Inibição in vitro de fungos toxigênicos por Pichia sp. e Debaryomyces sp. isoladas de frutos de café (Coffea arabica)

Documentos relacionados
EFEITO DA CAFEÍNA SOBRE O CRESCIMENTO MICELIAL DE FUNGOS ASSOCIADOS AO CAFÉ E PRODUÇÃO DE TOXINAS

Biocontrole in vitro de bolores deteriorantes por toxina killer de levedura antagonista

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

INFLUÊNCIA DE Bacillus spp. ISOLADOS DA REGIÃO AMAZÔNICA SOBRE O CRESCIMENTO DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E PRODUÇÃO DE OCRATOXINA A

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

EFEITO DA CAFEÍNA E DO ÁCIDO CAFEICO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE FUNGOS E SÍNTESE DE MICOTOXINAS EM CAFÉ (Coffea arabica L.)

EFEITO DO CONTATO DOS FRUTOS DO CAFEEIRO COM O SOLO DA LAVOURA EM SUA QUALIDADE FINAL

ANTAGONISMO IN VITRO DE BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS CONTRA FUNGOS ASSOCIADOS À DOENÇAS DE TRONCO DE VIDEIRA

BIODIVERSIDADE DAS ESPÉCIES TOXIGÊNICAS DE ASPERGILLUS NO BRASIL: OCORRÊNCIA, TAXONOMIA POLIFÁSICA E DISTRIBUIÇÃO

Contaminantes microbianos do cacau: aspectos de saúde pública do cacaueiro até o chocolate

EFEITO DE DIFERENTES MEIOS DE CULTURA E DA LUZ NO CRESCIMENTO E NA ESPORULAÇÃO DE Verticillium lecanii 1

Bolsista PIBIC FAPEMIG/EPAMIG - EcoCentro, Lavras, MG,

AVALIAÇÃO DE FONTES DE CARBONO PARA A PRODUÇÃO DE INIBIDOR DE CRESCIMENTO DE Aspergillus fumigatus USP2 por Corynebacterium sp.

Bolsista CNPq: Graduação em Eng. Agronômica, UFSCar, Araras-SP,

ATIVIDADE ANTAGONISTA DE BACTÉRIAS LÁCTICAS DE LEITES FERMENTADOS COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA, MG

Luís Abrunhosa, Thalita Calado e Armando Venâncio

QUANTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS EM AMOSTRAS DE QUEIJOS COLONIAIS PRODUZIDOS PELA AGOINDUSTRIA FAMILIAR DA REGIÃO DE TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

MONITORAMENTO DE FUNGOS POTENCIALMENTE TOXIGÊNICOS EM CAFÉS COM PERMANÊNCIA PROLONGADA NA PLANTA E EM CONTATO COM SOLO.

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

Efeito fungicida da própolis sobre o Pythium sp. na cultura do manjericão (Ocimum basilicum L.)

Crescimento micelial de Agaricus blazei em diferentes substratos

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE AERAÇÃO DO PRÉ- INÓCULO UTILIZADO NO CULTIVO DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) EM MEIO LÍQUIDO

FÁBIO COELHO SAMPAIO. CONVERSÃO DE XILOSE EM XILITOL POR Debaryomyces hansenii UFV-170 EM MEIO SEMI-SINTÉTICO

Universidade Federal do Espírito Santo SEAGRO: ANAIS DA SEMANA ACADÊMICA DO CURSO DE AGRONOMIA DO CCAE/UFES

Boletim de Pesquisa 186 e Desenvolvimento ISSN Dezembro, 2007

CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE ALGODÃO COLORIDO. RESUMO

Um admirável mundo novo biotecnológico moldado pela bioinformática. Diego Bonatto Congresso Rede SulBiotec 2018 Canela - RS Agosto de 2018

PRODUÇÃO DA ENZIMA PROTEASE POR FUNGOS ENDOFÍTICOS ISOLADOS DA PLANTA MEDICINAL Piper hispidum Sw

TÍTULO: APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE MICROBIOLOGIA PREDITIVA EM PATÊ DE PEITO DE PERU PARA BACTÉRIAS LÁTICAS

Produção de Mudas de Pepino e Tomate Utilizando Diferentes Doses de Adubo Foliar Bioplus.

Efeito da palha, da umidade e da esterilização do solo na produção de esclerócios de Sclerotium ro!fsü Sacc.

LEVANTAMENTO DA CURVA DE CRESCIMENTO DA BACTÉRIA M. PHLEI PARA OBTENÇÃO DE BIOMASSA EM ENSAIOS DE SEPARAÇÃO SÓLIDO-LÍQUIDO

Técnicas Microbiológicas

EFEITO DE DIFERENTES FORMAS DE PREPARO DO INÓCULO E DE CONCENTRAÇÕES DOS NUTRIENTES NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae UFPEDA 1238

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE FUNGISTÁTICA DE BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS OBTIDAS DE PLANTAS DE ARROZ CULTIVADAS NO ESTADO DO TOCANTINS

Larissa Compri 1, Ligiane Aparecida Florentino 2, Rosane Micaela Veiga 3, Adriano Bortolotti da Silva 4, José Messias Miranda 5

Eficiência do gás ozônio na desinfecção microbiológica de grãos de milho armazenado 1

Instituto Federal de Sergipe, Curso Técnico de Petróleo e Gás 2

SEMINÁRIO ARMAZENAMENTO E PREPARO DE GRÃOS PALESTRA: MICOTOXINAS

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

REAÇÃO À BRUSONE DE GENÓTIPOS DE TRIGO NO ESTÁDIO DE PLÂNTULA

Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Microbiologia DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS GÊNEROS FÚNGICOS NAS FARINHAS DE MANDIOCA COMERCIALIZADAS NOS PRINCIPAIS MERCADOS DE MANAUS

QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DE MAMONA, CULTIVARES NORDESTINA E PARAGUAÇU.

