A BIDIMENSIONALIDADE DO OBJETO ARMA EM CANÇÃO DO AMOR ARMADO DE THIAGO DE MELLO: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

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Transcrição:

A BIDIMENSIONALIDADE DO OBJETO ARMA EM CANÇÃO DO AMOR ARMADO DE THIAGO DE MELLO: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA Ana Patrícia Cavalcanti QUEIROZ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas IFAM Resumo: O poema Canção do Amor Armado, de Thiago de Mello, canta a liquidação da privação do PODER-expressar-se. Ele canta ao povo e os relembra da necessidade de encontrar outra arma para defender seus direitos e assegurar seus deveres de povo mesmo diante da privação do voto direto. Uma análise semiótica, por meio do Percurso Gerativo do Sentido, criado por Greimas, foi realizada no intuito de evidenciar a bidimensionalidade do objeto arma. Observamos escolhas de mecanismos e de efeitos que produzem no poema um caráter de peça retórica, uma vez que procura não apenas persuadir o enunciatário a aceitar a veracidade do discurso como também instaurar nele o QUERER. Com base nesse resultado e em outros, concluímos que a bidimensionalidade do objeto em questão se deve à arma manifestar-se tanto no nível do enunciado, na forma de canto de amor armado, quanto no nível da enunciação, na forma do próprio poema, no qual a voz do povo é cantada. Palavras-chave: Semiótica. Percurso Gerativo de Sentido. Expressão. Arma. Bidimensionalidade. THE BIDIMENSIONALITY OF THE OBJECT WEAPON IN ARMED LOVE SONG BY THIAGO DE MELLO: A SEMIOTIC ANALYSIS Abstract: The poem "Armed Love Song" by Thiago de Mello sings the liquidation of the deprivation of the Expression-POWER. It sings to the people and reminds them of the need to find another weapon to defend their rights and secure their duties even without the right to vote. A semiotic analysis was carried out by means of the Generative Trajectory of Enunciation, created by Greimas, in order to highlight the bidimensionality of the object "weapon". It is possible to notice choices of mechanisms and effects which produce in the poem a character of rhetorical piece, since it seeks not only to persuade the readers to accept the veracity of the speech but also to restore their willing to find another weapon of expression. Based on this result and on others, we conclude that the object weapon is bidimensional due to its manifestation at both levels: at the one of the utterance, in the form of armed love song, and at the level of enunciation, in the form of the poem itself, which sings the voice of the people. Key-words: Semiotics. Generative Trajectory of Enunciation. Expression. Weapon. Bidimensionality. 142 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

LA BIDIMENSIONALIDAD DEL OBJETO ARMA EN CANCIÓN DEL AMOR ARMADO DE THIAGO DE MELLO: UNA ANÁLISIS SEMIÓTICO Resumen: El poema "Canción del Amor Armado", de Thiago de Mello, canta la liquidación de la privación del PODER-expresarse. Él canta al pueblo y los recuerda de la necesidad de encontrar otra arma para defender sus derechos y asegurar sus deberes de pueblo incluso ante la privación del voto directo. Un análisis semiótico fue realizado, por medio del Trayecto Generador del Sentido, creado por Greimas, con el propósito de evidenciar la bidimensionalidad del objeto "arma". Observamos opciones de mecanismos y de efectos que producen en el poema un carácter de pieza retórica, ya que busca no sólo persuadir el lector a aceptar la veracidad del discurso, sino también a instaurar en él el QUERER. Con base en ese resultado y en otros, concluimos que la bidimensionalidad del objeto en cuestión se debe al arma manifestarse tanto a nivel del enunciado, en la forma de canto de amor armado, como en el nivel de la enunciación, en la forma del propio poema, en que la voz del pueblo es cantada. Palabras Clave: Semiótica. Trayecto Generador del Sentido. Expresión. Arma. Bidimensionalidad. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nascido em 1926, em Barreirinha, Amazonas, Amadeu Thiago de Mello é um poeta e tradutor conhecido nacional e internacionalmente, com obras traduzidas para mais de 30 idiomas. Sua preocupação social e engajamento político e cívico podem ser notados em sua obra na e por meio da qual ele luta contra a tirania, o ódio, a injustiça, o desrespeito aos direitos humanos. Seu descontentamento e milícia contra o Regime Militar são fortes em sua obra. Em abril de 1964, cerca de um mês após o Golpe Militar e a instauração do primeiro Ato Institucional, Os estatutos do homem (Ato Institucional Permanente) foi produzido. Composto de 14 artigos, esse poema pode ser visto como uma reação ao AI-1, o qual dava o poder de alterar a Constituição ao governo militar, entre outras determinações. Dia 31 de março de 1965, um ano após o golpe militar, ele escreveu 39 anos de um cidadão brasileiro. Nesse poema, ele fala sobre suas privações como eleitor como podemos ver na sexta estrofe (1) e traz o cantar como defesa na oitava estrofe (2). 143 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

