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Transcrição:

Introdução Delirium Ferraz Gonçalves IX Congresso Nacional de Cuidados Paliativos 8º Congresso de Cuidados Paliativos do IPO-Porto 2018 É reversível mesmo em doentes com doenças avançadas; contudo, pode não ser reversível nas últimas horas ou dias de vida. provavelmente porque nas últimas horas de vida estão em curso processos irreversíveis, como falência múltipla de orgãos. O delirium que ocorre nos últimos dias é referido como inquietação ou agitação terminal. O aparecimento de delirium é, em geral, um sinal de mau prognóstico O hipoactivo associa-se a uma mortalidade superior à do hiperactivo. Introdução É um problema extenso e grave nos hospitais de agudos. A insuficiência cognitiva é muito frequente nos doentes com doenças avançadas. É um marcador de vulnerabilidade e está associado a resultados adversos em vários contextos. Representa uma descompensação da função em resposta a um ou mais stressors fisiológicos. Definição Provém do latim: de significa afastado de elira significa trilho, significando assim estar fora do trilho. Outros termos, entre os quais confusão, estado confusional agudo, demência aguda, síndrome orgânico agudo e encefalopatia metabólica. A definição de delirium tem evoluído ao longo do tempo, reflectindo a evolução na sua compreensão. Introdução É uma causa importante de sofrimento para os doentes e famílias e perturbador para os profissionais de saúde e para os outros doentes e visitantes, quando os doentes estão internados. Ocorre em 25% a 40% dos doentes com cancro e em 28% a 83% dos doentes próximos da morte. É um factor de risco para um controlo deficiente de sintomas como a dor. Mas, por outro lado a agitação pode ser interpretada como sinal de dor não controlada e tratada com opióides o que, se não for certo, pode levar è exacerbação do delirium. A. Perturbação da atenção (i.e., capacidade reduzida de dirigir, focar, manter ou mudar a atenção) e do conhecimento (orientação reduzida para o ambiente).

B. O distúrbio desenvolve-se num período curto de tempo (geralmente horas a alguns dias), representa uma alteração aguda da atenção e conhecimento de base e tende a flutuar em gravidade durante o dia. E. Há evidência da história, exame físico ou dados laboratoriais de que o distúrbio é uma consequência fisiológica directa de outra condição médica, intoxicação ou privação de uma substância (i.e., devido a uma droga ou medicação), exposição a uma toxina ou é causada por etiologias múltiplas. Sintomas associados C. Distúrbio adicional na cognição (ex., défice de memória, desorientação, linguagem, capacidade vísuo-espacial ou percepção). Alterações do ciclo sono-vigília Alterações do comportamento psicomotor Hiperactividade Hipoactividade Alterações emocionais Euforia Ansiedade Depressão Medo Apatia Distribuição dos episódios de agitação D. Os distúrbios dos critérios A e C não são melhor explicados por uma doença neurocognitiva préexistente, estabelecida ou em evolução e não no contexto de um nível gravemente reduzido do despertar, como no coma.

