O III Seminário Internacional de História Luso-Brasileira: Sertão e Litoral pretende apresentar a produção acadêmica sempre renovada em torno desses



Documentos relacionados
História/15 8º ano Turma: 1º trimestre Nome: Data: / /

O Rio Grande se vê no espelho

GHI052 Cultura Afro-Brasileira 60 Cultura afro-brasileira e resistência escrava no Brasil escravista. Estudo da historiografia sobre o tema.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

CURSO DE HISTÓRIA: EMENTAS DAS DISCIPLINAS NÍVEL I

ÁREA: RESENHA CRÍTICA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS PET ECONOMIA UESB

Colégio Ser! Sorocaba Sociologia Ensino Médio Profª. Marilia Coltri

Pr Além do Mare Nostrum Um Guia para a Navegação Romano no Atlântico. Articulação de conteúdos didáticos com as matérias das disciplinas escolares

ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS COMPARADAS CMI-CEIC

Aula 6 A GEOGRAFIA TRADICIONAL E O POSITIVISMO. Vera Maria dos Santos. META Apresentar a relação entre a Geografi a Tradicional e o Positivismo.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 2º SEMESTRE DE 2015

Sugestões de avaliação. História 8 o ano Unidade 4

CURSO E COLÉGIO ESPECÍFICO. Darcy Ribeiro e O povo brasileiro Disciplina: Sociologia Professor: Waldenir 2012

As atividades econômicas realizadas pelas pessoas costumam ser agrupadas em três setores.

Vera F. Rezende Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo- UFF. Todas as cidades são comuns, complexas e diversas. Esse é o argumento que

O TERRITÓRIO BRASILEIRO. 6. Fronteiras Terrestres

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

FORTALEZA HISTÓRIA

Professor: MARCOS ROBERTO Disciplina: HISTÓRIA Aluno(a): Série: 9º ano - REGULAR Turno: MANHÃ Turma: Data:

DIVERSIDADE E INCLUSÃO: O ÍNDIO NOS CURRÍCULOS ESCOLARES

DUNKER, C.I.L. Desautorização da Mãe pelo Pai. Revista Pais e Filhos, A Desautorização da Mãe pelo Pai

Uma perspectiva de ensino para as áreas de conhecimento escolar HISTÓRIA

FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL

ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. Petrópolis: Vozes, 2008.

OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.9, p , abr

Prova bimestral 4 o ANO 2 o BIMESTRE

20º. COLÓQUIO DA ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES CATÓLICOS [APC] Os 20 anos dos Colóquios APC. Cristina Nobre: Duas décadas revisitadas

Prova Escrita de História A

CIÊNCIA E PRECONCEITO. UMA HISTÓRIA SOCIAL DA EPILEPSIA NO PENSAMENTO MÉDICO BRASILEIRO.

Apontamentos das obras LeYa em relação ao Currículo de Referência da Rede Estadual de Educação de GOIÁs. História Oficina de História

O Projeto de Energia da Maré na Foz do Rio Amazonas

Seminário internacional Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão.


Cidade e Urbano: uma caracterização do terciário superior (mini-curso)

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA As Fronteiras do Espaço

Resenha / Critial Review Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo

Empreendedorismo. Tópico 1 O (a) Empreendedor (a)

PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

estética carlos joão correia ºSemestre

O Brasil em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento.

Colégio Estadual João Ferreira Neves Ensino Fundamental e Médio. Plano de Trabalho Docente PTD 2014

Só viverá o homem novo, não importa quando, um dia, se os que por ele sofremos formos capazes de ser semente e flor desse homem.

Educação Financeira: mil razões para estudar

Curso: Estudos Sociais Habilitação em História. Ementas das disciplinas: 1º Semestre

Daniel Chaves Santos Matrícula: Rio de Janeiro, 28 de maio de 2008.

JUDICIALIZAÇÃO - REGULAMENTAÇÃO DO PRODUTO DE ATENÇÃO DOMICILAR

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E A MOBILIDADE DO CAMPO PARA A CIDADE EM BELO CAMPO/BA

Exercícios de Revisão - 1

PROJETO HÁ FESTA NO CAMPO UM PROJETO DE INSPIRAÇÃO.

