Centro de Memória Escolar: A importância da história da educação

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Transcrição:

126 Centro de Memória Escolar: A importância da história da educação Carlos Alberto Xavier Garcia Prof. de História no Ensino Médio e Técnico em Assuntos Educacionais na Unipampa Campus São Gabriel cxaviergarcia@yahoo.com.br Resumo: O trabalho a ser exposto tem o objetivo de apresentar um centro de memória escolar no Município de São Gabriel, região da campanha do Rio Grande do sul e vem sendo desenvolvido como um projeto de extensão da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Este visa identificar, catalogar, expor e preservar diversos recursos didáticos para a realização de pesquisa, publicações e visitação de todos que buscam compreender acerca da história da educação. No acervo, com doações feitas desde 2007, encontram-se objetos didáticos utilizados nas aulas, registros fotográficos, documentos, livros e revistas, disponibilizados por ex-professores, ex-alunos e seus familiares ou pessoas da comunidade. O Centro está localizado em um espaço cedido pela Escola Estadual XV de Novembro que possui assim um acervo sobre a memória escolar. Palavras-chave: História, memória, educação INTRODUÇÃO Este artigo tem por finalidade relatar a respeito da criação do Centro de Memória Escolar da E.E. de Ensino Médio XV de Novembro, em parceria com a Universidade Federal do Pampa Campus São Gabriel e apresentar os primeiros resultados em relação às atividades desenvolvidas no breve período de existência. A intenção é analisar a iniciativa de preservar a memória, valorizar a história da educação em um espaço destinado para a organização do referido Centro, a partir da apresentação do projeto para a direção da escola. A organização do Centro de Memória Escolar teve como objetivo identificar, catalogar, expor e preservar diversos recursos didáticos para a realização de pesquisa, publicações e visitação de todos que buscam compreender acerca da história da educação no Brasil e na cidade de são Gabriel. No acervo, que conta com mais de 700 objetos catalogados, encontramos recursos didáticos utilizados nas aulas, registros fotográficos, documentos, livros e revistas disponibilizados em um espaço que visa assegurar a todas estas fontes um valor de conhecimento, tornandoas alvos de pesquisa para ajudar no entendimento da sociedade que as produziu e, através destes objetos que tornamos possível o acesso para construir através do passado um melhor entendimento do presente. As doações feitas por ex-professores, ex-alunos e pessoas da comunidade desde 2007 encontram-se em uma sala da Escola Estadual XV de Novembro que garante aos materiais uma sobrevivência conferindo a eles um importante significado. Todas as informações contidas nesse local buscam mostrar a escola com espaços, tempos e métodos bastante definidos que contribuem para evocar vestígios e símbolos envolvidos no universo escolar. Todos eles reunidos como forma de evidenciar e contar a história

127 condicionada pela passagem do tempo. Temos um acervo sobre a memória escolar preservados para tentar enriquecer a relação da sociedade com os seus bens culturais, não permitindo que os valores que justificam a sua preservação se percam. Valorizando sempre todos que trabalham nas instituições escolares e por aqueles que por ela passaram, oferecendo pistas sobre esse universo em que estão ou estavam inseridos. O Centro de memória Escolar surgiu frente a necessidade de organizar um espaço para guarda e exposição de materiais didático-pedagógicos da própria escola e de oportunizar pesquisas futuras por estudiosos e estudantes de graduação e mesmo para visitas guiadas para a comunidade e alunos das escolas de educação básica. Num primeiro momento, as atividades priorizaram a coleta de material, arquivando, catalogando, identificando material. A partir da organização do espaço, ganhamos visibilidade e passamos a explorar o material doado e ali guardado para exposição, elaborando pôsteres por parte de alunos bolsistas do Centro de memória, para apresentação em eventos acadêmicos. Para que o objetivo do Centro fosse alcançado, houve a participação de outros professores, de alunos da escola e a disponibilização de bolsista pela Unipampa para o procedimento de catalogação, identificação e exposição das fontes. A criação do Centro de memória Escolar se deu no mês de agosto do ano de 2007, objetivando entre outros a oferecer à comunidade escolar e local um Centro de Memória da organização escolar. Outro motivo também foi para a possibilidade de pesquisa acadêmica de graduandos em Licenciatura. Inicialmente foi organizada a doação por ordem de chegada. A atuação de alunos e exprofessores foi muito importante para ajudar nesta busca e organização do material. Entendemos que há necessidade de buscar orientação por parte de especialista em arquivística para os cuidados com protocolo e normas de cuidado com acervo histórico. É importantíssimo saber desses cuidados, pois para trabalhar uma peça ou documento, tornase parte do processo saber a procedência e o contexto da fonte. Entendemos que a existência de um Centro de Memória legitima a importância da Educação passada no tempo atual e instiga e dá vazão à construção de novos conhecimentos por parte de interessados na temática história da educação. O grupo de historiadores da educação surgiu, no RS, recentemente a partir do fortalecimento da ASPHE (Associação Sul Riograndense de Pesquisadores em História da Educação), na década de 1990. Estes pesquisadores têm procurado identificar os métodos de ensino, a história das instituições, analisando o sistema escolar e também a história de vida de educadores. Para isto, a história cultural tem assumido este compromisso para fundamentar o campo científico da história da educação, permitindo uma abordagem adequada aos novos temas e problemas de pesquisa, através de um método que nos permite compreender o espaço social e o papel do indivíduo que o ocupa. Para MOGARRO (2005, p.90): Situamo-nos numa zona de fronteira, de cruzamento, das novas perspectivas da história da educação, da história cultural, da história social e também das ciências da educação. Assistese a uma renovação das problemáticas teóricas e de uma reinvenção dos terrenos de pesquisa, das fontes de informação, das práticas de investigação e do apetrechamento metodológico, em que a perspectiva historiográfica se afirma ante as antigas abordagens de matriz essencialmente sociológica. Atualmente, no Brasil, temos vários estudos desenvolvidos por pesquisadores e grupos de trabalho envolvidos em projetos acerca da história da educação. Em nível macro o grupo HISTEDBR História, Sociedade e Educação no Brasil, sediado na Faculdade de Educação da Unicamp tem orientado diversas pesquisas no âmbito da História das

