PACHUKANIS, Evguiéni B. Teoria geral do direito e marxismo. São Paulo: Boitempo, 2017.

Documentos relacionados
Representações cotidianas: um desenvolvimento da teoria da consciência de Marx e Engels

Artigo recebido em 09/09/2014 e aceito em 26/11/2014. Rio de Janeiro, Vol. 06, N. 10, 2015, p Celso Naoto Kashiura Jr.

ALGUNS PRESSUPOSTOS EM COMUM ENTRE: MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO TEORIA HISTÓRICO CULTURAL PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA

O TRABALHO NA DIALÉTICA MARXISTA: UMA PERSPECTIVA ONTOLÓGICA.

Traduzido para o português e publicado pela editora Boitempo,

A mercadoria. Seção 4 do Capítulo 1. O caráter fetichista da mercadoria e o seu segredo. 2ª Parte.

Educação e ensino na obra de Marx e Engels 1 Education and training in the work of Marx and Engels

História das Teorias Econômicas Aula 5: Karl Marx Instituto de Geociências / Unicamp

REFLEXÕES A PARTIR DAS CONTRIBUIÇÕES MARXISTAS DE EVGENI PACHUKANIS

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A CRÍTICA FILOSÓFICA PACHUKANIANA À FORMA JURÍDICA ENQUANTO LEGITIMADORA DA REPRODUÇÃO SOCIAL DO CAPITAL

Forma jurídica e forma mercadoria: Um estudo pachukaniano

A sociologia de Marx. A sociologia de Marx Monitor: Pedro Ribeiro 24/05/2014. Material de apoio para Monitoria

EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM CRÍTICA

O ESTADO BURGUÊS COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO SOCIAL: O CASO DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS NOS ACÓRDÃOS DO TST (1998/2008)

Uma análise ontológica sobre a Relação de Identidade entre Produção, Distribuição, Troca e Consumo

Uma pergunta. O que é o homem moderno?

SISTEMAS POLÍTICO- ECONÔMICOS E GLOBALIZAÇÃO

A fenomenologia de O Capital

como se deu seu desenvolvimento e identificando quais fatores condicionaram sua manifestação. Duarte (2001), outro pesquisador representante dessa

Revisão: Duas primeiras seções de O Capital. A mercadoria a) Os dois fatores: valor de uso e valor b) Duplo caráter do trabalho

AS RELAÇÕES ENTRE O DIREITO E O CAPITAL. Felipe Gomes da Silva Vasconcellos

CRÍTICA DO VALOR E CRÍTICA DO DIREITO

Os Sociólogos Clássicos Pt.2

Como nasceram os Grundrisse 21

FILOSOFIA E SOCIEDADE: O TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA

Marxismo e Autogestão, Ano 01, Num. 02, jul./dez. 2014

O Capital Crítica da Economia Política. Capítulo 4 Transformação do dinheiro em capital

Marx e a História em Ruy Fausto

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz KARL MARX. Tiago Barbosa Diniz

- Foi ele quem introduziu um sistema para compreender a história da filosofia e do mundo,

Pensamento do século XIX

Trabalho e Educação 68 horas. Universidade Estadual de Ponta Grossa Curso de Pedagogia 4º ano Professora Gisele Masson

A partir de nossas análises e estudos, preencha adequadamente as lacunas da sentença abaixo, na respectiva ordem:

OS SILÊNCIOS DA IDEOLOGIA CONSTITUCIONAL

1 Sobre a Filosofia... 1 A filosofia como tradição... 1 A filosofia como práxis... 4

OFERTA DE DISCIPLINAS

Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer

O Capital Crítica da Economia Política. Capítulo 4 Transformação do dinheiro em capital

NOTAS PARA UMA CONTRIBUIÇÃO À CONCEPÇÃO MARXIANA DA TECNOLOGIA. Palavras-chave: Tecnologia; Trabalho; Marxismo; Economia política.