1 [...] De eleitor, além do título que de repente se ameaça de nenhuma serventia guardo a alegria de sempre ter escolhido sozinho, mas guardo a pena de nunca ter dado o amor do meu voto a um homem do povo e ao povo num homem: assim como Arraes. [...] 2 [...] Deixando o ser livre limpo, chegaram os cantos que eu amo. De todos os que mais valem, são os poemas sobre a rosa na parede da prisão, é a canção da rebeldia dos fonemas da alegria, é o canto companheiro chegando do ao coração, é a toada pro menino que vai levando o pendão. [...] Enquanto Mello estava preso por ter participado de uma manifestação contra a ditadura, escreveu Iniciação do Prisioneiro. Nesse poema, ele diz que o Amor é o que o defende e o que mantem sua alma erguida, como podemos observar na estrofe a seguir: Não sei o que vai vir, mas se desprende dessa palavra tanta claridão, que com poder de povo me defende e me mantém erguido o coração. O poema Canção do Amor Armado (ANEXO A) foi produzido no dia 6 de fevereiro de 1966, um dia após a instauração do AI-3, o qual estabeleceu eleições indiretas para governador e vice-governador, além de determinar que os governadores indicariam, com aprovação das 144 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

assembleias legislativas, os prefeitos das capitais. Vale adicionar que a eleição indireta para Presidente da República já havia sido determinada no AI-2 no ano anterior. Nesse poema, Thiago de Mello expressa seu direito a ter direito, seu direito à voz, seu direito de ser cidadão. Nele, o poeta aparenta ter unido a canção de 39 anos de um cidadão brasileiro e o Amor de Iniciação do Prisioneiro. Ao comparar o AI-3 e Canção do Amor Armado, percebemos uma oposição entre a percepção dos militares e a do povo com relação à eleição indireta. Enquanto os primeiros dizem que ela é importante para a segurança nacional, o povo a vê como uma tentativa de silenciamento, de privação à voz e ao PODER-expressar-se. Objetivamos, portanto, evidenciar a bidimensionalidade do objeto arma de que fala o poeta. Para tanto, a análise foi realizada com base na Semiótica, por meio do Percurso Gerativo do Sentido, criado por Greimas, um dos precursores da Semiótica de linha francesa. 1. SEMIÓTICA O objeto da Semiótica é a significação que, por não ser tida como constituída a priori, é entendida como resultado de articulação do sentido. A semiótica opõe-se ao posicionamento de que nada se pode dizer sobre o sentido (CORTINA; MARCHEZAN, 2011) e, segundo Greimas (1975), ela tem como forma o sentido do sentido. Vale mencionar que ela tem se expandido e ampliado suas estratégias de apreender a significação. Dessa maneira, ela já é capaz de realizar o que segue: [...] Determinar as múltiplas formas da presença do sentido e os modos de sua existência, interpretá-los como instâncias horizontais e níveis verticais da significação, descrever os percursos das transposições e transformações de conteúdos, [...] (GREIMAS, 1975, p. 17). A Semiótica procura, portanto, explicitar como o sentido se constitui. Por meio dela, [...] busca-se o quê, mas por vias do como; não o sentido verdadeiro, mas, antes, o parecer verdadeiro, o simulacro; não a fragmentação do sentido, mas a totalidade, depreendida da unidade textual. (CORTINA; MARCHEZAN, 2011, p. 394). 145 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