128 Instituições Escolares, das práticas pedagógicas, da política educacional e do magistério em geral. No RS, a UFRGS, a Unisinos, a UFPel e a UFSM também possuem grupos e linhas de pesquisa em Programas de Pós-Graduação em Educação que se dedicam à História da Educação. Na recém criada Universidade Federal do pampa, sob coordenação do Prof. Alessandro Bicca, também se constituiu um grupo de pesquisa nesta linha. Entendemos que muitos dos espaços pesquisados hoje, no Brasil, são as escolas e não só as públicas, mas também as particulares e as de caráter confessional e, para dar conta de um referencial teórico e metodológico, já dispomos de uma boa referência em autores como SAVIANI, LOMBARDI, NASCIMENTO, VIDAL, FARIA FILHO, entre outros. Podemos afirmar que no RS, assim como em outras unidades da federação brasileira, as pesquisas em História da Educação são recentes e no município de São Gabriel e no seu entorno, a sistematização de um Centro de memória é raro. Nesse contexto é que nos inserimos nesta seara, pois como professor e pesquisador, uma das funções é justamente a de localizar, organizar e preservar fontes que permitam a reconstrução da História. Em seu artigo 216, a CF define que o patrimônio cultural brasileiro se constitui, entre os bens de natureza material e imaterial, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais. Segundo Martins (2011, p.287): a Constituinte de 1988 efetivamente ampliou o entendimento de bem cultural, com vistas à sua maior abrangência, ciente da pluralidade cultural do país, mas, sobretudo, premida pelo curso do debate internacional, que exigia práticas e posturas de seleção e preservação do patrimônio afinadas com a nova ordem mundial. O Centro de Memória Escolar Profª Eloiza Weber, criado na Escola Estadual de Ensino Médio XV de Novembro, na cidade de São Gabriel, região fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, foi pensado a partir da motivação em preservar algumas peças (mobiliário escolar, recursos didáticos), livros e documentos, utilizados nas aulas e como parte da escrituração escolar, em décadas anteriores, a partir das comemorações dos sessenta anos de criação da referida escola. Fig.1: Carteira e cadeira escolar utilizadas pelas alunas da Escola Nossa Sra. Perpétuo Socorro. A escola surgiu como uma instituição particular denominada Ginásio Noturno XV de Novembro, funcionando em espaço cedido por outras escolas no município, para atender

