No seu ponto de vista porque a ABPp iniciou-se em São Paulo, quais eram as condições?



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Transcrição:

"Entrevista com Barone" Elisa Maria Pitombo Entrevista feita com Barone pela ABPp-SP realizada em 29/03/2005, agradecemos a possibilidade dessa entrevista. Você poderia citar fatos marcantes e curiosos sobre início da ABPp em São Paulo? Maria Codeço Barone Em primeiro lugar quero agradecer a oportunidade desta entrevista. Este é um momento importante para lembrar os tempos do início de nossa Associação. Quando iniciamos, nós nos reuníamos ao redor da discussão de um texto de Psicopedagogia. Fazia parte do grupo colegas de minha turma e da segunda turma do curso de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae. Havia também outros colegas de fora que já tinham uma prática psicopedagógica. Entre eles lembro-me de José Barreto e de Mônica Mendes. Do curso do Sedes, além de mim, havia Edith Rubinstein, Orphia Conte, Nádia Dumara Ruiz, Elizabeth Leite Soares, Beatriz Scoz, Silvia Hochheimmer, Renata Simon, Neide de Aquino Noffs e muitas outras colegas queridas. Em nossos primeiros encontros, como já disse, trabalhávamos teoricamente a respeito da Psicopedagogia. Mas aos poucos fomos percebendo que a discussão ficava pouco produtiva. Sugeri então, no lugar destas discussões, que cada um narrasse sua experiência psicopedagógica, suas dúvidas e suas dificuldades. Creio que este fato enriqueceu bastante nossas discussões e favoreceu um maior entrosamento dos membros do grupo, pois, falando e ouvindo nossas próprias experiências pudemos levantar os pontos comuns, as diferenças e sobretudo descobrir o que sustentava nossa prática. Essas reuniões aconteciam, inicialmente, nas dependências do Sedes, depois no consultório de Eloísa Fagali e posteriormente no de Maria Alice Vassimon, professoras que sempre nos apoiaram muito. No seu ponto de vista porque a ABPp iniciou-se em São Paulo, quais eram as condições? Uma das condições para o surgimento da associação em São Paulo, tenho a impressão, foi o curso de Psicopedagogia do Sedes já que entre as disciplinas oferecidas, havia uma que trabalhava a identidade do psicopedagogo através de Psicodrama. Nestas ocasiões tínhamos a oportunidade de refletir sobre a identidade; o campo de atuação; as fronteiras e as intersecções com outras profissões; as dificuldades e a formação do psicopedagogo. Foi a partir desta rica experiência que surgiu a necessidade de criar uma Associação que nos representasse. Sugeri então a criação da Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo.

Quem sabe também um outro fator que tenha contribuído seja a reunião de pessoas que tivessem interesses afins, pois conforme a história, a Psicopedagogia estava se constituindo... Você tem razão. Aliás, a própria criação do curso do Sedes talvez já respondesse a uma demanda, mais abrangente, por desenvolvimento desta área do conhecimento. Tínhamos notícia de pessoas no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Juiz de Fora e em São Paulo preocupadas com esta questão e já desenvolvendo a formação destes profissionais. No Rio de Janeiro, Maria Aparecida Mamede já havia montado um grupo de formação de psicopedagogos orientado por Jorge Visca de Buenos Aires, e Maria Lúcia Weiss trabalhava com a formação do psicopedagogo dentro da universidade. Em São Paulo, na PUC, havia um curso de especialização em Reeducação Psicopedagógica coordenado por Geni Golub. Sabíamos também da existência de uma Faculdade de Psicopedagogia em Buenos Aires. No entanto, embora já houvesse, quando fundamos a Associação Estadual de Psicopedagogo de São Paulo, pessoas atuando na área e preocupadas com a formação do profissional em diferentes cidades brasileiras, coube a nós a iniciativa da criação. Segundo o seu relato a Associação Paulista de psicopedagogos surgiu a partir de uma conjunção de condições, que tiveram início na disciplina de Psicodrama psicopedagógico no Sedes, com as professoras Consuelo Assis Carvalho e Maria Alice Vassimon, que desenvolviam a proposta de reflexão sobre ação social do psicopedagogo, seu papel. E vocês enquanto alunas trouxeram a tônica de partir para a ação, pois no grupo instituído como Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, inicialmente havia uma discussão teórica, mas a seguir passaram para a discussão da prática psicopedagógica. Seria esse o percurso? Sim é verdade, e isto foi fundamental. E qual foi o desejo que movimentou o grupo que fundou a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo? Creio que o que nos movia era o desejo de estabelecer este campo novo que se abria para o pedagogo. Tínhamos a intenção de delimitar melhor a identidade e o campo de atuação do psicopedagogo. Pretendíamos ser uma associação que pudesse, além da preocupação com a formação do profissional, promover o conhecimento teórico sobre a área. Para isto entramos