- Elaborar sínteses escritas a partir da informação recolhida, com correção linguística e aplicando o vocabulário específico da disciplina.

I. INTRODUÇÃO. 1. Questões de Defesa e Segurança em Geografia?

Reordenamento do acolhimento institucional através da formação

Interpretação do art. 966 do novo Código Civil

Gabarito 7º Simulado Humanas

Profa. Ma. Adriana Rosa

HEGEL: A NATUREZA DIALÉTICA DA HISTÓRIA E A CONSCIENTIZAÇÃO DA LIBERDADE

Apoio. Patrocínio Institucional

Aquisição da Propriedade Ilícita pela Usucapião

A História do Pensamento Econômico e a Ciência Econômica. Prof. Dr. José Luis Oreiro Departamento de Economia UNB Pesquisador do CNPq.

Jesus declarou: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo. (João 3:3).

Três grandes impérios, além de dezenas de outros povos, que encontravam-se subjugados aos grandes centros populacionais, viviam nas regiões almejadas

JOSÉ DE ALENCAR: ENTRE O CAMPO E A CIDADE

81AB2F7556 DISCURSO PROFERIDO PELO SENHOR DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY NA SESSÃO DE 05 DE JUNHO DE Senhor Presidente, Senhoras Deputadas,

IBASE INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS

ÁFRICA SUBSAARIANA: Características Básicas, Partilha Europeia e Alguns Conflitos. Rui Ribeiro de Campos

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul A CIDADE E UMA UNIVERSIDADE: NARRATIVAS POSSÍVEIS

Analise este mapa topográfico, em que está representada uma paisagem serrana de Minas Gerais:

A PEDAGOGIA COMO CULTURA, A CULTURA COMO PEDAGOGIA. Gisela Cavalcanti João Maciel

Administração Prof. Esp. André Luís Belini Bacharel em Sistemas de Informações MBA em Gestão Estratégica de Negócios

3 o ano Ensino Fundamental Data: / / Revisão de História e Geografia Nome: n o

Plano de Carreira e Desenvolvimento

O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO

Os negros na formação do Brasil PROFESSORA: ADRIANA MOREIRA

Marxismo e Ideologia

Memorando Sobre as Leituras VA ~ VC. de respostas políticas para a geração de emprego no setor informal e no desenvolvimento de

CADERNO DE ATIVIDADES

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Tal como pretendemos salientar ao longo do primeiro capítulo, no período da

EXERCÍCIOS ON LINE DE GEOGRAFIA 8º 2º TRI. Assinale a única alternativa que não indica uma característica do sistema capitalista.

A Direção Municipal da Cultura dispõe de um conjunto de exposições e de apresentações multimédia, sobre diversos temas, que poderá disponibilizar

CARTA ABERTA EM DEFESA DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

Salário Mínimo e Mercado de Trabalho no Brasil no Passado Recente

Tu ganhas. Todos ganham. Aceita o desafio. O mais importante concurso mundial de tecnologia, a nível académico.

500 anos: O Brasil - Império na TV

ED WILSON ARAÚJO, THAÍSA BUENO, MARCO ANTÔNIO GEHLEN e LUCAS SANTIGO ARRAES REINO

Regulação Bimestral do Processo Ensino Aprendizagem 3º bimestre Ano: 2º ano Ensino Médio Data:

Relatório: Os planos do governo equatoriano: incentivo ao retorno da população migrante 38

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

GEOGRAFIA Professores: Ronaldo e Marcus

COLÉGIO SÃO JOSÉ CORREÇÃO DA AVALIAÇÃO (2º TRIM.) DE GEOGRAFIA PROF. JOÃO PAULO PACHECO

podres mecanismo de seleção no acesso às escolas municipais de alto prestígio da cidade do Rio de Janeiro (CHAMARELLI, 2007a). Vale destacar que um

Anselmo Peres Alós Benjamin Abdala Junior Eunice Piazza Gai

Sugestão de avaliação

O índio e a sociedade não-índia AGUIAR, Maria Suelí de TRINDADE, Israel Elias. Palavras-chave: índio, não-índio, sociedade, conscientização.

