se subdivide em duas classes: 2.1 improvisação em processos de criação; 2.2 improvisação com roteiros.



Documentos relacionados
CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

da Qualidade ISO 9001: 2000

Tópicos Avançados em Banco de Dados Gerenciamento de Transações em Banco de Dados. Prof. Hugo Souza

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

Plano de Aula de Matemática. Competência 3: Aplicar os conhecimentos, adquiridos, adequando-os à sua realidade.

6.1 A Simulação Empresarial tem utilização em larga escala nos cursos de Administração, em seus diversos níveis de ensino no Brasil?

Pedagogia Estácio FAMAP

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

5 Considerações finais

PREFEITURA DO RECIFE SECRETARIA DE SAÚDE SELEÇÃO PÚBLICA SIMPLIFICADA AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ACS DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO

PALAVRAS-CHAVE (Concepções de Ciência, Professores de Química, Educação Integrada)

O Uso da Inteligência Competitiva e Seus Sete Subprocessos nas Empresas Familiares

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

» analisar os resultados de uso dos materiais e refletir sobre as estratégias empregadas no processo.

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

1 Um guia para este livro

TREINAMENTO SOBRE PRODUTOS PARA VENDEDORES DO VAREJO COMO ESTRATÉGIA PARA MAXIMIZAR AS VENDAS 1. Liane Beatriz Rotili 2, Adriane Fabrício 3.

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

UNIDADE III Análise Teórico-Prática: Projeto-intervenção

ESTENDENDO A UML PARA REPRESENTAR RESTRIÇÕES DE INTEGRIDADE

UTILIZANDO O BARCO POP POP COMO UM EXPERIMENTO PROBLEMATIZADOR PARA O ENSINO DE FÍSICA

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ESCOLA CAMPO

PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL. Projeto 914 BRA PRODOC-MTC/UNESCO DOCUMENTO TÉCNICO Nº 03

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

ALTERNATIVAS APRESENTADAS PELOS PROFESSORES PARA O TRABALHO COM A LEITURA EM SALA DE AULA

Projeto Bem-Estar Ambiente, educação e saúde: sustentabilidade local. Tema 9 - Elaboração de projetos de intervenção nas escolas

Wanessa Valeze Ferrari Bighetti Universidade Estadual Paulista, Bauru/SP

3º Ano do Ensino Médio. Aula nº10 Prof. Daniel Szente

TEORIA DE JULGAMENTO MORAL DE KOHLBERG E BULLYING: INTERSEÇÕES POSSÍVEIS DE UM PROBLEMA PERTINENTE

ATENA CURSOS EMÍLIA GRANDO COMPREENDENDO O FUNCIONAMENTO DO AEE NAS ESCOLAS. Passo Fundo

APRENDIZAGENS NA EDUCAÇÃO POPULAR: REFLEXÃO A PARTIR DA DISCIPLINA DE ARTES NO PRÉ-UNIVERSITÁRIO OUSADIA POPULAR

CHAMAMENTO PÚBLICO PARA SELEÇÃO DE ORIENTADORES ARTÍSTICOS EM TEATRO PARA O PROJETO ADEMAR GUERRA Edição 2013

Tutorial 7 Fóruns no Moodle

Coleta de Dados: a) Questionário

INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM. NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO

UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE UNINORTE AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

PLANO DE ESTÁGIO - ACADEMIA SPORT FITNESS

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

Módulo 9 A Avaliação de Desempenho faz parte do subsistema de aplicação de recursos humanos.

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

CADERNOS DE INFORMÁTICA Nº 1. Fundamentos de Informática I - Word Sumário

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

Três exemplos de sistematização de experiências

INDICADORES OBJETIVOS DE NOVAS PRÁTICAS NO ENSINO DE REDAÇÃO: INDÍCIOS DE UMA MUDANÇA?

18º Congresso de Iniciação Científica IMPLEMENTAÇÃO DE UM MODELO DE TESTE DE APLICAÇÕES WEB

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

Aula 2 Revisão 1. Ciclo de Vida. Processo de Desenvolvimento de SW. Processo de Desenvolvimento de SW. Processo de Desenvolvimento de SW

Prog A B C A e B A e C B e C A,B e C Nenhum Pref

Projeto - por que não se arriscar com um trabalho diferente?

