Projecto de Apoio à Implementação da ENSAN Estudo sobre o Crédito Agrícola de Campanha Luanda, 18/2/15
Índice 1. Enquadramento do Estudo 2. Constatações 3. Reflexões sobre as Constatações 4. Conclusões 5. Recomendações
Enquadramento do estudo Projecto visa promover a Implementação da ENSAN Focaliza na Linha Especial de Crédito Agrícola de Campanha cujo valor foi de US$ 150 milhões Mecanismo simplificado e relativamente acessível com uma taxa de juro de 5% Abordagem participativa e daí o estabelecimento de Comités Locais de Pilotagem
Enquadramento do estudo Projecto é apoiado pela APN e AECID com implementação da ADRA Estudo desenvolvido em Benguela, Huambo, Huíla e Malanje Foi previsto apresentar as conclusões e recomendações do estudo num Workshop Estudo deve ser uma contribuição para o debate nacional sobre crédito agrícola Únicas acções levadas a cabo desde 2013 foram regularizações e confirmação de garantias de risco dadas aos bancos
Enquadramento do estudo O objectivo do Estudo foi analisar o impacto, a eficiência e a eficácia da Linha de Crédito e retirar lições e recomendações Mais especificamente o Estudo deveria verificar se a Linha de Crédito: Tem uma estratégia que responde às necessidades e contexto; É de fácil acesso para os agricultores familiares e teve requisitos apropriados; Dispõe de recursos adequados Alcançou os seus objectivos iniciais; Provocou mudanças nas populações.
Enquadramento do estudo Foi usada a seguinte metodologia: Leitura de documentação; Entrevistas semi estruturadas a informantes chave; Constituição e treinamento de 4 equipas de 2 técnicos (uma por província) para recolha de dados; Elaboração e aplicação de um questionário a 313 agricultores Realização de grupos focais com os respondentes ao questionário Limitações: Longa duração do estudo; primeira recolha de informação sem qualidade; informação disponibilizada foi escassa; grupo receou que entrevistadores fossem cobradores; Bancos sem autorização para fornecer dados
Questionário Constatações Aplicado nos municípios de Baía Farta, Ganda, Bailundo, Caala, Cacula, Caluquembe, Kalandula e Cangandala; Entrevistados 313 agricultores:164 homens e 149 mulheres.
Constatações 2% tinha menos de 20 anos, 17,3% entre 21 e 30 anos, 41,7% entre 31 e 40 anos e 39% mais de 40 anos A maioria dos entrevistados (46,3%) situava-se a mais de 15Km da sede do município, 16% entre 10 e 15, 20,9% entre 5 e 10 e 16,7% a menos de 5
Constatações A maioria (29,2%) tomou conhecimento do CAC através da Associação/Cooperativa, 15,9% da EDA, 8,4% do soba,7,1% de amigos, 5,8% Unaca e 4,9% da ADRA
Constatações Dos respondentes 191 (62,4%) tinha solicitado crédito e 115 (37,6%) não tinha Dos 191 que solicitaram 140 tiveram o crédito aprovado, 12 foram rejeitados e 30 não responderam
Quanto ao reembolso dos 93 que responderam 72% disse que não tinha reembolsado e 28% Constatações Dos 140 agricultores que receberam crédito, 119 (85%) responderam sobre o montante recebido e destes 53 (45%) não sabiam quanto receberam. Dos outros, 14,3% menos de 50.000 Kz, 11,8% entre 50.000 e 100.000 Kz, 8,4% entre 100.000 e 230.000 Kz e 21,8% entre 230.000 e 500.000 Kz. Sobre o uso do crédito, 104 compraram fertilizantes, 91 sementes, 63 ferramentas, 34 tracção animal, 18 motorizadas, 5 sistemas de irrigação e 4 usaram na mecanização.