Segundo Barros (2001), é para o texto, que pode ser linguístico (oral ou escrito), visual ou gestual, que ela se volta. Para explicar os sentidos de um texto, a Semiótica examina, primeiramente, seu plano de conteúdo que é, por sua vez, concebido sob a forma de um percurso gerativo. Ressaltamos que o texto é tanto um objeto de significação, cuja análise é interna e estrutural, quanto um objeto de comunicação entre dois sujeitos, cuja análise é exte rna. No que concerne ao ser caráter como objeto de comunicação, Barros (2001, p. 7) afirma que [...] o texto encontra seu lugar entre os objetos culturais, inseridos numa sociedade (de classe) e determinado por formações ideológicas específicas. [...]. Ainda segundo Barros, [...] o texto só existe quando concebido na dualidade que o define objeto de significação e objeto de comunicação [...] (BARROS, 2001, p. 7). Semelhante afirmação faz Landowski quando diz que [...] tanto o contexto, quanto o texto propriamente dito, compõem juntos uma única realidade significante que os engloba e na qual eles interagem. (LANDOWSKI, 1991, p. 28). Desta feita, Barros (2001) propõe que, para construir o ou os sentidos de um texto, é necessário examinar não apenas fatores internos, mas também fatores contextuais ou sóciohistóricos de fabricação do sentido. Explica também que a Semiótica tem procurado conciliar as duas análises fazendo uso do mesmo aparato teórico metodológico para ambos exames, e que [...] Para explicar o que o texto diz e como o diz, a semiótica trata, assim, de examinar os procedimentos da organização textual e, ao mesmo tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto. (BARROS, 2001, p. 8). Um dos aparatos metodológicos da Semiótica é o Percurso Gerativo do Sentido, criado por Greimas. Por meio dele, é possível verificar como o sentido de um texto é produzido e interpretado. Segundo Barros (2001, p. 9), o percurso começa pelo mais simples e abstrato até chegar ao mais complexo e concreto. São três os seus níveis o fundamental, o narrativo e o discursivo, cada um com um componente sintático e um semântico. Por mais que cada nível 146 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

possa ser descrito e explicado por uma gramática autônoma, o sentido do texto depende da relação entre eles. Sobre o primeiro, podemos dizer com Barros (2001) que se trata do nível mais simples e abstrato, no qual a significação surge como uma oposição semântica mínima. No nível narrativo, o segundo do percurso, a narrativa é organizada do ponto de vista de um sujeito. Tal narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação no terceiro nível o do discurso. Apresentadas as principais características do Percurso Gerativo do Sentido, partamos para a apresentação dos resultados da análise, os quais são acompanhados de teoria a fim de facilitar a compreensão do Percurso como aparato metodológico de nossa análise. 2. ANÁLISE Composto de nove estrofes, o poema inicia retratando o voto como secreto, universal, direito e dever. Em seguida, apresenta a consequência do que ocorrera naquela manhã: o voto perdeu essas características como podemos ler na segunda estrofe: De repente deixou de ser sagrado, de repente deixou de ser direito, de repente deixou de ser, o voto. Deixou de ser completamente tudo. Deixou de ser encontro e ser caminho, deixou de ser dever e de ser cívico, deixou de ser apaixonado e belo e deixou de ser arma de ser a arma, porque o voto deixou de ser do povo. Levando em consideração não apenas o conteúdo do poema, mas também o fato de ele ter sido escrito um dia após a instauração do AI-3, podemos afirmar que o poema faz referência à determinação das eleições indiretas. Como mencionado, o AI-2 de 1965 já havia instituído eleição indireta para Presidente da República e dissolvido todos os parti dos políticos. O AI-3 instituiu eleições indiretas para governador e vice-governador, além de determinar que os prefeitos das capitais deveriam ser indicados pelos governadores, com aprovação das 147 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

