AVALIAÇÃO ISOCINÉTICA E FUNCIONAL DE UM CICLISTA: UM ESTUDO DE CASO

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Transcrição:

AVALIAÇÃO ISOCINÉTICA E FUNCIONAL DE UM CICLISTA: UM ESTUDO DE CASO Kamilla da Silva Costa 1 Marília Cabral de Sousa¹ Kamilla Alves Moreira¹ Maikon Gleybson Rodrigues dos Santos¹ José Roberto de Souza Júnior¹ Thiago Vilela Lemos² RESUMO Introdução: O ciclismo é um esporte de alta demanda energética e funcional sendo dividido em provas de estrada e de pista e estas em individuais ou coletivas. Devido à grande demanda proveniente do esporte a ocorrência de lesões por fadiga se torna muito frequente. Objetivos: realizar uma avaliação isocinética e funcional de um ciclista e verificar se estas atendem as demandas do esporte e relacioná-las com os sintomas do sujeito. Métodos: Trata-se de um estudo de caso de um ciclista de 52 anos, sexo masculino, que pratica o esporte há 29 anos sendo 5 como profissional, atendido no estágio de Fisioterapia Esportiva da Universidade Estadual de Goiás (UEG) queixoso de dor bilateral na face anterior e distal da coxa. Inicialmente foi realizado um exame físico e posteriormente as avaliações isocinética e funcional. Foi realizado as avaliações Isocinéticas e funcionais e do gesto esportivo (WattsBike). Resultados: Através da avaliação isocinética do atleta foi possível perceber que em relação às variáveis pico de torque e trabalho o membro esquerdo predominou sobre o direito. Já no que diz respeito à relação agonista/antagonista, os extensores de joelho se mantiveram mais fortes do que os flexores quando analisados em todas as velocidades. Na avaliação da Wattbike o pico de torque no pedal ocorreu antes do esperado em ambos os membros. Conclusão: Com a avaliação foi possível detectar que a dor relatada pelo atleta é originária da fadiga muscular decorrente de desequilíbrio de força uni e bilateralmente. Palavras-chave: Fisioterapia; ciclismo; fadiga. ABSTRACT 1 Acadêmicos do curso de fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás (UEG) ² Doutor em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), docente na UNIVERSO (GO) e Universidade Estadual de Goiás; Coordenador do Curso de Fisioterapia da UNIVERSO (GO). e-mail: tvlemos@gmail.com 1

Introduction: Cycling is a high energy sport and functional demands being divided into road and track races and these in individual or collective. Due to the great demand, the occurrence of fatigue damage becomes too frequent. Objective: the aim of the study was to realize an isokinetic and functional evaluation of a cyclist and check whether they meet the demands of the sport. Methods: The sample consisted of 1 rider 52 year-old male, who practices the sport at 29 years being 5 as a professional, attended in the Sports Physiotherapy stage of the State University of Goias (UEG). Initially it performed a physical examination and later the isokinetic and functional assessments. For isokinetic evaluation was used Isokinetic Biodex PRO 4, the knee joint has been chosen and the following protocol was carried out: Bilateral isokinetic mode, concentric / concentric, at speeds of 90 / s, 180 / s and 300 / s with 5, 10 and 15 repetitions respectively and with an interval of rest of 30 seconds. For functional evaluation used the Functional Movement Screen (FMS), Bunkie Test and Wattbike. Results: Through isokinetic evaluation of the athlete it was revealed that regarding the variables peak torque and work the left limb predominated on the right. In what concerns the relationship agonist / antagonist, knee extensors remained stronger than flexors when analyzed at all speeds. In assessing the Wattbike peak torque pedal occurred earlier than expected on both members. Conclusion: With the evaluation was possible to detect that the pain reported by the athlete is originally from muscle fatigue due to force imbalance uni and bilaterally. Keywords: Physiotherapy; cycling; fatigue. Introdução O ciclismo é um esporte de competição que se divide basicamente em duas modalidades: provas de pista, em que a velocidade da prova é de fundamental importância; e provas de estrada, prezando-se mais pela resistência do ciclista. As competições podem ainda ser divididas em individuais ou coletivas (DIEFENTHAELER; VAZ, 2008; LUCAS et al, 2010). No ciclismo de estrada a principal característica é a somatória de alta intensidade e alto volume, associada a terrenos irregulares. Por serem de longa duração e demandarem grande resistência por parte dos atletas, o aparecimento de lesões é inevitável (DIEFENTHAELER; VAZ, 2008). Nesse contexto a avaliação do atleta é de extrema importância para que se possa prevenir tais lesões e permitir que o atleta permaneça por mais tempo no esporte (DIEFENTHAELER; VAZ, 2008; DIEFENTHAELER; VAZ, 2008; BARDENETT et al, 2015). A técnica de dinamometria tem sido utilizada para avaliação do desempenho muscular durante atividades físicas por meio do uso de células de carga, para tal 2