EXTRATOS ORGÂNICOS DE PLANTAS NATIVAS DO CERRADO DOS GÊNEROS

ARYÁDINA MARA RIBEIRO DE SOUZA

INFLUÊNCIA DO PERÓXIDO DE HIDROGÉNIO NA ACTIVIDADE INIBITÓRIA DO MEL CONTRA LEVEDURAS PATOGÉNICAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

Fatores que influenciam no crescimento. microbiano

Influência do pré-processamento do café em coco no desenvolvimento de sua flora microbiana

ESTUDO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO EXTRATO DE FOLHAS DE LOURO (LAURUS NOBILIS L) EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE TOXINFECÇÃO ALIMENTAR

Potencial antagônico de Trichoderma sp Contra Fungos Fitopatogênicos no Sul do Estado do Tocantins

QUANTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA MICROBIOTA DA SUPERFÍCIE DE FRUTOS DE CAFÉ (Coffea arabica L.) EM VIÇOSA, MG DURANTE A SAFRA DE

Efeitos da Temperatura de Secagem e do Tempo de Armazenamento na Composição Química de Sorgo Granífero

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

NOTAS CIENTÍFICAS REQUISITOS NUTRICIONAIS PARA O FUNGO ALTERNARIA ALTERNATA 1

Meios de cultura bacteriano

BRUNO MEIRELES XAVIER

QUALIDADE DE SEMENTES DE ALGODOEIRO, CULTIVARES BRS VERDE E CNPA 7H, ARMAZENADAS EM CÂMARA SECA

SELEÇÃO DE BACTÉRIAS ANTAGONISTAS COM POTENCIAL PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE PATÓGENOS HABITANTES DO SOLO.

Maria Eugênia Silveira da Rosa 1 ; Sheila Mello da Silveira 2 INTRODUÇÃO

USO DE TRICHODERMA ASPERELLUM NA PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO DE PLÂNTULAS DE ALFACE (Lactuca sativa L.)

METABOLISMO DOS FUNGOS

Desafios da produção e comercialização de entomopatógenos para o controle de pragas no Brasil

Avaliação in vitro do antagonismo de Bacillus spp. a Fusarium oxysporum f.sp. lycopercisi.

TRATAMENTO HIDROTÉRMICO POR ASPERSÃO COM ESCOVAÇÃO NO CONTROLE DE DOENÇAS PÓS-COLHEITA DE MANGA.

Prof Luís Roberto Batista - UFLA

AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO DE Cattleya loddigesii Lindley SOB DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE ÁGUA SANITÁRIA COMERCIAL NA DESINFECÇÃO DE SEMENTES RESUMO

EFEITO DA APLICAÇÃO EXÓGENA DE CELULASE NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CAFEEIRO (Coffea arabica L.)

Seleção de linhagens industriais de Saccharomyces cerevisiae para produção de ácidos orgânicos

INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS FERMENTATIVOS. Professora: Erika Liz

Potencial do uso de entomopatógenos no controle de pragas da soja e seletividade de agrotóxicos para fungos entomopatogênicos

Meios de cultura alternativos para a produção de biopesticida à base de Bacillus thuringiensis, para o controle da Spodoptera frugiperda

GERMINAÇÃO DE GRÃO DE PÓLEN DE TRÊS VARIEDADES DE CITROS EM DIFERENTES PERÍODOS DE TEMPO E EMISSÃO DO TUBO POLÍNICO RESUMO

Biodegradação de ochratoxina A por Pediococcus parvulus. Luís Abrunhosa

Avaliação de Pochonia chlamydosporia associado ou não com resíduo de uva no manejo da Rizoctoniose

Prospecção de comunidade bacteriana para biocontrole de Colletotrichum sublienolum, agente causal da antracnose do sorgo

EFICIÊNCIA DE ESPÉCIES DE LEVEDURAS NO CONTROLE DE DOENÇAS PÓS-COLHEITA DE MANGA Nº 15401

Antagonismo in vivo de fungos do filoplano de plantas de arroz à Magnaporthe oryzae.

SELEÇÃO IN VITRO DE ISOLADOS DE Trichoderma spp. COM POTENCIAL DE ANTAGONISMO A ISOLADOS PATOGÊNICOS DE Fusarium spp. 1

o tratamento de sementes constitui uma das maneiras mais

Patogenicidade de Beauveria bassiana no controle in vitro da lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea)

REGIANE GONÇALVES FEITOSA LEAL NUNES. ATIVIDADE BIOLÓGICA DE Lentinula edodes E PRODUÇÃO DE SHIITAKE EM SUBSTRATO ENRIQUECIDO COM SELÊNIO

PRODUTIVIDADE DE CAFÉ ARÁBICA EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO MINERAL E ORGÂNICA EM CONSÓRCIO COM CALOPOGÔNIO.

ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE MICRO-ORGANISMOS A PARTIR DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE LIXO ORGÂNICO DOMÉSTICO RESUMO

Comparação da atividade microbiana entre Nuosept 91 e biocidas à base de BIT (Benzoisotiazolinona), em aplicações de slurries e emulsões

em função da umidade e rotação de colheita

J. LÚCIO DE AZEVEDO e RAHME NELLY NEDER* Escola Superior de Agricultura «Luiz de Queiroz»

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE MILHOS BRANCO E AMARELO PARA PRODUÇÃO DE RAÇÃO ANIMAL

6º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC a 15 de agosto de 2012 Jaguariúna, SP

A IMPORTÂNCIA DAS OPERAÇÕES DE PÓS-COLHEITA NA OCORRÊNCIA DE FUNGOS PRODUTORES DE OTA E NA QUALIDADE DO CAFÉ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR PALOTINA MESTRADO - BIOENERGIA BIOETANOL

ADUBAÇÃO BIOLÓGICA MIRCROGEO EM DIFERENTES VARIEDADES DE SOLANACEAES MIRCROGEO BIOLOGICAL FERTILIZATION IN DIFFERENT VARIETIES OF SOLANACEAE

PROCESSOS FERMENTATIVOS

Avaliação de óleos essenciais e controle com fungicidas no crescimento micelial e produção de escleródios em cultivo de Sclerotínia sclerotiorum

Rendimento das cultivares de cenoura Alvorada e Nantes Forto cultivadas sob diferentes espaçamentos

Teores de ocratoxinas em milho armazenado com palha na região Central de Minas Gerais

ULISSES NUNES DA ROCHA TRANSPORTE ELETROCINÉTICO E DINÂMICA DOS EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO SOBRE A SUPERFÍCIE CELULAR E ADESÃO DE BACTÉRIAS

Efeitos do Processamento para Redução de Micotoxinas na Produção de Ração

PRODUÇÃO DE CELULASE E XILANASE POR LEVEDURAS ISOLADAS DE FRUTOS DE PALMEIRAS

Transcrição:

DOI: 10.4025/actasciagron.v32i3.3361 Inibição in vitro de fungos toxigênicos por Pichia sp. e Debaryomyces sp. isoladas de frutos de café (Coffea arabica) Darlê Martins Barros Ramos 1, Cristina Ferreira Silva 2*, Luís Roberto Batista 3 e Rosane Freitas Schwan 2 1 Faculdades Unidas do Norte de Minas, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. 2 Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, Cx Postal 3037, 37200-000, Lavras, Minas Gerais, Brasil. 3 Departamento de Ciência dos Alimentos, Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: cristinafsb@dbi.ufla.br Introdução RESUMO. O café é um produto nacional com grande expressão para a economia brasileira. O uso excessivo de fungicidas tem levado a pesquisas sobre formas alternativas como o controle biológico. Objetivou-se avaliar o potencial antagônico de leveduras em co-cultivo com fungos filamentosos. Isolados das espécies Debaryomyces hansenii (UFLACF 889 e UFLACF 847) e Pichia anomala (UFLACF 710 e UFLACF 951) foram inoculados (10 3 a 10 6 células ml -1 ) com três espécies de fungos filamentosos, Aspergillus ochraceus, A. parasiticus e Penicillium roqueforti (10 3 a 10 6 esporos ml -1 ). A avaliação do crescimento micelial e a contagem de esporos foram realizadas durante 21 dias. Observou-se que o isolado UFLACF 889 apresentou, em média, maior efeito inibitório na produção de esporos de A. ochraceus (inibição de 82%) e P. roqueforti (74%). O isolado UFLACF 710 inibiu a produção de esporos, em média, 60 e 75,6% de A. ochraceus e P. roqueforti, respectivamente. A. parasiticus foi o fungo mais resistente à inibição pelas leveduras. O crescimento micelial não foi inibido pela presença da levedura em co-cultivo. Portanto, pode-se concluir que leveduras em cultivo pareado com fungos filamentosos são capazes de inibir a produção de esporos e, potencialmente, diminuir a disseminação destes fungos no processamento de café. Palavras-chave: leveduras, fungos filamentosos, biocontrole, café, Debaryomyces, Pichia. ABSTRACT. In vitro inhibition of toxigenic filamentous fungi by Pichia sp. and Debaryomyces sp. isolates from coffee (Coffea arabica) fruits. Coffee is a national product with great importance for the Brazilian economy. The excessive use of pesticides led to research for alternative forms, such as biological control. The objective of this work was to assess the potential antagonistic effect of yeast in dualculture with filamentous fungi. Isolates of Debaryomyces hansenii (UFLACF 889 and UFLACF 847) and Pichia anomala (UFLACF 710 and UFLACF 951) species were inoculated (10 3 to 10 6 células ml -1 ) with three species of filamentous fungi, Aspergillus ochraceus, A. parasiticus and Penicillium roqueforti (10 3 to 10 6 spores ml -1 ). The assessment of mycelial growth and counting of spores was done for 21 days. It was observed that the isolated UFLA CF 889 attained, on average, the greatest inhibitory effect on the spore production of A. ochraceus (inhibition of 82%) and P. roqueforti (74%). The isolated UFLA CF 710 inhibited the spore production, on average, 60 and 75.6% of A. ochraceus and P. roqueforti, respectively. The fungus A. parasiticus was the most resistant to inhibition by yeasts. The mycelial growth was not inhibited by the presence of yeast in dual-culture. It could be concluded that yeast in dual-cultiure with filamentous fungi were able to inhibit the production of spores and potentially reduce the spread of this fungus during coffee processing. Key words: yeasts, filamentous fungi, biocontrol, coffee, Debaryomyces, Pichia. A cafeicultura é uma importante atividade agrícola para o Brasil, e o Estado de Minas Gerais produz aproximadamente 50% da produção nacional. Com menor expressão qualitativa atualmente no mercado mundial, porém ainda com volume de exportação significativo, a comercialização do café brasileiro tem sofrido algumas restrições de compra nos mercados importadores. Um dos fatores que determina o preço do café é a qualidade. A qualidade do café envolve aspectos sensoriais e sanitários. Neste aspecto, a ausência de fungos filamentosos potencialmente toxigênicos e de micotoxinas nos grãos de café é condição prioritária para que o café brasileiro assuma o primeiro lugar nas exportações desta commodity.

