Contribuição ao Debate sobre Regulamentação da Pro6issão SINDPD/DF 13/09/2016

Documentos relacionados
LIBERDADE DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Antonio Neto. Palestrante: Seminário Regulamentação da Profissão. Desafios e direitos dos trabalhadores de TI. Regulamentar é preciso?

TRABALHO EM DOMINGO E FERIADOS

PLANO DE CARREIRA DA EQUIPE TÉCNICO-ADMINISTRATIVA

DIREITO DO TRABALHO II. Aula 15 Greve: conceito, natureza jurídica, evolução histórica, tipos e finalidade da greve, lockout. Semana 16: Revisão

12 A interpretação da assessoria de imprensa como atividade jornalística também foi

Fundado em 11 /11/ 1988 CGC / Filiado à CEA e a PLANO DE LUTAS

PLANO DE LUTAS APROVADO NO V CONGRESSO ORDINÁRIO DO SINTEPS. Tema I Conjuntura Internacional

Carta-compromisso dos Candidatos ao Governo do Estado com a Educação Básica Pública

Plano de Curso. Assistente de Administração de Pessoal. Ocupação Classificação

Informática e Sociedade. Sociedade Brasileira de Computação e Reconhecimento da profissão

esocial Oportunidades de Negócios Relatos de Implantação nas Empresas Belém PA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE DIREITO, TURISMO E MUSEOLOGIA DEPARTAMENTO DE DIREITO

Trabalhadores ASSALARIADOS E ASSALARIADAS RURAIS. do Paraná

PAUTA DE REIVINDICAÇÕES / MINUTA DE CONVENÇÃO COLETIVA

DIREITO DO TRABALHO. Das relações laborais. Tendências atuais: Flexibilização e Desregulamentação. Prof. Cláudio Freitas

DORT EDITORIAL INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO EDITORIAL INTRODUÇÃO FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O APARECIMENTO DAS LER/DORT - MULTICAUSALIDADE

PERFIL DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA REDE MUNICIPAL DE GUANAMBI BA

DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL I RISCO SOCIAL 18/02/14 AULA 2. RISCO SOCIAL à Incapacidade ou impossibilidade de trabalhar. Saúde. Assistência Social

PROPOSTAS APROVADAS NA PLENÁRIA NACIONAL -11/3/2018:

REGULAMENTAR É PRECISO

Trabalho e (Im)Previdência. Mauro de Azevedo Menezes

ATA DA 1ª REUNIÃO ESPECÍFICA - BANCO DE HORAS

Oficina do Provab e PMM. São Paulo, abril de 2014

Computadores e Sociedade Aula II: Regulamentação

TERCEIRIZAÇÃO: aprovação da lei é o início dos ataques aos nossos direitos. À luta!

RESOLUÇÃO Nº 626 DE 18 DE AGOSTO DE 2016

PROJETO DE LEI N.º 981 DE Dep. Edison Andrino. 24/05/2002 sbc

Computadores e Sociedade Aula IX: Doenças

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI N.º 6.133, DE 2013

XIII Marcha da Consciência Negra - 20 de Novembro de Um milhão de negras e negros nas ruas do Brasil!

Relações Trabalhistas

Lesões por Esforços. Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho. Nos últimos anos os. trabalhadores e os sindicatos

CRITÉRIOS PARA OBTENÇÃO DO ATESTADO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL, NAS FUNÇÕES REGULAMENTADAS PELA LEI 6.533/78, DECRETO 82

MERCADO DE TRABALHO: DEFINIÇÕES, TRANSFORMAÇÕES E DESIGUALDADES

TEXTO DOS PONTOS ACORDADOS DA REFORMA TRABALHISTA QUE CONSTARÃO EM MEDIDA PROVISÓRIA... (NR)... Art. 223-G...

PROJETO DE LEI N.º, DE (Do Sr. José Chaves) O Congresso Nacional decreta:

Ata da 2ª Reunião. Entre o Serviço Federal de Processamento de Dados SERPRO e a FENADADOS NEGOCIAÇÃO COLETIVA 2012/2013

REFORMA TRABALHISTA O QUE MUDA PARA O TRABALHADOR E O EMPREGADOR BRASILEIRO

MEMORIAL DE APOIO À SANÇÃO PRESIDENCIAL AO PROJETO DE LEI DE REPOSIÇÃO SALARIAL DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO (PLC 28/15)

TEMA G2: A Revolução Liberal Portuguesa - antecedentes

UM ANO PÓS REFORMA TRABALHISTA

MISSÃO. VISÃO Ser a referencia em soluções trabalhistas e sociais para o profissional de Educação Física no Estado da Bahia.

DISSÍDIOS COLETIVOS E PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Acordos devem prevalecer sobre a CLT, diz ministro

S I N O P S E S I N D I C A L F E V E R E I R O D E

PRINCIPAIS CAUSAS DE DOENÇAS DA CATEGORIA DOS TRABALHADORES BANCÁRIOS: Movimentos Repetitivos; Assédio Moral; Assaltos.

RESOLUÇÃO CRP/01 Nº 2, de 05 de maio de 2008.

