ESTIMATIVA DA POTENCIALIDADE DE GERAÇÃO DE CRÉDITO DE CARBONO NO SEGMENTO DE RIZICULTURA DO RS Carlos Augusto Buffé Basso (UFRGS) carlos@ctspapeis.com.br Gregório Rucks Varvaki Rados (UFRGS) gregoriorados@hotmail.com Istefani Carísio de Paula (UFRGS) istef@producao.ufrgs.br Em virtude do aquecimento global projetos que comprovarem que irão mitigar a emissão de metano podem gerar créditos de carbono (CC). O objetivo deste artigo é a quantificação da potencialidade de geração de CC no Rio Grande do Sul no setor orizícola. Para atingir este objetivo foi necessário investigar métodos existentes de cálculo para quantificar a emissão de metano a partir de diversas fontes, tais como a decomposição da casca de arroz no meio ambiente e a geração espontânea de metano em campos irrigados de arroz. O resultado da potencialidade de geração de crédito de carbono calculada para o RS foi da ordem de 2,3 milhões de créditos, representando oportunidade para projetos que removam cascas do meio ambiente ou promovam outras técnicas de manejos do solo. O artigo trouxe clareza sobre os processos da rizicultura, sobre os impactos deste no meio ambiente, e sobre o significado de Créditos de Carbono. Palavras-chaves: Cráditos de Carbono, cálculo da linha de base, rizicultura
1.Introdução O estado do Rio Grande do Sul é um estado com forte vocação agrícola, e neste ramo se destaca a rizicultura. Segundo o CONAB (2008), o estado é detentor da maior área cultivada dedicada a rizicultura no país, e, como conseqüência, é líder na produção de arroz. Milhares de empregos diretos e indiretos são gerados pelo setor e milhões de reais são injetados na economia a cada colheita realizada (IRGA, 2006). Todavia, este setor tão importante para a economia gaúcha gera impactos significativos ao meio-ambiente, que devem ser analisados. Segundo Neue e Boonjawat (1998), as lavouras de arroz são, dentre as atividades antropológicas (i.e, realizadas pelo homem), a maior fonte geradora de metano (CH4). O metano é um principal causador do efeito estufa, com potencial de aquecimento global vinte e uma (21) vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) (BNDES, 1999). Este gás é gerado pela decomposição da matéria orgânica em condições anaeróbicas, tais como as produzidas pelos métodos de irrigação utilizados nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul. Além disso, uma grande quantidade de casca de arroz sobra dos processos de engenhos do Rio grande do Sul. Este resíduo representa um sério problema ambiental, pois é impróprio para o uso como forragem para o solo ou alimento para animais, uma vez que contém uma grande quantidade de sílica. Boa parte deste material é depositada em aterros licenciados, onde se decompõem em condições anaeróbicas, gerando mais gás metano (CH4). A partir dos dados disponíveis até 1990 e da tendência de emissões nos níveis atuais, sem a implementação de políticas específicas para redução de emissões, a projeção do IPCC (International Panel for Climate Changes) é que o aumento da temperatura média na superfície terrestre seja entre 1,1 e 3,7 ºC no decorrer dos próximos 100 anos, enquanto o aumento observado no século 19 foi entre 0,3 e 0,6 ºC (BNDES, 1999) A fim de mitigar os efeitos do aquecimento global sobre o clima do planeta, a ONU, através da UNFCCC (United Nations Framework Convention for Clime Changing), estipulou metas de reduções de emissões dos Gases causadores do Efeito Estufa (GEEs) aos países desenvolvidos. Ela também desenvolveu mecanismos que possibilitam que paises em desenvolvimento contribuam com este esforço, uma vez que estes países não têm metas a cumprir. Todas estas metas e mecanismos estão compilados na forma de um documento, que veio a ser conhecido como Protocolo de Quioto (CHANG, 2002). No tocante ao Brasil, que é um dos países em desenvolvimento, a única forma de contribuir com a mitigação do aquecimento global dentro dos mecanismos previstos pelo Protocolo de Quioto é implementando projetos que reduzam a emissão de GEEs. Caso o proponente deste projeto venha a comprovar estas reduções, demonstrando que estas não ocorreriam na ausência do projeto, terá suas reduções certificadas, podendo negociar estas reduções junto a países desenvolvidos, para que estes atinjam suas metas (BRASIL, 2006). Uma vez que o setor de rizicultura é responsável pela emissão de uma grande quantidade de um GEE, projetos que reduzam estas emissões podem ter suas reduções certificadas pela ONU, as quais teriam um alto valor de mercado. Todavia não existem estudos publicados a cerca da total potencialidade de geração de reduções certificadas no Rio Grande do Sul no setor de rizicultura, e 2
