Velhos sonhos 1. Laís RAWSKI 2 Amanda FURMAN 3 Jéssica SENNA 4 Luiza ROMAGNOLI 5 Felipe HARMATA 6 Universidade Positivo, Curitiba, PR



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Transcrição:

Velhos sonhos 1 Laís RAWSKI 2 Amanda FURMAN 3 Jéssica SENNA 4 Luiza ROMAGNOLI 5 Felipe HARMATA 6 Universidade Positivo, Curitiba, PR RESUMO O documentário Velhos Sonhos busca mostrar algumas experiências marcantes que três senhores, que hoje moram no Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, tiveram em suas vidas. Com foco em suas histórias e não em sua atual condição, de moradores do asilo, o documentário foi capaz de traçar aspectos importantes destes três brasileiros, e até registrar alguns atos de descaso do poder público com a população. O documentário é dividido em quatro partes, sendo elas: juventude, amor, novo lar e realização, totalizando 17 minutos e 30 segundos de vídeo. PALAVRAS-CHAVE: documentário; idosos; asilo; vida; sonhos. 1 INTRODUÇÃO O aumento da longevidade da população brasileira já está acontecendo, e é esperado que o crescimento no número de idosos fique ainda maior até 2025, colocando o brasil como a sexta população do mundo em idosos, correspondendo a mais de 34 milhões de pessoas com sessenta anos ou mais idade (LIMA et all, 2009, p. 346). Isso se dá pela melhora nas condições de saúde (mental e física), que tem avançado junto com a medicina. Para o Estatuto do idoso (2003), aqueles que têm mais de sessenta anos devem ser abrigados e amparados principalmente por seus familiares, e somente serão acolhidos por instituições quando não houver capacidade de que estes cuidados sejam realizados pela família. Porém, alguns idosos não chegaram a formar família durante sua juventude, ou 1 Trabalho submetido ao XXII Prêmio Expocom 2015. Categoria: Documentário Jornalístico e Grande Reportagem em vídeo e televisão. 2 Aluno líder e estudante de Graduação 7 semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo - UP, email: laisrawski@gmail.com 3 Estudante de Graduação 7 semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo - UP, email: amanda_furmanf@hotmail.com 4 Estudante de Graduação 7 semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo - UP, email: jessicasenna.al@hotmail.com 5 Estudante de Graduação 7 semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo - UP, email: luromagnoli@gmail.com 6 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo - UP, email: felipe.harmata@yahoo.com 1

acabaram por se separar dela após conflitos entre familiares. Para eles, quando perdem a autonomia, principalmente devido à doenças ou perda de emprego, ir para uma instituição de acolhimento é a única opção, como explica Alcântara (2003) A criação de instituições filantrópicas destinadas a prestar cuidados a velhos sob a denominação de asilos, em sua origem, deu-se no século XX, no Brasil, e visava atender a velhice desamparada, que se configurava como uma população pobre e sem vínculos familiares. O rótulo de velhice institucionalizada encobria, então, várias categorias como: moribundos, indigentes, pobres, inválidos, abandonados, solitários, doentes, alcoólatras e outros desvalidos (p. 22). Regulamentadas pelo Ministério da Saúde, por meio da portaria 810/89, as casas de repouso ou instituições voltadas para os idosos devem prezar pelo bem estar físico e mental de seus residentes, contando com um quadro de funcionários para atender às necessidades de cuidados com a saúde, alimentação, higiene, repouso e lazer dos usuários e desenvolver outras atividades características da vida institucional. De acordo com Camarano e Kanso (2010) estas instituições atendem menos de 1% da população idosa brasileira, que é composta por cerca de 84 mil pessoas. Não só os idosos que continuam em suas famílias e tem a oportunidade de compartilhar seus momentos vividos com os filhos e netos têm histórias para contar. Os asilados também tiveram uma juventude e vida adulta cheia de momentos bons e ruins, e continuam vivendo suas vidas, corroborando com a afirmação de que todo idoso é um ser único e que tem muito a nos ensinar (ESPITIA e MARTINS, 2006, p. 58) 2 OBJETIVO Realizar um videodocumentário sobre a vida de alguns idosos que moram atualmente no Lar dos Idosos Recanto Tarumã, de forma a retratar por meio de suas próprias palavras as vidas, amores, o caminho que percorreram até chegarem no Recanto, e as perspectivas que têm sobre suas realizações e os desejos. 3 JUSTIFICATIVA A terceira idade chega para grande parte da população brasileira, e isso se dá de forma diferente em cada pessoa. Embora ela chegue aos 60 anos de idade para a legislação brasileira, a velhice e as dificuldades que vêm com ela se dão em diversas idades, sendo que para alguns é aos 60 anos, para outros, aos 95 anos ou mais. O envelhecer faz parte da vida, corresponde a uma fase do curso da vida permeada por mudanças físicas, psicológicas 2