O NOVO MOMENTO NA GESTÃO DE PESSOAS. Denise Poiani Delboni

SINDPD/SC- SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE PROCESSAMENTO DE DADOS DE SANTA CATARINA.

APRIMORAMENTO DA CARREIRA PCCTAE - BUSCA DE

Propostas dos candidatos ao governo do RS para a TI e para a PROCERGS

Série: 7/ 10 VERÁSQUEUMFILHOTEUNÃOFOGEÀLUTA INCENTIVO E AMPLIAÇÃO DA FILIAÇÃO SINDICAL

INFOTECMAIS. O Teletrabalho na Atualidade

Entre o Trabalho e o Lar: Globalização, Consciência e Litigiosidade Feminina na Justiça do Trabalho em Piracicaba

Edição 934 Dezembro/2016

O fazer de nossas mãos pelo fortalecimento sindical.

PROJETO DE LEI N, DE 2003 (Do Sr. Onyx Lorenzoni)

ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2012/2013

IMPACTO DO PISO DOS PSICÓLOGOS

AÇÕES E PROGRAMAS ENCONTRO NACIONAL DE DIRIGENTES DE PESSOAL E RECURSOS HUMANOS DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SETEMBRO/2015

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO 16/10/2009

Maximiliano Nagl Garcez ALAL - Associação Latino-Americana de Advogados Laboralistas Consultor jurídico da Contracs

PROJETO DE LEI Nº, DE 2011 (Da Sra. ERIKA KOKAY)

DIREITO DO TRABALHO II. Aula 15 Greve: conceito, natureza jurídica, evolução histórica, tipos e finalidade da greve, lockout. Semana 16: Revisão

PAUTA PARA PLENÁRIA DAS ESTADUAIS PLANO DE LUTAS XX CONFASUBRA APROVADOS NA PLENÁRIA DE JULHO DE 2009

Folha BancariaBraille

Prof Dr Álamo Pimentel,UFSB/CSC/IHAC

Associação civil, sem fins lucrativos, fundada em 10 de outubro de Sede: Brasília/ DF 26 Seccionais

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO N.º 287, DE 2016 (Do Poder Executivo)

S I N O P S E S I N D I C A L J A N E I R O D E

Formação e Valorização Profissional dos/as Funcionários/as de Escola

Cenário político, econômico e social

Estabilidade e. Direito do Trabalho. Garantias Provisórias do Emprego

INTRODUÇÃO. Um bom passeio histórico pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Conselho Federal de Enfermagem- Brasil

Marisol Watanabe, Vera L. Salerno, Márcia Hespanhol Bernardo

ATA DA 4ª REUNIÃO ESPECÍFICA

Processo de Qualificação de Trabalhadores Técnicos em Informações e Registros em Saúde

COMISSÃO DE ESPORTE PROJETO DE LEI Nº 6.083, DE 2009

Nos dias 23 e 24 de fevereiro

ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2015/2016. Confira a autenticidade no endereço

Qualidade de Vida no Trabalho e Meio Ambiente na Indústria Química Nilton Freitas

Procedimento Operacional. Cargos, Salários e Benefícios Versão: 3 Vigência: 01/03/2017

{Segundo o artigo 2º da Resolução 10/2013,

REGULAMENTO PROGRAMA DE BOLSAS PARA A FORMAÇÃO DO PESQUISADOR

EMPREGO E EMPREGABILIDADE

SINEPE - Mato Grosso, o despertar da consciência começa agora!

Remuneração de professores municipais no Paraná: uma leitura a partir da RAIS 2014

A Promoção do Cuidado com a Saúde dos Trabalhadores

Sindicato das Misericórdias e Entidades Filantrópicas e Beneficentes do Estado do Rio de Janeiro.

Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais

Quadrinhos. Expediente: CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - 1

SALÁRIOS, REAJUSTES E PAGAMENTO

2 Trabalho e sociedade

Fundação Universidade de Cruz Alta

(11) e

A MODERNIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA FIQUE POR DENTRO DO QUE MUDOU

Transcrição:

Contribuição ao Debate sobre Regulamentação da Pro6issão SINDPD/DF 13/09/2016

BREVE HISTÓRICO Até o final dos anos 70.nhamos os mainframes, computadores enormes, trancados em salas refrigeradas e operados apenas por poucos. O grosso dos trabalhadores estava nas perfuradoras de cartão. Com o surgimento do computador pessoal (PC) grande parte dos trabalhadores foi para a digitação e preparação de dados. Hoje a entrada de dados é feita pelos usuários.

A pargr da década de 90 ocorre o deslocamento do setor de produção para o de desenvolvimento. Hoje vemos a proletarização do setor de desenvolvimento com as fabricas de sokwares, que implicam na redução da dimensão imaginagva e social do profissional em informágca, pelo desconhecimento do saber dos analistas acerca das necessidades reais dos usuários, principalmente em relação ao processo criagvo.