Módulo 14 Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas Treinamento é investimento

2 METODOLOGIA DA PESQUISA

Organização em Enfermagem

APONTAMENTOS CRÍTICOS SOBRE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Design de superfície e arte: processo de criação em estamparia têxtil como lugar de encontro. Miriam Levinbook

:: aula 3. :: O Cliente: suas necessidades e problemáticas. :: Habilidades a ser desenvolvidas

O ESTADO DA ARTE DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA DA UFRN A PARTIR DAS DISSERTAÇÕES E PERFIL DOS EGRESSOS

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Administração de Pessoas

BANDEIRAS EUROPÉIAS: CORES E SÍMBOLOS (PORTUGAL)

Processos de gerenciamento de projetos em um projeto

MDMS-ANAC. Metodologia de Desenvolvimento e Manutenção de Sistemas da ANAC. Superintendência de Tecnologia da Informação - STI

Gerenciamento de Projetos Modulo II Clico de Vida e Organização

MATEMÁTICA PARA O VESTIBULAR: Pré-vestibular de funções

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Bernadete Zagonel

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DOS SITES QUE DISPONIBILIZAM OBJETOS DE APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA PARA O ENSINO MÉDIO 1

A Torre de Hanói e o Princípio da Indução Matemática

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO CONTEXTO TECNOLÓGICO: DESAFIOS VINCULADOS À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Dois eventos são disjuntos ou mutuamente exclusivos quando não tem elementos em comum. Isto é, A B = Φ

Realizado de 25 a 31 de julho de Porto Alegre - RS, ISBN

SISTEMA DE AVALIAÇÃO E APOIO À QUALIDADE DO ENSINO A DISTÂNCIA

Futuro Profissional um incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho

A MODELAGEM MATEMÁTICA E A INTERNET MÓVEL. Palavras-chave: Modelagem Matemática; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Internet móvel.

Objetivo principal: aprender como definir e chamar funções.

PALAVRAS-CHAVE economia solidária, ensino fundamental, jogos cooperativos, clube de troca. Introdução

VII E P A E M Encontro Paraense de Educação Matemática Cultura e Educação Matemática na Amazônia

Medição tridimensional

PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA INTERNA

Educação Patrimonial Centro de Memória

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: DA TEORIA À PRÁTICA

1. Conceituação e Noções Fundamentais (Parte 03)

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia Av Luiz Viana Filho, 435-4ª avenida, 2º andar CAB CEP Salvador - Bahia Tel.

PROFESSORES DE CIÊNCIAS E SUAS ATUAÇÕES PEDAGÓGICAS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PRESENCIAL DEB

GERA GESTÃO E CONTROLE DE TÍTULOS: parte I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Departamento de Patologia Básica Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

À Procura de Mozart Resumo Canal 123 da Embratel Canal 112 da SKY,

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

Objetivos da aula. Treinamento. Curso: Teologia. Treinamento, Liderança, autoridade e responsabilidade na administração eclesiástica

Classificação de Sistemas: Sistemas Empresariais

Projeto de inovação do processo de monitoramento de safra da Conab

Transcrição:

FORMAS DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA Mara Francischini Guerrero Universidade Federal da Bahia UFBA Dança, improvisação, composição. Introdução: Distinguir modos de uso da improvisação em dança é uma questão polêmica e recorrente. A improvisação não pode ser tratada como um modo único, monolítico, de organização. Lisa Nelson e Steve Paxton (apud KATZ, 2000) defendem a necessidade de empregar nomes adequados para cada tipo de improvisação. Segundo Nelson e Paxton, improvisação é uma palavra escorregadia, muito genérica, exigindo um trabalho de classificação e detalhamento. Classificações auxiliam nas observações, análises e entendimentos, pois cada decisão, recorte ou interesse direcionam para alguns modos de uso, delimitados pelas restrições implicadas em suas propostas e desenvolvimentos. Algumas tendências predominam na relação artista-contexto, seja durante ocorrência da improvisação, e/ou na elaboração de acordos prévios. Essas tendências indicam aspectos e princípios compartilhados, que delineiam agrupamentos por semelhança. Aqui esses agrupamentos serão denominados formas de improvisação, com o objetivo de classificar alguns modos de uso, de acordo com restrições implicadas. Formas de improvisação: Tudo o que brota, brota como forma. Mais adiante, num processo de associação, esta forma ganhará vividez. Forma: atrator de similitudes e parecenças. Forma: passaporte dos existentes (KATZ, 2005, pp.61). Vou, aqui, apresentar uma versão sobre algumas formas de improvisação, observando-as como associações por semelhança. São propostos dois modos de uso gerais: 1 improvisação sem acordos prévios; 2 improvisação com acordos prévios, que se subdivide em duas classes: 2.1 improvisação em processos de criação; 2.2 improvisação com roteiros. 2. Improvisação sem acordos prévios Aqui, serão abordadas improvisações cujos encadeamentos de ações e conexões compositivas ocorrem sem acordos prévios. Os arranjos ocorrem somente no ato de sua apresentação pública. Trata-se de composições imprevistas, que contam com revisões acerca das relações habituais da dança 1. Nas improvisações sem acordos prévios o processo é desvelado ao 1 Como relações habituais da dança estão as relações onde o processo ocorre em ensaios prévios, um momento compartilhado apenas pelos artistas envolvidos na criação, e o produto como obra final

