Dicas do Fanta. A água travessias, problemas e soluções Por Guilherme Nüske (Fanta) *



Documentos relacionados
MÁQUINAS AGRÍCOLAS PROF. ELISEU FIGUEIREDO NETO

ALISADOR DE CONCRETO MANUAL DO USUÁRIO NAC2. Por favor, leia este Manual com atenção pára uso do equipamento.

Universidade Paulista Unip

RESPONSABILIDADES DO OPERADOR

como a DT200 da Yamaha.

V.7. Noções Básicas sobre o uso da Potência e do Torque do Motor.

Bicicletas Elétricas MANUAL KIT ELÉTRICO

Vícios e Manias ao Volante

2 PRESCRIÇÕES GERAIS PARA O TRANSPORTE DE PRODUTOS PERIGOSOS

Manual de Uso Equipamentos

Sky Rider 22. Helicóptero com Radiocontrole. Manual do Usuário CÓD GARANTIA. Candide Indústria e Comércio Ltda.

Cozinha Industrial. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Segurança do Trabalho

Tipos de Poços. escavação..

INSTALAÇÃO, LUBRIFICAÇÃO E MANUTENÇÃO DAS CORRENTES TRANSPORTADORAS PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DA CORRENTE

Instruções para Carrinho de Bebê Multifuncional SONHO

Profa. Maria Fernanda - Química nandacampos.mendonc@gmail.com

Manual Do Usuário BIOFLEX/ND/HD/TY/EV6. Certificado de Garantia. Mod: Controle: PLANATC Tecnologia Eletrônica Automotiva Ltda

MECÂNICA PREVENTIVA E CORRETIVA EM VEÍCULOS PESADOS

Adaptação de. PdP. Autor: Luís Fernando Patsko Nível: Intermediário Criação: 13/01/2006 Última versão: 18/12/2006

SOPRADOR ASPIRADOR GASOLINA 2T. Manual do Operador

Máquinas Térmicas Τ = Q Q 1 2 T

How To de instalação de chicotes para farol de neblina Vectra C

MANUAL DO PROPRIETÁRIO

1 Alteração das imagens do aparelho Kaue Alteração na capacidade do reservat rio, de 1600ml para 1400ml Kaue

EPS ABS AIRBAG CINTO DE SEGURANÇA CAPACETE CADEIRA DE BEBES

Texto para a questão 4

PROVA ESPECÍFICA Só há uma opção correta em cada questão. Operador de Máquinas Pesadas CNH D Trator Agrícola

Segurança com serra mármore. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Segurança do Trabalho

MANUAL DE INSTRUÇÕES. Obrigado por adquirir a escova elétrica corporal e facial D-Clean Plus. Este manual deve ser guardado para consultas futuras.

Manual de Instalação e Operações

NPT 015 CONTROLE DE FUMAÇA PARTE 8 18 ASPECTOS DE SEGURANÇA DO PROJETO DE SISTEMA DE CONTROLE DE FUMAÇA

FOGÃO ELÉTRICO. Manual de Instruções SIEMSEN. (0xx) LINHA DIRETA

Conversor flex para 4 injetores + sistema de partida a frio

Segurança com retroescavadeira. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Segurança do Trabalho

CUIDADO O tempo de carregamento não deve exceder 3 5 horas. ESPECIFICAÇÃO Chave de fenda: Velocidade: 200rpm;

Saiba mais sobre Condicionadores de AR.

3. TESTE DE MOTOR INFORMAÇÕES DE SERVIÇO DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS 3-1 INFORMAÇÕES DE SERVIÇO 3-1 DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS 3-1 TESTE DE COMPRESSÃO 3-2

PRINCIPAIS DEFICIÊNCIAS EM CIRCUITOS HIDRÁULICOS QUE OCASIONAM FALHAS EM BOMBAS HIDRÁULICAS

PORTUGUÊS BRASILEIRO

Procedimentos de montagem e instalação

Engine Management systems WB-O2. Condicionador para Sensor Lambda Banda Larga (Wide Band) Manual de Instalação e Especificações Técnicas

KIT 6 em 1. (Aparadores de Pêlos) Modelo: RD1000 MANUAL DE INSTRUÇÕES

Chemguard - Sistemas de Espuma. Sistemas de espuma de alta expansão DESCRIÇÃO: SC-119 MÉTODO DE OPERAÇÃO

MANUAL DE NORMAS GERAIS E DE SEGURANÇA EM LABORATÓRIO

Condicionador para Sensor Lambda Banda Larga (Wide Band) Manual de Instalação e Operação

Manual de Instruções NÃOPODERÁ SER UTILIZADO POR TERCEIROS ESTE DESENHO É PROPRIEDADE EXCLUSIVA DA BRITÂNIA ELETRODOMÉSTICOS LTDA.

