Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Critérios de Determinação da Competência / 18 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 18 Competência Interna Critérios de determinação da competência O NCPC deixou de fazer referência a alguns pontos que estavam expressamente previstos no CPC/73. No entanto, mesmo não tendo previsão expressa no NCPC, continuam a existir os chamados critérios de determinação da competência : 1) Critério objetivo art. 91, CPC/73 -> abrange: Competência em razão da matéria; Competência em razão da pessoa; Competência em razão do valor da causa. No CPC/73, este critério tinha previsão no art. 91. Atualmente, não há nenhum dispositivo correlato. Mas, o art. 62 dispõe acerca da impossibilidade da cláusula de eleição de foro em hipóteses de competência absoluta, estabelecendo que: NCPC, Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes. - Competência em razão da matéria (ratione materiae): é aquela que tem por fundamento o objeto da discussão, qual matéria está sendo tratada na causa. Ex.: questões atinentes a alimentos e divórcio são direcionadas para varas de família. - Competência em razão da pessoa (ratione personae): determinadas pessoas atraem a competência para certos juízos. O exemplo clássico é o da União Federal, cuja presença num dos polos da demanda, atrai a competência da Justiça Federal. - Competência em razão do valor da causa: pode ser absoluta em situações em que exista um teto fixado pela lei e o juiz competente para processamento e julgamento da demanda não possa ultrapassar este teto, a exemplo do que acontece nos JECs ( do menos para o mais ). Ou pode ser
relativa ( do mais para o menos ), hipótese em que se o juízo tem competência para julgar causas de maior valor, tem competência para julgar as de menor valor também. 2) Critério funcional art. 93, CPC/73: Orientação clássica Chiovenda: Um só processo, atuação de mais de um juiz. o Competência funcional horizontal -> juízes de mesmo grau. Ex.: hipóteses de carta precatória. o Competência funcional vertical -> graus diferentes de jurisdição. Ex.: agravo de instrumento (decisão interlocutória produzida pelo juiz de primeiro grau; recurso para o tribunal). Mais de um processo, uma mesma vontade da lei. o É o mesmo juiz, mas os processos são diferentes. Exs.: no CPC/15 -> tutela de urgência cautelar e ação ordinária; execução e embargos. Orientação moderna: O critério funcional pode ser vislumbrado por: o Graus de jurisdição Competência originária -> realizada pelo juiz de primeiro grau ou pelo Tribunal nas hipóteses de competência originária. Competência recursal -> quando o recurso leva a matéria para um órgão imediatamente superior. o Fases do procedimento -> Execução com a possibilidade de embargos. o Pelo objeto do juízo Assunção da competência art. 947, NCPC. Inconstitucionalidade no âmbito do tribunal art. 948, NCPC. NCPC, Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.
NCPC, Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do processo. 3) Critério territorial art. 46 e ss. NCPC: O art. 46 é praticamente uma reprodução da previsão que existia à época do CPC/73, salvo o p. 5º (que era o art. 598, CPC/73): NCPC, Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Este dispositivo consagra a regra geral -> foro do domicílio do réu. NCPC, Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. O foro de situação da coisa: Pode ser hipótese de competência relativa (possibilidade de escolha entre: o foro de situação da coisa; do domicílio do réu; ou de eleição) -> quando a demanda não versar sobre os casos arrolados na parte final do art. 47, p. 1º, NCPC (direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova).
E, também, pode ser de competência absoluta, justamente quando a demanda versar sobre as hipóteses do final do art. 47, p. 1º, NCPC (direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova). NCPC, Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Art. 48, p. único: o legislador definiu a questão do foro com base nos bens. NCPC, Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. NCPC, Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. [Será analisado em momento oportuno]. NCPC, Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal. [Possui direta relação com o art. 109 da CRFB/88, também será analisado em momento oportuno]. NCPC, Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Reproduz para os Estados e para o DF, a mesma regra da União. Assim, se o Estado ou DF for autor, é competente o foro de domicílio do réu.
O problema está no p. único, que prevê: se Estado ou o DF for o demandado, a ação poderá ser proposta: No foro de domicílio do autor; No de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda; No de situação da coisa ou; Na capital do respectivo ente federado. Na verdade, na jurisprudência já havia um tratamento do Estado e do DF observando estas regras. Com base nisto, se afirmava que o Estado não tinha foro especial/privilegiado, mas podem ter juízo privativo. Isto porque há possibilidade de que num desses foros, exista uma vara de Fazenda Pública. Neste caso, o foro pode ser objeto de escolha, mas se dentro do foro escolhido pelo autor da demanda existir vara de fazenda pública, esta provavelmente será a competente, com base em previsão expressa do Código de Organização e Divisão Judiciária do Tribunal. NCPC, Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; O legislador quis adaptar esta previsão à ordem constitucional moderna. Não queria mais que a mulher fosse privilegiada cônjuges como iguais. Por isso, adotou um critério completamente distinto daquele do CPC/73, qual seja: a existência ou não de filho incapaz. Assim, se existe filho incapaz, a competência é do domicílio do guardião do filho incapaz (alínea a). Se não existe, a competência é do último domicílio do casal (alínea b). E, no caso de nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal, a competência é do domicílio do réu (alínea c). Portanto, o legislador de 2015 não concede mais nenhum tipo de benefício à mulher. Assim, pode a mulher ter mais trabalho. Imagine que a mulher deixe o lar, porque o marido era violento e que os filhos fiquem com o pai. O domicílio competente para processamento do divórcio será o do marido e a mulher terá de se dirigir até lá.
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; Esta hipótese está sendo levantada como inovadora e pode gerar alguma confusão. Ex.: João celebra de contrato em SP com um Banco que possui agências em todo país. João agora reside no RJ e resolve ajuizar uma demanda contra o Bando no RJ. Pelo NCPC, isto é possível, com base na alínea b, inciso III, art. 53. c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto; Nova hipótese -> a competência é de natureza relativa. O idoso pode optar por ajuizar a demanda perante o domicílio do réu ou de sua residência. Ou seja, ele pode abrir mão da previsão do art. 53, III, e, NCPC. f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; Também é hipótese nova. Embora o NCPC preveja a competência seria da sede da serventia, o STJ possui vários acórdãos afirmando que para questões envolvendo reparação de danos praticados por serventias deve se adotar o CDC (são consideradas ações envolvendo relações de consumo). Por isso, admitiu a competência do foro do domicílio do autor. IV - do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios; V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. Este dispositivo é aplicado qualquer quer seja o veículo.