Exercícios de Revisão RECUPERAÇÃO FINAL/ º ANO

Transcrição:

O III Seminário Internacional de História Luso-Brasileira: Sertão e Litoral pretende apresentar a produção acadêmica sempre renovada em torno desses espaços, construídos sobretudo a partir da época moderna, e que adquiriram múltiplos sentidos na história brasileira e do império ultramarino, atualizando-se no Brasil contemporâneo como objeto de pesquisa e expressão cultural. Sertão e litoral correspondem na história luso-afro-brasileira não apenas a supostas delimitações naturais do território, mas a espaços constituídos e transformados ao longo da história. Suas demarcações se devem, de modo geral à relação entre litoral, atividade econômica para o mercado externo, sedes urbanas e civilização. Ao sertão reservou-se a barbárie, um mundo desconhecido e ermo, ao mesmo tempo em que o interior pode sugerir um universo a ser desbravado. Nesses dois terrenos, definidos face um ao outro, se instalam variadas formas de domínio da América portuguesa e da África e toda uma reflexão historiográfica. As perspectivas do sertão e do litoral se fazem sentir também na literatura, sendo uma imagem recorrente ainda hoje na ficção portuguesa, africana como o foi na produção regionalista brasileira.

8 de agosto 8h30 às 9h30 - Credenciamento 10 às 12:00 h Conferência Roquinaldo A. Ferreira Doutor pela Universidade da California, Los Angeles, e pós-doutorado na Yale University e Harvard University. Professor associado na Universidade da Virginia, e pesquisador visitante no l Institut de Hautes Études Internationales et du Développement, em Genebra. O Sertão, o Litoral e o Atlântico: Angola e Brasil na era do tráfico de escravos 14 às 17:00 h Palestras Alexsander Gebara Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor de História da África na Universidade Federal Fluminense. A busca britânica pelo curso do Rio Níger, estratégias retóricas e práticas imperiais Durante o período compreendido entre o final do século XVIII e meados do século XIX, os argumentos presentes nos relatos de viagem britânicos legitimavam a presença inglesa na África. Construídos em torno da luta contra o tráfico atlântico de escravos e da 'missão civilizadora' ocidental, tais argumentos sustentavam uma intervenção prática cada vez maior na economia e na política das sociedades africanas, garantindo, de forma crescente, as dinâmicas comerciais favoráveis à Inglaterra. Maria da Glória Kok Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado junto ao Departamento de Antropologia da UNICAMP. Pesquisadora do Centro de Pesquisa em Etnologia Indígena (CPEI), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UNICAMP. Imagens do sertão da América portuguesa A palestra apresentará imagens do espaço chamado sertão pelos adventícios, caracterizado por sua imensidão disforme de limites indefinidos, avesso à civilização, distante dos núcleos de povoamento, da administração colonial e do litoral Atlântico, sobre o qual foram projetadas e inventadas diversas formas de humanidade. De início, foi povoado de habitantes fantásticos que migraram da Antiguidade e da Idade Media para as terras incógnitas do Novo Mundo. À medida, porém, que o sertão passou a ser progressivamente explorado e mapeado, durante o processo de colonização da América portuguesa, ganhou imagens ambíguas, ora como terras de bárbaros, canibais e outras raças monstruosas, ora como espaços totalmente vazios. No entanto, qualquer uma delas servia de justificativa tanto à expropriação das terras indígenas quanto à escravização dos povos que habitavam o sertão. Fabiano Vilaça dos Santos Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade Candido Mendes, pesquisador colaborador do Laboratório Redes de Poder e Relações Culturais, vinculado ao CNPq e ao PPG em História Política da UERJ, e do grupo de pesquisa História Colonial da Amazônia, vinculado ao CNPq e ao PPG em História Social da Universidade Federal do Amazonas. A corte, as armas e o ultramar português: a construção das carreiras dos governadores do Estado do Maranhão (século XVIII) Recorrente na historiografia nos últimos anos, a temática das trajetórias governativas no Império português tem contribuído para a renovação dos estudos sobre a administração colonial. Contudo, no que se refere à América, o Estado do Maranhão repartição independente do Estado do Brasil ainda é pouco contemplado pelos especialistas. Nessa perspectiva, importa analisar aspectos fundamentais na construção das trajetórias dos governadores e capitães-generais do Estado do Maranhão, ao longo do século XVIII: a formação militar, as alianças políticas e as relações familiares estabelecidas no âmbito da Corte e as experiências adquiridas por alguns agentes em praças africanas e orientais.