são poucas as fontes descrevendo os métodos existentes para reduzir as emissões de metano neste segmento. Em vista do exposto, o objetivo do trabalho é a quantificação da potencialidade para a geração de reduções certificadas no Rio Grande do Sul no setor orizícola. Além desta quantificação, este artigo tem como objetivos específicos contribuir com a compreensão dos métodos existentes de cálculo, trazer clareza sobre os processos de produção e beneficiamento de arroz, esclarecer os impactos deste no meio ambiente, e sobre o significado de Créditos de Carbono. 2 Revisão da literatura 2.1 Aquecimento global e o Protocolo de Quioto A atmosfera é constituída por uma mistura de gases, predominantemente nitrogênio (N2) e oxigênio (O2), perfazendo em conjunto, 99% do total. Vários outros gases encontram-se presentes em menores quantidades, dentre eles o dióxido de carbono (CO2), o ozônio (O3), o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que juntamente com o vapor d água (H2O) forma o grupo de gases conhecido como Gases do Efeito Estufa (GEE) (BNDES, 1999). Os GEE permitem a passagem da radiação solar, mas retardam a liberação da radiação infravermelha emitida pela Terra de volta ao espaço. Assim, pela ação do efeito estufa natural, a atmosfera se mantém cerca de 30 C mais aquecida do que seria na ausência deste fenômeno, possibilitando, com isso, a existência de vida no planeta (IPCC, 1996; GEROMINI, 2004). Todavia, com o aumento das emissões de GEE resultante de atividades antrópicas as concentrações de CO2 e CH4 aumentaram na ordem de 30% para e 150%, respectivamente, nos últimos 150 anos (ROCHA, 2003) e com eles a capacidade da atmosfera de reter calor tem aumentado, elevando assim a temperatura média terrestre. A fim de mitigar os efeitos do aquecimento global causado pela emissão de GEE por atividades antrópicas, a Organização das Nações Unidas (ONU), através da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças do Clima (CQNUMC), estipulou metas de reduções de emissões e desenvolveu instrumentos de mercado a fim de auxiliar os países a diminuírem suas emissões. Estas metas e mecanismos estão expressos no documento que veio a ser conhecido como Protocolo de Quioto (BRASIL, 2006). Os países signatários do Protocolo de Quioto foram divididos em dois grupos, de acordo com seu nível de industrialização; no primeiro grupo foram agrupados os países desenvolvidos, que assumiram o compromisso de diminuir, no horizonte compreendido entre os anos de 2008 e 2012, suas emissões de GEEs em 5,2% na média, com relação aos níveis de 1990. O segundo grupo, formado pelos países em desenvolvimento, pode auxiliar na redução de emissão desses gases, embora não tenham um compromisso legal de redução até 2012 (BRASIL, 2006). Essa redução voluntária de emissões pode ser feita através de projetos que, quando devidamente registrados junto à ONU, têm suas reduções de emissões certificadas, as quais podem ser vendidas à países desenvolvidos signatários do Protocolo de Quioto, auxiliando-os no cumprimento de suas metas (BRASIL, 2006). 2.2 Crédito de carbono 3
Projetos registrados e aprovados pela ONU, através do conselho do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), podem vir a ter as reduções de emissões de GEE certificadas. Caso isso ocorra, o conselho do MDL emitirá títulos chamados Reduções Certificadas de Emissões (RCE) para cada tonelada equivalente de dióxido de carbono que o projeto deixou de emitir ou retirou da atmosfera. Uma tonelada equivalente de dióxido de carbono é a quantidade de gases GEE com o mesmo potencial para o aquecimento da atmosfera do que uma tonelada de CO2. A esta diferença de potencial de aquecimento entre os gases é dado o nome de Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potencial GWP). O GWP é