O Capital - Crítica da Economia Política. Capítulo 2 - Processo de Troca

Interpretações sobre a noção de desenvolvimento em Marx: Uma revisão crítica

3 A interpretação histórica da luta de classes a partir da Revolução Francesa

Marx e a superação do Estado, Ademar Bogo. Editora Expressão Popular, 2018, por Luciano Cavini Martorano, da Editoria de marxismo21

AS RELAÇÕES CONSTITUTIVAS DO SER SOCIAL

Programa de Disciplina

A mercadoria. Estudo da primeira seção do primeiro capítulo de O Capital

OS FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS DO DIREITO: NOTAS INTRODUTÓRIAS RESUMO

A IMPORTÂNCIA DA CONCEPÇÃO ONTOLÓGICA PARA A TEORIA DO ESTADO

Edney Willian de Miranda ** Câmara Municipal de Coromandel-MG; Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FACIHUS/FUCAMP).

Mercado, democracia e fetichismo jurídico. Market, democracy and legal fetishism

Comparação entre as abordagens de classe marxiana e weberiana

REFORMA CONSTITUCIONAL E IDEOLOGIA JURÍDICA

3 A interpretação histórica da luta de classes a partir da Revolução Francesa

IDEOLOGIA: UMA IDEIA OU UMA INFLUÊNCIA?

PORTARIA Nº 249, DE 10 DE MAIO DE 2013

A Filosofia Hegeliana

Análise de Situações de Desenvolvimento Local Fundamentos Teóricos

Teorias socialistas. Capítulo 26. Socialismo aparece como uma reação às péssimas condições dos trabalhadores SOCIALISMO UTÓPICO ROBERT OWEN

O MOVIMENTO DO PENSAMENTO PARA APROPRIAÇÃO CONCEITUAL EM DAVÝDOV

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO ECONÔMICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

Edelman, Bernard. A legalização da classe operária. São Paulo: Boitempo, 2016.

INTRODUÇÃO LONDON, J. Ao sul da fenda. In: LONDON, J. Contos. São Paulo: Expressão Popular, (p )

CURSO: Serviço Social. TÍTULO do Projeto de Pesquisa: Memória Social e Prisão: reflexões sobre as políticas públicas no âmbito da execução penal.

O pensamento sociológico no séc. XIX. Sociologia Profa. Ms. Maria Thereza Rímoli

23 de janeiro de h30-18h. Título da Contribuição: Da mundialização do capital à mundialização do Estado Flávio Bezerra de Farias

LIBERDADE E POLÍTICA KARL MARX

O Marxismo de Karl Marx. Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior

A relação teoria e prática no exercício profissional da/o assistente social

Resenha. NETTO, J. P. Introdução ao estudo do método de Max. São Paulo, Expressão Popular, 2011.

ARON, Raymond. O Marxismo de Marx. 3. Ed. Tradução: Jorge Bastos. São Paulo: Arx, 2005.

Aula 8 A crítica marxista e o paradigma da evolução contraditória. Profa. Dra. Eliana Tadeu Terci

PLANEJAMENTO. GOIÂNIA, 20 de março de 2013.

DISCIPLINAS OFERECIDAS POR PROFESSORES ASSOCIADOS AO NIEP-MARX 1 SEMESTRE 2019

Questões Sugeridas Bloco 1:

MATERIALISMO HISTÓRICO (Marx e Engels)

Sociologia Alemã: Karl Marx e Max Weber. Prof. Robson Vieira 1º ano

João Genaro Finamor Neto UFRGS

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Pós Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico VICTOR VICENTE BARAU

- PROGRAMA - - Compreender as bases teórico-metodológicas e ídeo-políticas do método da teoria social de Marx.

