CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS NO PARANÁ *



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Transcrição:

Outubro 2008 CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS NO PARANÁ * Com base nos dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), esta nota técnica tem por objetivo destacar algumas características dos empreendimentos econômicos solidários e a distribuição geográfica destes no Paraná. Apresenta uma breve retrospectiva das ações necessárias à inclusão dos dados paranaenses no sistema nacional e, na seqüência, evidencia algumas peculiaridades dos empreendimentos econômicos solidários encontrados no Paraná. Estas informações consistem num exercício de leitura dos dados do SIES e podem colaborar para a discussão de propostas de políticas públicas em âmbitos local e regional, com a perspectiva de promover o desenvolvimento por meio da geração de emprego e renda com inclusão social. 1 RETROSPECTIVA DO MAPEAMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO PARANÁ 2003/2007 1 Em 2003, o Governo Federal criou a SENAES, junto ao MTE, e, por meio desta, o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento, com a finalidade de promover empreendimentos com vistas no desenvolvimento mediante a geração de trabalho e renda com inclusão social. A economia solidária compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais cujo processo produtivo é organizado pelos trabalhadores que são gestores da produção e das relações de trabalho e participam do processo decisório. A produção é caracterizada pela solidariedade e pela cooperação, e pode se constituir em formas de cooperativismo e associativismo. Entre as ações implementadas pelo Programa está a realização do levantamento de dados denominada mapeamento, com os objetivos de proporcionar visibilidade à economia solidária e oferecer subsídios aos processos de formulação de políticas públicas. Os dados obtidos no mapeamento compõem o SIES. Destacam-se como principais propósitos dessa base de dados localizar e caracterizar os empreendimentos de economia solidária. * Nota elaborada pela técnica Maria Saléte Zanchet, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). 1 Nota técnica apresentada pela autora no seminário "A Economia Solidária e o Desenvolvimento Sustentável Regional e Local: Impasses e Perspectivas", realizado de 23 a 25 de setembro de 2008 pela Universidade Estadual de Maringá, mediante o GRE/Núcleo Local da Unitrabalho Incubadora.

2 A realização do mapeamento da economia solidária em nível nacional teve início em 2003, com a constituição do grupo de trabalho e a elaboração do termo de referência para implementação do Sistema de Informações em Economia Solidária. Esse sistema operacional foi designado Mapeamento da Economia Solidária e incluído no Plano Plurianual 2004-2007 do Governo Federal, visando compor uma base nacional e bases locais de informações. No Paraná, o grupo de trabalho mobilizado para a realização do mapeamento foi coordenado pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT-PR) e pela Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP). As reuniões contaram com uma grande variedade de interlocutores, oriundos de órgãos públicos e de organizações não-governamentais. Com participantes dessas reuniões, formou-se a Equipe Gestora Estadual (EGE), que passou a reunir-se sistematicamente a partir de agosto de 2004. Entre as atribuições da EGE, destaca-se a construção da listagem inicial dos Empreendimentos e Entidades de Apoio de Economia Solidária existentes no Paraná, denominada Fase I do SIES. A listagem inicial teve fontes diversas, tais como a autodeclaração na página eletrônica da SENAES/MTE; os registros administrativos de cooperativas e associações constantes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS); as informações coletadas em eventos realizados pelas entidades de apoio em feiras, encontros e fóruns de economia solidária; e os contatos oriundos de meios de comunicação (correio, internet, telefone etc.). Nessa fase, a atuação da EGE consistiu em analisar a listagem estadual, conforme critérios conceituais de economia solidária, e solicitar confirmação, exclusão ou esclarecimentos quando a situação do empreendimento suscitasse dúvidas. Assim, sua principal atividade em 2004 foi a implementação da Fase I do SIES. Coube também à EGE iniciar a Fase II do SIES, que consistiu na aplicação de questionários junto a empreendimentos econômicos solidários e entidades de apoio cadastradas no sistema nacional. A proposta de execução dessa etapa foi elaborada de acordo com o Termo de Referência do SIES e o Manual de Entrevista Fase II. É importante frisar que, devido à abrangência nacional do sistema, houve a necessidade de padronização dos procedimentos da pesquisa de campo, de forma que as orientações e a metodologia adotada (elaboração do formulário, instruções da equipe de campo e realização da entrevista) foram desenvolvidos pela SENAES/MTE. A proposta de realização da Fase II do SIES no Paraná concretizou-se com a execução do projeto Caracterização dos Empreendimentos de Economia Solidária no Estado do Paraná, cuja entidade proponente foi o Instituto de Filosofia da Libertação (IFIL). O levantamento de campo foi realizado em 2005, com recursos oriundos do Governo Federal, por meio da Fundação Banco do Brasil (FBB) e com o apoio do Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Estava previsto realizar visitas e entrevistas a 430 empreendimentos solidários, tendo como público-alvo associações, cooperativas populares, clubes de troca e grupos comunitários de produção em 133 municípios paranaenses cadastrados na Fase I e validados pela EGE. A expectativa inicial desta pesquisa de campo era coletar dados de 600 empreendimentos e entidades de apoio. No mapeamento da economia solidária, efetuado em 2005 no Paraná, identificaram-se 517 empreendimentos em 109 municípios, que foram incorporados à base nacional. Ainda nessa etapa, após a avaliação do processo de coleta de dados, evidenciou-se a necessidade de complementar a base de dados, para entrevista e validação de outros