uma unidade padrão, que utiliza como base o GWP do dióxido de carbono. Assim, o CO2 tem um GWP igual a 1, enquanto o metano, que tem a capacidade de aquecimento da atmosfera 21 vezes maior que a capacidade do CO2, tem um GWP igual a 21. Com efeito, caso um projeto venha a reduzir as emissões de metano, produzirá aproximadamente 1 (um) RCE para cada 47,62 Kg de metano que não for emitido (UNFCCC, 2008-a). Apesar de RCE ser a nomenclatura técnica utilizada pelos órgãos nacionais e internacionais para se referirem a uma tonelada equivalente de carbono retirada da atmosfera, daremos preferência neste trabalho à nomenclatura créditos de carbono, para facilitar o entendimento por parte do leitor, uma vez que o nome créditos de carbono (CC) já esta consolidado no jargão da área. 2.3 Rizicultura e suas emissões Segundo CONAB (2008), a área plantada dedicada à cultura do arroz no Brasil durante a safra 2005/2006 foi de 3,0178 milhões hectares, dos quais 1,0397 milhões hectares estavam no Rio Grande do Sul. Ainda segundo a CONAB (2008), o estado produziu 6.872,4 toneladas de arroz na safra 2005/2006, o que foi um recorde histórico neste setor. De acordo com o secretário extraordinário da Irrigação do Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Sul é o maior estado irrigador do Brasil, possuindo cerca de 55% de sua área irrigada, concentrada principalmente nas lavouras de arroz (PIRATINI, 2007). Assim, é plausível atribuir que uma grande quantidade de metano seja produzida no RS devido às condições anaeróbicas causadas pela irrigação. A plantação de arroz no Rio Grande do Sul se dá em propriedades de diversos tamanhos. Esse arroz, que é colhido com o auxílio de máquinas, é levado ainda com casca para silos, onde sofre o processo de secagem e fica aguardando beneficiamento. O beneficiamento ocorre em engenhos, que retiram a casca do arroz, limpam o produto, selecionam os grãos e os acondiciona em embalagens. Este processo de beneficiamento é realizado ao longo de todo o ano, escoando a produção de acordo com a demanda. Segundo GEEA (2007-a), 22% do peso total das cargas entregues aos engenhos é composta de casca de arroz. De acordo com levantamentos feitos por Rucatti e Kayser (2004), cerca de 15,2 % desta casca é utilizada como combustível nos fornos de secagem, 14 % é utilizado na geração de vapor, 7% como aditivo para cimento, 4,2% é utilizado com fonte de energia para motores e 59,6% tem com destino final aterros licenciados. Como a queima de biomassa repõe à atmosfera no máximo a mesma quantidade de carbono que foi previamente removido dela pela fotossíntese, as emissões provenientes da queima de casca de 4
arroz não são contabilizadas pelo conselho do MDL no cálculo de emissões de GEE. Todavia, o metano que esta biomassa gerará durante sua decomposição, caso não seja queimada, é contabilizada (BNDES,1999). Assim, a queima da casca de arroz é uma forma de gerar créditos de carbono. Outra importante fonte de emissões associada a rizicultura é energia elétrica utilizada no processo. De acordo com ANEEL (GEEA,2007-a), o fator de emissão de carbono da rede sulsudeste-centro-oeste a qual o estado está ligado é de 0.2611 toneladas de CO2e/MWh. Assim, caso algum projeto altere a demanda de energia elétrica requerida pelo processo, o fator acima deverá ser levado em consideração. 3 Metodologia Em relação ao objetivo geral, o método de pesquisa utilizado no trabalho é pesquisa exploratória. Diehl e Tatim (2004), assim como Cervo e Bervian (2002), definem que a pesquisa exploratória inicia-se por algum fenômeno de interesse e, além de observar e registrar a incidência do fenômeno, busca explorar as dimensões deste, a maneira pela qual ele se manifesta e os outros fatores com os quais ele se relaciona. Quanto ao método de trabalho adotado neste artigo, este se compõe dos seguintes passos: i) levantamento de dados a respeito da rizicultura no RS; ii) investigação de projetos de crédito de carbono na área da rizicultura no RS, submetidos aos organismos competentes; iii) levantamento das equações e parâmetros para o cálculo dos créditos de carbono; iv) efetivação dos cálculos; v) análise de resultados e conclusões. 4 Resultados Em relação ao levantamento de dados a respeito da rizicultura no RS, segundo o CONAB (2008), o estado do RS foi responsável por 34,4% da produção de arroz nacional no ano de 2005. Este índice coloca o estado na liderança nacional, situação que tem se mantido constante nos últimos anos. A área plantada no RS e a produção atingida nos últimos 10 anos são apresentadas na Tabela 1. Safra Área Plantada (mil hectares) Produção (mil tons) 1995/96 828.8 4210.3 1996/97 779.1 4160.4 1997/98 849.2 3609.1 1998/99 985.1 5605.2 1999/00 942.2 5087.9 2000/01 940.3 5190.5 2001/02 985.0 5464.8 2002/03 960.4 4696.4 2003/04 1060.8 6432.7 2004/05 1071.2 6332.9 2005/06 1039.7 6872.4 Média 1044.2 5766.3 5
Fonte:CONAB (2008) Tabela 1 Dados histórico do setor orizícola do RS Ao observar os dados expressos na Tabela 1, fica evidente que tanto a área plantada dedicada à cultura orizícola quanto o tamanho das safras tem aumentado paulatinamente nos últimos anos. Entretanto, mesmo que a tendência verificada seja de crescimento, é prudente utilizar nos cálculos as médias de produção e área plantada dos últimos dez anos. Ao adotar esta postura conservadora provavelmente serão atingidos valores inferiores aos reais, na estimativa de créditos de carbono que é possível gerar no setor orizícola no estado. Porém a adoção desta postura é aconselhada em diversas metodologias aprovadas pelo conselho do MDL. Segundo Mattos e Lima (2002), as emissões de metano provenientes da produção de arroz no ano de 1994 foram de 190 mil toneladas de metano. Como o levantamento da CONAB (2008) indica que a área plantada em 1994 foi de 975 mil hectares, pode-se concluir que a produção de metano nos campos de arroz do RS foi de aproximadamente 194,9 KgCH4/hectare no período estudado. Para determinar qual parcela destas emissões podem ser mitigadas, levantou-se a possibilidade de substituir as técnicas de manejo do solo por outras que restrinjam os períodos de submissão do solo a condições anaeróbicas (o solo fica sob a água, sem oxigênio). Segundo Neue e Boonjawat (1998), estudos realizados em lavouras situadas na China, EUA e Itália, demonstram que o uso de técnicas alternativas de plantio de arroz reduzem a geração de metano, quando comparadas com a técnica convencional. Observou-se uma variação de 50 % a 88 % na geração de metano apenas controlando os períodos de inundação dos campos. No que diz respeito à investigações dos projetos de crédito de carbono na área da rizicultura no RS, foi realizada a pesquisa acessando o site da UNFCCC (2008-b). Neste site, todo o projeto já encaminhado ao conselho do MDL, quer esteja aprovado ou em fase de apreciação, está disponível para visualização. Foram levantados até a data de publicação deste trabalho, 4 projetos desenvolvidos para gerar créditos de carbono os quais se associavam de alguma forma com a produção de arroz no RS. O primeiro, proposto pela Geradora de Energia Elétrica Alegrete (GEEA, 2007-a), trata exclusivamente da geração de energia pela queima da casca de arroz, e produz 8.478 CC ao ano. O segundo, proposto pela mesma empresa (GEEA, 2007-b), um trata exclusivamente das emissões de metano evitadas pela queima da casca, e produz 19.408 CC ao ano. O terceiro projeto, proposto pela Camil (CAMIL, 2006), reduz emissões através destes dois processos simultaneamente, e produz 61.425 CC ano ano. O quarto projeto, proposto pela AMBEV (2007), prevê a substituição de combustível fóssil por biomassa na produção de vapor, que é utilizado no processo de fabricação de cerveja. Esta biomassa leva em sua composição casca de arroz, mas também tem outros materiais, tais como sabugos de milho e restos de malte. Assim, como não está especificada no projeto a fração de casca de arroz utilizada na mistura, a metodologia por ele aplicada não será aplicada neste trabalho. 6