398 Ramos et al. O controle biológico microbiano pode ser utilizado principalmente em culturas perenes, como a cultura do café, tendo como princípio a competição microbiana (TIMMS-WILSON et al., 2004). As leveduras apresentam características que as tornam promissoras para utilização como agentes de biocontrole, tais como: i) não produzem esporos alergênicos e não produzem toxinas como fazem os fungos filamentosos; ii) não sintetizam antibióticos como as bactérias (DROBY; CHALUTZ, 1994); iii) exigem nutrientes simples, podendo, inclusive, ser utilizados resíduos de indústrias como fonte de carbono (FREDLUND et al., 2002); e iv) não apresentam riscos ao consumidor (PASSOTH et al., 2006). A ação antagônica que algumas espécies de leveduras exercem sobre o desenvolvimento de fungos filamentosos tem sido explorada por alguns autores, especialmente para utilização em grãos armazenados (MASOUD; KALTOF, 2006; PETERSON; SCHNÜRER, 1998; PETERSSON et al., 1998). Petersson e Schnürer (1998) relataram a ação antagônica de Pichia anomala sobre o desenvolvimento de Penicillium roqueforti em centeio, trigo e cevada armazenados em condições inadequadas de umidade e observaram que a levedura foi capaz de inibir totalmente o crescimento do fungo a uma concentração celular de 5 x 10 4 UFC g -1. No Brasil, o processamento dos frutos de café é realizado quase que na sua totalidade pelo processamento seco, resultando nos cafés naturais. Neste processamento, os frutos de café podem sofrer contaminação fúngica na árvore, durante o processamento dos frutos e armazenamento dos grãos (BATISTA et al., 2003; SILVA et al., 2003). Fungos filamentosos da seção Flavi e do gênero Penicillium podem ser potencialmente toxigênicos e são frequentemente isolados de frutos e grãos de café (BATISTA et al., 2003; SILVA et al., 2000; TANIWAKI et al., 2003). Apesar de Batista et al. (2003) afirmarem que a presença do fungo potencialmente toxigênico não é indicativo de produção de toxinas, este risco deve ser evitado. Leveduras, além de fungos filamentosos, são microrganismos presentes naturalmente em frutos de café (SILVA et al., 2000). Este trabalho teve como objetivo a avaliação do grau de desenvolvimento de fungos potencialmente toxigênicos dos gêneros Aspergillus e Penicillium em cultivo pareado com Debaryomyces hansenii e Pichia anomala isolados de frutos e grãos de café processados via seca. Material e métodos Microrganismos As leveduras foram isoladas da superfície de frutos e grãos de café processados via seca (SILVA et al., 2000) e são pertencentes à coleção de microrganismos do Laboratório de Fisiologia e Genética de Microrganismos do Departamento de Biologia (UFLA). Foram utilizados quatro isolados de leveduras, sendo os isolados UFLACF 710 e UFLACF 951 pertencentes à espécie Pichia anomala e os isolados UFLACF 889 e UFLACF 847 da espécie Debaryomyces hansenii. As leveduras preservadas a -80 o C foram reativadas em meio MEA (Malt Extract Agar) contendo em g L -1 : extrato de malte 20, peptona bacteriológica 1, glicose 10 e ágar 20, ph 5,6. As culturas foram incubadas a 28ºC por 24h. Após este período, foi realizada suspensão de células a serem utilizados no teste in vitro. Os isolados de Aspergillus ochraceus, Aspergillus parasiticus e Penicillium roqueforti foram isolados a partir do plaqueamento direto dos grãos de café (BATISTA et al., 2003) e pertencem à coleção de microrganismos do Laboratório de Micologia e Micotoxinas do Departamento de Ciência dos Alimentos (UFLA). Os isolados de fungos filamentosos foram estocados em meio YEPG (g L -1 : extrato de levedura 10; peptona 20; glicose 20; ágar 15) e reativados em meio MEA, com inoculação pontual, no centro da placa, e incubados a 28ºC por cinco dias. Após este período, foi realizada suspensão de esporos a serem utilizados no teste in vitro. Ensaios in vitro Foi realizada uma suspensão de células de leveduras e ajustadas as concentrações a fim de se obter de 10 3 a 10 6 células ml -1. O mesmo procedimento foi realizado com os isolados de fungos filamentosos. As concentrações de células e de esporos dos fungos filamentosos foram obtidas a partir da contagem em Câmara de Neubauer. Cada concentração de células de leveduras foi testada com cada concentração de esporos; foram plaqueadas, em meio MEA, pontualmente, alíquotas de 100 L de cada concentração a ser testada, distantes 4 cm. Cada ensaio foi realizado em triplicata. A Tabela 1 apresenta a esquematização dos ensaios.

