ESTADO DO MARANHÃO E SUA POLÍTICA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL



Documentos relacionados
Unidades de Conservação do Estado do Maranhão

Art. 6 o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

Art Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Legislação Pesqueira e Ambiental. Prof.: Thiago Pereira Alves

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

Gestão e Legislação Ambiental

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Projeto de Fortalecimento e Intercâmbio de Mosaicos de Áreas Protegidas na Mata Atlântica

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO lei 9.985/ Conceitos Básicos

GESTÃO AMBIENTAL. Zoneamento Ambiental. Espaços Territoriais especialmente protegidos ... Camila Regina Eberle

ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO COMPARADA SOBRE CONSERVAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS MARINHOS

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE SEMA DEPARTAMENTO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E GESTAO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DEMUC

UCs E PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL. Márcia Leuzinger

Marco legal, definições e tipos

1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa

FLORESTA NACIONAL DE BRASÍLIA (Como preservá- la para as presentes e futuras gerações?)

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Conselho Gestor APA DA VÁRZEA RIO TIETÊ GTPM

Unidades de conservação valorizando o patrimônio natural brasileiro

Proposta de Criação da Floresta Estadual José Zago. Consulta Pública

Secretaria do Meio Ambiente

Introdução. Gestão Ambiental Prof. Carlos Henrique A. de Oliveira. Introdução à Legislação Ambiental e Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA

Curso E-Learning Licenciamento Ambiental

Atlas ambiental do município de Itanhaém Capítulo 6 - Conservação ambiental

LEI Nº 8.349, DE 17 DE JULHO DE 2003

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - SNUC

Regularização Fundiária de Unidades de Conservação Federais

DIREITO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO

Da Legislação Ambiental. Da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Harmonização da PNRS. Constituição Federal da República Federativa do Brasil

Disciplina Ciências do Ambiente Prof. Dra. Elizete A. Checon de Freitas Lima Unesp, Campus de Ilha Solteira

(i)direito de Propriedade, (ii) Uso Sustentável dos Recursos e (iii) Conservação dos Remanescentes Florestais

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

Legislação Pesqueira e Ambiental. Prof.: Thiago Pereira Alves

DECRETO Nº 6.040, DE 7 DE FEVEREIRO DE Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

A Natureza ilhada: concepção de Áreas Protegidas no Brasil, política de criação e implantação no Brasil

O Licenciamento Ambiental Municipal

Legislação brasileira sobre meio ambiente - tópicos Fabricio Gomes Gonçalves

PROJETO DE LEI Nº 433/2015 CAPÍTULO I DOS CONCEITOS

Diretrizes para os Serviços Públicos de Saneamento Básico

AS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO ALTERNATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E MANUTENÇÃO DA CULTURA CAIÇARA.

Licenciamento Ambiental e Municipal

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 5/2014

Proposta para que o PAA possa apoiar a regularização ambiental

Atribuições estaduais e municipais na fiscalização ambiental

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2006

COMPENSAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

As Questões Ambientais do Brasil

LEI Nº 3.739, DE 07/11/2013.

Tatiana Marchetti Panza 1 & Davis Gruber Sansolo 2

Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 4, p , 2012.

LEI Nº. 1085/2005, DE 31 DE AGOSTO 2005.

LEI Nº , DE 28 DE AGOSTO DE 2007.

CÓPIA MINISTÉRIO DA FAZENDA Conselho Administrativo de Recursos Fiscais

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 266, DE 03 DE AGOSTO DE 2000

12/06/2015. Erosão em voçoroca CONCENTRAÇÃO GLOBAL DE CO2 ATMOSFÉRICO TRATAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS NÍVEIS DE GÁS CARBÔNICO EM MAUNA LOA (HAWAI)

PROGRAMA MUNICÍPIO ECOLEGAL: GESTÃO PARA O MEIO AMBIENTE

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu a sanciono a seguinte Lei:

EMENDA AO PLDO/ PL Nº 009/2002-CN ANEXO DE METAS E PRIORIDADES

Sistema de Licenciamento Ambiental da Bahia

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

Breves comentários sobre a base constitucional da proteção da biodiversidade

Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 4, 13 de abril de 2012

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO PROJETO DE LEI Nº 506, DE 2008: A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA:

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Estabelece diretrizes e procedimentos para aplicação da compensação ambiental de empreendimentos considerados de significativo impacto ambiental.

PREFEITURA DE PALMAS SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSUNTOS JURÍDICOS

Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Estadual de Educação Ambiental e dá outras providências.