1 INSTRUÇÕES IMPORTANTES DE SEGURANÇA

IMPERMEABILIZAÇÕES TRATAMENTO DE UMIDADE E EFLORESCÊNCIAS EM PAREDES

MANUAL DE INSTRUÇÕES DO TACÔMETRO DIGITAL MODELO TC Leia atentamente as instruções contidas neste manual antes de iniciar o uso do instrumento

NGK recomenda revisão periódica de velas de ignição de motocicletas

Um sistema bem dimensionado permite poupar, em média, 70% a 80% da energia necessária para o aquecimento de água que usamos em casa.

Condições de Instalação e Uso

1 - AUTOMATIZADOR: Utilizado exclusivamente em portas de enrolar de aço. Existem diversas capacidades e tamanhos. Verifique sempre o peso e o tamanho

DEPILADOR CHIARO CADENCE DEP131

RECOMENDAÇÕES, PRECAUÇÕES CAIXA DE CÂMBIO MANUAL PILOTADA TIPO MCP

MANUAL DO USUÁRIO AQUECEDOR ECOLÓGICO DE PAINEL ECOTERMIC AQC700

Manual de montagem. Equipamento básico ISOBUS com tomada de cabine ISOBUS

EXAUSTOR MUNTERS MANUAL DE INSTALAÇÃO EXAUSTOR MUNTERS REV.00-11/2012-MI0047P

CAMPEONATO GAÚCHO DE ARRANCADA

MIXER INOX. Manual de Instruções

Manual de Instruções Aparelho Abdominal

Climatizador de Ar Fresh Plus PCL703

Pulverizador Agrícola Manual - PR 20

MaxHome. Mini Ferro de Viagem. MaxHome. Sm-110 Bivolt

*Imagens meramente ilustrativas SOLDA ARCO 250. Manual de Instruções

Manual de Operação 1

A CONTRATADA se responsabilizará apenas pelo custo de mão-de-obra de conserto empregada no local, no momento do atendimento emergencial.

1. A corrida de vetores numa folha de papel.

1 Introdução. 2 Material

AQUECEDOR A ÓLEO INSTRUÇÕES OPERACIONAIS CALDOSETTE

CONVERSOR DE TORQUE PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO

Dicas de Ecoeficiência. santander.com.br/sustentabilidade

Lâmpadas. Ar Condicionado. Como racionalizar energia eléctrica

EXERCÍCIOS ON LINE DE CIÊNCIAS - 9 ANO

MANUAL DE OPERAÇÃO MÁQUINA DE LAVAR LOUÇA LAVA RÁPIDO

MANUAL DE INSTRUÇÕES DA FONTE DIGITAL MODELO PS-3060D

Manual de instalação - Instruções Gerais. Para qualquer produto Grandini

w w w. p h i l c o. c o m. b r 03/ REV.3 MANUAL DE INSTRUÇÕES

bambozzi Manual de Instruções NM 250 TURBO +55 (16) 3383 S.A.B. (Serviço de Atendimento Bambozzi)

POR QUE UM PROBLEMA EM MEU MOTOR MUITAS VEZES AFETA O FUNCIONAMENTO DA MINHA TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA?

20. CHASSI INFORMAÇÕES DE SERVIÇO DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS 20-1 DESCRIÇÃO 20-2 INSPEÇÃO 20-4 INFORMAÇÕES DE SERVIÇO 20-1 DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS 20-1

PREGULAMENTO ARRANCADÃO DE JERICOS 2015 CATEGORIA AGRICULTORES

Figura Ar sangrado do compressor da APU

no sentido da marcha Manual de utilização Grupo Peso Idade kg 9m-4a

Todos os microprocessadores hoje disponíveis em micros compatíveis com PC utilizam o funcionamento do como ponto de partida.

Manual Técnico e Certificado de Garantia

Bloqueio do Diferencial Central

EM CASO DE EMERGÊNCIA Corsa, 12/

Ponte rolante: como escolher

Disjuntor a Vácuo uso Interno

Professor Ventura Ensina Tecnologia

Manual de: Manutenção Preventiva Lubrificação. Carroceria para transporte de: Pintos

É muito importante que você leia atentamente todas as instruções antes de utilizar o seu climatizador.

Procedimento de Verificação

Conversor flex para 1 injetor

VARREDEIRA ZE072. Manual de serviço

VIBRADOR DE IMERSÃO. Quaisquer dúvidas ou informações adicionais dirigir-se ao Assistente mais próximo de sua região, ou a:

Procedimento Prático Para Manutenção de Cabine Introdução Manutenção preventiva Manutenção corretiva Procedimento, verificações e ensaios

Phantom. Manual de Instruções. Parabéns!