3 empreendimentos que não constavam da proposta inicial. A fase complementar da Fase II do SIES foi executada no Paraná em 2007 e passou a integrar a base de dados, traçando o perfil atual da economia solidária em território paranaense. Os resultados encontram-se no Atlas da Economia Solidária, versão 2007. 2 CARACTERIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS NO PARANÁ O questionário do SIES Fase II é composto por 72 questões e está estruturado nas seguintes dimensões: identificação do empreendimento; tipificação e dimensionamento da atividade econômica; investimentos, acesso a crédito e apoios; gestão do empreendimento; situação de trabalho no empreendimento; e dimensão sociopolítica e ambiental. Do conjunto de questões contempladas no formulário da Fase II do SIES, selecionaram-se algumas variáveis para análise e consideração na presente nota técnica. Deu-se preferência às questões com resposta única, para facilitar a leitura dos dados, pois as de múltipla escolha por vezes dificultam a análise dos resultados. Os dados coletados nos levantamentos de campo realizados em 2005 e 2007 permitem delimitar algumas peculiaridades dos empreendimentos solidários. No Paraná, com base no levantamento de campo efetuado em 2005 e complementado em 2007, foram identificados e cadastrados no SIES um total de 808 empreendimentos econômicos solidários (EES), localizados em 143 municípios. Isso significa dizer que esses empreendimentos estão presentes em pouco mais de um terço do total de municípios paranaenses. Há concentração de EES nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e no município de Londrina, que representam também as áreas dos grandes aglomerados urbanos no Paraná. A título de ilustração, a população paranaense está estimada em cerca de 10 milhões pessoas, e aproximadamente 36,6% desse total corresponde à população da RMC e da microrregião de Londrina. É possível destacar ainda um número expressivo de empreendimentos localizados nos municípios do Sudoeste e do Litoral paranaenses. Na região Norte paranaense, o município de Maringá e seu entorno (Sarandi, Mandaguaçu, Paiçandu e Marialva) agregam 18 empreendimentos cadastrados. A distribuição espacial da economia solidária no Paraná pode ser observada no mapa a seguir. Na seqüência, analisam-se algumas variáveis selecionadas do formulário da pesquisa de campo, visando identificar algumas características dos empreendimentos econômicos solidários em território paranaense. 2 BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria Nacional de Economia Solidária. Atlas da economia solidária. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/sistemas/atlases/>. Acesso em: ago. 2008.

