UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS São Paulo 2008

ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade, área de concentração em Planejamento e Gestão Estratégica em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Raul Amaral Rego. São Paulo 2008

FICHA CATALOGRAFICA O51 Oliveira, Roberta Monteiro de Turismo pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas / Roberta Monteiro de Oliveira - 2008. 107f.: il.; 30 cm. Orientador: Raul Amaral Rego. Dissertação (Mestrado em Hospitalidade) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2008. Bibliografia: f.85-99. 1. Hospitalidade. 2. Turismo pedagógico. 3. Agências de turismo. 4. Serviços. 5. Educação. I. Título. CDD 647.94

ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade, área de concentração em Planejamento e Gestão Estratégica em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Raul Amaral Rego. Aprovado em 13 de outubro de 2008 Prof. Dr. Raul Amaral Rego (orientador) Prof. Dr. Mário Carlos Beni Profa. Dra. Mirian Rejowski

Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam que as limitações podem ser transformadas em superação e os obstáculos são lições a serem aprendidas.

Agradeço A Deus pela fé que rege os meus dias e por me fazer acreditar que os sonhos podem se tornar realidade. Ao Junior, meu companheiro de todos os momentos, pelo carinho e compreensão e principalmente por me incentivar e acreditar nos meus objetivos. Ao Arthur, meu amado filho, por ser meu raio de sol e pela infindável energia que auxiliou no término desta etapa de minha vida, o mestrado, e o início de outra, ser mãe. A minha mãe por ser o exemplo de coragem e determinação e por me ensinar que a paciência e o amor são os alicerces da vida. Ao meu pai que me ensinou que devemos transformar os percalços que a vida nos apresenta em aprendizado. As minhas irmãs Rosemeire, Rosana, Regina e aos meus cunhados Philippe, Lage, Casagrandi, Renata e Fabiano agradeço pelas palavras de incentivo e carinho nos momentos de desalento. Aos meus sobrinhos pelo carinho e alegria por tornarem os meus dias mais coloridos e aos meus sogros Rosa Maria e Mauro por compreenderem e assim abdicaram de preciosos momentos em família. Aos amigos, Ana Chaves pela sabedoria e paciência em entender minhas dificuldades e me incentivar nos momentos mais incertos; ao Renê por ter acreditado em meu potencial enquanto professora e a Luciane pela cumplicidade. Aos meus alunos que são a essência do meu aperfeiçoamento, enquanto educadora e profissional. Aos professores do Curso de Mestrado por compartilharem o conhecimento intelectual e os inesquecíveis momentos de convívio social e principalmente ao Prof. Raul pelas sábias orientações e por me mostrar as diferentes possibilidades de ampliar o meu conhecimento científico. Aos mestres Mário Beni, Mirian Rejowski e Maria do Rosário que me concederam imprescindíveis informações, auxiliando-me no aprimoramento da minha pesquisa. A Milena da Escola Carandá, ao Silvio do Colégio Santa Cruz, ao José da Agência Ambiental, ao Marcelo da Agência Quíron e as demais pessoas que contribuíram com preciosas informações sobre o planejamento, realização e avaliação do estudo do meio, tema desta pesquisa.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 Estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental...30 Figura 2 Diagrama de Serviços - Agência de turismo especializada em turismo pedagógico...56 Figura 3 Natureza e determinantes das expectativas do cliente em relação aos serviços...58 Figura 4 Ginásio Santa Cruz, em 1952...63 Figura 5 Colégio Santa Cruz, em 2007...64 Figura 6 Fotografia tirada em 05/06/2007 Sr. Valdomiro e Sra. Valquíria...78 Figura 7 Fotografia tirada em 05/06/2007 alunos entrevistando meeiro...79 Figura 8 Fotografia tirada em 05/06/2007 Representantes do MST...79 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Escola: Plano de visitas técnicas e viagens de estudos do meio Visita ao Assentamento do MST...38 Quadro 2 Circuitos de distribuição...45 Quadro 3 Agência de Turismo: Plano de visitas técnicas e viagens de estudo do meio Visita ao Assentamento do MST...60