assembleias legislativas. Nota-se que foi o terceiro Ato que completou a exclusão do povo, que marcou a perda de uma forte arma, qual seja: o voto. Portanto, o voto não era mais a arma do povo, pois ele não era mais do povo. Ele já não era mais o encontro e o caminho, não era mais a forma de o povo colocar sua voz, sua canção. Contudo, podemos observar na quarta e na quinta estrofe que o poema não limita a arma do povo ao voto. O povo deve lutar, falar, fazer-se ouvir. Não sendo mais o voto a forma de fazê-lo, há outros caminhos possíveis, outras armas. De repente não sucede. Ninguém sabe nunca o tempo que o povo tem de cantar. Mas canta mesmo é no fim. Só porque não tem mais voto, o povo não é por isso que vai deixar de cantar, nem vai deixar de ser povo. Pode ter perdido o voto, que era sua arma e poder. Mas não perdeu seu dever nem seu direito de povo, que é o de ter sempre sua arma, sempre ao alcance da mão. De canto e de paz é o povo, quando tem arma que guarda a alegria do seu pão. Se não é mais a do voto, que foi tirada à traição, outra há de ser, e qual seja não custa o povo a saber, ninguém nunca sabe o tempo que o povo tem de chegar. O poema se apresenta como um alerta ou lembrete ao povo de que eles não perderam o que é essencialmente sagrado, dever e direito: possuir uma forma de se expressar, de se fazer 148 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

ouvir, de se defender. Dessa forma, o poema funciona como incitador de militância, de movimento como podemos observar na sexta estrofe: O povo sabe, eu não sei. Sei somente que é um dever, somente sei que é um direito. Agora sim que é sagrado: cada qual tenha sua arma para quando a vez chegar de defender, mais que a vida, a canção dentro da vida, para defender a chama de liberdade acendida no fundo do coração. Aprofundando-nos na análise, partiremos para sua semiotização por meio do Percurso Gerativo do Sentido, o qual se constitui de três níveis: o fundamental, o narrativo e o discurso. Conforme Barros (2001), no nível fundamental, a oposição ou as oposições semânticas, a partir das quais o sentido do texto é construído, são determinadas. Nessa(s) oposição(ões), as categorias fundamentais denominam-se como eufóricas ou disfóricas, sendo as primeiras positivas e as segundas negativas. Fiorin (2001) explica que essa oposição é o que fundamenta uma categoria semântica, e que é necessário haver algo em comum entre os dois termos para que eles possam ser apreendidos juntos. É sobre a similitude que a diferença é estabelecida. Em suas palavras, Os termos opostos de uma categoria semântica mantem entre si uma relação de contrariedade. [...] (FIORIN, 2009, p. 22). Uma vez que tirar do povo seu direito ao voto é uma forma de silenciamento, ou pelo menos uma tentativa de fazê-lo, podemos determinar silenciamento como um dos termos da oposição semântica. Em uma relação de contrariedade, o termo oposto a silenciamento é voz. Dessarte, a oposição semântica é voz x silenciamento, sendo o primeiro apresentado no poema euforicamente, e o segundo, disforicamente. Essa relação de contrariedade pode ser melhor apreendida pelo quadrado semiótico, que constitui-se da seguinte maneira: 149 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

Voz Euforia Silenciamento Disforia Não-disforia Não-silenciamento Não-euforia Não-voz Em um nível menos abstrato - o narrativo, os elementos das oposições semânticas fundamentais passam a ser vistas como valores. Barros (2001) afirma que, nesse nível, o sujeito não mais nega ou afirma os elementos da oposição. Ele busca tais valores, passando por um processo de transformação. Conforme Fiorin (2009), na semântica do nível narrativo, observam-se os valores dos objetos. Eles podem ser objetos modais ou objetos de valor. Os modais são o QUERER, o DEVER, o SABER e o PODER-fazer. Já os de valor são aqueles com os quais o sujeito entra em junção na performance principal. Ainda de acordo com o autor, na sintaxe narrativa, existem os enunciados de estado e os de fazer. O primeiro tipo de enunciados elementares estabelece uma relação de junção entre um sujeito e um objeto, a qual pode ser conjuntiva ou disjuntiva. Já os enunciados de fazer são aqueles que mostram a transformação, a passagem de um estado a outro. Se há dois tipos de enunciados, há, por conseguinte, dois tipos de narrativas mínimas: a de privação e a de liquidação de uma privação. Na privação, passa-se de estado de conjunção para o de disjunção. Na liquidação de uma privação, passa-se de um estado de disjunção para um de conjunção (FIORIN, 2009). No poema, antes da traição, o sujeito-povo mantinha uma relação conjuntiva eufórica com os seguintes objetos de valor: voto e voz. Dessarte, com os seguintes objetos modais: querer-votar, dever-votar, saber-votar, poder-votar / querer-expressar-se, dever-expressar-se, saber-expressar-se, poder-expressar-se. 150 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

