o DESENVOLVIMENTO DE ESTRATEGIAS METACOGNITIVAS COMO RECURSO PEDAG6GICO NO PROCESSO DE AQUISIC;AO DE LEITURA EM LfNGUA INGLESA: UM ESTUDO DE CASO



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Transcrição:

o DESENVOLVIMENTO DE ESTRATEGIAS METACOGNITIVAS COMO RECURSO PEDAG6GICO NO PROCESSO DE AQUISIC;AO DE LEITURA EM LfNGUA INGLESA: UM ESTUDO DE CASO Angela Cristina de Oliveira CORTE (Universidade Paulista) Cynthia Regina FISCHER (Universidade Paulista I Escola Tecnica Federal de Sao Paulo) ABSTRACT: This paper discusses the importance of metacognitive strategies in the learning of reading by a Brazilian ESP student. Data were collected through diaries written by both the student and the teacher. The analysis aimed at investigating changes which took place throughout the course. Em cursos de ingl8s instrumental, urn dos problemas que se tern enfrentado diz respeito a aquisi~ao da leitura para a apreensao de detalhes, quando 0 aluno necessita de urn conhecimento lingihstico mais complexo a fim de apreender as informa~oes que esmo nas entrelinhas e particularidades do texto. Dois aspectos tendem a interferir nessa questao. 0 primeiro diz respeito ao fator tempo, ja que, na grande maioria dos casos, a carga horana desses cursos nao e suficiente para se trabalhar todas as dificuldades lingufsticas e textuais que 0 aluno possivelmente enfrentara ao ler urn texto em busca de detalhes. 0 segundo refere-se ao fato de haver uma lacuna na literatura pertinente sobre 0 ensino e a aprendizagem dessa habilidade. Embora alguns autores mencionem a leitura detalhada, eles nao explicam claramente quais pontos e de que forma eles devem ser trabalhados para se chegar a esse nfvel de leitura. Com base nessa problematica, decidimos realizar urn estudo com 0 objetivo de investigar as etapas pelas quais urn aluno brasileiro de ingl8s instrumental pode percorrer no processo de aprendizagem da leitura de textos acad8rnicos, a fim de atingir o nfvel detalhado de compreensao. No presente artigo, estaremos enfocando urn dos aspectos investigados em nosso estudo, isto e, as mudan~as observadas no aluno no decorrer do curso, que refletem a aquisi~ao de urn processo metacognitivo.

Com base no objetivo exposto acima, optamos por urn estudo de caso. Conforme Schmidt (1981, apud Robinson, 1991) atirma, urn estudo de caso possibilita uma investiga~ao aprofundada durante urn determinado perfodo de tempo, criando condi~oes de perceber como 0 aluno utiliza "insights" para resolver diticuldades e alcan~ar seus objetivos de acordo com suas necessidades. o informante do estudo foi urn aluno de p6s-gradua~ao do curso de Mestrado em Administra~ao da Universidade de Siio Paulo, que necessitava da leitura de textos em Hngua inglesa to para acompanhamento de suas aulas, bem como para 0 exame de proticiencia exigido pelo seu programa. Tres razoes nortearam a escolha desse informante. Em primeiro lugar, podia ser considerado urn aluno altamente motivadopara a aprendizagem devido a interesses protissionais e academicos. Alem disso, podia ser classiticado como "falso iniciante" (Grundy, 1994), isto e, possuia algum conhecimento do idioma, 0 que facilitaria seu processo de aprendizagem. Por tim, estava acostumado a ler em lingua materna, em especial textos academicos para seu curso de Mestrado, 0 que nos levou a preyer a transferencia de estrategias de leitura da L1 para a L2. o curso foi ministrado atraves de aulas particulares, com dura~iio aproximada de duas horas semanais por urn penodo de seis meses. Os dados foram coletados em forma de dimos (Numrich, 1996), nos quais tanto a professora como 0 aluno escreviam comentarios sobre os seguintes aspectos: suas impressoes de cada aula, os pontos que melhor contribuiam para a aprendizagem e as dificuldades enfrentadas. A prepara~ao da aula pela professora foi feita com base nos depoimentos obtidos atraves dos dimos e na observa~iio da pr6pria aula, quando buscava os aspectos facilitadores e solu~oes para os problemas enfrentados. o curso iniciou com urn trabalho de Conscientiza~ao (Scott, 1986) do processo de leitura, enfatizando-se, em seguida, estrategias de leitura e estruturas de texto. Os pontos gramaticais foram desenvolvidos de acordo com as diticuldades apresentadas pelo aluno. Ao analisarmos os dados, observamos as seguintes mudan~as no comportamento do aluno, mudan~as essas que refletem urn processo reflexivo de aprendizagem: a) Mudan~a no Concep~ao de Leitura A primeira mudan~a constatada ocorreu na concep~ao que 0 aluno tinha do processo de leitura. 0 contexto educacional brasileiro tende a desenvolver muitas faiacias (Scott, 1986), que inibem a forma~ao de urn leitor maduro. As aulas iniciais foram ministradas objetivando a substitui~ao de velhos e indesejaveis habitos de leitura por outros mais adequados. Alguns aspectos enfatizados foram: a existencia de diferentes niveis de compreensao, a importlincia dos objetivos de leitura e uma seqiiencia adequada de leitura, isto e, da compreensao geral para a detalhada. o aluno adquiriu novos habitos de leitura que influenciaram seu processo de ler e 0 ajudaram a desenvolver a monitora~ao de seu desempenho. No entanto, convem