e sociais que acometem cada pessoa, de forma muito peculiar (PESTANA E SANTO, 2007, P. 269). O Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, que fica em Curitiba, abriga hoje 120 homens com mais de 60 anos. Estes idosos chegam ao Recanto principalmente pela Fundação de Ação Social (FAS), uma vez que é destinado àqueles que estão em situação de vulnerabilidade familiar ou não possuem condições de se cuidarem sem auxílio. Esta instituição existe desde 1921, e não possui fins lucrativos, sobrevivendo principalmente de doações feitas por curitibanos, assim como eram mantidos os primeiros asilos brasileiros. Estes idosos em sua maioria são excluídos socialmente, e vivem suas vidas sem uma conexão com o mundo exterior ao Recanto. É o que explicam Pestana e Santo (2007) O modelo capitalista fez com que a velhice passasse a ocupar um lugar marginalizado na existência humana, na medida em que a individualidade já teria os seus potenciais evolutivos e perderia, então, o seu valor social. Desse modo, não tendo mais a possibilidade de produção de riqueza, a velhice perderia seu valor simbólico (p. 269). Porém, estes mesmos idosos que acabaram por se tornar estranhos à sociedade já foram, um dia, parte importante dela. Quando os são dedicados algum tempo e interesse, os senhores do Recanto do Tarumã se tornam narradores de histórias tristes, felizes, solitárias (em sua maioria), de provações, negligência e saudade. Lembram de sua juventude e se divertem revivendo esses momentos que hoje se encontram tão distantes. A comunicação feita por meio do documentário é capaz de capturar estes momentos de retrospectiva e reflexão sobre a vida destes homens, feitas por eles próprios. E também permite aos que assistem ao trabalho realizado que conheçam uma parte da história de personagens da cidade, e reconheça a existência de uma parcela esquecida da população, mesmo que ela seja pequena. O documentário é uma maneira de retratar a realidade: O documentário é uma representação do mundo em que vivemos. Representa uma determinada visão de mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos nos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares (NICHOLS, 2005, p. 47). E é justamente para possibilitar uma nova visão de mundo que foi decidido mostrar a vida desses idosos no formato de documentário, uma vez que se acredita que o uso de outro formato de divulgação e publicação desses depoimentos diminuiria consideravelmente o seu impacto social, pois o projeto visa principalmente, cumprir o papel social do jornalismo ao dar voz a uma parcela praticamente muda da sociedade. 3

4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A equipe visou principalmente resgatar esses fatos da infância e juventude destes idosos. Estes personagens, em sua maioria, não tem mais contato com família e amigos fora do asilo. Pensando nisto, o documentário quis mostrar quem são estas pessoas e quais os momentos mais marcantes de suas vidas. O foco está na história de vida e não na situação atual em que se encontram. O contato com o Lar dos Idosos Recanto do Tarumã foi realizado primeiramente com um profissional da área de desenvolvimento institucional do asilo. Após a equipe agendar e conhecer o lugar e alguns idosos, foi necessária a volta em outro dia para gravar o documentário. Tudo foi feito de maneira bem natural, de modo a deixar os idosos confortáveis e dispostos a contar suas histórias. A escolha de quem seriam os entrevistados foi feita por um funcionário da instituição, uma vez que alguns idosos não poderiam conversar com a equipe por problemas emocionais e de falta de completo domínio de suas faculdades mentais. Porém, no decorrer das gravações alguns senhores começaram a abordar a equipe desejando também serem entrevistados, ou então somente para entender o que estava acontecendo. As entrevistas foram realizadas tendo como base o trabalho de Eduardo Coutinho, renomado documentarista brasileiro que dava grande importância ao depoimento de seus personagens, como conta Consuelo Lins: O filme que só Coutinho podia e queria fazer se baseava essencialmente na fala dos personagens (2007, p. 98). Portanto, antes das gravações já havia ficado decidido que iriamos seguir o caminho de Coutinho, ou seja, assumir de vez a depuração gradual de muitos elementos estéticos que havia efetuado ao longo dos seus documentários e se concentrar no fundamental: o encontro, a fala e a transformação dos personagens (LINS, 2007, p. 98-99). As perguntas se concentraram nas quatro divisões temáticas já definidas para o documentário, ou seja, juventude, amor, novo lar e realização. Foi permitido aos entrevistados responderem livremente às perguntas, respeitando os espaços de pensamento caracterizados por vazios na fala. Todas as entrevistas foram feitas pela aluna Jéssica Senna, que conseguiu conduzir com facilidade os depoimentos, deixando os idosos muito a vontade para compartilhar suas histórias. A decupagem foi realizada a partir da transcrição de todos os depoimentos dos idosos, que posteriormente foram intercalados entre os três entrevistados para o corte final, a fim de construir uma narrativa no decorrer do documentário, e com intenção de manter o 4