Fisiopatologia Importância do seu reconhecimento Não é completamente conhecida. Provavelmente está envolvida a formação reticular com as suas conecções com o hipotálamo, o tálamo e efeitos difusos no córtice. Entre os neurotransmissores importantes para a consciência e a vigília a acetilcolina parace ter um papel central na patogénese do delirium. É geralmente reversível mesmo nas doenças avançadas, excepto nas últimas horas ou dias. Assim todos os fármacos ou tóxicos que afectem os neurónios colinérgicos do SNC podem causar delirium. Dificuldade de reconhecimento Em 32% a 67% dos doentes com delirium, este não é reconhecido pelos médicos. Rastreio/Diagnóstico Instrumentos que medem alterações cognitivas MEEM Instrumentos diagnósticos de delirium MAC Escalas numéricas de delirium MDAS Barreiras ao reconhecimento do delirium Não reconhecimento da sua importância clínica. Pode ser a única manifestação de uma patologia como uma pneumonia ou sépsis, sobretudo nos doentes idosos. Espera-se que um doente com delirium esteja agitado, mas muitas vezes este é hipoactivo. O seu curso flutuante. Mini-exame do estado mental Pontuação Pontuação Máxima do Doente 5 Orientação (1 ponto por cada Qual é a data de hoje (dia da semana, dia do mês, resposta mês, ano, estação)? correcta) 5 Onde estamos (distrito, concelho, cidade, hospital, (idem) piso)? Registo Nomear 3 objectos (maça, mesa, moeda), 3 demorando 1 segundo para cada. (idem) Depois pedir ao doente para os repetir todos. Depois repetí-los até o doente os aprender (máximo 6 vezes). Contar as tentativas e registá-las Atenção e cálculo Séries de 7 (subtrair 7 cinco vezes a partir de 100). 5 Fazer o mesmo com séries de 3. Se houver recusa, pedir-lhe para escrever mundo ao contrário. Recordação 3 Perguntar ao doente o nome dos 3 objectos citados acima Linguagem e Praxis 2 Apontar para um lápis e um relógio e pedir ao doente para os nomear Pedir ao doente para: 1 Repetir o seguinte: não há mas, nem meio mas Seguir um comando de 3 passos: pegar num papel com a 3 mão direita, dobrá-lo em 2 e pô-lo nos joelhos. 1 Ler e cumprir o sinal seguinte: Feche os olhos. 1 Escrever uma frase. 1 Copiar este desenho 30 Pontuação máxima Pontuação do doente

Método de avaliação da confusão - algoritmo 1. Inicio agudo e curso flutuante Há evidência de uma alteração aguda do estado mental do doente O comportamento anormal flutua ao longo do dia (estas informações obtêm-se geralmente de um membro da família ou de outra pessoa) 2. Inatenção O doente tem dificuldade em manter a atenção 3. Pensamento desorganizado O doente tem pensamento desorganizado ou incoerente, tal como conversação irrelevante ou desconexa, fluxo de ideias pouco claro ou ilógico ou muda imprevisivelmente de assunto para assunto. 4. Alteração do nível de consciência Globalmente o nível de consciência poderia classificar-se como: alerta (normal), vigilante (hiperalerta), letárgico (sonolento, acorda facilmente), estupor (acorda dificilmente), coma (não acorda). A agitação e a confusão podem ocorrer sem as alterações cognitivas difusas e o embotamento da conciência: acatísia induzida por neuroléticos, a ataques de pânico, ou a mania. O diagnóstico de delirium requer a presença de 1 e 2 e de 3 ou 4 O delirium e a demência têm aspectos clínicos comuns como alterações da memória, do pensamento, do julgamento e desorientação. Na demência há pouco ou nenhum embotamento da consciência até à fase terminal. A demência tem um curso subagudo ou crónico, O delirium é agudo. Na demência são mais proeminentes as dificuldades na memória de curto e longo prazo, alterações de julgamento e pensamento abstracto, e das funções corticais superiores (como afasia e apraxia). Ocasionalmente, o delirium sobrepõe-se numa demência o que torna o diagnóstico particularmente difícil. Os sintomas iniciais de delirium podem ser confundidos com: ansiedade, depressão psicose. O delirium hipoactivo pode ser confundido com depressão; As alucinações podem ser serem atribuídas a esquizofrenia: embora seja muito improvável que esta se apresente depois dos 40 anos. Causas de delirium Quando ocorre actividade epiléptica com pouca ou nenhuma actividade motora, a apresentação clínica pode simular delirium. Condição médica geral Induzido por uma substância Abstinência de substância Múltiplas etiologias Delirium sem outra especificação

