Processo: 0001161-47.2016.8.06.0000 - Conflito de competência Suscitante: Juiz de Direito da 32ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza Suscitado: Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. COMPETÊNCIA DO FORO DA SITUAÇÃO DA COISA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 47 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO (2ª VARA DA COMARCA DE MARACANAÚ). 1- Trata-se de Conflito Negativo de Competência suscitado pelo juízo da 32ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, em face da decisão proferida pelo juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú que declinou de sua competência e determinou a remessa dos autos ao juízo suscitante, por entender que o autor da ação possessória, objeto do presente conflito, reside na cidade de Quixeramobim, enquanto que o imóvel em questão encontra-se registrado no Cartório do 3º Ofício de Fortaleza, inexiste, pois, qualquer relação com a Comarca de Maracanaú. 2- Nas ações que versam sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, a competência é absoluta, segundo dispõe o art. 47, do Novo Código de Processo Civil: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. 3- No caso, o douto juiz suscitado declinou da competência ao argumento que o pautado terreno, de acordo com o documento constante aos autos (fls.16/17), encontra-se registrado no 3º Cartório de Registro de Imóveis de Fortaleza, matriculado sob o nº 22.480, daí a razão de entender que a competência para processar e julgar a ação de Reintegração de Posse seria do juízo da Comarca de Fortaleza. 4- No entanto, deixou de observar que na referida certidão do Cartório de Registro de Imóveis, posteriormente, consta averbação, atestando que o referido terreno pertence atualmente ao Município de Maracanaú.
Também não observou que os comprovantes de IPTU, exercício 2015, acostados aos autos (fls.25/26) e o Boletim do Cadastro Imobiliário (fls.24), indicam que o terreno está localizado no Município de Maracanaú, conforme endereço indicado na inicial da ação possessória. 5- Sendo assim, como dito, aplica-se ao caso a previsão do art. 47 do NCPC, que fixa a competência territorial no local do imóvel, ou seja, o município de Maracanaú. 6- Sobre o tema, preceitua Nelson Nery Júnior, em seu Comentários ao Código de Processo Civil, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.320: Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro da situação da coisa (forum rei sitae), tendo em vista que o juiz desse lugar, por exercer ali sua função, tem melhores condições de julgar essas ações, aliado ao fato de que as provas, normalmente, são colhidas mais direta e facilmente. Embora esteja topicamente no capítulo da competência territorial (relativa), trata-se de competência funcional, portanto absoluta, não admitindo derrogação nem prorrogação por vontade das partes. 7- Portanto, em se tratando de ação de Reintegração de Posse de bem imóvel, é competente o foro da situação da coisa, por disposição expressa da parte final do art. 47 do NCPC, regra esta que, embora inserida no capítulo da competência territorial, é excepcionalmente de natureza absoluta. 8- Conheço do presente Conflito de Competência, para declarar a competência do Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú.
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade de votos, em conhecer do Conflito de Competência, para declarar competente o Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú, nos termos do voto do Relator, que constitui parte integrante desta decisão. Fortaleza-CE, 22 de março de 2017. RELATOR RELATÓRIO Trata-se de Conflito de Competência suscitado pelo Juízo de Direito da 32ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, contra decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Cível da Comarca de Maracanaú, que declinou de sua competência, ao fundamento que o autor da ação possessória reside na cidade de Quixeramobim enquanto que o imóvel em questão encontra-se registrado no Cartório do 3º Ofício de Fortaleza, portanto, inexiste qualquer relação com a Comarca de Maracanaú. Sustenta que prevê o artigo 47, do atual Código de Processo Civil, em seu parágrafo segundo, que ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da
coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Sustenta também que o dispositivo é claro quando diz que a opção é do autor, portanto, se o autor elegeu o foro da situação do imóvel, não caberia ao juízo declinar de sua competência, já que o mesmo não pode decidir pelo autor sem incorrer em arbitrariedade. Empós, suscitou o conflito negativo de competência, encaminhando os presentes autos ao TJCE, para fins de resolução do conflito. Às fls. 44, requisitei informações aos Juízes (suscitante e suscitado), bem como determinei a remessa dos autos à Procuradoria Geral de Justiça. Informações do juízo suscitante às fls. 48 dos autos. Parecer da Procuradoria Geral de Justiça às fls. 58/62, no sentido de que não faz necessária a intervenção do Parquet, ante a inexistência de interesse público na demanda. Tribunal. Sem revisão, nos termos do art. 34, 3º, do Regimento Interno deste É o breve relatório. Decido. V O T O Trata-se de Conflito Negativo de Competência suscitado pelo juízo da 32ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, em face da decisão proferida pelo juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú que declinou de sua competência e determinou a remessa dos autos ao juízo suscitante, por entender que o autor da ação possessória, objeto do presente conflito, reside na cidade de Quixeramobim, enquanto que o imóvel em questão