Potencial econômico das unidades de conservação na Amazônia brasileira como redutoras de emissões de carbono por desmatamento



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Transcrição:

Potencial econômico das unidades de conservação na Amazônia brasileira como redutoras de emissões de carbono por desmatamento Julia Queiroz Carlos Eduardo Young VIII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica Cuiabá Agosto de 2009

Contextualização e Justificativa Crescente debate acerca da conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável O problema: o desmatamento como maior fonte de emissão de GEE do páis Bioma Amazônia 48,1% do território brasileiro Precárias condições de gestão pública UCs conserva a biodiversidade e impede a queima de matas nativas

Objetivos Geral: buscar uma alternativa de conservação baseado em PSAs, mais especificamente em REDD Específico: estimar o preço do carbono que seria suficiente para compensar o custo de oportunidade da conservação Verificar as relações entre custo de oportunidade e prioridade de ação e importância biológica

Metodologia Revisão bibliográfica sobre Economia do Meio Ambiente, com ênfase em PSAs e estimativas de preço do carbono Preço da terra como uma proxy do custo de oportunidade (dados do ANUALPEC 2006) Cruzamento dos dados das áreas a serem conservadas (MMA 2007) com o ANUALPEC Identificar os níveis de preço da tonelada de carbono que tornariam rentável a preservação da floresta

Hipótese É possível evitar o desmatamento na fronteira agrícola de forma barata e efetiva através de PSAs

Custo de Oportunidade 46 regiões (207.216 km²) para a criação de UC PI Preço da terra: mata, pastagem e terra agrícola COport.P = 0,2 x AT (ha) x PP + 0,8 x AT (ha) x PMA COport.TA = 0,2 x AT (ha) x PTA + 0,8 x AT (ha) x PMA CE = 0,2 x AT (ha) x 110 (tc/ha) VCE = CE x PC (1< PC< 30)

Viabilidade da conservação: % do custo de oportunidade da conservação paga pelo carbono evitado (a diferentes preços) VCE. COport = VCE / COport.P VCE. COport = VCE / COport.TA

Preço da tc Curva de Oferta de Carbono Pastagem Carbono Evitado (GtC) - Pastagem R$ 30,00 R$ 25,00 R$ 20,00 R$ 15,00 R$ 10,00 R$ 5,00 R$ 0,00 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 GtC Evitado

Preço da tc Curva de Oferta de Carbono Terra Agrícola Carbono Evitado (GtC) - Terra Agrícola R$ 30,00 R$ 25,00 R$ 20,00 R$ 15,00 R$ 10,00 R$ 5,00 R$ 0,00 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 GtC Evitado

A um preço maior que RS 5,00/tCO2, já é viável conservar quase metade da área em estudo Baixo preço do carbono evitado Benefício social da conservação supera o benefício financeiro do desmatamento Não foi inserido custo de manutenção na estimativa da curva Hipóteses extremamente conservadoras

Custo de Oportunidade e Áreas Prioritárias para a Conservação Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização (2007) Prioridade e Importância Biológica: Alta (A) Muito Alta (MA) Extremamente Alta (EA) Cruzamento com o custo de oportunidade

R$ / ha Prioridade de Ação Custo de Oportunidade / ha por Prioridade de Ação 1.200 1.000 800 Pastagem 600 400 Terra Agrícola 200 - A MA EA

Baixo custo para áreas de prioridade A Custo mais baixo para áreas EA que MA Prioridade: áreas de fronteira agrícola, próximas de estradas e margem de rios

R$ / ha Importância Biológica Custo de Oportunidade / ha por Importância Biológica 900 800 700 600 500 400 300 200 100 Pastagem Terra Agrícola - A MA EA

Baixo custo para áreas de prioridade A Importância biológica também em áreas de fronteira agrícola, estradas e rios Análise subjetiva da importância critérios são influenciados por pressão do desmatamento Alocação de recursos por critérios exclusivamente de custo criaria um viés Relação muito mais complexa

Mapa de Áreas Prioritárias do Bioma Amazônia

Conclusão É possível evitar o desmatamento na fronteira agrícola de forma barata e efetiva através de PSAs Baixo custo de oportunidade da conservação das UC PI da Amazônia incentivo a criação de UC de Uso Sustentável Importantes resultados para comparação de custos e foco das futuras ações de conservação

Necessidade de aumento de gastos federais com preservação ambiental e maior empenho na implementação de mecanismos de REDD Mecanismo depende fortemente de um sistema eficiente de fiscalização e monitoramento Necessidade de aprimoramento metodológico e da coleta de dados primários Resultados são robustos o suficiente para mostrar que ações de redução do desmatamento são a opção mais barata para evitar emissões de gases de efeito estufa

Obrigada! GEMA Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável IE UFRJ julia.gema@gmail.com carloseduardoyoung@gmail.com