público, visto que, não há ensaios ou pré-definições sobre desenvolvimentos das ações e composições. Esse tipo de improvisação depende das escolhas realizadas em tempo real. É garantida autonomia de todos os artistas envolvidos na composição, visto que todos decidem simultaneamente seu desenvolvimento e formato em tempo real. Carter (2000) alerta para o risco da repetição de padrões habituais tanto dos artistas como do público, em relação aos velhos padrões sobre fazer e assistir dança. Ele afirma que é necessário olhar para essa forma de improvisação sem as expectativas de eficiência ou de espetáculo. Para Zambrano (2002), é possível ter expectativas sobre o que vai acontecer numa improvisação, quando as pessoas que estão improvisando se conhecem e treinam juntas, e isso ocorre por reconhecimento das informações de técnicas de dança inscritas nos corpos, que carregam possibilidades de decisões legíveis. É recorrente o incômodo sobre riscos da improvisação composta em tempo real, e com o propósito de garantir alguma eficiência sobre composição da dança, diversos improvisadores, como Dunn, Paxton, Nelson, Hagendoorn, Zambrano, entre outros, formularam treinamentos para improvisação. Para tais improvisadores exercer autonomia sobre parâmetros convencionados por treinamentos pode garantir alguma coerência compositiva. Ou seja, não há acordos específicos sobre cada apresentação, mas há parâmetros sobre composição que são treinados, definindo noções de eficiência como tendências de desenvolvimento da improvisação. As formulações de treinamentos têm como propósito ampliar: repertório de movimento, atenção, percepção e entendimento sobre composição; exige repetição, método, pré-estabelece movimentos, focos de atenção e objetivos sobre composição. Este preparo replica as tendências praticadas, e dessa forma, torna-se possível identificar interesses compartilhados. Alguns grupos de improvisação propõem essa forma em cena, como é o caso da Cia. Nova Dança 4 2 e Magpie Music Dance Company. Os integrantes desses grupos trabalham e treinam juntos há vários anos, estabelecendo parâmetros, mas não definindo acordos para composição. Os encontros para improvisação chamados Jam Session podem ser identificados como uma das formas de improvisação sem acordos prévios. Trata-se de encontros abertos a todos os interessados para prática de improvisação, sejam eles artistas ou não artistas. Há também a apresentada, compartilhado com público. 2 A Cia. Nova Dança 4 dirigida por Cristiane Paoli Quito geralmente tratam alguma questão específica em cena, porém não roteirizam seu campo de possibilidades. Eles treinam princípios de movimento e composição, iniciados por Tica Lemos, há diversos anos, esse treinamento direciona escolhas cênicas e opções estéticas, porém não são roteiros definidos sobre condições e ações para composição ocorrer. Entretanto em seu último trabalho Influências (2008) eles adotaram tal procedimento, com roteiro sobre desenvolvimento.

prática de jam em grupos restritos, que ocorre entre artistas que se conhecem, mas não necessariamente treinam ou dançam juntos, e têm a intenção de experimentar situações nessa configuração. 2 Improvisação com acordos prévios Esta forma abrange as improvisações que contam com acordos prévios em suas elaborações, seja em seu processo como em sua apresentação. Uma divisão em duas classes é proposta: 2.1 improvisação em processos de criação como experimentações anteriores à apresentação pública; 2.2 improvisação com roteiros possui regras prévias, relativas a condições e possibilidades de ocorrência da improvisação. 2.1 Improvisação em processos de criação Trata-se de processos de criação que contam com improvisação como fomentadora de suas investigações. Esses processos ocorrem no período anterior à apresentação da dança, são experimentos realizados entre artistas, durante ensaios, que posteriormente se formalizarão em composições 3. Na atualidade muitos artistas realizam seus processos de criação através de improvisações 4. São propostas experimentações como estudo e desdobramento de questões relativas à obra em processo. A opção por trabalhar neste formato, está conectada a imprevisibilidade de suas experimentações, que pode gerar soluções inesperadas e diversas, visto que os artistas envolvidos têm autonomia sobre o processo. Vera Sala utiliza procedimentos de improvisação para desenvolver suas pesquisas. Sala tem como foco elaborar sínteses do movimento. Para isso parte de questões especificas, e as discute no corpo, em investigações de qualidades de movimento bastante precisas. Suas experimentações prevêem repetições e insistências da questão motivadora, que provocam desdobramentos para futura composição. 3 Essas futuras composições podem contar, ou não, com improvisação em suas organizações. Podem se configurar em: improvisações com roteiros (abordada a seguir), em performances, intervenções urbanas, coreografias, etc. 4 Na dança moderna a improvisação foi um recurso amplamente utilizado durante processo de criação. Eram realizadas experimentações com foco em investigar outras formas do corpo se mover distintas do balé clássico. Esses processos se consolidavam em produtos específicos, em coreografias prédeterminadas levadas ao público. Com o passar dos anos esses processos começaram a se formalizar, a ponto da dança moderna codificar movimentos e composições da dança. A partir de então seus processos passaram a atuar entre recombinações desse campo de possibilidades pré-instaurado, entre movimentos codificados, relacionados a algum tema tratado na obra cênica (Novak 1997).