interesse do espectador até o fim. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO Ao todo foram cinco entrevistados, mas apenas três entraram para o corte final do documentário. A escolha de cortar dois personagens se baseou na qualidade de material, uma vez que um dos senhores tinha dificuldades de fala e não conseguia elaborar uma resposta que fosse além de uma pequena frase, ou simplesmente um sim/ não. O Outro personagem que não entrou para o corte final, foi um senhor que desenhava muito bem, e passava a maior parte de seu tempo fazendo desenhos. Ele foi colocado no primeiro corte do documentário pois sua história e suas pinturas eram muito interessantes, porém acabou não respondendo a todos os tópicos em que foram divididos o documentário, o que causava uma certa estranheza quando colocado ao junto com as histórias dos outros três senhores, o que era constatado rapidamente ao apreciarmos o primeiro produto finalizado. O primeiro entrevistado foi o senhor Odino Leite da Silva, de 72 anos, que está há mais de um ano residindo no Recanto do Tarumã, mas que ainda tem dificuldades de aceitar que está morando lá. Podemos perceber isso quando ele diz: faz de conta que eu moro aqui né. Por divagar muito em suas respostas, ele foi o personagem que sofreu mais cortes durante os depoimentos. O segundo entrevistado foi Maurício Baptista de Oliveira, de 69 anos, que tem uma fala muito marcada pela rouquidão e facilidade de expressar seus pensamentos. Com uma inteligência invejável, ele narra seus percalços ao se afastar de sua família, se tornar alcoólatra e como foi perder um braço. O terceiro entrevistado, José Ferreira da Costa, de 75 anos, foi o que mais conversou durante a entrevista. Sempre com um radinho na mão, ele conta que adorava dançar e que canta. Demorou um pouco para deixa-lo mais à vontade, mas quando começou a cantar não queria mais parar. A música utilizada no início e no final do documentário é cantada por ele. O corte final do documentário ficou em 17 minutos e 30 segundos, contando com os créditos. 5

6 CONSIDERAÇÕES Durante a produção do documentário tivemos a oportunidade de acompanhar histórias de vida inspiradoras de pessoas que muitas vezes são esquecidas pela sociedade. Dar este espaço para os que os idosos do Recanto do Tarumã possam compartilhar suas lembranças e suas atuais condições de vida é uma forma de cumprir com a função social do jornalismo. Todos os entrevistados conseguiram recordar e contar suas experiências de vida, cada um a seu tempo, de forma simples e ao mesmo tempo comovente. Nossa equipe foi capaz de coletar informações relevantes sobre os entrevistados, desenvolvendo então um trabalho expressivo. Pudemos constatar pessoalmente o que já afirmavam Freire Júnior e Tavares os idosos não consideram o envelhecimento somente como um período de perdas e sofrimentos, nem tampouco como sinônimo de doença, buscando viver essa fase da vida, valorizando determinados aspectos que possam amenizar as perdas (2004, p. 152). A realização do documentário Velhos Sonhos sempre teve a intenção de quebrar estereótipos ou ao menos fazer o espectador pensar sobre a realidade desses idosos, o que se mostrou possível ao assistirmos ao produto final. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, Adriana de Oliveira. Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos. 2003. 153 f. Dissertação (mestrado em gerontologia) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, 2003. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000304163&fd=y>. Acesso em 29/04/2015. BRASIL. Lei 10.741 de 1 de outubro de 2003 que instituiu o Estatuto do idoso. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70326/672768.pdf?sequence=2>. Acesso em: 28/04/2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 810/89. Normas para o funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos. Brasília, 1989. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/05/port810.html>. Acesso em: 29/04/2015. CAMARANO, Ana Amélia. Kanso, Solange. As instituições de longa permanência para idosos no Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro v. 27, n.1, p.233-235, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-30982010000100014&script=sci_arttext>. Acesso em: 29/04/2015. ESPITIA, Alexandra Zolet. MARTINS, Josiane de Jesus. Relações afetivas entre idosos institucionalizados e família: encontros e desencontros. Arquivos Catarinenses de Medicina, 6

Santa Catarina, v. 35, n.1, p.52-59, 2006. Disponível em: <http://www.acm.org.br/revista/pdf/artigos/355.pdf>. Acesso em: 29/04/2015. FREIRE JÚNIOR, Renato Campos. TAVARES, Maria de Fátima Lobato. A saúde sob o olhar do idoso institucionalizado: conhecendo e valorizando sua opinião. Interface Comunicação, Saúde, Educação, v. 9, n.16, p.147-158, set. 2004/ fev. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v9n16/v9n16a12>. Acesso em 29/04/2015. LIMA, Deusdedit Lima. LIMA, Maria A. V. Damaceno. RIBEIRO, Cristiane Galvão. Envelhecimento e qualidade de vida de idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, v. 7, n.3, p.346-356, set./dez. 2010. Disponível em: <http://www.upf.com.br/seer/index.php/rbceh/article/view/782/pdf>. Acesso em: 29/04/2015. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. 2 Edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. 211p. Socorro aos necessitados. Disponível em: <http://www.socorroaosnecessitados.org.br>. Acesso em: 29/04/2015. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. 3 Edição. Campinas: Papirus, 2005. 275p. 7