salientar que as mudan~as niio ocorreram imediatamente, mas sim gradual mente. Elas demandaram tempo e empenho pessoal. As afirma~oes do aluno, abaixo retratadas, diio testemunho destas mudan~as: "As tecnicas apresentadas influenciaram profundamente a minha percep~iio, na medida em que me fez (sic) refletir acerca da leitura global versus a detalhada. E possivel captar as ideias principais de urn texto e refletir assim mesmo e caso falte algum conhecimento especffico, e s6 retomar a leitura." "No feriado consegui ler 120 (total 190) paginas de urn livro em portugu8s em urn dia (record), pois apenas lia duas vezes 0 que era compatfvel com 0 objetivo da leitura (determinei 0 objetivo no come~o)." "A visiio geral do texto esta come~ando a ficar clara, ate porque estou utilizando tecnicas de skim. Devo destacar que a questiio de pensar no objetivo da leitura e importante. " "Tenho mais dificuldade em traduzir se comparado a leitura pura e simples.[revelando sua percep~iio de que leitura niio significa tradu~ao]" 582 "Parece que ele mudou seu habito de leitura. Ele sempre estabelece urn objetivo de leitura e faz skimming antes de procurar detalhes no texto. Alem disso, sempre faz perguntas a serem respondidas pelo texto. Disse que tern feito isso na leitura de textos em portugu8s. Estou feliz, acho que ele esta melhorando. " b) Desenvolvimento de Monitora~iio Outra mudan~a apresentada foi 0 desenvolvimento gradual de urn processo de monitora~ao. Vma das razoes para 0 uso de dimos foi levar 0 aluno a refletir sobre suas dificuldades especfficas, bem como sobre os pontos ensinados pelo professor que 0 ajudavam a compreender melhor os textos em ingles. Ao escrever a respeito de seu pr6prio processo de aprendizagem. 0 aluno desenvolveu uma melhor percep~ao do seu processo de leitura. 0 que levou ao uso de estrategias metacognitivas. conforme depoimentos apresentados a seguir: "Depois deste exerci'cio, tentei fazer em casa, porem niio tive 0 mesmo sucesso, mas acho que 0 texto era muito hist6rico e isto atrapalhou urn pouco na medida em que nilo consegui ter muita clareza dos pontos importantes." "Eu sei que aprendi a tecnica para uma visualiza~iio e entendimento de texto. de uma maneira mais rapida. porem quando os textos silo tongos eu me atrapalho." "Outro item que gostaria de refor~ar silo os NPs. pois em pequenas facit, agora em paragrafos longos eu me atrapalho." frases fica mais

"Os pronomes eu ainda me atrapalho. Quando e uma pergunta, eu tambem fico confuso. Eu niio sei diferenciar substantivo de verbo". c) Elemento Mediador da Compreensiio do Texto Conforme Vygotsky (1993), 0 aluno faz uso de urn instrumento mediador no processo de aprendizagem. Acredita-se que aquilo que 6 capaz de fazer com a ajuda do Dutro no momenta representa 0 que conseguini fazer sozinho no futuro. A media~iio utilizada por nosso aluno para alcan~ar a compreensiio tamb6m se modificou no decorrer do curso. No infcio, percebemos que a professora servia de instrumento mediador ajudando-o em seu processo reflexivo. De acordo com nosso informante, "a leitura ficava mais facil na frente da professora e mais diffcil em sua ausencia". Em seu diano, ele comenta sua dificuldade em executar tarefas sem a professora: "'Eu niio consegui fazer este exercfcio em casa. E engra~ado porque aqui eu consigo, eu acho que 6 por causa da professora". "Ele sempre comenta que a leitura fica mais facil quando ele Ie seus textos na minha presen~a. Ele ainda niio consegue resolver seus problemas de leitura sozinho. Disse-me que fica irritado e para de ler. Acho que 6 uma caracterfstica de sua personalidade, ele niio consegue conviver com 0 fracasso. Acredito que eu 0 ajudo a refletir quando fa~o perguntas do tipo 'Por que voce acha isso?', 'Qual id6ia aparece antes?' ou 'Qual 6 a liga~iio com a id6ia anterior?'. Parece que essas perguntas 0 ajudam a compreender 0 texto." Posteriormente, pudemos observar uma mudan~a em seu comportamento de leitura. Sua propria voz passou a ser seu elemento mediador quando, ao surgir duvidas em sua compreensiio, comentava em voz alta 0 que havia compreendido no texto, conforme depoimento da professora: "E interessante observar que, as vezes, ele diz que niio entende 0 texto e, entiio, eu pe~o para que me diga 0 que entendeu. Ele come~a a comentar 0 texto e, de repente, percebe que 0 compreendeu." Na etapa final do curso, ele niio explicitava mais em voz alta seu pensamento tinha qualquer problema na leitura, conforme nos mostra 0 diario da professora: quando "Ele nao expressa mais seu raciocfnio, apenas quando pe~o para me dizer 0 que esta pensando. Ele sempre fala de suas conclusoes. Talvez, represente melhora. Percebo que ele esta mais independente. As. vezes, ele fica em silencio. Acho que esta resolvendo seus problemas por conta propria". Dessa forma, observamos uma mudan~a no elemento mediador por parte do aluno para chegar a compreensiio do texto. Num primeiro momento, as perguntas da professora serviram como urn instrumento mediador externo. A seguir, seu pensar em