avaliação atualmente utiliza-se o dinamômetro isocinético e a Wattbike ciclo ergômetro (VASCONCELOS et al, 2009; D'ALESSANDRO et al, 2005; DRILLER et al, 2014). O dinamômetro isocinético permite avaliar o equilíbrio muscular, velocidade e amplitude do movimento, resistência aplicada e o modo de contração (LUNA et al, 2015). Os dados podem ser comparados bilateralmente ou unilateralmente. A relação bilateral permite identificar se há um membro mais forte ou mais solicitado do que o outro. Diferenças acima de 15% são consideradas como fatores predisponentes a lesões musculares (ZABKA; VALENTE; PACHECO, 2011). Outros estudos trazem que a razão entre isquiostibiais e quadríceps (I:Q) varia de 40% a 80%,dependendo da idade e gênero da população avaliada, sendo que quanto menor essa relação mais propenso o atleta está a lesões (SANTOS et al, 2014; TERRERI; JÚLIA; AMATUZZI, 2001). Quando a comparação é feita unilateralmente permite que o avaliador identifique discrepâncias de força muscular entre agonistas e antagonistas (ZABKA; VALENTE; PACHECO, 2011). A WattBike promove avaliação do desempenho muscular no momento em que o ciclista pedala e pode ser utilizada também para a promoção de treinos anaeróbios (DRILLER; ARGUS; SHING, 2013). Consiste em uma bicicleta cuja resistência se dá através da frenagem do ar ao passar por uma turbina. A sensação obtida pelo ciclista ao pedalar nessa bicicleta é muito semelhante à sensação da pedalada ao ar livre. Esse fator faz com que os resultados obtidos pela Wattbike sejam fidedignos aos obtidos quando o ciclista está em competição (HOPKER, et al, 2012). De forma associada à avaliação da dinamometria deve se realizar uma avaliação funcional. O Functional Moviment Screen (FMS) consiste em uma sequência de testes e posições que torna possível identificar limitações funcionais e movimentos assimétricos, prevendo possíveis riscos de lesões. Ao todo são compreendidos sete testes: mobilidade de ombro, agachamento afundo, avanço, elevação da perna reta, teste do obstáculo, estabilização de tronco e estabilização rotacional (BARDENETT et al, 2015). Quando associado a outras avaliações como o Bunkie Test traz muitas informações ao avaliador sobre o estado geral do atleta permitindo especificidade ao prescrever exercícios para melhora de variáveis importantes no esporte e prevenir lesões (BARDENETT et al, 2015; BRUMITT, 2015). 3