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAV- Associação Brasileira de Agências de Viagens IFTA Federação Internacional das Agências de Viagens EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo GDS - Global Distribution Systems MEC Ministério da Educação MST - Movimento dos trabalhadores rurais sem terra PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10 1 CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO, VIAGENS E O ESTUDO DO MEIO......17 1.1 Propostas pedagógicas e o estudo do meio...17 1.2 O estudo do meio no cenário brasileiro...20 1.3 O uso do estudo do meio como atividade pedagógica...24 1.4 A inserção do estudo do meio nos Parâmetros Curriculares Nacionais...27 1.5 A inserção do estudo do meio no planejamento pedagógico...34 1.6 Principais questões identificadas para pesquisa...39 2 CAPÍTULO 2 AGÊNCIAS DE VIAGENS...40 2.1 Breve caracterização das agências de viagens...40 2.2 Os serviços prestados pelas agências de viagens...44 2.3 A especialização das agências de viagens em turismo pedagógico...50 2.4 O planejamento dos serviços de turismo pedagógico...54 2.5 A análise das necessidades e expectativas da escola...57 2.6 Principais questões identificadas para pesquisa...61 3 CAPÍTULO 3 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO...62 3.1 Colégio Santa Cruz...63 3.2 Escola Carandá...67 3.3 Quíron Turismo Educacional...71 3.4 Agência Ambiental Expedições...74 3.5 Visita ao Assentamento MST - realizada pela Escola Carandá e Quíron Turismo Educacional...76 CONSIDERAÇÕES FINAIS......82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...85 BIBLIOGRAFIA AMPLIADA...90 APÊNDICES Roteiros Entrevista...100 ANEXOS Termos de Consentimento...103

RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo estudar o relacionamento entre as escolas particulares e as agências de turismo especializadas em turismo pedagógico, no que diz respeito ao planejamento, realização e avaliação de viagens para estudos do meio, verificando as atribuições das agências de turismo e das instituições escolares. Do ponto de vista das escolas, buscou-se compreender as teorias pedagógicas que perpassam a educação contemporânea, bem como as metodologias utilizadas no processo ensino-aprendizagem, com destaque para as formas de inserção dos estudos do meio no planejamento de ensino. Do lado das agências, buscou-se, na teoria, a compreensão das características dos serviços prestados pelas agências de turismo no segmento educacional, com ênfase no processo de desenvolvimento do roteiro turístico com finalidade pedagógica, analisando as formas pelas quais as agências desenham este tipo de roteiro. Para isso recorreu-se à literatura específica sobre agências de turismo e à literatura sobre marketing de serviços, principalmente quanto ao uso de diagramas de serviços. O trabalho abrangeu uma pesquisa de campo a partir de um estudo comparativo entre duas escolas do ensino fundamental e duas agências especializadas em turismo pedagógico. O instrumento utilizado foi roteiro de entrevista semi-estruturado com coordenador pedagógico e com orientador educacional, além dos agentes de viagens que organizam essas atividades de campo. Nos resultados de pesquisa apresentados, procurou-se identificar as formas pelas quais as escolas e agências interagem na formatação das viagens, destacando as atribuições de cada uma no processo de planejamento, elaboração, realização e avaliação dos serviços. Verificou-se que as agências pesquisadas desenham os roteiros à luz das diretrizes pedagógicas, oferecendo soluções compatíveis com os requisitos e restrições impostas pelas escolas. Em relação às escolas analisadas, os resultados evidenciaram um bom grau de satisfação com os serviços prestados. Palavras -chave Turismo Pedagógico. Estudo do Meio. Agências de Turismo. Serviços. Educação.