Inibição de fungos filamentosos por leveduras 399 Tabela 1. Esquema dos ensaios realizados para avaliar o efeito antagônico de duas espécies de leveduras sobre o desenvolvimento de fungos potencialmente toxigênicos com diferentes concentrações celulares. Fungos Leveduras D. hansenii (células ml -1 ) P. anomala (células ml -1 ) 10 3 10 4 10 5 10 6 10 3 10 4 10 5 10 6 A. parasiticus (esporos ml -1 ) 10 3 x x x x x x x x 10 4 x x x x x x 10 5 x x x x 10 6 x x x A. ochraceus (esporos ml -1 ) 103 x x x x x x x x 10 4 x x x x x x 10 5 x x x x 10 6 x x x P. roqueforti (esporos ml -1 ) 10 3 x x x x x x x x 10 4 x x x x x x 10 5 x x x x 10 6 x x x As placas inoculadas foram incubadas em B.O.D., a 28ºC, por até 21 dias. Cada isolado de fungo filamentoso foi inoculado em ponto no meio MEA, a partir da suspensão de esporos das concentrações testadas e mantidas nas mesmas condições de cultivo que os ensaios, porém sem a inoculação das leveduras. Estas placas foram consideradas como testemunhas. Avaliação do crescimento vegetativo Para avaliação do crescimento vegetativo micelial, foram realizadas medidas do diâmetro (cm) da colônia. Estas medidas foram realizadas aos sete, 14 e 21 dias após a inoculação, utilizando-se um paquímetro e considerando-se o diâmetro a partir do ponto de inoculação. Tukey (p < 0,05), por meio do software Statistica versão 6.0. Resultados e discussão Frutos e grãos são amplamente contaminados por fungos filamentosos e apresentam riscos à saúde humana. Quando se trata de fungos potencialmente toxigênicos, a contaminação do alimento deve ser evitada, uma vez que as toxinas podem apresentar efeitos carcinogênicos e teratogênicos (BATISTA et al., 2003; LA PENNA et al., 2004). As duas espécies de leveduras testadas quanto ao potencial efeito inibitório no desenvolvimento de fungos filamentosos apresentaram diferenças no grau de inibição da produção de esporos das diferentes espécies de fungos filamentosos (Tabela 2). Observa-se que há diferença no grau de inibição de cada isolado de levedura, em relação à espécie fúngica. Observou-se que as leveduras inibiram a esporulação, mas não causaram interferência no crescimento micelial (Figura 1). Os isolados de D. hansenii foram os mais efetivos, inibindo, em média, 32% da esporulação, enquanto os isolados de P. anomala inibiram a esporulação, em média, 27%. Microrganismos usados como agentes do controle biológico podem agir impedindo que estruturas ou mecanismos de virulência sejam desencadeados sem interferir no crescimento do microrganismo patogênico. Dong et al. (2004) relataram que a presença de Bacillus thuringiensis inibiu o desenvolvimento da virulência de Erwinia carotovara, mas não impediu seu crescimento na planta. Avaliação da produção de esporos A contagem de esporos foi realizada após 21 dias. Com o auxílio de um estilete, foram retirados três cortes de 7 mm da colônia do fungo, à distância de 2,5 cm da colônia da levedura, e três cortes da colônia fúngica em contato com a colônia leveduriforme. Estes cortes foram colocados em tubos de ensaio com 10 ml de água estéril + Tween 20 e agitados. Logo em seguida, foi feita a contagem de esporos em Câmara de Neubauer, sendo realizadas diluições quando necessárias. A porcentagem de inibição da produção de esporos pelos fungos testados foi obtida considerando como 100% de produção a contagem de esporos realizada na suspensão obtida sem contato com a colônia de levedura. Análise estatística Foram comparadas as médias de inibição da produção de esporos utilizando-se o teste de Tabela 2. Inibição (%) de Pichia anomala (UFLACF 710 e 951) e Debaryomyces hansenii (UFLACF 847 e 889) na produção de esporos de Aspergillus ochraceus, A. parasiticus e Penicillium roqueforti. P. anomala D. hansenii UFLACF 710 UFLACF 951 UFLACF 847 UFLACF 889 A. ochraceus 60,3 bb 31,3 ac - 82aA A. parasiticus 23,5 ca 29,6 aa 33 aa 31,6 ba P. roqueforti 75,6 aa 32 ab 28,6aB 74,1aA Médias seguidas de mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste detukey (p > 0,05). Médias seguidas de mesma letra maiúscula, na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p > 0,05). Os isolados que apresentaram melhor efeito antagônico foram os isolados UFLACF 889 (D. hansenii) e o isolado UFLACF 710 (P. anomala), que inibiram, em média, 82 e 60,3% da produção de esporos de A. ochraceus e 74,1 e 75,6% da produção de esporos de P. roqueforti, respectivamente. A. parasiticus foi o isolado fúngico que menos apresentou efeito inibitório das espécies antagonistas, apresentando, em média, decréscimo na produção de esporos de 29%.