O presente estudo teve como objetivo realizar uma avaliação isocinética e funcional de um ciclista e verificar se estas atendem as demandas do esporte e relacionar as mesmas aos sintomas apresentados. 1 Metodologia 1.1 Amostra Trata-se de um estudo de caso no qual o sujeito é um ciclista de 52 anos, sexo masculino que pratica o esporte a 29 anos, dos quais 5 são como profissional. Este assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde concordava em participar do estudo em questão. O estudo foi realizado durante o estágio de Fisioterapia Esportiva que ocorreu na Universidade Estadual de Goiás (UEG) durante o ano de 2015. 1.2 Procedimentos Inicialmente o atleta avaliado concordou em participar da pesquisa através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A avaliação ocorreu em dois dias sendo no primeiro, realizado a anamnese, exame físico, avaliação isocinética e funcional enquanto que no segundo dia realizou-se a avaliação funcional na Wattbike.. Anamnese: realizada para traçar o perfil do paciente, conteve os seguintes itens: idade, sexo, peso, altura, profissão, dominância, histórico de lesões prévias além de questões referentes ao uso de medicamentos e hábitos de vida. Exame Físico: foi realizada uma inspeção e palpação da musculatura dos membros inferiores a fim de investigar tônus muscular e dor além da mensuração real dos membros inferiores medindo-se a distância da espinha ilíaca anterosuperior até ao maléolo medial. Dinamometria isocinética: foi utilizada para a mensuração da força muscular de flexores e extensores de joelho, utilizou-se o isocinético Biodex 4PRO, modo isocinético, concêntrico/concêntrico, com três velocidades 60 /s, 180 /s e 300 /s com 5, 10 e 15 repetições respectivamente. O dinamômetro ergométrico Wattbike foi utilizado para avaliação da força de flexores e extensores de joelho e quadril, e para verificar a simetria do ciclo de pedalada. 4

Functional Moviment Screen (FMS): foi utilizado na avaliação funcional. Foram escolhidos os testes dentro do FMS que mais se assemelhavam com a função do atleta em competição. Dentre eles encontra-se o teste de ultrapassagem do obstáculo, agachamento afundo, avanço e elevação da perna reta. O score para cada teste realizado varia de 0 a 3, onde 0 indicada presença de dor na realização do teste, 1 para compensações graves, 2 para compensações leves e 3 para execução perfeita do movimento. Com esses testes foi possível verificar a estabilidade de tronco e pelve do atleta, bem como sua funcionalidade e flexibilidade de membro inferior. Para complementar a avaliação funcional utilizou-se ainda o Bunkie test. O avaliado assumiu as posições de ponte em decúbito ventral, lateral, dorsal e lateral com a força dos adutores de quadril devendo mantê-las por 30 segundos 4. 2 Resultados e Discussão Na anamnese verificou-se que o ciclista relatou dor em pontada e queimação na região medial e distal da coxa bilateralmente e que o transtorno teve início em 2015 com a retomada das atividades após um período de descanso. Segundo o atleta, a dor surgiu durante treinos de alta carga e intensidade (subida), apresentando-se de forma diferente de sinais de fadiga e câimbras musculares. O mesmo informou que seu estado de saúde geral se encontra bem, e não informou histórico familiar de neuropatias, hipertensão arterial e diabetes. Na avaliação física do atleta foi relatado dor à palpação mais profunda, indicando que o vasto intermédio estaria mais acometido do que o retofemoral. A palpação indicou ainda aumento de tônus nessa musculatura. Na mensuração da discrepância de membros, o membro esquerdo apresentou 90 cm de comprimento e o direito 89 cm. Os resultados da avaliação no dinamômetro isocinético quanto a pico de torque e trabalho foram apresentados na tabela 1. Tabela 1 - Trabalho e pico de torque gerados nos movimentos de flexão e extensão do joelho. 5