Causas médicas de delirium Infecção Metástases cerebrais Encefalopatia hepática Insuficiência renal Hipercalcemia Hiponatremia Coagulação intravascular disseminada Hipoxemia Depleção de volume O principal objectivo é detectar uma causa potencialmente reversível. Mas, nos doentes com cancro avançado, a maioria das vezes a etiologia é multifactorial: por vezes, quando se descobre uma causa possível a situação clínica não se altera com a sua correcção. Nos doentes com cancro avançado na fase final descobre-se uma causa em menos de 50% dos doentes com delirium, embora em fases menos avançadas se possa fazer numa percentagem maior de casos. Fármacos comuns em CP Opióides Corticosteróides Metoclopramida Benzodiazepinas Hidroxizina AINEs Bloqueadores-H2 Antidepressivos tricíclicos Escopolamina O delirium hiperactivo caracteriza-se por alucinações, ilusões, agitação e desorientação Associa-se, por exemplo, a síndromes de abstinência (benzodiazepinas, álcool), a anticolinérgicos (hot as a hare, red as a beet, dry as a bone, blind as a bat and mad as a hatter) ou retenção urinária. Abstinência de substâncias Opióides Álcool Benzodiazepinas Antidepressivos tricíclicos Inibidores da recaptação da serotonina Gabapentina Delirium hipoactivo com letargia e estado hipoalerta, caracteriza-se por sonolência, confusão, afastamento, lentificação Associa-se, por exemplo, a encefalopatias (hepática, metabólicas), intoxicação por sedativos (ex. benzodiazepinas) ou hipoxia.

História e exame físico: tentar estabelecer o curso da alteração do estado mental, e a sua relação com possíveis factores precipitantes como alterações da medicação, sinais de infecção aguda, sinais de abdomen agudo e exame neurológico cuidadoso. Excluir retenção urinária ou de fezes, principalmente se o delirium teve início muito recentemente Rever a medicação que o doente realiza Estudo analítico dirigido: hemograma, electrólitos, ureia,creatinina, glicose, cálcio, fósforo, enzimas hepáticas Pesquiza de infecções, nomeadamente ocultas: análise de urina, Rx tórax, culturas seleccionadas A falência cognitiva é muito frequente nos últimos dias de vida. É provavelmente uma ocorrência normal, como a astenia e a anorexia, reflectindo a falência multiorgânica. Mas a agitação é uma questão diferente e pode não ser uma parte natural do processo. Considerar ainda em alguns doentes: Análises: Magnésio, função da tireóide, vitamina B12, níveis de fármacos, rastreio toxicológico, amónia. Gases do sangue: em doentes com dispneia, taquipneia, processo pulmonar agudo ou história de doença pulmonar significativa Electrocardiograma: em doentes com dor torácica, dispneia ou história de doença cardíaca Punção lombar: em doentes febris com sinais de meningite TAC ou RM: nosdoentescomsinaisfocaisnovosouhistóriaousinaisdetraumatismo craniano Electroencefalograma: para o diagnóstico de convulsões ocultas e para diferenciar delirium de doenças psiquiátricas funcionais Como muitas vezes não sabemos o que se está a passer chamamos-lhe inquietação terminal, agitação terminal ou termo semelhante, como se fosse um diagnóstico. Existe esta entidade? Mas é uma entidade clínica? É um diagnóstico? Ou é a manifestação de várias causas possíveis?

Mesmo que seja um diagnóstico só pode ser feito com segurança a posteriori, porque só a morte o pode confirmar. Mas mesmo assim o diagnóstico pode ser duvidoso porque a causa do delirium (ex. pneumonia) pode ser também a causa da morte. Mas qual é o problema se a única forma de actuar com razoabilidade é a sedação? O problema é que ao aceitá-la como uma entidade clínica, um assunto indiscutível não faremos progressos na sua investigação, nas formas de actuar sobre as suas causas ou de a prevenir. Deixar a situação evoluir pode ser apropriado ou não Claro que num doente que conhecemos bem, obviamente nos seus últimos dia de vida, não é apropriado fazer uma avaliação compreensiva e sedação pode ser a melhor acção. Seria talvez mais apropriado designar esta situação como delirium, inquietação na fase terminal e não delirium ou inquietação terminal. Mas isto não a transforma numa entidade clínica Quantos casos são induzidos por: Mau controlo de sintomas Retenção urinária Toxicidade farmacológica Privação quando a deglutição está comprometida necessitando de interrupção de fármacos Dificuldade de comunicação quendo a oportunidade de expressar pensamentos e sentimentos ou despedir-se se perdeu. www.medicinapaliativa.pt ferrazg@netcabo.pt