Haruf Salmen Espindola Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Professor titular da Universidade Vale do Rio Doce Univale e coordenador do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Gestão Integrada do Território GIT/Univale. Sertão do Rio Doce: por onde corre a imaginação dos homens e sua cobiça O Rio Doce, no sudeste do Brasil, se fez presente como espaço de imaginação e cobiça desde os primeiros tempos da colonização lusitana na América. Nos dois primeiros séculos o rio foi caminho para o sertão que obcecou a imaginação dos portugueses que os fez entrar pelo interior em busca da fantástica serra das esmeraldas. No início do século XIX, a cobiça luso-brasileira levou a Coroa portuguesa a declarar guerra ofensiva aos índios Botocudos e ordenar a conquista militar dos seus territórios, momento atípico da história lusobrasileira na América. O Sertão do Rio Doce foi ocupado por forças militares e, no segundo momento, por missionários, cujos objetivos foram domesticar e civilizar os sertões, possibilitando assim o aproveitamento de suas extraordinárias riquezas. 17:00 h Lançamento dos livros vencedores do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2009 Subversivos e pornográficos: censura de livros e diversões públicas nos anos 1970, de Douglas Attila Marcelino; Engenhocas da moral: redes de parentela, transmissão de terras e direitos de propriedade na freguesia de Campo Grande (Rio de Janeiro, século XIX), de Manoela Pedroza; Jardim regado com lágrimas de saudade: morte e cultura visual na Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula (Rio de Janeiro, século XIX), de Henrique Sergio de Araujo Batista. 9 de agosto 10 às 12:00 h Conferência Marcus Vinicius de Freitas Ph.D. em Estudos Brasileiros e Portugueses pela Brown University e pós-doutorado em História e Teoria Literária pela UNICAMP. Professor Titular de Teoria da Literatura na Universidade Federal de Minas Gerais e Pesquisador PQ-2 do CNPq. É também romancista, autor de Peixe morto (Autêntica, 2008). Literatura de viagem, ciência e nação na segunda metade do longo século XIX, 1868-1928 14 às 17:00 h Palestras Nísia Trindade Lima Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Pesquisadora titular da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz e Vice Presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz. Professora adjunta de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sertão como ideia: intelectuais e interpretação do Brasil A proposta é discutir os diferentes significados atribuídos à palavra sertão no pensamento social brasileiro durante o século XX. Com este objetivo, procura-se demonstrar que a análise da tensão