Nenhum projeto ou metodologia aprovada que utilizasse qualquer outra abordagem para reduzir as emissões de GEE, tais como a utilização de técnicas alternativas de manejo do solo, foi encaminhado ao conselho do MDL até a data de publicação deste trabalho. Em relação ao levantamento das equações e parâmetros para o cálculo dos créditos de carbono, estas são as equações necessárias para calcular o potencial de geração de créditos de carbono no setor orizícola do Rio Grande do Sul. Deu-se preferência como fonte literária os projetos já aprovados junto ao conselho do MDL, uma vez que as metodologias utilizadas nestes já foram avaliadas. Assim, fica evidente que proponentes que vierem a aplicar estas mesmas equações em seus cálculos terão maior chance de ter seu projeto aprovado. Para calcular as reduções de emissões associadas ao não aterramento da casca de arroz (casca que fica exposta ao meio), todos os proponentes valeram-se da mesma formula, que é descrita na ferramenta de determinação de redução de emissões de metano geradas por resíduos orgânicos em aterros de resíduos sólidos (UNFCCC, 2007-b). Segundo esta ferramenta, a quantidade de metano produzida no ano y é calculada utilizando a Equação (1) expressa baixo: (1) Onde: - : Créditos de carbono passiveis de serem gerados através da mitigação de emissões de metano provenientes do decaimento da biomassa no ano y em toneladas de dióxido de carbono equivalentes (tco 2e) - : as emissões de metano mitigadas durante o ano y devido à redução de detritos sólidos depositados no aterro para detritos sólidos, depositados desde o inicio do projeto até fim do ano y em t CO 2e - : metano que seria capturado e destruído para obedecer normas nacionais durante o ano y em t CO 2e Para calcular as emissões de metano mitigadas durante o período de em que o projeto emitirá créditos de carbono (i.e, 10 anos) devido à redução de detritos sólidos depositados no aterro é utilizada a equação (2) abaixo. Onde, - : O fator de correção do modelo, para considerar as incertezas do mesmo (valor padrão: 0,9) - : A fração de metano que é capturada, no aterro de detritos sólidos (nulo) - : O potencial de aquecimento global do metano [21, segundo UNFCCC(2008-a)] - OX: Parcela de metano oxidada pela cobertura do aterro (nulo) - : Conversão de C para CH 4 (em massa) - : Fração de CH 4 no gás emitido pelo aterro (valor padrão: 0,5) - : Fração do carbono orgânico (DOC) que pode ser decomposto (valor padrão: 0,5) - : Fator de Correção do metano (Valor padrão: 0,4) - : Quantidade de detrito do tipo j prevenida de ser depositada no aterro no ano x - : Fração de carbono orgânico presente no detrito j (0,43) - :Taxa de decaimento para o tipo de dejeto J (0,030) - :Tipo de dejeto distinguido pelas categorias de dejetos (j=casca de arroz) (2) 7
- :Ano durante período de em que o projeto ganha RCEs: x vai do primeiro ano do projeto (x=1) até o anos em que as reduções de emissões são calculadas (x=y) - : Ano para o qual as emissões são calculadas. (y=10) Além das reduções de metano resultantes da queima da casca de arroz, 2 projetos sediados no RS reclamam créditos de carbono pela geração de energia elétrica proveniente da queima de biomassa. Isso é feito com base na metodologia consolidada para a geração de energia elétrica através de fontes renováveis conectadas a rede (UNFCCC, 2007-a). Segundo esta metodologia, podemos calcular as emissões evitadas por um projeto de geração de energia elétrica com base na estimativa de emissões de carbono geradas pelo consumo da mesma quantia de energia caso esta fosse retirada da rede local. Tal estimativa é feita através da equação (3) expressa a seguir. Onde, - : Emissões relacionadas ao consumo de energia elétrica (tco2e) - : Energia gerada pelo projeto no ano y enviada para a rede (529411,8Wh/ton de combustivel) - :Fator de emissão de carbono na rede elétrica (tco2e es / MWh). (É calculado como uma margem combinada (CM) da margem construída (EF_BMy) e da margem operacional.) De acordo com as recomendações dadas no UNFCCC (2007-a), para projetos brasileiros, a margem operacional deve ser calculada como a margem operacional simples ajustada ( ). O é estimado conforme a equação (4) expressa a seguir. (3) Onde, - : Fator de emissão da margem operacional simples ajustada (0.4349 tco2e/mwh) - : Fator de emissão da margem construída (0.0872 tco2e/mwh) - ωom = ωbm (valor padrão: 0,5) Como nenhum projeto visando à redução de emissões de GEE através de práticas de manejo do solo foi submetido à apreciação do comitê do MDL até a data de publicação deste trabalho, foram desenvolvidos, neste trabalho, métodos de calculo para estimar as reduções de GEE utilizando como base os estudos apresentados por Neue e Boonjawat (1998). De acordo com o estudo destes autores, ao se controlar os períodos de alagamento do solo podese reduzir drasticamente as emissões de metano proveniente da putrefação da matéria orgânica presente no solo. Embora algumas técnicas tenham resultado em 88% de redução das emissões de CH4, é prudente utilizar neste trabalho dados mais conservadores. Assim, consideraremos que através da aplicação de práticas de manejo do solo alternativas, é possível atingir um índice de redução de 50%, que foi o menor índice obtido nos estudos realizados por Neue e Boonjawat (1998). Ao combinar com esta informação com os dados obtidos na seção 2.3. deste trabalho, obtemos a equação (4) expressa a seguir. (4) 8
Onde, (4) - : Quantidade de emissões mitigadas pelo processo de mudança de manejo do solo (em tco2e/ano) - : Área de cultivo da plantação irrigada[10,442,000 hectare, segundo CONAB (2008) - : Quantidade de metano liberada por hectare de plantação irrigada por ano (0,1949tCH4 /hectare*ano) - : Índice de redução de emissões pela mudança de manejo de do solo [0,5, segundo Neue e Boonjawat (1998)] - : O potencial de aquecimento global do metano [21, segundo UNFCCC (2008-a)] A respeito da efetivação dos cálculos, como não existem normas nacionais ou regionais que exijam que qualquer fração da casca de arroz gerada por engenhos seja queimada, é nulo. Assim, a Equação (1) se reduz à Equação 5. = (5) Para determinar o valor de, que será o total de créditos de carbono passíveis de serem gerados no RS por evitar aterramento de biomassa a partir da queima de casca de arroz, é necessário determinar o valor de na equação (2). Para tanto, deve-se levar em consideração a safra média dos últimos 10 anos (5.766.300 ton, segundo CONAB, 2008), a fração desta massa composta por casca de arroz (22%, segundo GEEA, 2007-a) e a fração de casca de arroz destinada a aterros [59,6%, segundo Rucatti e Kayser, (2004)]. Assim, = (5.766.300 ton/ano)*(0,22)*(0,596) = 756.077ton/ano (6) Aplicado (6) em (2), obtemos que as emissões acumuladas ao longo do período y (i,e, dez anos) são 1.220.367te, o que resulta em uma média anual de 122.037tCO2e. Aplicando estes resultados à (5), temos que a potencialidade média de geração de créditos de carbono nos próximos dez anos no estado do RS pela queima da casca de arroz para evitar emissões de metano pela decomposição deste material é de 122,037 CC ao ano. Para calcular os créditos de carbono gerados pela produção de energia elétrica com os a queima controlada da casca de arroz, será utilizada a equação (3). Para tanto, duas variáveis devem ser determinadas: A energia gerada pelo projeto no ano y ( ), e o fator de emissão de carbono na grade elétrica ( ). Considerando que a quantidade de casca disponível para queima é a mesma calculada em (6), tem-se: = (756.077ton/ano) * (0,48235294118MWh/ton) = 364.695,96MWh/ano (7) Com bases nos índices levantados junto a equação (4), tem-se = (0.5*0.4349)+(0.5*0.0872) = 0.26105tCO2e/MWh (8) Assim, aplicando (7) e (8) em (3), tem-se: = 0.26105tCO2e/MWh * 364.695,96MWh/ano = 95.204tCO2e/ano (9) 9
Desta forma, constata-se que a quantidade de reduções passíveis de serem obtidas através da produção de energia elétrica a partir da queima controlada da casca de arroz ao longo dos próximos dez anos é equivalente a 95.204 CC. Para calcular a quantidade de créditos de carbono passiveis de serem gerados através de práticas diferenciadas de manejo do solo será utilizada a equação (4), aplicando a ela os parâmetros levantados. Assim, se obtem: = 10.442,000*0,1949*0,5*21 = 2.136.493,8tCO2e/ano (10) Assim, conclui-se que a quantidade de reduções passíveis de serem obtidas anualmente através de mudanças nas práticas de manejo do solo vigentes no estado do RS é equivalente a 2.136.493 CC. Em relação a analise dos resultados, a quantidade de créditos de carbono que pode ser produzida pode ser dividida em três fontes; projetos provenientes da queima da casca de arroz para evitar emissões de metano, projetos que argumentem a transformação da energia térmica proveniente da queima da casca para a produção de energia elétrica, e projetos que proponham a aplicação de novas técnicas de manejo do solo no setor orizícola