Profª Karina Oliveira Bezerra Aula 05 Unidade 1, capítulo 5: p. 63 Unidade 8, capítulo 5: p. 455 Filme: Germinal

Programa de Disciplina

A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE CIVIL E PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS DESIÇÕES POLÍTICAS: UMA ANÁLISE DA DEMOCRACIA PELAS OBRAS DE KARL MARX

RELATO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE COMPARATIVA DA DISSERTAÇÃO MARX E FREIRE: A EXPLORAÇÃO E A OPRESSÃO NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO HUMANA. 1.

O ESTADO BURGUÊS E A EDUCAÇÃO

XI SEPECH FORMAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE O PROJETO DOCÊNCIA COMPARTILHADA

A PRÁXIS CONSTRUTIVISTA PIAGETIANA E SUA INFLUÊNCIA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS DE EDUCAÇÃO. da Paraíba UFPB/PPGE

FILOSOFIA DO SÉCULO XIX

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS SALOMÃO AMBRÓSIO DE LIMA

O caráter não-ontológico do eu na Crítica da Razão Pura

DISCURSO, PRAXIS E SABER DO DIREITO

Desenvolvimento Capitalista e Questão Social. Profa. Roseli Albuquerque

PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração EDUCAÇÃO ESCOLAR E PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

"O verdadeiro é o todo." Georg Hegel

Lukács, "A reificação e a consciência do proletariado", parte I.

SOBRE O CÉREBRO HUMANO NA PSICOLOGIA SOVIÉTICA citações de Rubinshtein, Luria e Vigotski *

Trabalho e socialismo Trabalho vivo e trabalho objetivado. Para esclarecer uma confusão de conceito que teve consequências trágicas.

O conceito de Estado em Immanuel Wallerstein e Hans Morgenthau: alguns apontamentos teóricos

UM ESTUDO MARXISTA SOBRE A CRISE E SUA EXPRESSÃO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO CLARICE OLIVEIRA CARVALHO. Professor Orientador: Dr.

Transcrição:

PACHUKANIS, Evguiéni B. Teoria geral do direito e marxismo. São Paulo: Boitempo, 2017. Thais Hoshika 1 Não há dúvidas de que Evguiéni B. Pachukanis (1891-1937) foi o filósofo que mais avançou na crítica marxista do direito, responsável por nos oferecer as bases sobre as quais o fenômeno jurídico deve ser analisado ao identificar a intrínseca relação entre forma jurídica e forma mercadoria e, portanto, a especificidade do direito no capitalismo. Sua essencial contribuição à construção de uma teoria materialista do direito condensa-se em sua obra central, qual seja, Teoria geral do direito e marxismo, na qual o autor propõe, utilizando-se do método da economia política 2, a identificação das categorias abstratas fundamentais à compreensão do direito enquanto conjunto de relações sociais específicas. Tal como Marx inicia a análise da economia política pela mercadoria, Pachukanis inicia o estudo do direito pela categoria do sujeito de direito que, diferente do que tratam as doutrinas jurídicas tradicionais, não é uma categoria jurídica construída arbitrariamente pela mente do jurista, mas é constitutivo não apenas à própria forma jurídica como também é essencial para a própria realização da esfera da circulação mercantil, tornando esta possível. A identificação da forma sujeito como o átomo indivisível da forma jurídica e sua relação espelhada para com a forma mercadoria é, sem dúvidas, a maior contribuição do autor. A mercadoria tem como característica a qualidade de ser um meio de troca com relação a outra mercadoria devido ao seu substrato social em comum: o trabalho abstrato. Da mesma forma que um produto do trabalho 1 Mestranda em Filosofia e Teoria Geral do Direito na Universidade de São Paulo (USP). 2 Para o primeiro capítulo remete-se ao método da economia política, ver Karl Marx (2008).