voz alta substituiu as perguntas da professora na medi~iio. Finalmente, seu silencio durante a resolu~iio de seus problema s na leitura para indicar que ele desenvolveu mecanismos para cumprir a tarefa sozinho, intemalizando 0 processo. d) Concep~iio de Vocabuhirio Dutro aspecto relevante em nossa analise foi a mudan~a do aluno em sua concep~iio do vocabullirio. Aqui, esta presente outra falacia de leitura: acredita-se que toda a dificuldade em compreensiio de leitura em uma lfngua estrangeira refere-se a escassez de vocabulano. Nosso informante tambem apresentou mudan~as nessa questiio, mostrando urn amadurecimento durante 0 processo de aprendizagem. A continua conscientiza~iio foi essencial para seu aprimoramento na leitura. Quatro pontos foram enfatizados: a) a leitura niio e feita palavra por palavra; b) as palavras assumem diferentes significados de acordo com 0 contexto; c) a compreensiio niio se da por tradu~iio literal e d) 0 uso do dicionlirio e sempre 0 ultimo recurso. Os depoimentos abaixo nos mostram como 0 aluno modi fica sua forma de perceber as palavras no texto - de urn concep~iio em que 0 vocabulano e 0 maior obstaculo para a compreensiio do texto para a percep~iio de que 0 conhecimento de todas as palavras pode niio significar compreensiio: "Percebo agora, uma maior dificuldade quanta a vocabulano, na medida em que, com esta c1areza, 0 real problema pode ser observado. " "Quanto ao ingles, tenho problemas do vocabulano. Ainda tenho medo se 0 que estou lendo corresponde a (sic) realidade, 0 que causa uma falta de realiz~iio pessoal e me estimula a dormir, mas eu me esfor~o." "Neste fim de semana, eu pude perceber que as minhas dificuldades viio bem alem do vocabulano, como eu tinha dito antes." 584 "Como estou lendo, atualmente, textos de P&D percebo com mais c1areza que 0 voc~bullirio e urn ponto importante, mas niio preocupante, pois como 0 material lido refere-se ao mesmo assunto as palavras iguais aparecem com muita frequencia." "Existem algumas estruturas que eu simplesmente niio entendo, mesmo sabendo a tradu~iio palavra por palavra [evidencia de sua percep~iio de que a compreensiio palavra-por-palavra niio significa compreensiio do texto]." Embora as conc1usoes sejam restritas a urn caso apenas, este estudo mostrou como a conscientiz~iio foi crucial para desenvolver urn processo reflexivo gradual no aluno, influenciando sua aprendizagem. Alem disso, 0 usa de dianos tambem desempenhou urn papel relevante para a aquisi~iio de estrategias metacognitivas. Escrever sobre suas dificuldades e aspectos facilitadores da aprendizagem exigiu do aluno uma reflexiio mais elaborada, resultando no desenvolvimento de sua metacogni~iio. o uso do diano tambem contribuiu para a pratica pedag6gica da professora. Atraves de sua observa~iio direta do aluno, pode perceber como a aprendizagem ocoma

efetivamente e buscar solu~oes para as dificuldades apresentadas, 0 que influenciou decisivamente sua forma de ensinar. Acreditamos que os resultados obtidos trazem aspectos importantes da metodologia de ingl@s instrumental, em especial quanto ao processo reflexivo no ensino e aprendizagme da leitura, abrindo uma janela para investiga~oes futuras. 585 RESUMO: Este artigo retrata um estudo de caso, em que se buscou analisar a importlincia da reflexiio na aquisifiio de leitura em lfngua inglesa para fins especfjicos. Os dadosforam coletados emforma de diarios escritos pela professora e pelo aluno. A analise enfocou as mudanfas ocorridas no decorrer do curso, mostrando 0 amadurecimento do leitor. GRUNDY, Peter (1994) Beginners. England: Oxford University Press. NUMRICH, C. (1996) "On Becoming a Language Learner: Insights from Diaries Studies". TESOL Quarterly 30(1), 131-151. ROBINSON, Pauline (1991) ESP Today: a Practitioner's Guide. UK: Prentice Hall.International Language Teaching. SCOTT, Michael (1986) Conscientiza~iio. Working Papers 18, PUC-SP, Projeto de Ingl@sInstrumental em Universidades Brasileiras. VYGOTSKY, L. S. (1993) Unguagem e Pensamento. Siio Paulo-SP: Martins Fontes.