MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Procuradoria Regional do Trabalho da 04ª Região - Porto Alegre Procedimento: 000766.2008.04.000/0 INQUIRIDO: MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE - HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO DESPACHO CIRCUNSTANCIADO O presente Inquérito Civil foi autuado nesta Procuradoria Regional do Trabalho em 31 de março de 2008, a partir de ofício expedido pela Chefe da Seção de Segurança e Saúde do Trabalhador, encaminhando os documentos de fls. 03-33. No relatório de fiscalização de fls. 03-4, o Auditor Fiscal Roque Puiatti referiu que nos últimos cinco anos haviam sido realizadas diversas inspeções no HPS, com a constatação de várias irregularidades no cumprimento da legislação para prevenção de acidentes e para a proteção da saúde dos trabalhadores, com a emissão de notificações, autuações e interdições de máquinas e equipamentos. Ressaltou que a maioria dos trabalhadores é regida pelo Estatuto da Prefeitura de Porto Alegre, porém que existem empregados regidos pela CLT, além de centenas de terceirizados, médicos residentes e estagiários. Ressaltou a necessidade da instituição hospitalar ser acionada para adotar as seguintes medidas: C o n s t i t u i r SESMT, composto por engenheiro de segurança, técnicos de segurança do trabalho, médico do trabalho, auxiliar de enfermagem do trabalho (técnico de enfermagem do trabalho) e enfermeiro do trabalho, considerando o Quadro II da NR4; Implementar a NR32, com a elaboração de PPRA e de PCMSO adequados à referida NR; Implantar e manter em funcionamento medidas de prevenção e combate a incêndios, previstas na NR 23 e Plano de Prevenção e Controle de Incêndios (PPCI), da Lei Municipal 420/98; I n s p e c i o n a r caldeiras e vasos de pressão, regularmente, nos prazos previstos na NR13 e manter as máquinas e equipamentos com sistemas de proteção de acidentes, conforme a NR12. Junto ao relatório foram apresentadas cópias de termos de interdição lavrados em 2005 e 2007, em relação aos seguintes
equipamentos: secadoras, lavadora, serra circular, caldeiras, reservatório de vácuo, boiler, reservatório de ar comprimido horizontal e reservatório de ar comprimido vertical. Além disso, constou cópia de um termo de notificação do ano de 2006, para que o HPS elaborasse e implementasse o PPRA; apresentasse esquema atualizado das instalações elétricas; elaborasse os sistemas de proteção contra incêndios; e constituísse o SESMT. Ainda, foram juntados autos de infração lavrados nos anos de 2006 e 2007, em virtude da falta de acompanhamento das medidas de segurança e saúde pelas empresas contratadas (EPI, ASO, PPRA etc.), por causar embaraço à fiscalização; por deixar de paralisar as máquinas interditadas (lavadora e secadora); por deixar de implementar disposição legal sobre segurança e saúde determinadas pelo órgão regional do MTE (PPRA, PCMSO); e por deixar implementar o sistema de proteção contra incêndio. Em 23 de setembro de 2008, foi realizada audiência administrativa (fls. 52-3), em que o inquirido afirmou ter apenas 14 empregados regidos pela CLT e 128 terceirizados; que estava constituindo o SESMT, faltando a contração dos quatro técnicos de segurança do trabalho, um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem; que a manutenção dos vasos de pressão e caldeiras estava ocorrendo regularmente; que o programa de proteção contra incêndios havia sido elaborado, restando ser aprovado pela SMOV; que não tinha nenhuma informação quanto à elaboração do PPRA, PCMSO e às necessidades de adaptação à NR32. Nova audiência administrativa foi realizada em 09 de outubro de 2008 (fls. 54-9), na qual o inquirido foi notificado a constituir o SESMT, implementar os principais dispositivos da NR-32, implantar e manter em funcionamento medidas de proteção e combate a incêndios, e inspecionar regularmente as caldeiras e vasos de pressão. Por provocação do próprio inquirido (fls. 61-2), foi elaborado o parecer técnico de fls. 64-5, no qual a Perita Jane Escobar concluiu que o SESMT do HPS, considerando o grau de risco 3 (atividade hospitalar) e o número de empregados (1500), deveria ser composto de 04 técnicos de segurança do trabalho, 1 engenheiro de segurança do trabalho (tempo integral), 1 auxiliar de enfermagem do trabalho, 1 médico do trabalho (tempo integral) e 1 enfermeiro do trabalho (tempo integral). Às fls. 66-76 o inquirido apresentou manifestação pormenorizada sobre a implementação de cada um dos itens previstos na ata de audiência de fls. 54-9, bem como os documentos juntados nos anexos I, II e III. Em relação à constituição do SESMT, o inquirido