Após o ocorrido, houve uma transformação. O sujeito-povo passou a manter uma relação disjuntiva disfórica com o objeto de valor voto e com o objeto modal poder-votar. Observa-se, portanto, a narrativa mínima de privação, visto que o povo passou do estado de conjunção com o voto para o de disjunção com ele. Essa transformação poderia gerar disjunção na relação entre o sujeito-povo e os objetos voz e poder-expressar-se. Poderia ter como consequência a privação da voz, o silenciamento. No nível fundamental, o termo eufórico da oposição semântica é a voz. No narrativo, esse termo torna-se um valor. Para que a narrativa mínima de liquidação da privação à voz e ao poder-expressar-se ocorra, é preciso que o povo entre em estado de conjunção com outra arma, qualquer que seja; com outra forma de fazer-se ouvir, de lutar, de defender-se. Essa é a transformação incentivada no poema e realizada por meio do poema como podemos observar na sétima estrofe: Cada qual que tenha a sua, qualquer arma, nem que seja algo assim leve e inocente como este poema em que canta voz de povo um simples canto de amor. Mas de amor armado. Podemos afirmar, com base em [...] algo assim leve e inocente como este poema em que canta voz de povo um simples canto de amor. Mas de amor armado, que o sujeito-autor passou por essa transformação ao escrever e publicar o poema Canção do Amor Armado. Houve, portanto, a liquidação da privação à voz e ao poder-expressar-se do sujeito-autor, o qual incentiva a mesma transformação nos demais sujeitos-povo. Enquanto a privação e a liquidação de uma privação são tipos de narrativas mínimas, os textos são narrativas complexas, estruturadas em uma sequência de quatro fases: a manipulação, a competência, a performance e a sanção. Vale ressaltar que, segundo Fiorin (2009), o texto pode apresentar essas fases em ordens diferentes e pode não apresentar todas elas. 151 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

Encontrando o povo outra arma, ele teria a competência necessária para realizar a performance, qual seja: expressar-se. Assim, eles manteriam uma relação de conjunção com os objetos modais querer, dever, saber e poder- defender, mais que a vida, a canção dentro da vida, [...] a chama de liberdade acendida no fundo do coração. 2.1 UMA PEÇA RETÓRICA Podemos falar com Barros (2001, p. 54) que cabe à sintaxe discursiva [...] explicar as relações do sujeito da enunciação com o discurso-enunciado e também as relações que se estabelecem entre o enunciador e enunciatário. [...]. É por meio do discurso que há a comunicação entre um destinador e um destinatário, ou seja, o discurso é objeto produzido pelo sujeito da enunciação e objeto de comunicação entre um destinador e um destinatário. É no nível discursivo que o destinador procura fazer o que Fiorin (2009) diz ser a finalidade principal de todo ato de comunicação: persuadir o destinatário da veracidade do discurso. Isso é realizado por meio de mecanismos, efeitos produzidos pelo próprio discurso que podem ser de proximidade ou distanciamento da enunciação e de realidade ou referente (BARROS, 2001). Dentre esses mecanismos, podemos mencionar as debreagens enunciva e enunciativa. A primeira, por ser a projeção do ele-alhures-então, gera o efeito de distanciamento. A segunda, contrariamente, gera efeito de proximidade da enunciação por ser a projeção do euaqui-agora (BARROS, 2001). Conforme Fiorin (2009, p. 58), a debreagem é [...] o mecanismo em que se projeta no enunciado quer as pessoas (eu/tu), o tempo (agora) e o espaço (aqui) da enunciação, quer a pessoa (ele), o tempo (então) e o espaço (alhures) do enunciado.[...] É o estudo dessas projeções da enunciação que permite ter o discurso como um objeto que foi produzido por um sujeito com a pretensão de atingir um certo objetivo. É possível observar, portanto, quem são o narrador, o narratário, o enunciador, o enunciatário, o interlocutor e o interlocutário (BARROS, 2001). 152 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