308 Revista Outubro, n. 31, 2º semestre de 2018 adquire propriedade de mercadoria e se torna o portador de um valor, para que a esfera da circulação mercantil se realize é necessário que os homens, reificados, adquiram um valor de sujeito de direito (p. 120), na qual desaparecem as particularidades e relações concretas de exploração entre eles, e estes se tornam portadores de direitos, livres proprietários privados de mercadorias equivalentes, cujo exercício dessa igualdade e liberdade formal decorre dessa capacidade volitiva que todo sujeito de direito tem de dispor de sua mercadoria. Uma das importantes implicações decorrentes da identificação da categoria do sujeito de direito e seu papel fundamental na reprodução do circuito estruturante da sociabilidade capitalista é o fato de que a forma jurídica não provém diretamente de uma relação de dominação consciente de classe ainda que, evidentemente, não se possa excluir esse fator, mas cujo substrato reside nas próprias relações jurídicas contratuais de troca de mercadorias, pertencentes a uma dinâmica de dominação abstrata que independe da vontade dos indivíduos. Nesse sentido, a forma de dominação capitalista tem um desenvolvimento natural próprio, em que a subjetividade dos indivíduos é capturada e estes são constituídos como sujeitos de direito pelas suas condições reais de existência, naturalizando as formas sociais do capitalismo que, devido à sua forma de universalidade, fazem com que o caráter socialmente determinado dessas formas adquiram um caráter de eternidade (ver EDELMAN, 1976). Assim, uma vez apontado que a especificidade do direito no capitalismo é determinada pela forma jurídica, é fundamental a crítica tecida por Pachukanis com relação ao conteúdo material da regulamentação jurídica. Não excluindo a importância de se analisar o conteúdo das normas jurídicas, o autor ressalta que a própria forma dessa regulamentação deve ser compreendida como uma forma historicamente determinada, posto que, apesar de não dependerem de seu conteúdo concreto, as categorias jurídicas fundamentais podem ser deduzidas logicamente das normas de direito positivo. Caso a análise recaia apenas sobre o conteúdo das normas jurídicas, o resultado é a procura nesse conteúdo das necessidades materiais e interesses de determinada classe. Em outras palavras, é o mesmo que dizer que o direito é o direito burguês porque o conteúdo de suas normas favorece a classe capitalista,

Resenhas 309 que não se trata de uma proposição falsa, mas que não alcança a especificidade do fenômeno jurídico e abarca em si a possibilidade de uma compreensão transhistórica da forma jurídica 3, além de ser insuficiente para explicar a existência de normas jurídicas cujo conteúdo (a princípio) é contrário aos interesses imediatos da classe burguesa. Outra importante contribuição à crítica marxista do direito é a articulação que o autor tem ao tratar da relação jurídica e norma jurídica em que, ao contrário da doutrina jurídica juspositivista, que compreende a norma jurídica como a pressuposição lógica e necessária da relação jurídica, Pachukanis aponta para o verdadeiro fundamento do direito, identificando não apenas a primazia da relação jurídica como também e, essencialmente, desvelando as bases reais e a especificidade dessa relação que, em sua forma mais básica, corresponde aos próprios atos de troca da esfera da circulação mercantil. O fenômeno jurídico, portanto, não pode ser reduzido nem esgota-se na norma objetiva, pois considerada isoladamente a norma não passa de uma abstração vazia. Mas não é apenas isso. Devido ao seu substrato histórico real, as abstrações jurídicas fundamentais à compreensão do direito não podem ser analisadas de outra maneira senão enquanto inseridas na complexidade das relações sociais, das quais são expressão. Daí a necessidade em se destacar especialmente as comparações que Pachukanis faz entre as categorias jurídicas e as categorias econômicas da crítica à economia política (cf. MARX, 2017) porque elas revelam a importância da relação entre norma (direito objetivo) e relação jurídica (direito subjetivo). 4 Assim, o autor afirma que compreender o direito a partir de sua decomposição em direito objetivo e direito subjetivo é tão importante quanto a decomposição da mercadoria em valor de uso e valor de troca (duplo caráter da mercadoria). Nesse sentido, a norma jurídica considerada isoladamente não passa de uma fórmula vazia justamente por configurar uma categoria que pode pertencer a qualquer momento histórico. Entretanto, e é isso que faz com que a 3 A respeito da relação entre forma e conteúdo, ver Celso N. Kashiura (2009). 4 Em um plano mais concreto, o mesmo problema em se compreender o direito objetivo/ subjetivo transpõe-se para a relação entre direito público/privado.