Nota: N.m: Newton.metro; J: Joule; D: Direito; E: Esquerdo. No movimento de extensão do joelho observou-se que o membro direito apresentou menor pico de torque e trabalho, comparado ao esquerdo, com um déficit de 19,8%. A variável trabalho apresentou o mesmo padrão, na qual o membro direito apresentou valores inferiores ao esquerdo, tanto no movimento de flexão quanto de extensão. Na velocidade de 180º/s no movimento de extensão o membro direito apresentou menor pico de torque em relação ao esquerdo com déficit de 16,9%. Já no movimento de flexão esse déficit foi menor, sendo de 6,9%. Na variável trabalho os achados foram equivalentes, sendo o déficit de 16,4% para a extensão e 7,4% na flexão. Esses dados indicam um déficit dos flexores em relação aos extensores. Em contrapartida, no estudo de Selistre et al (2012), quando se avaliou o pico de torque em jogadores de futebol sem histórico de lesão não houve diferença significativa entre os membros inferiores dominantes e não-dominantes. Porém, quando os resultados do dinamômetro isocinético foram correlacionados com testes funcionais não houve forte correlação. Já no presente estudo as alterações encontradas no isocinético foram correspondentes aos achados nos testes funcionais. Na velocidade de 300º/s no movimento de extensão, com relação ao pico de torque, o déficit foi de 16,2% sendo que o membro direito obteve menores valores, equivalente aos achados nas outras velocidades. No movimento de flexão o déficit foi de 14,1% sendo que, diferentemente das demais velocidades, o membro direito obteve maior valor. Com relação ao trabalho, no movimento de extensão o déficit foi 19,3% com o membro esquerdo apresentando maior valor em relação ao direito. No estudo de Selistre et al (2012), quando se avaliou o pico de torque em jogadores de futebol sem histórico de lesão não houve diferença significativa entre os membros inferiores dominantes e não-dominantes. De acordo com Zabka et al (2009), diferenças maiores que 15% predispõe a lesões musculares. Analisando os 6

dados do ciclista do presente estudo e contrapondo aos estudos de Zabka et al (2009) e Silestre et al (2012) justifica-se as queixas de dor em extensores de joelho do ciclista e a ausência de lesão muscular nos jogadores de Silestre et al (2012). Já no movimento de flexão, apesar do membro inferior direito do ciclista apresentar um pico de torque menor que o esquerdo, esse déficit ficou abaixo do risco de lesão (9,2%). Os resultados da avaliação no dinamômetro isocinético quanto à relação agonista/antagonista foram apresentados na tabela 2. Tabela 2 - Relação agonista/antagonista do joelho avaliada por meio da dinamometria isocinéticalink Excel.Sheet.12 "C:\\Users\\Marília\ \Desktop\\tabelas estudo de caso.xlsx" Plan1! L4C12:L7C15 \a \f 4 \h \* MERGEFORMATX 60 /s 180 /s 300 /s Esperado 61% 72% 78% Direito 64,% 74,3% 87,6% Esquerdo 57,% 66,3% 64,4% Em todas as velocidades testadas o membro direito teve relação antagonista/agonista superior ao esperado, indicando que os isquiotibiais apresentam desempenho acima do esperado. Demonstrando um desequilíbrio na ativação desses grupos musculares. Com relação ao membro esquerdo, essas relações estiveram abaixo do esperado indicando ativação insuficiente dos isquiostibiais durante o movimento de flexo/extensão do joelho. Tanto os achados da tabela 1 quanto da tabela 2 predispõe o atleta a lesões, fadiga muscular e menor desempenho em provas. 7

Os resultados da avaliação na Wattbike são mostrados na Figura 1. Figura 1 Avaliação isocinética realizada na Wattbike Na avaliação feita na Wattbike o ciclista apresentou sensação de fadiga ao final da prova de resistência, que consiste em grande número de pedaladas por minuto (acima 100 rotações por minuto), corroborando com os resultados já apresentados de que a dor relatada por ele tem grande influência com a dificuldade de manter um movimento com grande intensidade. Também foi constatado no teste que o pico de torque médio no membro direito ocorre em 109 graus e no esquerdo em 105 graus, sendo esperados para esse tipo de avaliação 110 graus. Mostrando que o momento de força máxima acontece antes do esperado, sendo relacionado com utilização excessiva do quadríceps. Tal resultado é compatível com os achados do isocinético em que houve maior força de flexores do que de extensores de joelho quando comparado unilateralmente. Observou-se que o ciclista apresentou uma dificuldade do membro esquerdo em manter um padrão normal de movimento, promovendo compensações e sobrecargas que podem estar levando o atleta ao quadro de fadiga antes que o esperado, reduzindo assim a sua eficácia nos treinos e competições. Esses dados se contrapõem aos do estudo de Diefenthaeler e Vaz (2008) no qual os ciclistas avaliados não tiveram quadro de fadiga ao final da realização do teste de exaustão. 8