400 Ramos et al. A C Figura 1. (A) Colônia de Penicillium roqueforti crescido em meio MEA, a 28ºC, por 21 dias. (B) Cultivo pareado de P. roqueforti com Debaryomyces hansenii (UFLACF 847). (C) Colônia de Aspergillus ochraceus. (D) Cultivo pareado de A. ochraceus com Pichia anomala (UFLACF 951) evidenciando a inibição da produção de esporos. O isolado UFLACF 889 inibiu até 98,4% da produção de esporos de A. ochraceus e 52,4% em A. parasiticus. O mesmo isolado leveduriforme foi capaz de inibir 85,3% da produção de esporos de P. roqueforti (Tabela 3). O isolado UFLACF 847 inibiu a produção de esporos em 52,6% em A. parasiticus (máxima inibição observada para este isolado fúngico) e 66,7% da produção de esporos de P. roqueforti. Tabela 3. Inibição (%) da produção de esporos de Aspergillus ochraceus e Penicillium roqueforti, com concentração de 10 3 a 10 6 esporos ml -1, em cultivo pareado com Debaryomyces hansenii (UFLACF 889) em diferentes concentrações do inóculo (células ml -1 ). D. hansenii (células ml -1 ) B D A. ochraceus (Esporos ml -1 ) 10 3 10 4 10 5 10 6 % % % % 10 3 98.0 89.6 79.2 83.3 10 4 81.6 73.0 98.0 98.4 10 5 75.0 92.3 83.3 86.5 10 6 93.3 91.0-87.5 D. hansenii (células ml -1 ) P. roqueforti (Esporos ml -1 ) 10 3 10 4 10 5 10 6 % % % % 10 3 45,5 77,4 75,9 68,9 10 4 76,7 83,3 69,7 81,8 10 5 75,0 85,3 73,2 76,9 10 6 76,9 75,9 73,3 69,9 Não foi possível estabelecer padrão de inibição para esses isolados; entretanto, quando a concentração de células de leveduras foi menor que a concentração de esporos, observou-se tendência de menor efeito de inibição, embora estatisticamente não-significativa (p > 0,05). Ou seja, independentemente da concentração de células do antagonista, houve inibição da produção de esporos. Masoud e Kaltoft (2006) observaram que com o aumento da concentração de células de leveduras de 10 4 para 10 6 células ml -1 também ocorreu aumento da inibição sobre o crescimento de A. ochraceus, em testes in vitro. A concentração celular inicial do microrganismo antagonista parece ser um dos fatores que interfere no grau de inibição. Essa afirmação pode ser comprovada neste trabalho, pois, uma vez que a concentração de células de leveduras foi menor que a concentração de esporos testados nos ensaios, a produção de esporos durante o desenvolvimento da colônia foi fracamente inibida em torno de 0 a 6%. A comercialização e o consumo de frutos de café brasileiro sofrem restrição no mercado mundial pelas frequentes contaminações por fungos potencialmente toxigênicos e por micotoxinas (TANIWAKI et al., 2003). Os esporos são estruturas reprodutivas assexuadas de fungos filamentosos que também podem apresentar acúmulo de toxinas (DE PEÑA; HERRERA, 1997). Em cafés brasileiros, foi observado que 75% dos isolados de A. ochraceus eram produtores de ocratoxina A (OTA) (TANIWAKI et al., 2003); portanto, o controle de seu desenvolvimento é uma alternativa para incremento da qualidade sanitária dos frutos e grãos de café. As leveduras podem atuar na descontaminação de produtos com micotoxinas (SHETTY; JESPERSEN, 2006). Para a cultura do café, em especial quando o processamento dos frutos é realizado via seca e em regiões onde há maior índice pluviométrico durante a colheita e secagem dos frutos em terreiros, o controle preventivo da contaminação dos frutos é dificultado. Sendo assim, a ação descontaminante das leveduras sobre as toxinas fúngicas representa uma alternativa para a comercialização segura dos grãos de café. Muitos países desenvolvidos já apresentam normas rígidas para a comercialização de produtos agrícolas sujeitos a riscos de contaminação. Porém, em países em desenvolvimento, a falta de legislação, a pobreza e a má nutrição favorecem o consumo de alimentos contaminados, o que compromete a saúde da população (SHETTY; JESPERSEN, 2006). As duas espécies de leveduras aqui testadas (Pichia anomala e Debaryomyces hansenii) e outras espécies dos gêneros Saccharomyces, Candida e Zygosaccharomyces já foram relatadas em literatura quanto ao potencial de descontaminação de