entre sertão/litoral não pode ser compreendida apenas pela análise da importância do espaço em nossa formação histórica e na reflexão feita pelos intelectuais a seu respeito. Considera-se que tais categorias especificam modos distintos e até mesmo opostos - de compreensão da vida social e, sobretudo, dos processos de mudança. Assim, mais do que a espaço, os significados atribuídos a sertão e ao contraste do par sertão/litoral, referem-se fundamentalmente a temporalidades distintas e coetâneas. A análise deste tema insere-se em um debate teórico mais amplo sobre a relação dos intelectuais e o problema de sua identidade nas sociedades periféricas. Nessa perspectiva, a análise de Norbert Elias sobre as relações entre intelectuais, projetos nacionais e interpretação da sociedade nos contextos francês e alemão; e da sociologia histórica, em particular os textos de Bendix, sobre os processos de construção dos Estados nacionais, constituíram-se em referências centrais para a análise. Entende-se que a matriz dualista é parte constitutiva da imaginação social sobre o país, revelando algo mais do que a oposição entre o Brasil moderno e o atrasado ou, alternativamente, entre uma civilização de copistas e uma autêntica. Ela indica, ao mesmo tempo, a representação que fazem os intelectuais acerca de seu próprio lugar nesta sociedade. Candice Vidal Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. O sertão, o litoral e a fronteira: espaços da nação O sertão é um lugar vivido e imaginado que recebe atributos em infindáveis narrativas produzidas por sujeitos intelectuais de variados perfis. As obras do pensamento social brasileiro que tematizam o sertão como fonte ou reserva da nacionalidade brasileira são fundadas na observação direta ou experiência biográfica em lugares sertanejos, assim como na imaginação do espaço e do modo de vida sertanejo. O sertão se mostra como uma categoria do pensamento brasileiro, elementar em reflexões sobre a nacionalidade, suas raízes, seu presente e seu futuro. Participa da nomeação, da descrição e da avaliação sobre o estado da nação e de sua gente em relatos de narradores legitimados em seu poder de dizer sobre a nação ou por sua autoridade interpretativa e/ou por sua presença efetiva nos lugares descritos. Os sentidos expressos pelo significante sertão podem se desdobrar na ideia de fronteira, lugares em que a nação pode crescer e transformar seu interior, como que combinando positividades imputadas ao sertão e ao litoral. Albertina Vicentini Doutora em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo. Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, do Mestrado em História e do Mestrado em Letras da mesma instituição. Bolsista-pesquisadora do Cnpq. O sertão em Inocência de Taunay Desde os anos 30 do século XIX, está instaurado um programa político da funcionalidade da literatura rumo à civilização. José de Alencar, em seu conjunto de obra, procura historiar a totalidade da nação, com suas obras sobre os tempos primitivos, os tempos coloniais e o seu tempo contemporâneo, este com a instauração da dicotomia campo/cidade. Uma das obras que representam o campo em Alencar é O Sertanejo (1875), obra que configura a família patriarcal colonial de cultura agrária, cujos valores se imprimem a partir da cultura aristocrática lusobrasileira. Em Taunay, essa dicotomia toma a forma como o regionalismo finissecular dela se utilizaria mais tarde: sertão / civilização-cidade ou atraso/desenvolvimento. Isso porque Taunay, em Inocência (1871), já descreve o sertão à parte, ao início do romance, de forma independente (é um capítulo que tem vida própria, de tom ensaístico mais do que romanesco e isso, de certa forma, consolida o sertão como uma categoria), e especialmente nos seus aspectos geofísicos, demográficos e de costumes. Essa é uma nova face literária do sertão, até então retratado idealmente como lugar de aventura ou de perigo, despovoado ou longínquo, sensual e exótico, etc., mas sempre pelo ponto de vista essencialista de recôndito verdadeiro da brasilidade ou da nação (como em Alencar). Já para o final do século XIX, o embate para com o atraso do sertão surgiria como tema dos regionalistas propriamente ditos, como Hugo de Carvalho Ramos ou Valdomiro Silveira; ou em uma obra do porte d Os sertões de Euclides da Cunha.

Sylvia França Schiavo Doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professora associada III da Universidade Federal Fluminense, subchefe do Departamento de Antropologia. Sertão Uno e múltiplo de Guimarães Rosa No Grande Sertão: Veredas, no qual há de tudo para quem souber ler, conforme afirma o mestre Antonio Candido, João Guimarães Rosa resolve, definitivamente, uma questão, ou uma falsa questão, que é a conceituação do vocábulo de nebulosa etimologia sertão. Nessa obra-prima, Rosa eleva o sertão ao estatuto de categoria, libertando-o do conceito intentado por vários autores, ao dizer o sertão pela boca do jagunço Riobaldo. Ao repetir, como num mantra, a palavra sertão em todo o livro, Riobaldo o faz de maneira imprecisa, dada a multiplicidade de significados que lhe impõe e, ao mesmo tempo, de forma bastante determinada. São atributos que Marcel Mauss, seguindo trilhas muito antigas, indica como qualidades de uma categoria, categoria do entendimento humano. Assim, o sertão ancestral, tectônico, é síntese do diverso histórico, geográfico, simbólico, natural e cultural. É realidade e metáfora expressão inconteste de brasilidade. Auditório principal do Arquivo Nacional Praça da República, 173 Centro Rio de Janeiro Tel.: 21-21791253 / 21791256 difusaoacervo@arquivonacional.gov.br pi@arquivonacional.gov.br Inscrições grátis Serão concedidos certificados de participação