encontra-se registrado no Cartório do 3º Ofício de Fortaleza, inexiste, pois, qualquer relação com a Comarca de Maracanaú. Nas ações que versam sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, a competência é absoluta, segundo dispõe o art. 47, do Novo Código de Processo Civil: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. No caso, o douto juiz suscitado declinou da competência ao argumento que o pautado terreno, de acordo com o documento constante aos autos (fls.16/17), encontra-se registrado no 3º Cartório de Registro de Imóveis de Fortaleza, matriculado sob o nº 22.480, daí a razão de entender que a competência para processar e julgar a ação de Reintegração de Posse seria do juízo da Comarca de Fortaleza. No entanto, deixou de observar que na referida certidão do Cartório de Registro de Imóveis, posteriormente, consta averbação, certificando que o referido terreno pertence atualmente ao Município de Maracanaú. Também não observou que os comprovantes de IPTU, exercício 2015, acostados aos autos (fls.25/26) e o Boletim do Cadastro Imobiliário (fls.24) indicam que o terreno está localizado no Município de Maracanaú, conforme endereço indicado na inicial da ação possessória. Sendo assim, como dito, aplica-se ao caso a previsão do art. 47 do NCPC, que fixa a competência territorial no local do imóvel, ou seja, o município de Maracanaú. Neste sentido, cito decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outros tribunais, vejamos: Ementa: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA. BEM IMÓVEL.AUTOR ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. COMPETÊNCIA DO FORO DA SITUAÇÃO DA COISA. [ ] 3. A competência para as ações fundadas em direito real sobre bem imóvel é absoluta, da situação da coisa, porquanto regida pelo princípio forum rei sitae. Precedentes do STJ. 4. Recurso especial provido (STJ, REsp 1193670/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/02/2015, DJe 09/02/2015). Ementa: PROCESSO CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO ANULATÓRIA. ESCRITURA PÚBLICA DE CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS POSSESSÓRIOS. DIREITO PESSOAL. DIREITO REAL IMOBILIÁRIO. COMPETÊNCIA DO FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU. ARTIGOS ANALISADOS: ART. 95 E 100 DO CPC. [ ] 3. A partir da exegese da norma do art. 95 do CPC, na hipótese do litígio versar sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, a ação correspondente deverá necessariamente ser proposta na comarca em que situado o bem imóvel, porque a competência é absoluta. [ ] (STJ, CC 111.572/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/04/2014, DJe 15/04/2014).
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL ABSOLUTA. FORO DA SITUAÇÃO DA COISA. ART. 95 DO CPC. DECISÃO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - A despeito de a competência territorial ser, em regra, relativa, não podendo ser declinada de ofício, nas ações que versem sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, tal competência se torna absoluta, em consonância com o que dispõe o art. 95 do Código de Processo Civil. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0183.15.002153-7/001, Relator (a): Des.(a) Moacyr Lobato, 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/10/2015, publicação da sumula em 12/11/2015) Ementa: EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. USUCAPIÃO DE BEM IMÓVEL. AÇÃO REAL IMOBILIÁRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO FORO DA SITUAÇÃO DA COISA. ART. 95 DO CPC. REGRA DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA. IMPRORROGABILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. JUÍZO SUSCITANTE DECLARADO COMPETENTE. 1. O art. 95, do CPC, prevê regra de competência absoluta, e, portanto, improrrogável, ao estabelecer o foro do local do imóvel como o competente para processar e julgar ações reais imobiliárias que tenham como objeto direitos de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, pelo que é improrrogável. 2. A ação de usucapião é ação real imobiliária, pelo que é de competência do juízo do foro da situação do imóvel usucapiendo. (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00658252020148152001, 4ª Câmara Especializada Cível, Relator DES ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA, j. em 17-11-2015) Sobre o tema, preceitua Nelson Nery Júnior, em seu Comentários ao Código de Processo Civil, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.320: Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro da situação da coisa (forum rei sitae), tendo em vista que o juiz desse lugar, por exercer ali sua função, tem melhores condições de julgar essas ações, aliado ao fato de que as provas, normalmente, são colhidas mais direta e facilmente. Embora esteja topicamente no capítulo da competência territorial (relativa), trata-se de competência funcional, portanto absoluta, não admitindo derrogação nem prorrogação por vontade das partes.
Portanto, em se tratando de ação de Reintegração de Posse de bem imóvel, é competente o foro da situação da coisa, por disposição expressa da parte final do art. 47 do NCPC, regra esta que, embora inserida no capítulo da competência territorial, é excepcionalmente de natureza absoluta. Ante o exposto, com base nos fundamentos expendidos e em consonância com os excertos jurisprudenciais colacionados, conheço do presente Conflito de Competência, para declarar a competência do juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú. É como voto. Expedientes necessários. Fortaleza-CE, 22 de março de 2017. EMANUEL LEITE ALBUQUERQUE Desembargador Relator.