3. Improvisação com roteiros O termo roteiro aqui é adotado como regras prévias, relativas a condições e possibilidades de ocorrência da improvisação. Os roteiros servem como parâmetros, definindo: desenvolvimento da improvisação; e/ou tipos de movimentos; e/ou relações entre dança e outras linguagens; e/ou relações entre artistas; e/ou relação com público; etc. São restrições prédeterminadas a serem agenciadas durante apresentação, mantendo autonomia do artista sobre a composição. Dunn experimentou algumas estruturas desse tipo, que ocorriam como exercícios realizados em cena, os dançarinos desenvolviam materiais de movimentos colaborativamente, inventando formas de distribuir as regras em tempo real, reagrupando as pessoas e compondo com essas restrições em cena. Como por exemplo, agir entre essas regras gerais: (1) entradas e saídas; (2) como habitar o espaço, com várias ocorrências simultâneas; (3) articulação da estrutura das coreografias com liberdade de transito da improvisação (apud BÉLEC, 1997). O tuning score 5, criado por Nelson (2006), pode ser identificado como uma possibilidade de organização que acontece com regras bem definidas anteriormente. Os participantes da improvisação têm comandos verbais e lidam com as restrições desse jogo, usando chamados como repete, desfaz, aumente, e fim. Para estar na estrutura é necessário ser dançarino e observador, passar de uma função a outra, e lidar com essas regras 6. Considerações finais A improvisação em dança não pode mais ser tratada como uma forma única de organização e ocorrência. Há evidentes distinções, que indicam eixos específicos de desdobramentos da improvisação, distinguindo processos e formas de organização. Aqui foram propostas duas distinções gerais como formas de improvisação, sendo que uma dessas se desmembra em mais duas classes: 1 improvisação sem acordos prévios; 2 improvisação com acordos prévios: 2.1 improvisação em processos de criação; 2.2 improvisação com roteiros. Essa é uma proposta generalizada e inicial, que não pretende estancar as discussões sobre distinções entre formas de improvisação em dança. Muitos debates tornam-se necessários para que tal questão perca vivacidade, encontrando eixos claros de proposição. 5 O tuning score pode ser considerado somente como treinamento de dançarinos em improvisação, assim como pode ser uma considerada uma estrutura de improvisação. 6 Para mais referências sobre improvisações com roteiros ver Richard Bull (1999) e Hagendoorn (2002).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BÉLEC, Danielle. Improvisation & choreography the teachings of Robert Ellis Dunn. Contact Quarterly, v. 22, n.1, p. 42-51 Verão. 1997. BULL, Richard Niles. On structural improvisation. Contact Quarterly. v. 24 n.1, p. 26-37. Primavera. 1999 CARTER, Curtis. 2000. Improvisation in dance. The Journal of Aesthetics and Art Criticism, p. 58-2, Primavera. 1999. HAGENDOORN, Ivar. Emergent patterns in dance improvisation and choreography, maio, 2002 Disponível em: < http://www.ivarhagendoorn.com/ > Acesso em: 05 de junho de 2006. KATZ, Helena. Um, Dois, Três a dança é o pensamento do corpo. FID Fórum Nacional de Dança Editorial, 2005.. Paxton e Lisa fazem do improviso uma aula de precisão. O Estado de São Paulo, São Paulo, 04 fev. 2000. Caderno 2, p. 26. NELSON, Lisa. Composing, Communication, and the sense f imagination. Lisa Nelson on her pre-technique of dance, the Tuning Scores. Ballettanz, Berlin, p.76-79. Abril. 2006. NOVAK, Cynthia J. Some thoughts about dance improvisation. Contact Quarterly. v. 22 n. 1, p. 17-20. Inverno. 1997. ZAMBRANO, David, TOMPKINS, Mark & NELSON, Lisa. Need to know a conversation about improvisational performance. Contact Quarterly. v. 25 n.1, p. 29-41. Inverno. 2000.