Curso/Disciplina: Prescrição Penal Aula: Prescrição Penal - 02 Professor : Marcelo Uzêda Monitor : Virgilio Frederich Aula 02 PRESCRIÇÃO PENAL. 1. Prescrição penal. A prescrição é matéria de ordem pública e deve ser declarada em qualquer momento, em qualquer grau de jurisdição. Como exemplo, pode-se dizer que é comum perceber a prescrição após o julgamento no tribunal. Houve uma caso de um sujeito condenado por peculato na primeira instância cuja pena foi reduzida para a pena mínima (2 anos, artigo 312 do Código Penal 1 ) no Tribunal após recurso defensivo provido. Após trânsito em julgado para a acusação, foi possível à defesa por simples petição indicar a ocorrência de prescrição retroativa. Observe que essa prescrição retroativa somente foi viabilizada com a redução de pena seguida da não interposição de recurso pelo Ministério Público dentro de prazo da acusação (o reconhecimento da prescrição dependia do trânsito em julgado para o Ministério Público). Assim, olhando-se retroativamente houve desde do recebimento da petição inicial até o trânsito em julgado do acórdão prescrição se tomada como referencia a pena aplicada ao réu. 1 Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- Código Penal Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Página1 Peculato culposo 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
O juiz tem o dever de reconhecer a prescrição e declarar extinta a punibilidade independente de qualquer provocação. 2. Prescrição penal e o análise do mérito. Há outra questão que se relaciona ao fato de a prescrição prejudicar a análise de mérito do recurso. O entendimento, ainda em voga, expressado na Súmula 241 do Tribunal Federal de Recursos 2 é o seguinte: Súmula 241 do Tribunal Federal de Recursos: A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva prejudica o exame do mérito da apelação criminal. Esse entendimento ainda prevalece na jurisprudência, porém o Supremo Tribunal Federal tem mitigado a aplicação dessa súmula. Considerando a sentença condenatória com o trânsito em julgado para a acusação pode haver uma prescrição retroativa. Surge a possibilidade de um recurso exclusivo da defesa. Esse recurso não poderá ensejar gravames maiores que os determinados na sentença em razão da vedação da reformatio in pejus 3. Assim, conclui-se que após a interposição do recurso pela defesa, a pior situação para o réu é manter a sentença (essa pena é um marco e serve de parâmetro para declarar, após o trânsito em julgado para a acusação, a prescrição retroativa). Normalmente, antes de julgar o mérito, o relator verifica a prescrição e declara extinta a punibilidade. Essa é a lógica da súmula 241 do extinto TFR. O Supremo Tribunal Federal tem aplicado uma tese doutrinária que entende que o réu tem direito a uma decisão de mérito, uma vez que a prescrição retroativa advém de uma condenação. Apesar da extinção da punibilidade ser benéfica ao réu, faz coisa julgada com pressuposto condenatório, que pode ter outras Página2 2 Tribunal já extinto, mas algumas súmulas ainda são observadas. 3 Esse princípio impede que o recurso provido pela defesa enseje o agravamento da pena aplicada ao réu.
repercussões, como ocorre no Código de Processo Penal 4 (artigo 67 5 ), que diz que esse tipo de extinção de punibilidade enseja a reparação de danos na esfera civil. Assim, pode ser que o conteúdo de mérito possa ser mais interessante ao réu. Nesse sentido o Supremo Tribunal Federal (STF) em Recurso Extraordinário, RE 583523 RS: Ocorrência da prescrição intercorrente da pretensão punitiva antes da redistribuição do processo a esta relatoria. Superação da prescrição para exame da recepção do tipo contravencional pela Constituição Federal antes do reconhecimento da extinção da punibilidade, por ser mais benéfico ao recorrente. Importante esse caso, porque o STF quis apreciar o mérito e afastar a aplicabilidade da contravenção do artigo 25 em face do texto Constitucional e afastou a prescrição por ser mais benéfico ao recorrente declarar que o fato é atípico e absolvê-lo. Como se concilia então a Súmula 241 do TFR e essa decisão do STF: 1) Se o relator analisa o caso e verifica que é uma evidente situação de tese de absolvição, então afasta-se a prescrição; 2) O relator verifica a possibilidade de condenação ou não concordância com a tese absolutória, então supera-se, primeiramente, a questão da prescrição para julgar o mérito, declarando-a se verificada. Atualmente, a tese da súmula 241 é pacífica e, geralmente, há uma grande resistência à aplicação da tese defendida pelo STF. 4 Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del3689.htm 5 Código de Processo Penal Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: Página3 I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
3. Fundamentos políticos da prescrição. Esse tema é interessante para ser cobrado na forma de questão dissertativa ou redação. A prescrição resolve os anseios individuais e coletivos de repressão, sob os aspectos preventivo e retributivo da pena (de acordo com o artigo 59 6 ). Decurso do prazo (teoria do esquecimento do fato) o decurso do tempo leva ao esquecimento do fato. Conforme Battaglini: Cessa a exigência de uma reação contra o delito, presumindo a lei que, se o tempo não cancela a memória dos acontecimentos, pelo menos a atenua ou enfraquece. O alarme social desaparece pouco a pouco e acaba apagando-se, de modo que provoca desinteresse de fazer valer a pretensão punitiva. Essa linha de raciocínio mostra que o afastamento temporal vai enfraquecendo as funções retributiva e preventiva da pena. Autocorreção do condenado o decurso do prazo leva à recuperação do criminoso. A pena perde seu fundamento, esgotando-se os motivos do Estado para desencadear a punição. Havendo condenação, o fato 6 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Página4 III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de o agente não voltar a delinquir após longo lapso temporal leva a concluir que, por si mesmo, ele foi capaz de alcançar o que a pena se dispõe a fazer: seu reajustamento social. Objetivamente, verifica-se se houve outro processo e caso não haja pressupõe-se que houve o. Negligência da autoridade o Estado deve arcar com a sua inércia, pois não se admite que alguém que tenha cometido um delito tenha que se submeter, ad infinitum, ao império da vontade estatal. Não há interesse social, nem legitimidade política em deixar o criminoso indefinidamente sujeito a um processo ou a uma pena. Página5