Diferentemente do esperado, eles aumentaram a força como uma estratégia muscular na tentativa de manter a potência constante. No caso em questão o ciclista avaliado apresentou diminuição da força quando houve aumento da velocidade. Isso pode estar associado à fadiga muscular ou a falta de técnica no pedal que se justifica pela produção de força máxima de torque antes do esperado. O desequilíbrio de força flexora e extensora no joelho do ciclista, verificado tanto na avaliação isocinética quanto no cicloergômetro, pode ter sido acentuado em decorrência do período de repouso vivenciado por ele no início do ano. Enquanto esteve ausente de suas atividades pode ter ocorrido diminuição de força e massa de um grupo muscular em detrimento de outro devido à redução da carga imposta sobre o músculo (MACARDLE, 1998). Quando retornou às atividades esse desequilíbrio se mostrou evidente provocando dor principalmente durante grande demanda de intensidade e volume (subidas). Outro fator que pode estar associado à diminuição de rendimento do atleta é a assimetria de membros que leva a uma compensação no pedal com rotação lateral e abdução do quadril esquerdo, diminuindo o trabalho desse membro com relação ao outro e diminuindo sua força no pedal. As compensações que o membro esquerdo realiza para tentar igualar o trabalho na pedalada gera estresse muscular e articular, predispondo a lesões. Nos testes funcionais o atleta obteve desempenho regular no FMS. No agachamento afundo o ciclista teve queda pélvica importante para o lado direito, rotação para o lado esquerdo e rotação lateral do fêmur bilateralmente. Quando colocado o calço as compensações se mantiveram presentes, porém em menor intensidade. Dessa forma o score para o teste de agachamento a fundo foi 1. No avanço o ciclista foi incapaz de realizar a extensão de joelho na volta do movimento, bilateralmente. No momento de flexão do joelho houve queda pélvica contralateral ao membro de apoio, adução de quadril, valgo de joelho e rotação lateral de pé em ambos os membros testados. Todas essas alterações indicam déficit musculoesquelético na região lombar e pélvica, além de desequilíbrio entre os músculos flexores e extensores do joelho. Essas alterações se confirmam nos resultados do dinamômetro isocinético em que os extensores de joelho não apresentaram força adequada com relação aos seus antagonistas. Ainda dentro do FMS, no teste de elevação da perna reta, o atleta em questão obteve score 1 nas pernas esquerda e direta, sendo que a perna direita obteve menor flexibilidade. Durante a realização do teste foi questionado se o 9