do RS, para minimizar a geração de metano. Fica assim evidente que é neste ultimo tipo de projeto que se encontra o maior potencial para redução de emissões de GEE. Isso pode ser melhor visualizado na Tabela 2, onde os resultados obtidos na etapa anterior foram compilados. Período (anos) Fonte de Reduções (tco2e/ano) Queima de Biomassa Geração de Eletricidade Manejo do Solo 1 18484 95204 2136494 2 38094 95204 2136494 3 58881 95204 2136494 4 80899 95204 2136494 5 104204 95204 2136494 6 128853 95204 2136494 7 154907 95204 2136494 8 182428 95204 2136494 9 211481 95204 2136494 10 242135 95204 2136494 Total 1220367 952039 21364938 Média Anual 122037 95204 2136494 Fonte: Autoria Própria Tabela 2 Potencial de redução anuais de GEE no RS Ao levarmos em conta as reduções de emissões certificadas ou CC gerados por projetos existentes, fica claro que boa parte do potencial existente para projetos que proponham a queima da casca do arroz gaúcho para evitar a emissão de metano por este material e projetos que proponham a geração de energia elétrica usando a casca como combustível já foram explorados (Figura 2). Somadas, as produções anuais de créditos de carbono dos projetos da Camil e GEEA (ambos os projetos) perfazem 89.311 CC, enquanto o potencial anual levantado neste artigo para a queima e a geração de energia é de 217.241 CC. A fração explorada deste potencial pode ser vista na Figura 1. 10
Inexplorados, 71% Explorados, 29% Fonte: Autoria Própria Figura 2 - Potencial parcial de geração de RCE na rizicultura do RS Entretanto, ao adicionar-se a este cálculo o potencial para geração de créditos de carbono referentes à utilização de técnicas alternativas de manejo do solo, a fração explorada torna-se consideravelmente menor. Como é apresentado na Tabela 2, projetos que venham a explorar esta fonte de redução de emissões podem produzir até 2.136.494 CC ao ano, o que aumenta o potencial anual inexplorado do setor orizícola do RS para 2.264.423 CC. A fração explorada deste novo cenário pode ser vista na Figura 3. Inexplorados, 96% Fonte: Autoria Própria 5 Considerações Finais Explorados, 4% Figura 3 - Potencial total de geração de RCE na rizicultura do RS Ao lançar luz sobre os processos de produção e beneficiamento de arroz, fica evidente que a rizicultura pode impactar negativamente no meio ambiente, e de forma relevante. Os métodos de calculo apresentados neste artigo possibilitam o levantamento destas emissões, e viabilizam a elaboração de projetos que visem mitigar estas emissões. Apesar do levantamento feito por este artigo tratar-se de uma quantificação preliminar da potencialidade de geração de créditos de carbono no setor orizícola do RS, e indicar que estudos mais aprofundados devam ser realizados antes que investimentos sejam alocados nesta área, é evidente que muitos créditos de carbono ainda podem ser gerados através da rizicultura no RS. Somente três projetos dedicam-se exclusivamente a exploração do potencial que a rizicultura 11
gaúcha oferece na produção de RCEs. Como a quantificação apresentada neste artigo, é possível estimar que atualmente apenas 4% do potencial total, que é de 2.353.734 CC, está efetivamente sendo aproveitado. A maior barreira para a exploração dos 96% restantes é a inexistência de metodologias adequadas ao setor agrícola aprovadas pelo conselho do MDL. Sem estas metodologias, pouco pode ser feito, já que nenhum projeto será aprovado pelo conselho do MDL sem que antes a metodologia seja por eles analisada. Artigos que venham lançar luz sobre a produção de metano nos campos de arroz do RS ou que venham propor técnicas para mitigar estas emissões serão de grande valia na elaboração de futuros projetos que visem explorar este segmento, contribuindo assim com a economia do estado. 6. Bibliografia AMBEV. Companhia de Bebidas das Américas. Burning of solid biomass for process steam generation for beer manufacture in place of the BPF 3 fuel oil at the Águas Claras do Sul Branch. 2007. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/yvgqygkn4k2pdn6ucu0ory7c6f4d6n> Acessado em: 8 mai. 2008. BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Efeito estufa e a convenção sobre a mudança do clima. Assessoria Especial de Meio Ambiente & Ministério da Ciência e Tecnologia, 1999. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/especial/clima.pdf> Acesso em: 20 nov. 2007. BRASIL. Ministério de Ciência e Tecnologia. Introdução - Protocolo de Quioto. 2006. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/revista_pr/102/manyu.pdf>. Acesso em 23 de Novembro de 2007. CAMIL. Alimentos S.A. CAMIL Itaqui Biomass Electricity Generation Project. 2006. <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/7q7ih03dpaa2el4sa8am4i5ckq7502> Acessado em: 8 mai. 2008. CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. São Paulo: Printice-Hall, 2002. CHANG, M. Seqüestro de carbono florestal: Oportunidades e riscos para o Brasil. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 102, p.85-101, jan-jun.2002. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/revista_pr/102/manyu.pdf>. Acesso em 23 de Novembro de 2007. CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Arroz Brasil. Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/arrozseriehist.xls> Acessado em: 8 mai. 2008. DIEHL, A.A.; TATIM, D.C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice-Hall, 2004. GEEA. Geradora de Energia Elétrica Alegrete. GEEA-SBS Biomass Treatment Project in Alegrete. 2007-a. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/457gsxgvwu0ofosh7mdml51uzjk0r1> Acesso em: 8 mai. 2008. GEEA. Geradora de Energia Elétrica Alegrete. GEEA Biomass 5 MW Power Plant Project. 2007-b. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/8wxet8lavah2h195m6us8g5e6jotez > Acesso em: 8 mai. 2008. GEROMINI, M.P. Análise qualiquantitativa do balanço de carbono em empresa do setor florestal destinada à produção de molduras. Blumenau: FURB, 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental). Centro de Ciências Tecnológicas, Universidade Regional de Blumenau, 2004. Disponível em: <http://proxy.furb.br/tede/tde_arquivos/5/tde-2006-11-20t090718z- 152/Publico/Diss%20Marcio%20Geromini.pdf> Acesso em: 20 nov. 2007. 12
IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. Revised 1996. IPCC guidelines for national greenhouse gas inventories: reference manual v 3, 1996. Disponível em: <http://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/gl/invs6.htm> Acesso em: 20 nov. 2007. IRGA. Instituto Rio-Grandense do Arroz. Alerta à sociedade gaúcha. Rio Grande do Sul, 2006. Disponível em: <http://www.irga.rs.gov.br/index.php?action=noticia_detalhe&id=1172> Acessado em: 8 mai. 2008. MATTOS, M.L.T.; LIMA, M.A. Arroz no Efeito Estufa. Revista Cultivar Grandes Culturas, Rio Grande do Sul, Pelotas. n.42, ago. 2002. NEUE, H.U., BOONJAWAT, J. Methane emission from rice fields. In: GALLOWAY, J.N., MELILLO, J. M. Asian Change in Context of Global Climate Change. United Kingdom: Cambridge University Press,1998. p.187-209. PIRATINI.Palácio. 2007. Disponível em: <http://www.riogrande.com.br/rio_grande_do_sul_agropecuaria_yeda_entrega_premio_internacional_de_irrigacao_a _produtores_gauchos-o143974-en.html> Acessado em : 8 mai. 2008. ROCHA, M. T.; Aquecimento global e o Mercado de Carbono: Uma aplicação do modelo CERT. Piracicaba: USP, 2003. Tese, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2003. RUCATTI, E. G.; KAYSER, V. H. Produção e disponibilidade de arroz por região brasileira. 2004. Disponível em: Revista Brasileira de Cartografia No 58/03, Dezembro 2006. UNFCCC. ACM0002, Consolidated methodology for grid connected electricity generation from renewable sources, 2007-a. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/cdmwf_am_323m30idf1ih6ag3grcj4pkr9ckm7p> Acesso em: 05 abr. 2008 UNFCCC. AMS-III.E, Avoidance of methane production from decay of biomass through controlled combustion, gasification or mechanical/thermal treatment, 2007-b. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/usermanagement/filestorage/iakef9ave8stmfb3oq880z25v0l25> Acesso em: 05 abr. 2008. UNFCCC. United Nations Framework Convention on Climate Change. Global Warming Potentials. 2008-a. Disponivel em:< http://unfccc.int/ghg_data/items/3825.php>. Acessado em: 8 mai. 2008. UNFCCC. United Nations Framework Convention on Climate Change. CDM Home Page., 2008-b. Disponível em: < http://cdm.unfccc.int/index.html > Acesso em: 05 abr. 2008. 13