Inibição de fungos filamentosos por leveduras 401 alimentos contaminados com aflatoxina B1, por meio da adsorção destas moléculas (SHETTY; JESPERSEN, 2006). Os dois isolados de Pichia anomala apresentaram efeito inibitório semelhante ou inferior, quando comparados com os isolados de D. hansenii. Estudos sobre o efeito inibitório da espécie sobre o desenvolvimento de fungos deterioradores de grãos foi realizado por Fredlund et al. (2002), e por Passoth et al. (2006), que verificaram os possíveis mecanismos de ação antifúngica da levedura. Estes autores observaram que a competição por substrato não seria o fator de inibição de P. anomala no desenvolvimento de P. roqueforti e concluíram que possivelmente o modo de ação de P. anomala seja a produção de acetato de etila durante o seu crescimento. Durante a fase inicial do crescimento lag, foi observado que houve menor produção de acetato de etila. A concentração inicial de células está entre os parâmetros que podem interferir no período da fase lag e que poderiam estender esta fase, inibindo a produção de acetato de etila. Masoud et al. (2005) avaliaram o efeito inibitório de compostos produzidos por leveduras predominantes isoladas de café e observaram que o crescimento e a produção da ocratoxina A foram fortemente inibidos pelo acetato de etila. É difícil predizer o possível modo de ação antifúngica dos isolados de P. anomala testadas neste trabalho; parece evidente, no entanto, que a competição por nutrientes, produção de substâncias Killer e produção de 1,3 ß glucanase não foram responsáveis pelos mecanismos inibitórios. Grevesse et al. (2003) estudaram a ação de exoglucanase produzida por P. anomala como agente inibitório. O isolado de Pichia anomala (UFLACF 710) apresentou maior eficiência de inibição (75,6%) sobre a esporulação de P. roqueforti e houve maior inibição quando a concentração de células do antagonista era de 10 4 células ml -1 (Tabela 4). Droby et al. (1999) relataram o crescimento e a eficiência antagônica de Pichia anomala sobre a germinação dos esporos de Penicillium digitatum isolados de pomelo. Alguns isolados da levedura inibiram em 70% ou mais a infecção por P. digitatum; outros foram capazes até mesmo de proteger integralmente o fruto da infecção pelo fungo. Em escala piloto e testes comerciais, a viabilidade da produção e da aplicação da biomassa leveduriforme já foram testadas por Droby et al. (1993; 1998), que utilizaram substratos de resíduos de indústria como semente de algodão e líquido de maceração do milho. Recentemente, já há disponível no mercado produtos comerciais que contem leveduras antagonistas como Candida saitoana (CASTORIA et al., 2008). Testes seletivos de microrganismos com potencial efeito inibitório sobre o desenvolvimento de fungos fitopatogênicos podem ser realizados in vitro e em bioensaios, utilizando-se diferentes técnicas. Saligkarias et al. (2002) avaliaram o potencial antagônico de C. guilliermondii sobre o desenvolvimento de Botrytis cinerea em tomates e observaram que, o maior efeito inibitório foi conseguido quando a levedura foi inoculada 24h antes da inoculação de B. cinerea, sugerindo que a competição por nutrientes pode estar envolvida com o modo de ação. Tabela 4. Inibição da produção de esporos de Penicillium roqueforti, com concentração de 10 3 a 10 6 esporos ml -1, em cultivo pareado com Pichia anomala, (UFLACF 710) em diferentes concentrações do inóculo (células ml -1 ). Pichia anomala (células ml -1 ) Penicillium roqueforti (esporos ml -1 ) 10 3 10 4 10 5 10 6 % % % % 10 3 65,0cA 66,7cA 69,7acA 64,3bA 10 4 81,6bA 69,0 cb 55,0dC 86,4aA 10 5 85,2abA 85,7aA 86,0aA 84,7aA 10 6 88,1aA 76,2bB 78,2bB 67,2bC Médias seguidas de mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p > 0,05). Médias seguidas de mesma letra maiúscula, na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p > 0,05). Neste trabalho, a inoculação dos isolados de leveduras foi realizada concomitantemente à inoculação dos isolados de fungos filamentosos, distantes 4 cm, permitindo que ambos os isolados se desenvolvessem antes do contato direto da colônia de levedura com a de fungo filamentoso, o que aconteceu, em média, sete dias após a inoculação. Isto poderia justificar o maior efeito inibitório de isolados de leveduras sobre a esporulação do que no desenvolvimento micelial. A concentração do inóculo do antagonista e o grau de inibição parecem ser fatores diretamente proporcionais, ou seja, quanto maior a concentração do inóculo da espécie antagonista maior o efeito inibitório sobre a esporulação. Conclusão Este estudo revelou que espécies de Pichia e Debaryomyces podem reduzir a esporulação de fungos potencialmente toxigênicos e naturalmente presentes em frutos de café. Agradecimentos Os autores agradecem à pesquisadora Dra. Carla L. S. Ávila a ajuda nas análises estatísticas.