No poema, o narrador é o eu-lírico, os narratários (leitores pressupostos) são o povo, eleitores, patriotas. Thiago de Mello é o enunciador, e o leitor sofisticado é o enunciatário. Faz-se importante explicar que o enunciador (autor) é o destinador-manipulador que se responsabiliza pelos valores do discurso e tem a capacidade de persuadir o enunciatário (leitor pressuposto) a não apenas aceitar a veracidade do discurso como também a agir, como aclara Barros ao dizer que [...] A manipulação do enunciador exerce-se como um fazer persuasivo, enquanto ao enunciatário cabe o fazer interpretativo e a ação subsequente. [...] (BARROS, 2001, p. 62). Essa persuasão ocorre, como já mencionamos, por meio de mecanismos. No poema Canção do Amor Armado, percebe-se a utilização do mecanismo de debreagem enunciativa. Na primeira estrofe do poema, estão projetados um tempo (hoje) e um espaço (aqui) e na sétima estrofe houve a projeção de uma pessoa (eu). Havendo essa projeção do eu-aqui-agora da enunciação, os actantes, os espaços e os tempos enunciativos são instalados no interior do enunciado (FIORIN, 2009). No que concerne aos tempos enunciativos, recorre a utilização do presente e do pretérito perfeito, além do imperativo, como em [...] Agora sim que é sagrado: cada qual tenha sua arma [...]. Com a debreagem enunciativa, há o efeito de proximidade da enunciação. Tais escolhas de mecanismos e de efeitos produzem no poema um caráter de peça retórica, uma vez que procura não apenas persuadir o enunciatário a aceitar a veracidade do discurso como também instaurar o QUERER-expressar-se independente de o voto ter sido tirado e o QUERER-encontrar outra arma. Temos então um objeto de comunicação manipulador entre o enunciador e o enunciatário (BARROS, 2001). CONSIDERAÇÕES FINAIS Na análise semiótica do poema, percebemos o que o povo precisaria fazer para PODERexpressar seus direitos. Teria que encontrar outra arma. O poema, por ter um caráter militante e de peça retórica, é uma tentativa de instaurar no povo o QUERER e o DEVER-expressar. Dessarte, o poema pode ser visto como um sujeito delegado, sendo o delegador, o próprio Thiago de Mello em seu papel-poeta. 153 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

Além de sujeito delegado, o poema também é o objeto-valor de base do destinador. Na oitava estrofe, observamos que o poema é a própria canção de Thiago de Mello em seu papel de cidadão; é a arma que ele encontrou para expressar seus direitos. Concluímos, portanto, que o objeto arma no poema Canção do Amor Armado é bidimensional, uma vez que ela se manifesta tanto no nível do enunciado, na forma de canto de amor armado, quanto no nível da enunciação, na forma do próprio poema. Escrito um dia após uma grande traição, o poema é a própria canção do amor armado, é a própria arma sobre a qual discorre. Percebe-se, portanto, que, sendo Thiago de Mello um cidadão, houve a performance - o povo não silenciou, não se entregou. Ele cantou. Se não podiam mais defender seus direitos cívicos e se expressar por meio do voto que, de acordo com o poeta, era a arma e o poder do povo, que fosse de qualquer outra forma. Portanto, o poema fala sobre a necessidade, o dever e o direito de ter essa outra arma/canção em mãos, que podia ser qualquer coisa: um poema, uma música, uma passeata, uma prosa, um sorriso, um olhar, o amor, uma rosa branca... REFERÊNCIAS BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2001. BRASIL. Ato Institucional Nº 3. Brasília, DF, 1966. Disponível em <http://legis.senado.gov.br/legislacao/listanormas.action?numero=3&tipo_norma=ait&data= 19660205&link=s>. Acesso em: 02 mai. 2014.. Ato Institucional No 2. Brasília, DF, Poder Constituinte, 1965. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-02-65.htm>. Acesso em: 01 mai. 2014. CORTINA, A.; MARCHEZAN, R. C. Teoria semiótica: a questão do sentido. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. Vol 3. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 393 438. FIORIN, J. L.. Elementos de análise do discurso. 14 ed. São Paulo: Contexto, 2009. GREIMAS, A. J. Sobre o sentido: ensaios semióticos. Tradução de Ana Cristina Cruz Cezar [e outros] revisão técnica de Milton José Pinto. Petrópolis: Vozes, 1975. 154 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