5 2.1 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS No que tange à forma de organização dos empreendimentos, nos resultados para o Paraná, verifica-se que predominam grupos informais, associações e cooperativas (gráfico 1). Do total de cadastrados, 482 empreendimentos são grupos informais, ou seja, não possuem nenhum tipo de registro legal ou formalização junto a órgãos públicos municipais, estaduais ou federais; outros 235 são registrados (formalizados) com a natureza jurídica de associação, e há 86 registrados com a natureza jurídica de cooperativa definida como sociedade de pessoas que se obrigam, por meio da celebração de contratos de sociedades cooperativas, a contribuir, com bens e serviços, para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum, podendo ter por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade. GRÁFICO 1 - PRINCIPAIS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS - PARANÁ - 2007 Cooperativa 10,7% Associação 29,3% Grupo informal 60,0% FONTE: MTE/SENAES/SIES Encontrados em menor número foram os empreendimentos organizados na forma de sociedade mercantil em nome coletivo (três EES); sociedade mercantil por cotas de responsabilidade limitada (um EES); e outra forma de organização, não enquadrada nos casos já explicitados (um EES). Entre as alternativas previstas para levantamento do modo de organização, há a sociedade mercantil de capital e indústria, que se caracteriza como entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, de natureza mercantil, formada por dois tipos de sócios: o sócio capitalista, que entra com os recursos para a formação do capital, e os sócios de indústria, que contribuem apenas com o trabalho. No caso paranaense, não foi encontrado nenhum empreendimento com essas características. Verifica-se que o processo de criação de empreendimentos econômicos solidários é relativamente recente no Paraná: dos 808 empreendimentos cadastrados, cerca de 506 tiveram início após 2001; outros 244 iniciaram suas atividades entre 1991 e 2000, e os demais são anteriores a 1990. No momento da entrevista, 706 EES estavam em funcionamento, e 106 se encontravam em situação de implantação. Cabe observar o grande apoio dado pelo Governo Federal a estas atividades econômicas com gestão solidária, especialmente após 2003, situação evidenciada pelo levantamento de campo. A questão sobre a motivação para a criação do empreendimento teve três alternativas como respostas mais freqüentes desemprego, fonte complementar de renda e expectativa de obtenção de maiores ganhos pelo empreendimento associativo. É preciso destacar que as

6 características encontradas empreendimentos recentes, informais e criados como alternativa para o desemprego podem apontar situação de fragilidade e refletem a dificuldade de inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho. Devido à necessidade de sobrevivência familiar, o vínculo de uma relação formal de emprego faz parte do ideal de parcela significativa das pessoas economicamente ativas, que podem abandonar o empreendimento solidário ao obter colocação em posto de trabalho. 2.2 ÁREA DE ATUAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS Quanto à área de atuação, os empreendimentos foram classificados como rurais, caso a atividade econômica se restringisse à área rural; e como urbanos, se a atividade econômica fosse desenvolvida exclusivamente na área urbana ou na sede do município. A alternativa mista (rural e urbana) foi prevista para situações em que o empreendimento apresentasse atuação na área rural conjuntamente com atividades nas áreas urbanas, como é o caso do beneficiamento de produtos de origem animal ou vegetal. Como exemplos dessa alternativa, têm-se os empreendimentos cuja produção ocorre em estabelecimentos agropecuários, porém a unidade de beneficiamento localiza-se na sede do município ou no distrito municipal. A parcela mais expressiva dos empreendimentos cadastrados tem atuação na área urbana (379 EES), e os demais, na área rural (264 EES). Verificou-se também um número significativo de empreendimentos nas áreas urbana e rural (163 EES) gráfico 2. GRÁFICO 2 - ÁREA DE ATUAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS - PARANÁ - 2007 Rural e urbana 20,2% Rural 32,8% Urbana 47,0% FONTE: MTE/SENAES/SIES Essa informação é relevante para a proposição de políticas públicas, uma vez que a operacionalização destas está diretamente ligada à origem dos recursos públicos para políticas setoriais. É oportuno lembrar que as ações municipais de apoio ao desenvolvimento econômico em geral contam com apoio financeiro do orçamento da União, e embora a fonte federal não seja a única geradora de recursos, constitui ainda hoje uma importante financiadora do desenvolvimento econômico e social. Como exemplo, pode-se citar a capacitação de trabalhadores envolvidos em atividades econômicas na área urbana, que podem acessar recursos de geração de renda do Ministério do Trabalho e Emprego. Em contrapartida, os trabalhadores envolvidos com atividades rurais teriam mais chance de acessar recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