Considerando a importância da divulgação de imagens das unidades de conservação para sensibilização da sociedade sobre o tema;

ANTEPROJETO DE DECRETO (OU LEI) (A ser Publicado no Diário Oficial do Município/Estado)

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN X

Capacitação para o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

EDITAL DE APOIO A PESQUISAS REALIZADAS NA RPPN URU, LAPA, PARANÁ

Compras Públicas Sustentáveis

Atribuições dos Tecnólogos

Bioindicadores Ambientais (BAM36AM) Sistema Nacional de Unidades de Conservação

Eixo Temático ET Educação Ambiental A RPPN FAZENDA ALMAS NA ÓTICA DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE SÃO JOSÉ DOS CORDEIROS-PB

RESOLUÇÃO Nº 08/03-COUN

Eixo 2. Uso sustentável das áreas protegidas 10/04/2013

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA Estado de São Paulo Procuradoria Geral

LISTA DE VERIFICAÇAO DO SISTEMA DE GESTAO DA QUALIDADE

Marco Referencial da Educação Ambiental. Orientações para ações do Prevfogo. I - Bases Conceituais Legais. II - Foco do Prevfogo

TRANSIÇÃO DAS CERTIFICAÇÕES DOS SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE E SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL, PARA AS VERSÕES 2015 DAS NORMAS.

ECOSSISTEMAS HUMANOS CLASSES GERAIS

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA DE ESTADO DE PRODUÇÃO SECRETARIA EXECUTIVA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE

ICMS SOCIOAMBIENTAL E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PERNAMBUCO

Representante: Instauração ex officio. Representado: SABESP

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL DAS EMPRESAS ELETROBRAS

Art. 1º O Art. 2º da Lei nº , de 5 de outubro de 2006, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

LEI Nº 8.906, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1992.

LEI N , DE 17 DE JANEIRO DE INSTITUI A POLÍTICA ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR RESOLUÇÃO Nº 5, DE 2 DE FEVEREIRO DE

a convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência 2007 e o decreto n o 6.949, de 25 de agosto de

AUDITORIA AMBIENTAL SEGUNDO O CÓDIGO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE MANAUS

Transcrição:

ESTADO DO MARANHÃO E SUA POLÍTICA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Fabiana Pereira Correia 1 RESUMO A abordagem desenvolve breve reflexão acerca da situação da política de proteção ambiental do Estado do Maranhão. O principal objetivo é apresentar as unidades de conservação estaduais e o que o Estado tem feito para gerenciá-las. Foram utilizados os métodos dedutivo e indutivo, que subsidiaram a pesquisa bibliográfica e documental, bem como a entrevista aplicada junto ao órgão gestor das unidades. Concluiu-se que a política estadual de proteção dos ecossistemas maranhenses é deficiente, no entanto, se houver maior interesse do Poder Público, e maior participação e cobrança da sociedade civil, essa realidade poderá ser modificada. Palavras-chave: Estado do Maranhão, Brasil. Políticas de proteção ambiental. Unidades de conservação estaduais. ABSTRACT The aproach develops short reflection about the politics situation of environmental protection of Maranhão State. The main objective is to present the unities of state conservation and what the state has done to manage them. It was used the deductive and inductive methods, which subsidized the bibliographic and documental research, as well as the applied interview next to the manage institution of the unities. It was concluded that the state politics of the Maranhão s ecosystem protection is defective however, if there is bigger interest of Public Power, and bigger participation and demands of civil society this reality can be modified. Keywords: Maranhão State, Brazil. Politics environmental protection. Unities of state conservation. 1 INTRODUÇÃO A política de proteção da natureza constitui-se numa inquestionável necessidade das sociedades humanas, que desde as Revoluções Neolítica e Industrial tem intensificado processos de degradação dos ecossistemas e redução da qualidade socioambiental. Nessas circunstâncias, surgiu um dos mais controversos e discutidos termos da atualidade: desenvolvimento sustentável. O conceito mais difundido encontra-se no âmbito do Relatório Brundtland documento elaborado pela World Commission on Environment and Development, qual seja aquele que atende às 1 Estudante de Pós-graduação. Universidade Federal do Maranhão. byagaia@yahoo.com.br

necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades (WCED, 1987 apud BELLEN, 2006). Os princípios da sustentabilidade socioambiental, resultantes das discussões acerca da sobre-exploração dos recursos naturais e da pressão exercida pela urbanização e pelos resíduos da industrialização, englobam a proteção dos recursos naturais, cujo enfoque permeia principalmente a delimitação de territórios destinados à manutenção da diversidade biológica, as áreas protegidas. