migração na fronteira, 4
Perpassa em todos os textos o entendimento de que na Amazônia, se por um lado é necessário que as condições de existência sejam destruídas, com efeito, é igualmente necessário que preexistam os elementos constitutivos do novo. Questões discutidas nos anos setenta como o avanço da fronteira não foram superadas e a elas juntam-se outras como a geopolítica das águas que no início do século XXI se constitui tema relevante. Com isso, se produz uma discussão sobre a Amazônia enquanto um conjunto de lugares com vários caminhos para o mundo; lugares onde a natureza dos processos externos aparece como delineamentos diversos e inovadores; lugares de complexidade que envolve o local e o global. Neste sentido, há a reconfiguração regional como caminhos naturais e sociais que guardam dimensões e sentidos das amazônias pretéritas. Os textos que fazem parte dessa sessão apresentam como eixo de discussão o entendimento de que a sociedade num determinado espaço se produz a partir do conhecimento acumulado, o que cria as possibilidades de permanências e de rupturas numa região que nas últimas décadas apresentou mudanças significativas. Mesmo nas pequenas cidades, em pouco mais de uma geração, as informações tornaram-se mais ágeis, pois os lugares foram atingidos por dimensões das técnicas que possibilitaram maior circulação de idéias e acesso à modernização. As transformações foram tão rápidas que surgiram novas formas de vida e espaços a partir do nada, num lastimável domínio da geografia do lugar nenhum, em que predominam os fluxos de intercâmbios e os centros de negócios, especialmente ligados à mineração, extração de madeira e mais recentemente à soja. Criam-se espaços artificiais, desprovidos de memória, que desprezam a história e a cultura específicas, levando à construção de objetos iguais, independentemente dos lugares onde estão localizados. 5
Do ponto de vista de uma proposta de pesquisa científica, os textos dessa sessão, constituem-se num esforço metodológico das ciências sociais para discutir a complexidade da Amazônia estabelecendo correta e coerente problematização da realidade e, a partir disso, construir o objeto de investigação que analise a articulação dos processos ecológicos e culturais com as políticas públicas. O desafio, portanto, consiste em compreender como as relações socioespaciais decorrentes das estruturas sociais e produtivas são formuladas sob a óptica teórico-conceitual. Outra questão destacada no conjunto de textos, é que as estruturas e as dimensões socioespaciais na Amazônia hoje são compartilhadas por novos sujeitos, tais como: indígenas, agentes dos movimentos sociais, empresários, ONG s, migrantes, cientistas e mídia que produzem espacialidades diversas e articulam as estruturas preexistentes quase sempre locais às dimensões globais. No curso dessa articulação, o poder se dilui entre os vários sujeitos, grupos de indivíduos, minorias étnicas, pacifistas, instituições que não se articulam apenas ao Estado Nacional e, em alguns casos, já atingiram um grau de relações supranacionais. O que aparece como um novo elemento-chave nessa discussão para a compreensão da problemática amazônica é que os vários textos levam em conta o espaço como a categoria fundamental para a compreensão das formas pelas quais as relações societárias produzem e reproduzem a natureza, ou seja, produzem e reproduzem o espaço. A sessão apresenta questões e não conclusão, pois pesquisas necessitam ser feitas e mesmo quando concluídas revelarão uma verdade e não a verdade. O único ponto a destacar é que na Amazônia há espacialidades que não coincidem com o inventário dos objetos no espaço nem sobre seu discurso e representação. Neste sentido, pode-se concluir que a espacialidade oculta as conseqüências, o 6
que indica a construção de pesquisas que considerem a Amazônia não apenas como uma área a ser conhecida, mas como conhecimento do lugar, capaz de revelar formas e conteúdos espaciais que foram transformados e/ou permaneceram. 7