310 Revista Outubro, n. 31, 2º semestre de 2018 norma jurídica adquira determinação histórica, ela não pode ser compreendida sem a relação jurídica dos sujeitos encarnados na esfera da circulação mercantil. Além disso, e isto é essencial para a compreensão da maneira como os juristas tradicionais apreendem o fenômeno jurídico e como o direito aparece, o autor demonstra que a convicção de que a norma jurídica engendra a relação jurídica e o sujeito é tão equivocada como afirmar que o valor apenas se manifesta nas flutuações de preço (p. 101). Disto é possível extrair a seguinte proposição: de que, da mesma maneira que o preço é a forma como o valor aparece, a norma jurídica é a forma como a relação jurídica e o sujeito aparecem, afirmando-o e velando-o ao mesmo tempo. A principal dificuldade no estudo do direito está no fato de que, ao passarmos das categorias abstratas para a análise da totalidade concreta, o direito aparece com todas as suas determinações, havendo uma conformação entre forma política estatal e forma jurídica, na medida em que o direito aparece como a própria norma jurídica proveniente de regulamentação estatal. Posto isso, não há como tratarmos do direito sem uma compreensão materialista do Estado e da especificidade da forma política 5 pois, não obstante o fato de que o poder político estatal confere clareza e estabilidade à estrutura jurídica, ela não cria seus pressupostos (p. 104). Em uma sociabilidade cuja forma de mediação é a mercadoria, composta por sujeitos dotados de subjetividade jurídica para dispor livremente de si, não pode o Estado apresentar-se como aparelho pertencente a determinada classe, pois o próprio Estado é permeado por essa mesma subjetividade jurídica, se apresentando como um poder público, ou seja, um poder que não pertence a ninguém em particular, que está acima de todos e que se endereça a todos (p. 148), o poder de uma norma objetiva imparcial (p. 146). Expostos os principais aspectos dos cinco primeiros capítulos, a obra conta com mais dois capítulos, a saber, direito e moral e direito e violação do direito. No primeiro, Pachukanis descreve a forma ética da sociabilidade capitalista, apresentando a ligação estreita entre sujeito moral e sujeito de direito. No último, por sua vez, o autor trata do direito e processo penal que, 5 Sobre o conceito de conformação e para uma leitura completa da forma política estatal, ver Alysson L. Mascaro (2013).

Resenhas 311 uma vez determinado pela forma jurídica, assume a própria forma da equivalência dos atos de troca mercantil. De fato, a advertência inicial feita por Pachukanis na obra aqui discutida revela-se perfeitamente cabível diante do fato de que o autor não esgotou todos os problemas relacionados à teoria geral do direito 6. Mas ele nos deixou um legado ainda mais importante, que é justamente a identificação das categorias estruturais para a compreensão do fenômeno jurídico e que, portanto, constitui a base teórica incontornável para a crítica marxista do direito. Referências bibliográficas EDELMAN, Bernard. O direito captado pela fotografia. Coimbra: Centelha, 1976. KASHIURA, Celso N. Dialética e forma jurídica. In: O discreto charme do direito burguês. Campinas: Unicamp, 2009. MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008.. O Capital. São Paulo, Boitempo, 2017. MASCARO, Alysson L. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013. NAVES, Marcio B. Marxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis. São Paulo: Boitempo, 2008. 6 Para uma leitura indispensável da obra de Pachukanis, ver Marcio B. Naves (2008).