ABSTRACT The present research aims at studying the relationship between private schools and travel agencies specialized in pedagogical tourism, regarding planning, accomplishment and evaluation of the traveling by means of study, verifying the attributions of the travel agencies and the school institutions. From the school's point of view, the search was to comprehend the pedagogical theories that postpone the contemporary education, as the methodologies used in the teaching-learning process, with emphasis for the insertion forms by means of study in the teaching planning. On the other hand, the travel agencies searched, in theory, the characteristics comprehension of the service given by the travel agencies on the educational segment, with emphasis in the developing process of a touristic guide with pedagogical finality, analyzing the forms which the agencies draw this kind of guide. For this, specific literature was overrun about travel agencies and service marketing, especially as the use of service diagrams. The labor included a field research from a comparative study between two elementary teaching schools and two travel agencies specialized in pedagogical tourism. The used instrument was a semi-structured interview guide with a pedagogical coordinator and with an educational guider, besides the travel agents who organize these field activities. The presented research results were to search identification of forms which the schools and agencies interact on the definition of the trips, emphasizing the attribution of each one in the planning process, elaborating, accomplishment and evaluation of the services. It was verified that the searched agencies design the guides based on pedagogical discernment, offering compatible solutions with the requirements and restrictions imposed by the schools. Regarding the analyzed schools, the results attested a good grade of satisfaction with the services given. Key words Pedagogical Tourism. By means of study. Travel Agencies. Services. Education.

10 INTRODUÇÃO O ato de ensinar e aprender faz parte da evolução humana, considerando-se que desde sempre o homem utilizou técnicas para suprir suas necessidades de sobrevivência e que são passadas de geração à geração por meio do senso comum ou da ciência. Nesse sentido, Rubem Alves (2000) menciona que a construção do conhecimento implica no despertar do interesse, dúvida, indagação, ocasionando assim a investigação sobre um determinado assunto, visando a descobrir soluções e respostas. Assim, o senso comum corresponde àquilo que as pessoas acreditam, almejam, seja por meio de crenças ou idéias. Já a ciência apesar de ter início no senso comum, tem como objetivo especializar-se em um determinado assunto, comprovando-o por meio de métodos e técnicas no âmbito da investigação, reflexão e experimentação, possibilitando legitimar as hipóteses teóricas. Tanto o senso comum como a ciência podem ser instigados por meio do processo de educação, que contempla o ato de ensinar e aprender, sendo preciso a participação do emissor e receptor para que ele aconteça no universo que condiz à relação entre pai e filho, professor e aluno, mestre e aprendiz, preceptor e discípulo etc. Nessa conexão o importante é o aprendizado mútuo, socializando conhecimentos, tendo como cenário o núcleo familiar, escolar, profissional; independentemente do nível social ou núcleo cultural em que o indivíduo se encontra. Para Brandão (2006) a educação ajuda a pensar tipos de homens, guerreiros ou burocratas, passando o saber uns aos outros, dando continuidade ao processo de produção de crenças e idéias que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes, construindo, assim, tipos de sociedades, sendo que não há uma única forma, nem um único modelo de educação. Assim, a escola não é apenas o lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor. O saber tribal, que vai do fabrico do arco e flecha à recitação das rezas sagradas aos deuses da tribo, não é aprendido na escola. Tudo o que se sabe, aos poucos se adquire, por viver muitas e diferentes situações de trocas entre pessoas, com o corpo, com a consciência. As pessoas convivem umas com as outras e o saber flui, pelos atos de quem sabe-e-faz, para quem não-sabe-eaprende. São situações de aprendizado. A criança vê, entende, imita e aprende com a sabedoria que existe no próprio gesto de fazer a coisa. (BRANDÃO, 2006. p. 17-18).