7 2.3 ATIVIDADES ECONÔMICAS NOS EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS Quanto à tipificação e ao dimensionamento da atividade econômica dos empreendimentos solidários, as questões do formulário foram compostas a fim de identificar até três atividades econômicas principais, que deveriam ser descritas sumariamente. Por ocasião da digitação da atividade no sistema informatizado, utilizou-se a codificação da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), importante instrumento de análise dos registros administrativos e fiscais, muito utilizada nos estudos sobre mercado de trabalho. A CNAE permite a desagregação das atividades econômicas em seção, divisão, grupo, classe e subclasse; este último nível hierárquico é o mais específico, podendo surgir divergência em relação às informações do SIES, dependendo da versão CNAE adotada. No caso específico dos empreendimentos econômicos solidários observados no Paraná, as atividades econômicas mais freqüentes inserem-se na seção D - Indústria de Transformação (495 EES) e na seção A Agricultura, Pecuária, Silvicultura e Exploração Florestal (139 EES). Com os dados apresentados, pode-se observar a importância que a indústria de transformação representa para as atividades da economia solidária, uma vez que nela se inserem cerca de 62,3% dos empreendimentos descritos nos levantamentos de 2005 e 2007. As atividades econômicas mais freqüentes dessa indústria nos empreendimentos paranaenses referem-se à fabricação de artefatos e artigos têxteis (artefatos a partir de tecidos, exceto vestuário, cordoaria e tapeçaria); confecção de artigos do vestuário (peças do vestuário e roupas íntimas, blusas, camisas e semelhantes); fabricação de produtos alimentícios (padaria, confeitaria e pastelaria; massas alimentícias; beneficiamento, moagem e preparação de produtos de origem vegetal); fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado exceto móveis. Outras atividades identificadas são relativas ao comércio atacadista, ao crédito cooperativo e à reciclagem de sucatas não-metálicas e ao comércio atacadista de resíduos e sucatas, nas quais estão envolvidos os demais empreendimentos cadastrados. É possível afirmar, portanto, que a economia solidária reflete uma situação já verificada no mercado de trabalho paranaense, no qual se destaca o número de empregos gerados pela indústria de transformação. Segundo dados do MTE-RAIS e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o emprego gerado por essa indústria cresceu 85,2% no Paraná, passando de 300.241 postos de trabalho em 1995 para 556.178 em 2007 3. Tais informações podem servir para orientar políticas públicas de qualificação dos trabalhadores envolvidos nessas atividades econômicas (gráfico 3). 3 IPARDES. O emprego formal na indústria de transformação paranaense segundo a intensidade tecnológica 1995 a 2007. Curitiba, 2008. (Nota técnica, fev. 2008). Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/nota_tecnica_eron.pdf>. Acesso em: ago. 2008.

8 GRÁFICO 3 - ATIVIDADES PRINCIPAIS DOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS NO PARANÁ - 2007 Atividade Econômica Fabricação de artefatos têxteis Fabricação de alimentos Fabricação de prod. de madeira Comércio atacadista Confecção de vestuário Laticínio Cooperativismo de crédito Benef. de produto 0 50 100 150 200 Número de Empreendimentos FONTE: MTE/SENAES/SIES CONSIDERAÇÕES FINAIS O Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES) pode constituir fonte de informações de grande utilidade para a proposição de políticas públicas com vistas ao desenvolvimento econômico com inclusão social, pois permite evidenciar as características dos empreendimentos econômicos solidários em nível nacional e também de forma desagregada por Unidade da Federação e municípios. Analisaram-se nesta nota técnica algumas variáveis, o que possibilitou caracterizar e localizar os empreendimentos econômicos solidários no Paraná. Com base nos dados do mapeamento da economia solidária, é possível observar que, no Paraná, há ainda um longo caminho a percorrer no que se refere à consolidação dos empreendimentos econômicos solidários. Tal afirmativa se fundamenta na forma de organização desses empreendimentos, que revela um número expressivo de empreendimentos sem registro formal, criados como alternativa para o desemprego e em período recente. Refletem, portanto, a dificuldade de parcela da população economicamente ativa, em participar do mercado de trabalho formal. Os dados do mapeamento também dão pistas sobre o caminho a percorrer na capacitação dos trabalhadores para alcançar o ideal, ainda distante, de vencer o individualismo e as formas pouco solidárias do desenvolvimento capitalista. As habilitações necessárias para desenvolver atividades econômicas em empreendimentos econômicos solidários estão predominantemente inseridas na indústria de transformação e na agropecuária, que são setores econômicos paranaenses importantes em termos de geração de emprego e renda. Por fim, verifica-se que os empreendimentos econômicos solidários, em sua grande maioria, fazem parte da história recente da economia paranaense. É preciso levar em conta que a difusão do conceito de economia solidária é um processo lento. Os resultados não surgem de imediato, sendo por vezes necessário um longo período de maturação dos empreendimentos. No caso paranaense, os empreendimentos configuram um modo de produção que pressupõe empenho e abertura para a gestão solidária, porém estão associados, ainda, a certa fragilidade de inserção dos seus participantes no mercado de trabalho.