atleta obteve dor irradiada nos membros inferiores sendo que a resposta foi negativa em ambos os lados, indicando ausência de pinçamento nervoso. No teste de ultrapassagem do obstáculo o indivíduo deve ser capaz de ultrapassar um obstáculo com a altura correspondente a distância da tuberosidade anterior da tíbia ao maléolo medial com o apoio de apenas um membro e execução do gesto com o membro oposto sem encostar no obstáculo e sem descarga de peso. Na execução do teste ocorreram compensações como encostar na barra, rotação e inclinação de tronco e pelve. Nesse teste o score foi 1. O teste de apoio é realizado com o alinhamento dos polegares com as têmporas se o avaliado for do sexo masculino, caso seja do sexo feminino o alinhamento é com o mento. Para ser score 3 o atleta deve realizar o movimento com bom alinhamento de pelve e tronco. Caso não consiga realizar o movimento sem compensações o alinhamento dos polegares passa a ser realizado com o mento em homens e com os ombros em mulheres. Se o movimento for realizado sem desalinhamentos pélvico e de cintura escapular o score é 2. Se as compensações persistirem o score é 1 e se houver dor durante a execução o score é 0. Na realização desse teste o ciclista teve boa execução realizando o movimento com boa estabilidade pélvica e de cintura escapular, recebendo score 3. Com relação ao Bunkie test o atleta não apresentou grandes compensações. Ele foi capaz de manter todas as posturas (ponte em decúbito ventral, dorsal, lateral e lateral com ênfase no trabalho dos adutores) por 30 segundos. O atleta relatou apenas leves desconfortos em posteriores de coxa na ponte em decúbito dorsal e em adutores do quadril na ponte em decúbito lateral com apoio unipodal bilateralmente. Após o encaminhamento da avaliação e do diagnóstico do atleta em questão, foi também desenvolvido uma série de exercícios focados para os desequilíbrios encontrados. Depois de dois meses o paciente já apresenta sem os sintomas de dores nos membros inferiores, relatando estar treinando sem nenhuma outra queixa. Conclusão A avaliação utilizada no estudo conseguiu abordar os componentes necessários para se realizar um panorama funcional completo do ciclista, e consequentemente para elaboração do diagnóstico fisioterapêutico e para recomendar o tratamento do mesmo. Os resultados indicam que o sujeito apresenta 10

um desequilíbrio entre flexores e extensores de joelho e entre os membros inferiores direito e esquerdo o que vem a caracterizar os sinais e sintomas apresentados. A relação entre o diagnóstico fisioterapêutico e os sintomas, clínica do paciente é essencial para a conduta profissional e para a recuperação e melhora do paciente. Referências BARDENETT, S. M et al. Functional Moviment Screen normatives values and validity in high school athetes: can the FMS be used as predictor of injury? Intern Journal Sports Physical Therapy, v. 10, n. 3, p. 303-308, 2015. BRUMITT, J. The Bunkie test: descriptive data for a novel test of core muscular endurance. Rehabilitation Research and Practice, v. 205, p. 1-9, 2015. D'ALESSANDRO, R. L et al. Análise da associação entre a dinamometria isocinética da articulação do joelho e o salto horizontal unipodal, hop test, em atletas de voleibol. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, n. 5, p. 271-275, 2005. DIEFENTHAELER, F.; VAZ, M. A. Aspectos relacionados à fadiga durante o ciclismo: Uma Abordagem Biomecânica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 14, n. 5, p. 472-477, 2008. DIEFENTHAELER, F.; VAZ, M. A. Proposta Metodológica para a avaliação da técnica da pedalada de ciclistas: Estudo de Caso. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 14, n. 2, p. 155-158, 2008. DRILLER, M. W et al. Reliability of a 2-bout exercise test on a Wattbike cycle ergometer. Intern Journal Sports Physiological Performance, v. 9, p. 340-345, 2014. VASCONCELOS, R. A et al. Confiabilidade e validade de um dinamômetro isométrico modificado na avaliação do desempenho muscular em indivíduos com reconstrução do ligamento cruzado anterior. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 44, n. 3, p. 214-224, 2009. DRILLER, M. W.; ARGUS, C.; SHING, C. M. The reliability of a 30 second sprint test on the Wattbike cycle ergometer. Intern Journal Sports Physiological Performance, v. 8, 379-383, 2013. HOPKER, J et al. Validity and Reliability of the Wattbike Cycle Ergometer. Intern Journal Sports Medicine, 2012. LUCAS, R. D et al. Aspectos fisiológicos do mountain biking competitivo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 16, n. 6, p. 459-464, 2010. LUNA, N. M. S et al. Análise isocinética e cinética de corredores e triatletas com e sem histórico de fratura por estresse. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 21, n. 4, p. 252-256, 2015. MACARDLE, W. D. Fisiologia do exercício: Energia, nutrição e desempenho humano. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 11

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