11 Podemos constatar essa afirmação no trecho da carta 1 escrita pelos Índios das Seis Nações para os governantes de Virgínia e Maryland, Estados Unidos (Estes queriam que os índios enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos). Os chefes agradecendo e recusando escreveram o seguinte: [...] nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não seriam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens. (BRANDÃO, 2006 P. 8). Cada grupo tem sua cultura; não podemos dizer que a educação de determinado povo é melhor do que a outra, pois cada qual tem as suas especificidades. Assim, não devemos e nem podemos ser etnocêntricos 2. Na educação não há verdade absoluta. A educação escolar, eixo norteador desta pesquisa, pode ser aprendida tanto em sala de aula por meio da teoria, como também, em muitos casos é importante que a prática, ou seja, o ato de fazer, vivenciar ou mesmo observar estejam inseridos no processo de aprendizagem do aluno. Há diferentes maneiras de se utilizar a prática como aprendizado, por exemplo, as atividades realizadas em laboratórios, podendo ser na esfera escolar (laboratório de química), social (entrevistas com a comunidade), atividades de campo (visitas técnicas em museus, teatros, centros comerciais, indústrias, bairros etc.) ou mesmo viagens para outros lugares, sejam tradicionais ou emergentes. É importante salientar que as escolas utilizam diferentes 1 texto retirado do livro O que é educação de Carlos Rodrigues Brandão, 2006 p. 8 2 Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. (ROCHA, 1999. p. 7)

12 denominações para o estudo do meio, sendo elas: atividades extraclasse, visitas técnicas, trabalhos de campo, viagens de estudo de um dia ou mais, vivência extraclasse, etc. As atividades de campo, há muito tempo, acontecem em diversos lugares do mundo. Nos Estados Unidos as viagens de estudo do meio são conhecidas como viagens de campo (field trips); no Reino Unido como viagem escolar (school trip). No Brasil, o estudo do meio teve início por volta de 1910, durante a Escola Moderna, tendo Ferrer 3 como idealizador e a pedagogia libertária como referência. Ainda hoje há muitas escolas que contemplam essas atividades de campo em seus currículos, tendo como referências os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs, articulando assim o conhecimento teórico e prático, possibilitando que o aluno, por meio desse aprendizado, desenvolva conhecimento intelectual, e que a escola traga, à luz da sua formação, aspectos sociais, ambientais e culturais, formando cidadãos mais conscientes. É importante que os professores conheçam a política de educação e os projetos educacionais que fazem parte do sistema, pois é a partir do conhecimento global que será possível fazer um adequado planejamento educacional e curricular, o plano de ensino, de curso, de unidade e de aula. Foi então que se constatou a necessidade de elaborar um instrumento denominado plano de estudo do meio como demostrado no capítulo 1. Com base nesse cenário, verificou-se a necessidade de estudar e compreender um pouco mais deste universo, aspirando-se que este trabalho sirva como referência teórica para as escolas, agências de turismo e também para a academia, pois constatou-se que este nicho de mercado ainda é emergente e que há pouca bibliografia específica sobre o assunto. Desta maneira, entende-se que há muito que ser produzido e desenvolvido, sendo este o início de um longo caminho. Os orientadores educacionais poderão utilizar essa pesquisa para compreender quais são as atribuições e responsabilidades de uma agência de turismo, bem como entender a função do agente de viagem no processo de formatação de pacotes turísticos. Por outro lado, as agências de turismo encontrarão informações sobre o universo escolar, ou seja, aspectos relevantes sobre a finalidade de documentos como os PCNs, o projeto pedagógico da escola, o currículo escolar, os conteúdos básicos e as metodologias de ensino. 3 O educador espanhol Francisco Ferrer Guardiã (1859-1909) fundador da escola moderna, nacionalista e libertária, foi o mais destacado crítico da escola tradicional, apoiando-se no pensamento iluminista. Ferrer foi um revolucionário que acreditava no valor da educação como remédio absoluto para os males da sociedade. (GADOTTI, 2001. p. 174)