informou que abriu um processo administrativo para a contratação dos profissionais, o qual estava sendo analisado pela Secretaria de Saúde. Informou, também, que o PPRA foi elaborado em junho de 2005 e o PCSMO em setembro de 2006. E, mais uma vez, referiu que o Programa de Prevenção e Combate a Incêndios aguardava aprovação da SMOV e que estava realizando a inspeção periódica das caldeiras e vasos de pressão. No parecer técnico de fls. 84-8, a Perita Jane Escobar analisou a manifestação e os documentos juntados. Ressaltou que, na composição do SESMT apresentada, não foi considerada a observação do quadro II da NR4, que faz referência a empresas e estabelecimentos cujas atividades são relacionadas com a atenção à saúde. Em relação ao PPRA, concluiu que o programa não foi adaptado à NR32 e que, quanto aos vasos de pressão, deixou de explicitar as condições do equipamento utilizado pela entidade hospitalar e não apresentou dados que demonstrassem que os prazos das inspeções estavam sendo cumpridos. Ademais, o inquirido, apesar de afirmar que estava realizando as inspeções periódicas das caldeiras e vasos de pressão, não apresentou os respectivos relatórios de inspeção. Quanto ao PCMSO, constatou que em sua elaboração não foram observadas as diretrizes da NR32 e que, em relação às ações de saúde efetivamente desenvolvidas, verificou-se somente a realização de exames de rotina. Por fim, quanto a prevenção e combate a incêndios, ressaltou que no Plano de Prevenção Contra Incêndio (anexo III) não consta a assinatura dos responsáveis, o que prejudica sua validade como documento técnico. Em 1º de abril de 2009, esta Procuradora do Trabalho, juntamente com o Auditor Roque Puiatti, realizaram inspeção no HPS (fl. 97 e 101-5). Foram lavrados três autos de infração: 1) deixar de adotar as medidas necessárias e suficientes para a minimização ou o controle do risco ambiental radiações ionizantes; deixar de manter serviço especializado em Engenharia e Segurança do Trabalho; 3) operar instalações elétricas de forma que não garanta a segurança e a saúde dos trabalhadores e usuários. No dia 23 de março de 2011 foi realizada audiência administrativa com o investigado. Seus representantes afirmaram que o SESMT não foi constituído, que o PCSMO não foi atualizado e que não foram adotadas medidas para a implementação da NR32. Declararam que o setor de radiologia encontrava-se nas mesmas condições flagradas na última inspeção, contudo, informaram que foi realizada a reforma das instalações elétricas do prédio antigo e que, no prazo de 60 (sessenta) dias, seriam iniciadas obras nos setores de emergência e de diagnóstico por imagem. À fl. 121 o inquirido juntou CD contendo a cópia do PPRA,
a cópia do projeto de melhoramento dos setores de urgência, emergência e diagnóstico por imagem, a cópia do edital de abertura de licitação ( etapa 2 ), e a cópia do projeto das instalações elétricas ( etapa 1 ). Através do ofício de fl. 124, o inquirido informou que foi concluída a reforma no sistema de instalação elétrica e que o mesmo encontrava-se em funcionamento desde maio de 2011, porém, não apresentou o laudo de conclusão, conforme havia sido requisitado. Através do parecer técnico de fls. 134-6, o Perito Luis Carlos Fujii analisou os novos documentos juntados. Nos itens 1 a 11 apontou diversas irregularidades no PPRA, sugerindo, nos itens 4, 7 e 11 a requisição de documentação complementar. Ressaltou, por fim, dúvidas quanto a elaboração