Constatações Dos 99 agricultores que não solicitaram crédito, 42 informaram que não tinham ouvido falar do CAC, 30 não tinham BI e 18 tinham medo do crédito 9 várias outras razões
Benguela Constatações Responderam 42 homens (53%) e 38 mulheres (47%) Área de cultivo: 36% têm menos de 2 ha, 48% entre 2 e 5, 13% entre 5 e 10 e 3% mais de 10 Energia utilizada na terra: 18 % usam tracção animal, 71% humana e 5% tractor
Huambo Constatações Responderam 39 homens (56%) e 31 mulheres (44%) Apenas 22 tinham a terra legalizada Quanto à área de cultivo, 69% têm entre 2 e 5 ha e 31% mais de 10 ha. Energia- 56% usam tracção animal, 41% humana e 3% tractor
Huíla Constatações Responderam 40 homens (49%) e 42 mulheres (51%) (92%) agricultores não têm a terra legalizada. Na área de cultivo, 39% tem menos de 2 ha, 48% tem entre 2 e 5 ha. Energia utilizada 89% com tracção animal, 1,2% com tractor e
Malanje Constatações Responderam 43 homens (53%) e 38 mulheres (47%) 43 agricultores tem de 2ha, 21 tem entre 2 e 5, 8 entre 5 e 10 e 1 mais de 10ha. A quase totalidade dos agricultores (96%) apenas utiliza energia humana na terra
Outras Constatações Huíla Foram beneficiados 2.028 camponeses de 382.000 existentes (0,5%) IDA Órgãos de implementação do crédito são de nível local, não havendo estrutura provincial, o que prejudicou a coordenação Membros dos comités sem preparação técnica em financiamentos e isso prejudica o diálogo com os Bancos - IDA Os Bancos e os fornecedores não estavam preparados para esta actividade IDA Preços praticados muito elevados e não deveria haver comerciantes credenciados, mas sim escolhidos pelos camponeses - Unaca
Outras Constatações Huambo Foi elogiada a qualidade dos fornecedores BPC Bancos deveriam ter tido um papel mais activo na definição dos créditos - BPC A taxa de reembolso foi somente de 20% - BPC Satisfação com o programa, excepto na questão da margem de lucro dos adubos (10%) Fornecedores Insatisfação com as demoras no desalfandegamento das mercadorias - Fornecedores
Outras Constatações Malanje A campanha 2010-2011 beneficiou 6.727 agricultores e a de 2011-2012 5.564 O crédito atribuído permitiu acesso a imputes agrícolas diversos e teve um forte impacto na motivação dos camponeses Campanha teve organização deficiente na concertação entre as partes envolvidas e o processo foi lento D.P. Agricultura e IDA Reclama-se o curto período de tempo para pagamento do crédito (10 meses) Lamenta-se que a aprovação do crédito seja feita a nível central e que o prazo de reembolso começa na aprovação do mesmo
Outras Constatações Benguela Alguns funcionários bancários provocaram um clima de medo nos beneficiários Autoridades Tradicionais Criticas aos fornecedores em geral e ao facto de haver muitos processos pendentes nos Bancos Unaca Os Comités de Pilotagem devem explicar aos interessados o que se passou com a linha de crédito - Unaca
Outras Constatações Volume de crédito desembolsado em 2012 IDA Banco Operador Capital desembolsado (AKZ) Banco Sol 1.532.642.858,32 BCI 1.498.749.441,05 BMF 138.926.217,00 BPC 5.816.435.849,00 TOTAL 8.986.754.365,37 Linha de crédito inactiva desde o último trimestre de 2012 devido ao fraco cumprimento das cláusulas contratuais Ministério da Economia
Outras Constatações Resumo dos desembolsos e reembolsos em 2013 Ministério da Economia Banco Operador Ano Agrícola Capital Desembolsado (AKZ) Capital Reembolsado (AKZ) Banco Sol 2010/2011/2012 1.227.098.250,03 37.604.308,00 BPC 2010/2011/2012 11.742.544.828,37 210.696.201,22 BCI 2010/2011/2012 1.181.008.568,50 55.270.986,00 BAI/MF 2010/2011/2012 105.656.106,00 15.732.063,00 TOTAL 2010/2011/2012 14.256.307.752,80 319.303.558,22 Nível de reembolso insignificante (2,2%) Final da campanha agrícola 2011/2012 o nº de beneficiários do crédito era aproxim. 100.000 IDA e Ministério Economia
Reflexões sobre as Constatações A guerra e as politicas seguidas nessa altura não permitiram o desenvolvimento agrícola O crédito agrícola era uma prática usual em Angola As politicas dão pouca atenção à agricultura familiar Apesar das intenções de diversificar a economia e reduzir dependência do petróleo, a fraqueza do sector privado e a debilidade institucional, não o permite Crédito agrícola deve ser analisado neste contexto difícil A grande inexperiência dos actores não podia permitir um bom desenho programático
Reflexões sobre as Constatações Conhecimento de outras experiências era quase nulo O regulamento previa aquisição de equipamentos que não podem ser amortizados só numa campanha O período de reembolso de 10 meses era extremamente curto A taxa de juro era considerada demasiado elevada O valor máximo de $5.000 é considerado demasiado baixo O desenho de crédito de campanha não previu os riscos e contingências de uma actividade como a agricultura
Reflexões sobre as Constatações Desembolsos Beneficiários só recebiam bens dos fornecedores Não foi previsto apoio aos agricultores para elaboração de propostas Impossibilidade de acesso a fundo de maneio Beneficiários não escolheram os fornecedores Bens fornecidos nem sempre correspondiam ao previsto, nem às necessidades Os fornecedores não estavam preparados para assumir o papel que lhes estava atribuído Os preços praticados foram injustos e superiores aos praticados nos mercados locais A oportunidade dos desembolsos foi inadequada ao ano agrícola e ao ciclo das culturas, que revela desconhecimento do carácter sazonal ou ciclo da actividade agrícola