13 O interesse pelo tema foi despertado com base na atuação no ensino superior, no processo de realização de viagens e visitas técnicas com alunos do Curso de Turismo, bem como na necessidade de ampliar conhecimentos relacionados às áreas concernentes à Hospitalidade e Turismo. Desse modo, o objetivo principal desta pesquisa foi compreender as relações existentes entre as escolas e as agências de turismo (operadoras), verificando a especialização das viagens de estudos do meio. Os objetivos específicos da pesquisa são: verificar os fundamentos das atividades de estudos do meio no cenário educacional brasileiro; entender a importância do estudo do meio como método de ensino; conhecer e compreender as funções das agências de turismo; verificar os procedimentos das agências de turismo, especializadas em turismo pedagógico, e das escolas no processo de planejamento, realização e avaliação das viagens de estudos do meio. Algumas questões foram pensadas, tais como: As agências de turismo oferecem pacotes e roteiros desenvolvidos de acordo com as diretrizes pedagógicas das escolas? As agências de turismo têm contribuído para que os estudos do meio cumpram plenamente com os objetivos contemplados no planejamento curricular? Para uma melhor compreensão do tema, buscaram-se como referenciais teóricos obras de alguns autores, tais como: Ghiraldelli (1992) e Gadotti (2001) que fundamentaram os estudos sobre educação aqui apresentados; Pontuscka (1994) e Haydt (2003) no que se refere ao estudo do meio como método de ensino; Rejowski (2001; 2002; 2008), Cordeiro (2008) e Beni (2006) sobre a evolução, tipologia e conceitos das agências de turismo no mundo e no Brasil; Piza (1982) sobre a utilização do Turismo como possibilidade de aprendizagem no âmbito escolar Turismo Pedagógico; Lovelock; Wright (2001), Zeithaml; Bitner (2003), Cobra (2001) como base para o entendimento e compreensão dos aspectos inerentes a marketing de serviços; bem como Dencker (1998), Schlütler (2003) e Yin (2001), colaborando no contexto metodológico da pesquisa científica. É importante ressaltar que a nomenclatura utilizada para agências de turismo, neste estudo, tem como base a pesquisa realizada pela autora Rejowski, (2008, p.3) da qual se utiliza o termo agências de viagens para designar a trajetória dessas empresas no mundo, termo mais usual, e agências de turismo ao referir-se a essas empresas no cenário brasileiro, termo legalmente utilizado. Este estudo está estruturado em três capítulos. No primeiro, constam algumas questões sobre a função do estudo do meio como recurso pedagógico em diferentes linhas, a trajetória

14 desse método de ensino no Brasil, bem como o estudo do meio no contexto que se refere ao planejamento educacional. O segundo capítulo refere-se a alguns aspectos evolutivos das agências de turismo no mundo e no Brasil, tipos de serviços oferecidos por essas agências e as diferentes denominações das viagens, com o objetivo de aprendizagem. No terceiro capítulo foram apresentados os resultados obtidos dos estudos de casos, a partir da análise das entrevistas realizadas, visando a compreender as atribuições de cada um no processo de planejamento, realização e avaliação das atividades relacionadas ao estudo do meio. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi o estudo comparativo entre duas escolas do ensino fundamental e duas agências de turismo, especializadas em turismo pedagógico, pretendendo-se compreender os fenômenos que envolvem aspectos relacionados ao Turismo Pedagógico, tanto no contexto das instituições escolares, quanto das operadoras turísticas. Segundo Yin (2001, p.21) o estudo de caso tem algumas características principais como: [...] permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores. De acordo com Dencker (1998, p. 127) o estudo de caso é estudo profundo e exaustivo de determinados objetos ou situações. Permite o conhecimento em profundidade dos processos e relações sociais. A autora enfatiza ainda que esse estudo pode envolver exame de registros, observação de ocorrência de fatos, entrevistas estruturadas e nãoestruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. O objetivo do estudo de caso, por sua vez, pode ser um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou até mesmo uma situação. Nesse sentido, Yin (2001, p. 27) ressalta que o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes tendo como questões do tipo como ou por que sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle. Schramm apud Yin (2001, p.31) cita que: [...] a essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados.