do PCMSO, em virtude da alegação do inquirido na última audiência. À fl. 139 foi requisita ao inquirido a documentação complementar sugerida no parecer técnico. Através o ofício de fl. 140, foi encaminhada a referida documentação, juntada no anexo IV do presente inquérito. A documentação foi analisada pelo Perito Luis Carlos Fujii, que juntou aos autos o parecer técnico de fls. 145-8. Após realizada análise pormenorizada dos autos e, em especial, dos últimos dois pareceres técnicos emitidos pelo Perito Luis Carlos Fujii, determino as seguintes providências: 1) oficie-se à SEGUR, solicitando cópia dos relatórios de fiscalização e eventuais autos de infração lavrados em face do inquirido nos anos de 2010, 2011 e 2012; 2) notifique-se a inquirida para, no prazo de 90 (noventa) dias, comprovar nos autos do presente inquérito o cumprimento das seguintes obrigações, sob pena de imediato ajuizamento de Ação Civil Pública, inclusive com pedido de responsabilização pessoal dos gestores: I) ATUALIZAR e ADEQUAR o PPRA, observando, principalmente, as seguintes recomendações (constantes no parecer técnico de fls. 134-137, cuja cópia deve ser encaminhada em anexo): a) citar as metologias das avaliações quantitativas realizadas (níveis de iluminamento e de ruído); b) quando identificado o risco ergonômico, deve ser especificado o tipo (movimentos repetitivos, esforço físico, postura inadequada,...);
c) descrever, em todas as funções, o tipo de EPI recomendado, e não usar termos genéricos (por exemplo: Uso de EPI ) que não possibilitam saber quais as medidas de proteção que estão sendo indicadas; d) descrever o risco biológico conforme a Norma Regulamentadora 32, devendo conter, na fase de reconhecimento do PPRA, as seguintes informações (item 32.2.2.1 e seus subitens): Identificação dos risco biológicos mais prováveis, em função da localização geográfica e da característica do serviço de saúde e seus setores, considerando: 1) fontes de exposição e reservatórios; 2) vias de transmissão e de entrada; 3) transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente; 4) persistência do agente biológico no ambiente; 5) estudos epidemiológicos ou dados estatísticos; 6) outras informações científicas. e) relatar a atual condição do estabelecimento quanto às caldeiras e vasos sobre pressão, ou seja, se está cumprindo, ou não, os requisitos previstos na Norma Regulamentadora 13; f) fixação de cronograma para implementação das medidas de controle dos riscos, informando, claramente, prazos e responsável técnico pela execução das medidas de controle previstas no PPRA; g) recomendar a aplicação de vacinas da Hepatite B, Tétano e Difteria para todos os trabalhadores do hospital, e não para grupos restritos, conforme disposto na NR 32 (item 32.2.4.17.1). I I ) elaborar e implementar o PCMSO, observando as diretrizes da NR 32; III) implementar o SESMT de acordo com o quadro II da NR 04 (considerando o grau de risco 3 e 1500 o número de empregados, o SESMT deverá ser composto de 04 técnicos de segurança do trabalho, 1 engenheiro de segurança do trabalho - tempo integral, 1 auxiliar de enfermagem do trabalho, 1 médico do trabalho - tempo integral, e 1 enfermeiro do trabalho - tempo integral. IV) apresentar o alvará de saúde emitido pela Vigilância Sanitária da área de radiodiagnóstico; V ) apresentar o relatório de conclusão da reforma nas instalações elétricas; V I ) apresentar o Plano de Prevenção Contra Incêndio, devidamente assinado pelo responsável e aprovado pela SMOV; V I I ) corrigir as irregularidades apontadas no parecer técnico de fls. 145-148, cuja cópia deve ser encaminhada em anexo, no que diz respeito às qualificações (indicação de pessoa responsável, juntada de cópia da lista de presenças e efetiva participação dos funcionários); ao conteúdo mínimo dos Atestados de Saúde Ocupacional - ASO's; preenchimento correto das fichas de EPI; entrega de EPI's aos
empregados do setor de manutenção, conforme recomendado no PPRA. Porto Alegre, 07 de dezembro de 2012 Marcia Bacher Medeiros PROCURADORA DO TRABALHO