O modelo da foto pode conter equipamentos opcionais.

Transcrição:

Dicas do Fanta A água travessias, problemas e soluções Por Guilherme Nüske (Fanta) * Um dos obstáculos mais comuns que o praticante de offroad enfrenta é a água. Seja em travessias de cursos d água ou poças, seja pelos efeitos de sua presença nos sistemas do veículo, a água merece sempre muita atenção. Os motores de combustão interna sejam ciclo diesel ou ciclo Otto, 2 ou 4 tempos, todos funcionam admitindo ar atmosférico e misturando-o ao combustível para então, através da compressão e ignição dessa mistura, fazer movimentar os pistões, bielas, virabrequim, gerando força motriz para o veículo. Um dos problemas mais sérios que a água pode causar num motor chamase calço hidráulico. Ele ocorre quando o motor por alguma razão admite água junto com o ar atmosférico. Por ser incompressível, a água, ao ser admitida e sugada para o interior dos cilindros, provoca a parada abrupta e conseqüente quebra do conjunto pistão/biela, muitas vezes levando à inutilização, inclusive, do bloco do motor. Nem precisamos comentar sobre o quão caro e difícil será o reparo. Além do problema gravíssimo do calço hidráulico, a água pode penetrar em outros sistemas do veículo sempre trazendo problemas, a saber: a) A entrada de água na transmissão, caixa de transferência ou nos diferenciais gera problemas. Ao ser submetida ao movimento das engrenagens a água emulsiona o óleo, prejudicando a lubrificação, trazendo corrosão e riscos ao conjunto, exigindo sua desmontagem e limpeza; b) A água prejudica fortemente a operação dos sistemas elétricos e eletrônicos do veículo, sobretudo quando estamos pensando em água salobra ou salina; c) A água estraga as forrações fono-absorventes do veículo, em especial as que ficam debaixo de carpetes, bancos e painel; d) A água pode prejudicar os freios, sobretudo os sistemas a tambor;

e) A entrada de água no sistema de escapamento, embora não seja comum com o motor funcionando, também traz problemas nos abafadores, sondas lambda, entre outros. Diante de tantos problemas possíveis é imperioso que a condução de qualquer veículo em contato com a água, particularmente em situações offroad, seja feita com critério e técnica. Temos, então algumas recomendações, técnicas e cuidados que listamos a seguir: 1 Observe sempre como se configura o sistema de filtro de ar e por onde o ar atmosférico é admitido no seu veículo. Em veículos sem Snorkel, usualmente essa tomada de ar é feira na altura dos faróis ou dentro da caixa de rodas, sob o para lamas. Conhecer esse local é estratégico para garantir que em travessias a água se mantenha num nível seguro; 2 Veículos que praticam offroad e estão submetidos a estas condições severas de utilização devem ter os respiros de caixa de câmbio e diferenciais elevados para a altura do para brisa ou, ainda melhor, na altura da capota. Tomando esse cuidado você evita grande parte dos casos de entrada de água na transmissão; 3 Nos veículos com mecânica diesel mais antiga, sem componentes eletrônicos, a tolerância à presença de água no compartimento do motor é maior. Mesmo assim, alternador, bateria e circuitos elétricos vão sofrer se estiverem inundados. 4 Nos veículos com mecânica diesel modernos em que há componentes eletrônicos, sensores e fiação o cuidado deve ser redobrado. Os componentes são em geral bem protegidos mas se expostos à água podem levar a panes e ao mal funcionamento do motor, estragando a diversão. Devido à dificuldade de manutenção desses sistemas complexos e do custo de reparo, todo cuidado é pouco; 5 Os veículos ciclo Otto (gasolina, etanol e GNV) são especialmente problemáticos com a presença da água. Como esses motores dependem do sistema de ignição e faísca para o funcionamento, tais