em contato com diversos profissionais com mais experiência para aperfeiçoar nossas discussões através da realização de vários eventos: cursos, seminários, jornadas e os nossos Encontros. Também, desde o começo pensamos na importância de criar uma revista que pudesse divulgar trabalhos na área da Psicopedagogia e de formar uma biblioteca para nossa Instituição. Quando o curso do Sedes foi criado ele pretendia ser, lembro ter ouvido isto de Madre Cristina, uma possibilidade de ampliação do trabalho do pedagogo. O Sedes já oferecia, na época, vários cursos de aperfeiçoamento para o psicólogo e quase nada para o pedagogo. Tanto que na primeira turma, uma das exigências para o candidato era ser ele egresso do curso de pedagogia. Nosso grupo, no entanto, desde o começo se posicionou no sentido de oferecer a formação em Psicopedagogia a diferentes profissionais pedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo, principalmente que estivessem engajados no campo da Educação. Entendíamos a Psicopedagogia como uma nova área e que, portanto, haveria a necessidade da complementação de formação destes profissionais, ao mesmo tempo nos preocupava a questão do estabelecimento dos limites, das fronteiras, das áreas de intersecção com outras disciplinas além de ter um interesse muito grande pelo desenvolvimento da identidade deste profissional. Ficou claro a preocupação de demarcar a área da Psicopedagogia num espaço novo, inicialmente dentro do Instituto Sedes Sapientiae que tem uma histórica trajetória da Psicopedagogia. Mas exatamente quando foi iniciada a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo depois do curso? Não, foi depois do curso de Psicopedagogia, mas durante a formação. Creio que foi ainda no primeiro ano do nosso curso. Se não me engano, após seis meses do início da nossa turma que era a primeira foi constituída uma nova turma e isto foi muito bom porque pudemos contar com um grupo maior e muito interessado. Houve algum fato social que mobilizou a criação da Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo? A crise da escola frente aos problemas de aprendizagem. Existia uma demanda muito grande por um profissional que pudesse contribuir para a solução dos problemas enfrentados pela escola como: a evasão, a multirrepetência e mesmo a dificuldade de aprendizagem.

Vocês chegaram a contatar esses grupos fora do estado de São Paulo? Como aconteceu a aproximação com a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo? Quando fundamos a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, nosso objetivo principal era estabelecer a área de atuação do psicopedagogo, seu perfil profissional e sua formação. Percebemos desde o início a importância de ouvir o que cada um de nós fazia, de nos aproximar de outros profissionais - do Brasil e do exterior com os quais pudéssemos aprender, trocar experiências e criar um diálogo capaz de sustentar a criação e o desenvolvimento da Psicopedagogia em nossa realidade. No entanto, era muito clara, para nós, a necessidade de resguardar nossa singularidade. Essa necessidade de troca nos levou a organização do 1o. Encontro de Psicopedagogos, em São Paulo em novembro de 1984 nas dependências da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Este Encontro teve como tema: Experiências e Perspectivas do Trabalho Psicopedagógico na Realidade Brasileira. A Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo iniciou o contato com os outros estados a partir desse primeiro encontro? Não. O contato começou bem antes através de visitas, correspondência, convite para participar de alguma atividade. Eu e Beatriz Scoz fomos ao Rio conversar com Maria Aparecida Mamede e com Maria Lúcia Weiss, por exemplo. Edith Rubinstein tinha contato com algumas pessoas de Porto Alegre. Mas o que estreitou mesmo nosso contato foi a idéia do 1o. Encontro. Pois iniciamos os preparativos com mais de um ano de antecedência. Enviamos correspondência para todos os profissionais que conhecíamos que já possuíam prática psicopedagógica ou que estavam envolvidos na formação do psicopedagogo; para as universidades brasileiras onde houvesse curso de pedagogia e de psicologia e para as secretarias de educação das capitais dos estados brasileiros anunciando o encontro, nossos objetivos e os convidando para participar. Convidamos também profissionais da Argentina, do Uruguai e do Chile, como Jorge Visca, Maria Angélica Carbonell Grompone, Mabel Condemarin e Felipe Alliende. Mas acho que o aspecto mais importante na preparação do 1o. Encontro foi uma correspondência que enviamos às universidades, às secretarias de educação e aos nossos associados sobre que temas e assuntos eles gostariam que fossem tratados no Encontro bem como o nome de conferencistas que eles gostariam que convidássemos. A partir deste levantamento montamos a programação do Encontro.