129 ao alunado: trabalhadores e adultos em horário alternativo. Após, por ato do Prefeito Municipal, tornou-se escola municipal e mais tarde foi encampado pelo governo do Estado por solicitação da sua Direção e de movimento do Grêmio Estudantil. O Colégio Estadual XV de Novembro atendeu a proposta do Curso Científico e pela Lei 5.692/71 funcionou com o Curso Técnico em Análises Clínicas. Com a Lei 7044/82, passou então a denominarse E.E. de 2º Grau XV de Novembro com a chamada Educação Geral e atualmente, pós LDB/96 denomina-se Escola Estadual de Ensino Médio XV de Novembro, funcionando em três turnos e com prédio próprio. A Instituição, nestes 64 anos de existência passou por mudanças na sua proposta pedagógica, atendendo a legislação federal do ensino e as normas da Secretaria Estadual de Educação. Na sua estrutura física, poucas mudanças, pois a construção em estilo moderno e com ótima estrutura se mantem com boa aparência pelo cuidado das direções que se sucedem. A partir do que relatamos, podemos afirmar que a história das instituições escolares e de seus atores, pode fornecer ricos subsídios para a escrita da história da educação no Brasil. Para tanto, a preservação dos espaços escolares, arquivos, etc. é fundamental para que os pesquisadores possam realizar seus estudos. Sendo assim, entendemos que para a produção do conhecimento histórico, os pesquisadores precisam, na área, elaborar projetos a partir da consulta aos arquivos e fontes de pesquisa da História da Educação. Parece-nos fundamental a organização e preservação dos arquivos escolares para que a pesquisa em história da educação ocorra de forma satisfatória e com sucesso para a memória da educação brasileira. Para a continuidade do projeto, a metodologia prevê a oficina de arquivística, com a digitalização de documentos, organização de página na internet para exposição de informações. Também deverá prever a produção de resumos e, fichas para cada documento e ou fonte catalogado, destacando os termos básicos para identificação e localização do objeto. A Escola XV de Novembro possui um espaço em que guarda junto à secretaria da mesma um arquivo passivo, porém o local não é apropriado, pois precisa ser um espaço com abrigo da luz solar e com controle da umidade e ventilação para conter o ataque de traças, ácaros, fungos que deterioram os documentos. Mas, para isso, as escolas de maneira geral, precisam contar com pessoal capacitado para a organização de seus arquivos e setores de apoio pedagógico como um Centro de Memória e, para tanto, torna-se necessário a determinação do poder público, através das políticas de Estado. Isso porque é urgente a preservação dos documentos escolares e a guarda de objetos educacionais para a valorização da memória da educação brasileira. Fig. 2 Foto interna do Centro de Memória Segundo Vidal, a literatura vem demonstrando a importância em associar alunos, professores e funcionários à organização e manutenção dos acervos escolares, na certeza de que a perenidade dessas iniciativas repousa no seu acolhimento pelo efetivo da escola. O que se pensava, logo deverá começar a se tornar referência, a exemplo de outros

130 centros de preservação da memória educacional tais como: o centro de Memória da Escola Tereza Verzeri em Santo Ângelo (RS), o Centro de Memória da Escola de Educação Física da UFRGS. Isto demonstra a crescente manifestação pública de interesse pelo estudo da temática e a preservação da história da instituição escolar e de tudo aquilo que a circunda. O Acervo no Centro: Uma das tarefas dos bolsistas é manter a organização da sala, 3 (três) vezes por semana, 12h semanais de atividades, com cortinas nas janelas para impedir a luz solar sobre as fontes. Aos que visitam alertamos para que não toquem nos objetos e no caso dos pesquisadores é necessário lavar as mãos antes do contato com os documentos e utilizar luvas e máscara para manuseio correto dos materiais. Estão no acervo várias obras de Gramática, Aritmética, Matemática, História, Geografia, Francês, etc. datadas de 1933, 1939, 1970. Há também coleções de revistas e alguns cadernos e boletins escolares. O Centro possui pastas com documentação e fotografias, muitas em ótimo estado de conservação. Alguns objetos como máquinas de datilografia, de contabilidade, aparelhos de áudio-visual, carteira escolar e cadeira, livros, etc., que pertenciam à escola católica e também objetos doados por ex-alunos como flâmulas e inclusive uma palmatória que foi utilizada por uma professora particular e que foi doada por um cidadão gabrielense, ex-aluno desta professora. No acervo há documentação com o histórico da fundação da escola, que data de 15/11/1948, relatando ser um Ginásio noturno em salas emprestadas de uma escola pública e com o tempo este Ginásio foi tornado escola municipal e algum tempo depois encampado pelo Estado do RS. Embora o projeto de Extensão Universitária apareça como um agente facilitador para a existência do referido Centro, porém não é prerrogativa para existência e continuidade do local, pois mesmo tendo como objetivo a preservação de material de valor histórico, espaço para pesquisa e produção do conhecimento acadêmico, não existe a viabilização de recursos financeiros para a manutenção da estrutura física que abriga o acervo. Sendo assim, classificar, catalogar, guardar e expor o acervo é atividade que se segue a um dos objetivos da academia que é a pesquisa. O Centro oportuniza, pois a produção de trabalhos que procurem responder indagações sobre a Educação e o contexto histórico de sua existência nos diferentes períodos da História da Educação Brasileira. A disciplina de Políticas Públicas e Gestão da Educação será uma das formas de fazer a ligação entre alunos da graduação em Licenciatura e o contato com o Centro de Memória, utilizando este espaço como parte da tarefa de pensar a escola através de fontes documentais, analisando o processo histórico por que passa a instituição de ensino, participando desta forma de um projeto que pode estabelecer a relevância histórica da memória, observando a metodologia de ensino em fontes de pesquisa. Acredita-se, assim, que o Centro é um espaço que viabiliza uma proposta de preservação da memória em educação, durante a graduação ou ainda em níveis básico ou de pósgraduação. A Coordenação do Centro de Memória: a atual coordenação do Centro de Memória está a cargo do Professor de Ensino Médio e Técnico em Assuntos Educacionais Carlos Alberto Xavier Garcia e colaboração da Profª Janaína da Silva responsável pelas disciplinas da área da educação do curso de Ciências Biológicas da Unipampa. O desenvolver das atividades previstas para o Centro foram crescendo, sendo organizadas primeiramente por alunos voluntários do ensino médio da própria escola, posteriormente por bolsistas da Universidade em projeto de extensão.

131 Considerações Finais Desde a elaboração do projeto e início da organização do Centro de Memória Escolar que estamos realizando a guarda e preservação de fontes que possibilitam a busca de informações e a exposição das diferentes fases da história da educação no Município, do Estado e do País. O acervo está catalogado, identificado e recebe os cuidados necessários, mas pretendemos a implementação de um software para a digitalização. Para isto, uma oficina deverá ser oferecida para capacitação de docentes e alunos interessados. A proposta inicial, que era a de guarda e exposição e de futuras pesquisas atingem o proposto. Acreditamos que o processo de digitalização irá facilitar bastante a consulta, reduzindo o tempo de procura por documentos e obras. O município de São Gabriel possui dois museus na cidade, sendo que não havia nada sobre a área educacional, assim como não há um arquivo público que guarde material desta área. Torna-se importante para a história da educação o arquivo de documentos organizados de acordo com normas técnicas; a exposição de objetos e a guarda de materiais didáticos para a produção de pesquisas futuras. O acervo organizado na Escola XV de Novembro será de grande importância para a pesquisa histórica na área educacional. A partir das fontes é possível entender os sistemas e as políticas educacionais, compreender o processo ensino-aprendizagem e aspectos relativos aos profissionais da educação e métodos de ensino. Também, queremos afirmar que os alunos ao serem instigados para a organização deste espaço, colaboram bastante. A comunidade local, sobretudo, ajudando com a doação de fontes uma importância de preservação do patrimônio cultural específico da área educacional. Sendo objetivo deste artigo, descrever as atividades que envolvem a organização de um Centro de Memória, acredita-se que este objetivo foi cumprido, espera-se novos trabalhos a partir do Centro de Memória e daquilo que ali se guarda para mirar. Referências Bibliográficas: BRASIL. Constituição Federal/1988. Disponível em: constituicao.htm Acesso em 30/08/2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ Escola XV de Novembro. Projeto de Comemoração do Jubileu de Prata, 1975, mimeo. MARTINS, Ana Luiza. Fontes para o patrimônio cultural> Uma construção permanente. In: PINSKY, Carla Bassanezi e LUCA, Tania Regina (org.). O historiador e suas fontes.1ª Ed. São Paulo: Contexto, 2011, 33p. MARTINS, Maria do Carmo. Os desafios para a organização do Centro de Memória da UNICAMP, ou de como construir coletivamente um lugar de memória. Disponível em htt://www.unicamp.br/serviços/centro_ memoria/publicações.html. Acesso em 22/08/2007. MOGARRO, Maria João. Arquivos e educação: a construção da memória educativa. In Revista Brasileira de História da Educação, SBHE, Ed. Autores Associados, jul/dez 2005. PEIXOTO, Anamaria Casassanta. Museu da Escola de Minas Gerais: Um projeto a serviço de pesquisadores e docentes. In Museu da Escola de Minas Gerais/Centro de Referência do Professor SEEMG/Museu de Minas Gerais. 1998. SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre fontes para a História da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (Orgs.) Fontes, História e Historiografia da Educação. Campinas: Autores Associados/HISTEDBR, 2001, p. 3 12. VIDAL, Diana Gonçalves. Arquivos escolares: desafios à prática e à pesquisa em história da educação. In Revista Brasileira de História da Educação, SBHE, Ed. Autores Associados, jul/dez 2005.