15 Assim, pretendeu-se verificar, por meio do estudo de caso, questões que envolvam todo o processo das viagens, desde a escolha do destino até os resultados obtidos, bem como as decisões de cada um, pedagogos e agentes de viagens em todo o processo da viagem. O objetivo principal deste estudo foi compreender as relações existentes entre o papel desempenhado pelas escolas e agências de turismo, no processo de elaboração de roteiros turísticos de interesse pedagógico, tendo como base: Como é o processo de planejamento, realização e avaliação das viagens de estudos do meio, considerando as atribuições das instituições escolares e turísticas? Para realizar tal análise foi preciso entender aspectos no âmbito da educação, estudos do meio, propostas pedagógicas, agências de viagens, funções do agente de viagem, expectativas dos clientes, roteiros turísticos etc. Para tanto, algumas questões foram indagadas por meio de entrevistas aos orientadores pedagógicos e aos agentes de viagens, tais como: quais critérios a escola utiliza para a realização da escolha dos destinos a serem visitados? De que maneira a agência de turismo colabora com a escola durante o processo de planejamento das viagens de estudos do meio? Segundo Yin, para a entrevista ter êxito, o entrevistador [...] tem que ser bom ouvinte e não ser enganado por suas próprias ideologias e preconceitos, ser adaptável e flexível; ter noção clara sobre as questões que estão sendo estudadas, ser imparcial em relação a noções preconcebidas, incluindo aquelas que se originam de uma teoria. (2001 p. 81). Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas 4 com a coordenadora pedagógica da Escola Carandá e com o orientador educacional do Colégio Santa Cruz, ambos profissionais responsáveis pelas viagens de estudo do meio, no ensino fundamental. A escolha para realizar a pesquisa no Colégio Santa Cruz deu-se pelo fato de ser um das primeiras escolas a realizar o estudo do meio, utilizando-se dos serviços de uma Agência de Turismo, como cita em seu artigo Piza (1992) em 1962, três colégios realizaram esse roteiro: Sion, Santa Cruz e o Deux Oiseaux. O destino escolhido foi Cidades Históricas Minas Gerais. E também por esta escola ser considerada uma das mais tradicionais da cidade de São Paulo atuando na área educacional há 56 anos. 4 Os roteiros das entrevistas semi-estruturadas aplicados nas escolas e agências de turismo encontram-se no apêndice 1.

16 O Colégio Carandá foi escolhido por realizar atividades de campo há mais de 30 anos e, também, por realizar atividades de estudo do meio em assentamentos do MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A escola também conta com os serviços de uma agência especializada em Turismo Pedagógico. As agências de turismo (operadoras) Quíron Turismo Educacional e a Agência Ambiental Expedições foram escolhidas por serem especializadas em Turismo Pedagógico e por ambas prestarem serviços ao Colégio Santa Cruz, sendo que a Quíron também presta serviços ao Colégio Carandá. As entrevistas foram realizadas com o Sr. Sílvio Hotimsky, orientador educacional, (Colégio Santa Cruz) e Srta. Milena Terron, coordenadora pedagógica, (Escola Carandá) que planejam, juntamente com os professores, as atividades de campo e com os agentes de viagens Sr. José Zuquim (Agência Ambiental) e o Sr. Marcelo Salum (Agência Quíron) responsáveis pelo processo de elaboração, realização e avaliação das viagens de estudos do meio. A pesquisadora realizou visita ao assentamento do MST na cidade de Sumaré - SP. Os métodos utilizados foram de observação e entrevistas não estruturadas, sendo que os entrevistados foram: o professor, a orientadora educacional, os alunos, o monitor e os anfitriões. O objetivo era compreender a opinião de cada um referente aos aspectos que envolvem atividades de estudo do meio. Para tanto, foi utilizado caderno de campo, máquina fotográfica e gravador. De acordo com Schütler as entrevistas não estruturadas consistem em uma conversa sem restrições entre o pesquisador e o entrevistado sobre temas relacionados com o objeto de estudo (2003, p. 107).