Há quem diga que o início do debate sobre regulamentação da profissão remonta a década de 70, outros mencionam a década de 80, qualquer um dos marcos nos remete a ditadura que restringia direitos polígcos e de livre organização. A expressão processamento de dados surge como nova profissão em meio à modernização conservadora. As Associações de Profissionais de Processamento de Dados (APPD s) começam a se organizar pelo país e tem como ponto de debate, dentre outros, a regulamentação da profissão e em seguida, pressionadas pela necessidade, assumem um caráter classista, se transformam em pré-sindical e em sindicatos. Neste momento a regulamentação da profissão é severamente combagda pelos banqueiros, que, aliás, nunca esgveram ausentes deste debate.

Os sindicatos, por sua vez, se viram diante de uma grande degradação das agvidades vinculadas principalmente à digitação, que adoecia milhares de trabalhadores e diante da constatação de ausência de legislação de proteção destes trabalhadores, Gveram de agir, mobilizar e organizar a luta nacional com vistas a proteção à saúde, o que culminou na mudança do texto da NR17; a inclusão das Lesões por Esforço RepeGGvo (LER s) posteriormente denominadas DORT Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho no rol de doenças da previdência social (como por exemplo tendinites, tenossinovites, bursites, entre outras), só para ressaltar duas lutas importantes.

De lá para cá as empresas de processamento de dados se transformam em empresas de InformáGca, TI, TIC; o trabalho se reposiciona e a ciência ganha maior dimensão, ampliando-se os profissionais envolvidos com o trabalho intelectual que começam a ocupar mais espaço nas universidades, insgtutos de pesquisa e empresas; e o produto deste trabalho, por sua vez introduz novas ferramentas, novas tecnologias e o crescimento do trabalho intelectual.

Hoje atuam no mercado de informágca nacional milhares de profissionais com diversos perfis de formação e diferenciados graus de conhecimento, dos mais sofisgcados aos mais simples.

A informágca está presente nas mais diversas áreas do conhecimento humano e os profissionais são impulsionados a buscar o conhecimento mulgdisciplinar como forma de sobrevivência e evolução neste segmento de mercado.

OLHAR A PARTIR DOS SINDICATOS Entretanto, qual é realidade do trabalho em informágca, constatada a pargr da vivência no sindicato:

desvalorização profissional grande exploração dos profissionais, em consequência da polígca de implantação de cargos amplos insagsfação com a diversidade de jornada (44 x 40 horas semanais) pisos salariais muito baixos adoecimento mental se somando as doenças DORT s sobrecarga de trabalho e pressão assédio moral aumento da contratação de PJ (forma de ampliação da exploração) terceirização de mão de obra alta rotagvidade da mão de obra

exigência de especialização e cergficação cada vez maior, para manter o emprego e tentar crescer na carreira, sem apoio financeiro para tal, sem garanga de recolocação e muitas vezes sem retorno alta dinamicidade da profissão, dificultando enquadramento e nomenclaturas de formação/ atuação restrição do direito de exercer a profissão, condicionando trabalhadores a comprovar experiência na função descumprimento, por parte das empresas, da legislação trabalhista e de normas de proteção à saúde dos trabalhadores, entre outros.

Se é certo que a informágca é como o idioma nacional de um povo, que o desenvolvimento e o uso da tecnologia da informação não podem ficar restritos a uma classe de profissionais e que é essencial a pargcipação de todos os profissionais no pleno desenvolvimento da informágca nacional, citando o professor Dr. Lisandro Zambenedei Granville, presidente da SBC, também é certo que a realidade acima mencionada é a adversidade deste idioma, deste desenvolvimento e desta pargcipação.

Não tem como separar o profissional da profissão e vice versa. Como poderá ser livre o exercício da profissão diante desta realidade acima mencionada? Como nos deparar com o disposto no art. 5º, inciso XIII e art. 170, paragrafo único da ConsGtuição Federal que determina que é livre o exercício de qualquer trabalho, oecio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer frente a uma realidade de profunda desigualdade que se espalha como metástase em meio aos profissionais de informágca?

Regulamentar a profissão pressupõe se debruçar sobre todos estes problemas e ter o olhar principalmente para os trabalhadores.

As condições de trabalho hoje existentes não permitem que se estabeleçam os seguintes princípios norteadores da regulamentação da nossa profissão: a liberdade de exercício profissional a garanga de condições de liberdade necessárias ao desenvolvimento tecnológico a formação profissional mulgdisciplinar a compegção do setor no mercado internacional a preservação dos interesses da sociedade perante o uso de bens e serviços de informágca

Tampouco a regulamentação da profissão passa por dar prioridade à insgtucionalização de conselhos. A função primária dos Conselhos Profissionais, dito de uma forma simples, é defender a sociedade dos profissionais ruins. É claro que, à primeira vista, isso é uma defesa aos bons profissionais. Entretanto, cabe salientar que o foco não é no trabalhador e sim insgtucional. Como esgpular normas e códigos, se sequer a categoria tem assegurados os princípios citados acima? Vale ressaltar que a defesa da categoria cabe aos sindicatos.

A defesa da sociedade será consequência da defesa dos profissionais e regulamentar sem resolver estes problemas será largar os trabalhadores à sua própria sorte. Rosane Maria Cordeiro Diretora de TI e Comunicação da FENADADOS Diretora do SINDADOS/MG