402 Ramos et al. Referências BATISTA, L. R.; CHALFOU, N. S. M.; PRADO, G.; SCHWAN, R. F.; WHEALS, A. E. Toxigenic fungi associated with processed (green) coffee beans (Coffea arabica L.). International Journal of Food Microbiology, v. 85, n. 3, p. 293-300, 2003. CASTORIA, R.; WRIGHT, S. A. I.; DROBY, S. Biological control of mycotoxigenic fungi in fruits. In: BARKAI- GOLAN, R.; PASTER, N. (Ed.). Mycotoxin in fruits and vegetables. San Diego: Academic Press, 2008. p. 311-334. DE PEÑA, D. G.; HERRERA, J. R. Relationship between aflatoxin biosynthesis and sporulation in Aspergillus parasiticus. Fungal Genetics and Biology, v. 21, n. 2, p. 198-205, 1997. DONG, Y. H.; ZHANG, X. F.; XU, J. L.; ZHANG, L. H. Insecticidal Bacillus thuringiensis silences Erwinia carotovora virulence by a new form of microbial antagonism, signal interference. Applied and Environmental Microbiology, v. 70, n. 2, p. 954-960, 2004. DROBY, S.; CHALUTZ, E. Mode of action of biocontrol agents for postharvest diseases. In: Biological Control of Postharvest Diseases of Fruits and Vegetables - Theory and Practice. Boca Raton: CRC Press, 1994. p. 63 75. DROBY, S.; COHEN, L.; DAUS, A.; WEISS, B.; HOREV, B.; CHALUTZ, E.; KATZ, H.; KEREN-TZUR, M.; SHACHNAI, A. Commercial testing of aspire: a yeast preparation for the biological control of postharvest decay of citrus. Biological Control, v. 12, n. 2, p. 97-101, 1998. DROBY, S.; HOFSTEIN, R.; WILSON, C. L.; WISNIEWSKI, M.; FRIDLERNDER, B.; COHEN, L.; WEISS, B.; DAUS, A.; TIMAR, D.; CHALUTZ, E. Pilot testing of Pichia guilliermondii: a biocontrol agent of Postharvest diseases of citrus fruit. Biological Control, v. 3, n. 1, p. 47-52, 1993. DROBY, S.; LISCHINSKI, S.; COHEN, L.; WEISS, B.; DAUS, A.; CHAND-GOYAL, T.; MANULIS, S. Characterization of an epiphytic yeast of grapefruit capable of suppression of green mold decay caused by Penicillium digitatum. Biological Control, v. 16, n. 1, p. 27-34, 1999. FREDLUND, E.; DRUVEFORS, U.; BOYSEN, M. E.; LINGSTEN, K. J.; SCHNURER, J. Physiological characteristics of the biocontrol yeast Pichia anomala J121. FEMS Yeast Research, v. 2, n. 3, p. 395-402, 2002. GREVESSE, C.; LEPOIVRE, P.; JIJAKLI, M. H. Characterization of the Exoglucanase-Encoding gene PaEXG2 and study of its role in the biocontrol activity of Pichia anomala. Phytopathology, v. 93, n. 9, p. 1145-1152, 2003. LA PENNA, M.; NESCI, A.; ETCHEVERRY, M. In vitro studies on the potential for biological control on Aspergillus section Flavi by Kluyveromyces spp. Letters in Applied Microbiology, v. 38, n. 4, p. 257-264, 2004. MASOUD, W.; KALTOFT, H. C. The effects of yeasts involved in the fermentation of Coffea arabica in East Africa on growth and ochratoxin A (OTA) production by Aspergillus ochraceus. International Journal of Food Microbiology, v. 106, n. 4, p. 229-234, 2006. MASOUD, W.; POLL, L.; JAKOBSEN, H. Influence of volatile compounds produced by yeast predominant during processing of Coffea arabica in East Africa on growth and ochratoxin A (OTA) production by Aspergillus ochraceus. Yeast, v. 22, n. 14, p. 1133-1142, 2005. PASSOTH, V.; FREDLUND, E.; DRUVEFORS, U.; SCHNURER, J. Biotechnology, physiology and genetics of the yeast Pichia anomala. FEMS Yeast Research, v. 6, n. 1, p. 3-13, 2006. PETERSSON, S.; HANSEN, M. W.; AXBERG, K.; HULT, K.; SCHNÜRER, J. Ochratoxin A accumulation in cultures of Penicillium verrucosum with the antagonistic yeast Pichia anomala and Saccharomyces cerevisiae. Mycological Research, v. 102, n. 8, p. 1003-1006, 1998. PETERSSON, S.; SCHNÜRER, J. Pichia anomala as a biocontrol agent of Penicillium roqueforti in high moisture wheat, rye, barley, and oats stored under airtight conditions. Canadian Journal of Microbiology, v. 44, n. 5, p. 471-476, 1998. SALIGKARIAS, I. D.; GRAVANIS, F. T.; EPTON, H. A. S. Biological control of Botrytis cinerea on tomato plants by the usew of epiphytic yeasts Candida guilliermondii strains 101 and US 7 and Candida oleophila strain I-182: I. in vivo studies. Biological Control, v. 25, n. 2, p. 143-150, 2002. SHETTY, P. H.; JESPERSEN, L. Saccharomyces cerevisiae and lactic acid bacteria as potential mycotoxin decontaminating agents. Trends in Food Science and Technology, v. 17, n. 2, p. 48-55, 2006. SILVA, C. F.; BATISTA, L. R.; SCHWAN, R. F. Incidência de Aspergillus produtores de micotoxinas em frutos e grãos de café (Coffea arabica L.). Revista Brasileira de Armazenagem, n. 7, p. 30-36, 2003. SILVA, C. F.; SCHWAN, R. F.; DIAS, E. S.; WHEALS, A. E. Microbial diversity during maturation and natural processing of coffee cherries of Coffea arabica in Brazil. International Journal of Food Microbiology, v. 60, n. 2-3, p. 251-260, 2000. TANIWAKI, M. H.; PITT, J. I.; TEIXEIRA, A. A.; IAMANAKA, B. T. The source of ochratoxin A in Brazilian coffee and its formation in relation to processing methods. International Journal of Food Microbiology, v. 82, n. 2, p. 85-92, 2003. TIMMS-WILSON, T. M.; KILSHAW, K.; BAILEY, M. J. Risk assessment for engineered bactéria used in biocontrol of fungal disease in agricultural crops. Plant and Soil, v. 266, n. 1-2, p. 57-67, 2004. Received on May 12, 2008. Accepted on August 7, 2008. License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.