17 CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO, VIAGENS E O ESTUDO DO MEIO 1.1 Propostas pedagógicas e o estudo do meio Com o objetivo de aprimorar a educação, tornando-a um aprendizado flexível, dinâmico e mútuo entre professores e alunos, muitos educadores começaram tratar o aluno como o centro do processo de ensino, um ser pensante que tem condições de dar a sua opinião e expressar seus interesses, contrariando a educação tradicional. Nesse sentido, há muito tempo a educação vem sendo estudada por diferentes nações, tendo diversos pensadores de renome, que a partir de idéias pedagógicas propuseram-se compreender, analisar e discutir a Educação e as suas influências na evolução humana. No âmbito do pensamento pedagógico, serão abordadas as idéias de alguns educadores que ressaltaram o estudo do meio como recurso de aprendizagem e que muitas escolas se inspiraram, tendo-as como referência. Dentre esses educadores citaremos Ferrer e a Escola Moderna como movimento da pedagogia libertária; Freinet, abordando a educação pelo trabalho e a pedagogia do bom senso; Dewey, instigando o aprendizado por meio do aprender fazendo; Montessori, defendendo métodos ativos; Piaget, com a psicopedagogia e a educação para a ação; Nidelcolff, discutindo a formação do professor e a escola para o povo e os educadores brasileiros, Paulo Freire com a concepção dialética de aprendizagem e Maurício Tragtenberg. Segundo Ghiraldelli (1992), Francisco Ferrer 5 foi um livre pensador espanhol, criador da Escola Moderna, considerada um movimento da pedagogia libertária cartacterizada por abordar a questáo pedagógica a partir de uma perspectiva libertária e igualitária, eliminando relações autoritárias presentes no modelo educacional e tradicional. Preocupado em desenvolver um outro tipo de formação pedagógica em oposição a formação educacional gerida pelo Estado ou pela Igreja, esse educador foi relevante na inserção do estudo do meio no Brasil, como veremos mais adiante. Outro educador, Celéstin Freinet 6, de acordo com Gadotti (2001, p. 178) foi um dos precursores da Escola Nova, sendo que seus princípios pedagógicos eram baseados na 5 (1859-1909) 6 (1886-1966)

18 valorização do trabalho manual, tendo destaque tanto na prática quanto na teoria da educação. Para o autor, Freinet: [...] centrava a educação no trabalho, na expressão livre, na pesquisa. O estudo do meio, o texto livre, a imprensa na escola, a correspondência interescolar são algumas das técnicas que empregava. Para ele a escola popular do futuro seria a escola do trabalho. (GADOTTI, 2001, p. 178). Deste modo, percebe-se que o estudo do meio é apresentado como instrumento de aprendizagem, possibilitando que o aluno vivencie o meio social e se prepare para adaptar-se à vida comunitária. Freinet dava à criança consciência de sua capacidade a fim de convertê-la em autora de seu próprio futuro em meio à grande ação coletiva. Já Maria Montessori 7, nascida na Itália, também pioneira da educação pré-escolar e da Escola Nova, utilizava-se de métodos ativos, a partir dos quais propunha: [...] despertar a atividade infantil através do estímulo de promover a autoeducação da criança, colocando meios de trabalhos adequados à sua disposição. Portanto, o educador não atuaria diretamente sobre a criança, mas ofereceria meios para a sua auto-formação, pois ela acreditava que só a criança é educadora da sua personalidade. (GADOTTI, 2001, p. 151). O mesmo autor informa que o material criado por Montessori teve papel preponderante no seu trabalho educativo, pressupondo a compreensão das coisas a partir delas mesmas, tendo como função estimular e desenvolver na criança um impulso interior que se manifestasse no trabalho espontâneo do intelecto. Essa pedagogia foi inicialmente praticada com crianças da educação infantil e das primeiras séries do ensino fundamental, sendo que o material utilizado era composto por peças sólidas de diversos tamanhos, formas e cores com a finalidade de prepará-las para resolver problemas por meio da concentração e, ao finalizarem as atividades, socializarem os resultados com o grupo. Dessa forma, percebe-se que as escolas que utilizam a educação, inspiradas em Montessori, possuem ambientes com inúmeras opções de atividades lúdicas, fazendo com que a criança utilize a criatividade e a reflexão para resolver situações e compartilhar os resultados com o grupo. Segundo Gadotti (2001, p. 148), o filósofo e pedagogo norte-americano, John Dewey 8, também exerceu grande influência sobre toda a pedagogia contemporânea, pois foi defensor 7 (1870-1952). 8 (1859-1952)