LANDOWSKI, E. Para uma abordagem sócio-semiótica da literatura. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, São Paulo, n. 11-12, p. 22-43, 1996. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/significacao/issue/viewissue/7033/pdf_52>. Acesso em: 10 mai. 2014. MELLO, T. de. A Canção do Amor Armado. In: MELLO, T. de. Vento Geral, 1951-1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.. 39 anos de um Cidadão Brasileiro. In: MELLO, T. de. Vento Geral, 1951-1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.. Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente). In: MELLO, T. de. Vento Geral, 1951-1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.. Iniciação do Prisioneiro. In: MELLO, T. de. Vento Geral, 1951-1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. Ana Patrícia Cavalcanti QUEIROZ Mestre em Letras - Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM (2016). Especialista em Docência da Língua Inglesa pela Escola Superior Batista do Amazonas - ESBAM (2014). Atualmente é Técnica em Assuntos Educacionais da Diretoria de Desenvolvimento da Educação Superior, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM). Graduada em Letras - Língua e Literatura Inglesa pela UFAM (2010). Pesquisadora do grupo de pesquisa Discurso e Práticas Sociais, liderado pelo professor Dr. Sérgio Augusto Freire de Souza. Recebido em junho/2017 - Aceito em janeiro/2018 155 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.

ANEXO A - Canção do Amor Armado Vinha a manhã no vento do verão, e de repente aconteceu. Melhor é não contar quem foi nem como foi, porque outra história vem, que vai ficar. Foi hoje e foi aqui, no chão da pátria, onde o voto, secreto como o beijo no começo do amor, e universal como o pássaro voando sempre o voto era um direito e era um dever sagrado. De repente deixou de ser sagrado, de repente deixou de ser direito, de repente deixou de ser, o voto. Deixou de ser completamente tudo. Deixou de ser encontro e ser caminho, deixou de ser dever e de ser cívico, deixou de ser apaixonado e belo e deixou de ser arma de ser a arma, porque o voto deixou de ser do povo. Deixou de ser do povo e não sucede, e não sucedeu nada, porém nada? De repente não sucede. Ninguém sabe nunca o tempo que o povo tem de cantar. Mas canta mesmo é no fim. Só porque não tem mais voto, o povo não é por isso que vai deixar de cantar, nem vai deixar de ser povo. Pode ter perdido o voto, que era sua arma e poder. Mas não perdeu seu dever nem seu direito de povo, que é o de ter sempre sua arma, sempre ao alcance da mão. De canto e de paz é o povo, quando tem arma que guarda a alegria do seu pão. Se não é mais a do voto, que foi tirada à traição, outra há de ser, e qual seja não custa o povo a saber, ninguém nunca sabe o tempo que o povo tem de chegar. O povo sabe, eu não sei. Sei somente que é um dever, somente sei que é um direito. Agora sim que é sagrado: cada qual tenha sua arma para quando a vez chegar de defender, mais que a vida, a canção dentro da vida, para defender a chama de liberdade acendida no fundo do coração. Cada qual que tenha a sua, qualquer arma, nem que seja algo assim leve e inocente como este poema em que canta voz de povo um simples canto de amor. Mas de amor armado. Que é o mesmo amor. Só que agora que não tem voto, amor canta no tom que seja preciso sempre que for na defesa do seu direito de amar. O povo, não é por isso que vai deixar de cantar. FONTE: MELLO, T. de. A Canção do Amor Armado. In: MELLO, T. de. Vento Geral, 1951-1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. 156 Revista, Volume 18, Número 1, 1º sem 2018.