componentes são absolutamente intolerantes com a presença de umidade ou água em cabos de velas, bobinas, distribuidores. Mesmo nos carros mais modernos, diversos sensores podem ser atingidos e com isso é comum que o motor pare de funcionar, às vezes em situações complicadas; 6 - A boa técnica recomenda que a travessia de cursos d água cuja profundidade não possa ser avaliada por simples observação só ocorra após a travessia cuidadosa à pé. Assim determina-se se o veículo tem ou não capacidade de lidar com o obstáculo. Poças de água barrenta ou sem nenhuma visibilidade podem esconder buracos ou terrenos movediços portanto a travessia à pé deve ser feita com máxima cautela; 7 Uma vez decidida a travessia do curso d água ou da poça, o veículo deve ser colocado de forma a atravessa da forma mais direta e curta possível. A velocidade de travessia é fator crítico: se muito lenta, a água penetra no cofre do motor de forma mais incisiva; se muito rápida, o veículo fura a água, podendo fazê-la subir mais alto do que seria desejável. O ideal é manter uma marcha constante, fazendo uma onda controlada na frente do veículo, empurrando a água; 8 Recomenda-se o uso de marcha adequada à velocidade, sem o uso de embreagem, controlando-se a velocidade apenas pelo acelerador. Não é necessário elevar demasiadamente o giro do motor, que pode tornar mais fácil a sucção de água e vai trazer problemas com as partes e componentes que giram junto com o motor (correias, alternadores, ventiladores mecânicos, etc); 9 Um dos recursos úteis em situações de travessia é o uso de lonas que cobrem a grade e parte frontal do veículo. Evita-se que a água passe pelo radiador e ventiladores, bem como dificulta a entrada de água no cofre do motor. Esse artifício deve ser utilizado com cuidado para não danificar a grade devido ao arrasto da água. Outro fator importante: coloca-se a lona antes da travessia, retira-se a lona imediatamente após a travessia, uma vez que sua presença impede a troca de calor pelo radiador;

10 Em veículos que possuem ventilador mecânico acionado por correias, comum nos jipes mais antigos, é interessante afrouxar ou mesmo retirar a correia, evitando não só que a água seja espalhada mas sobretudo que as pás se quebrem ou entortem. Veículos com hélice dotada de cubo hidrodinâmico em geral suportam melhor a travessia, já que a conexão viscosa consegue derrapar um pouco. Por último, os veículos com sistema de ventoinhas elétricas devem ser protegidos da água. Se estiver usando o ar condicionado, convém desligá-lo para que a ventoinha Tb esteja parada. 11 - A situação em que o veículo chega a boiar deve ser evitada sempre, por razões óbvias de segurança. Perde-se o controle do mesmo, tornando inútil a tentativa da travessia. A solução de tentar abrir as portas e fazer a água entrar pode ser utilizada, mas os prejuízos são garantidos. Existem veículos preparados para terem a cabine inundada, mas no mais das vezes isso não é a realidade. Ao encher de água o veículo afunda e pode retomar a tração, mas ao mesmo tempo estará muito pesado e a saída do curso d água deve ser feita aos poucos, deixando a água sair; 12 - Travessia de trechos com correnteza é outra situação perigosa e imprevisível. Deve ser evitada se possível, pois ao ser arrastado o veículo pode virar ou ficar preso, tornando fácil um acidente fatal. Em enchentes é comum a travessia de pontes inundadas, mas se houver correnteza mesmo que fraca o risco é altíssimo. Muita gente já perdeu a vida nessas situações; 13 Sempre que o veículo for submetido à travessias ou alagamentos uma revisão deve ser feita de forma criteriosa. No caso de contaminação por água salobra ou salgada, isso deve ocorrer sem demora. Desligue sempre a bateria quando for mexer na fiação para lavagem, limpeza e posterior proteção; 14 Caso constate a contaminação do óleo da transmissão ou diferenciais, drene, troque e veja se não houve emulsificação, caso em que deve haver a desmontagem;

15 Se o motor engolir água e parar de funcionar, não insista em tentar fazê-lo funcionar. Em motores ciclo Otto as velas devem ser retiradas e a água pode ser sugada ou expulsa dos cilindros. No caso de motores diesel com bicos mecânicos, estes podem ser retirados para o mesmo fim. Em motores modernos com sistema CRD (common rail) e bicos eletrônicos o veículo deve ser levado a uma oficina imediatamente. Se ao movimentar o motor para a expulsão da água houver barulhos metálicos ou sentir que o motor travou, pare imediatamente e leve o carro a uma oficina. 16 A instalação de Snorkel num veículo originalmente sem o equipamento deve ser feita com extremo critério, observando a capacidade de alimentação de ar do mesmo, evitando restringir o fluxo de ar para o motor, bem como os cuidados necessários com a vedação e fixação do conjunto. Mas o mais importante: o só fato do veículo passar a ter uma tomada de ar elevada não isenta o mesmo de sofrer todos os outros efeitos indesejáveis da água nos demais sistemas; Por fim, conheça seu veículo. Leia os manuais, conheça os limites, componentes e esteja sempre equipado com ferramentas básicas, kits de primeiros socorros e com as ferramentas indispensáveis à pratica do offroad como cintas, pranchas, cordas, manilhas, luvas, lanternas...e sempre pratique offroad em grupo. Se estiver sozinho, mesmo com as técnicas e equipamento corretos, a travessia de cursos d água pode tornar-se ainda mais perigosa. Abraços a todos e até a próxima. * Fanta é advogado por formação e mecânico amador.