Reflexões sobre as Constatações Eficácia O crédito não está 100% mal, mas também não está 100% bem Agricultores beneficiados reconhecem que muitas necessidades foram ou podem ser resolvidas Dadas deficiências do desenho do programa e desvio às regras, o sistema não podia ser eficaz Falta de informação e divulgação, de participação dos beneficiários e de uma entidade reconhecida e respeitada pelos agricultores foram alguns dos condicionalismo do sistema Grande maioria dos agricultores não possui B.I. Exagerado desequilíbrio de género Bancos não têm pessoal qualificado e com sensibilidade para entender agricultura familiar
Reflexões sobre as Constatações Eficiência Crédito concedido foi de 170 milhões dólares O valor médio por beneficiário foi 1.700 dólares Calcula-se que só foram beneficiados com crédito 5 % dos agricultores familiares Huambo concedidos kz 1.339 milhões a 8.437 famílias e foram reembolsados 109 mil (8%) Malanje concedidos kz 152 milhões a 5.564 agricultores Huíla crédito concedido a 2.028 camponeses, num universo de 382.000 (0,5%) Os beneficiários não terem utilizado o volume máximo de crédito permitido, demonstra a prudência dos bancos O BPC é o maior credor com mais de 82% de valores de crédito mutuado
Reflexões sobre as Constatações Coordenação O Conselho Nacional de Segurança Alimentar nunca funcionou como mecanismo de coordenação, articulação e monitoria da ENSAN Os Comités de Pilotagem foram uma boa ideia mas os seus membros não estavam preparados Administradores com dificuldades de entender a importância da agricultura na economia local O paternalismo de algumas acções governamentais prejudica compreensão do crédito Outros actores sociais como as igrejas não entendem a importância da sua participação por não terem benefícios directos dela Os Comités devem ser revistos e dotados de condições para o seu funcionamento Coordenação só a nível municipal e central
Reflexões sobre as Constatações Cobertura O Crédito foi concedido em 95 municípios de todas as províncias Localização das agências bancárias e inexistência de fornecedores em muitos municípios é limitação para crédito chegar aos agricultores mais isolados Sustentabilidade A longa paralisação da linha de crédito é a prova da sua falta de sustentabilidade O desenho do programa e os desvios detectados não ajudaram a criar sustentabilidade A falta de financiamento da agricultura por parte do OGE é outro factor contra a sustentabilidade A sustentabilidade passa pela modernização tecnológica numa perspectiva de longo prazo (energia e fertilidade dos solos)
Conclusões O CAC é pertinente e valorizado por todos os entrevistados porque responde a uma necessidade sentida e é solução para a alavancagem da agricultura familiar Os impactos positivos poderiam ser maiores se os processos tivessem sido melhor organizados e coordenados Também a estiagem e a não previsão de imprevistos impediu um maior impacto As falhas foram muitas vezes ditadas pela inexperiência geral de todos os actores (o condicionalismo do novo). Isto não retira responsabilidade a alguns desses actores
Conclusões O desejo de os beneficiários terem acesso a dinheiro é justificados por uma situação que o PROAPEN pode colmatar A deficiente rede empresarial de prestação de serviços condicionou a execução do programa e o crédito não foi aproveitado para reforçar essa rede A deficiente rede de assistência técnica estatal e privada foi outra condicionante à execução do programa Mentalidade ainda existente de que o que é do Estado não é para pagar pode outra condicionante ao sucesso A suspensão em 2012 da linha de crédito tem sido muito perniciosa para o programa (confiança)
Recomendações CAC deve continuar mas serem corrigidos aspectos do desenho, melhorada a sua organização e reforçados os aspectos financeiros a todos os níveis Devem ser revistos os prazos de pagamento (diferido pelo período de 1 ano sobre o ciclo cultural) de modo que o serviço da divida não impeça o agricultor de crescer Estabelecer as taxas de juro de cerca de 1% (baseadas na Taxa Libor) O novo desenho deve prever riscos e contingências derivadas do clima, pragas ou doenças O CAC deve incidir onde o IDA e outras instituições de assistência técnica tenham condições de ajudar na elaboração das propostas e fazer o acompanhamento
Recomendações Deve ser negociado com os Bancos medidas para que melhorem a sua capacidade e eliminem os pontos fracos identificados Torna-se necessário melhorar a qualidade e aumentar o número de fornecedores, o que pode derivar da ampliação da actividade creditícia e aumento das áreas cultivadas CAC deve ser alavanca para a reanimação do comércio rural e da economia local Os Administradores devem ser mais responsabilizados pelo CAC e fomento agrícola em geral. Os Comités de Pilotagem devem ser reforçados e capacitados Devem existir mecanismos de coordenação a nível provincial
Recomendações Deve ser melhorada a forma de divulgar a informação sobre o acesso e condições para o CAC. EDAs devem ser principal canal de informação Devem ser tomadas medidas que melhorem os níveis de participação dos beneficiários nas várias fases, incluindo propostas e negociação com os bancos O CAC deve ser articulado e complementado com o PROAPEN e o PREI, para outras necessidades e tirar partido do processo de legalização e formações As autoridades, a todos os níveis, devem insistir no discurso de que quem beneficia de crédito tem de pagar para não prejudicar os outros e o País Se o crédito é de campanha, deve ser operacionalizado antes da mesma e integrado com outros projectos de desenvolvimento local