A fundação da ABPp começou em São Paulo com a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, como? A Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo surgiu a partir do curso do Sedes, mas a idéia de uma Associação Brasileira de Psicopedagogia a ABPp foi uma conseqüência natural. Durante os preparativos para 1o. Encontro, Edith Rubinstein começou a propor a conveniência de criarmos uma Associação Brasileira uma vez que nossos contatos com profissionais de outros estados vinham se aprofundando. Assim, durante a realização deste encontro, foi feita a proposta de criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia e de formação de Associações Estaduais. Acredito que havia que a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, estava de alguma maneira sintonizada com esta necessidade porque foram muito felizes nesse primeiro encontro da ABPp em São Paulo... Sem dúvida. E o conselho da ABPp foi montado com a inclusão de representantes dos diversos estados brasileiros. Do Rio de janeiro, de Porto Alegre, de Minas Gerais, do Paraná e de São Paulo, naturalmente. Aos poucos foram se integrando ao conselho profissionais de outros estados também. Voltando para a história da ABPp em São Paulo você se lembra de algum fato sobre o cotidiano? Começamos promovendo vários cursos de aperfeiçoamento para professores e psicopedagogos. Foram cursos de Psicomotricidade, de métodos para trabalhar as dificuldades de leitura, escrita e matemática. Cursos sobre diagnóstico das dificuldades de aprendizagem, cursos sobre aspectos psiconeurológicos das dificuldades de aprendizagem e outros de orientação claramente psicanalítica. Para estes cursos convidávamos profissionais mais experientes e ou com prática psicopedagógica mais estabelecida. Havíamos começado a formação de uma biblioteca através do recebimento de doações de livros relativos à nossa área e da permuta de nosso Boletim. Como nosso sede era de início itinerante, tínhamos uma malinha na qual guardávamos nossos livros e material da secretaria. Esta malinha nos acompanhava em nossas reuniões eu gostava de dizer, brincando, que a

guardava debaixo de minha cama. Depois tivemos a nossa primeira sede numa salinha dos fundos do Getep, na Rua Alves Guimarães. Em seguida fomos para uma sala maior junto à sede da EDICOM, editora que também publicava o nosso Boletim. Finalmente compramos nossa primeira sede. Houve um movimento democrático da ABPp no primeiro encontro ao acolher as sugestões e colaborações de todos? Diria que sempre houve um interesse muito grande na troca de experiências e no respeito pelas diferenças. Talvez isto tenha contribuído para a sedimentação dos laços com diversos profissionais que muito contribuíram para nossa formação. Havia nestes países alguma associação de psicopedagogos? Que eu saiba, não. Havia, em Montevidéu, Uruguai, a Sociedade de Dislexia. Na Argentina havia, além do curso de graduação em Psicopedagogia, muitas clinicas de atendimento e com proposta de formação de profissionais. Umas com enfoque neurológico, outras com enfoque construtivista e outras claramente com um enfoque da psicanálise. Creio que o confronto com estas diferenças, que também observávamos aqui em nosso meio, contribuiu bastante para o desenvolvimento de uma Psicopedagogia mais afeita à nossa realidade. Jorge Visca foi um dos primeiros a vir para o Brasil. Sabíamos que ele orientava um grupo de formação em Porto Alegre e outro no Rio de Janeiro. A São Paulo ele veio pela primeira vez a convite da Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, para dar um curso no Sedes sobre Epistemologia Convergente. Depois dele veio, também convidado por nós, Ana Maria Muniz. Inicialmente para dar um curso no Sedes e depois formando vários grupos de estudo e de supervisão. Depois convidamos Sara Pain que esteve conosco inúmeras vezes. Nos Congressos, em seminários, na supervisão da implantação de um curso de Psicopedagogia da ABPp e nas discussões sobre a identidade, campo de atuação e formação do psicopedagogo. Também estiveram conosco Mabel Condemarin, Niva Milicic, Felipe Alliende que muito contribuíram para nosso desenvolvimento. Agradeço a entrevista em nome da ABPp São Paulo.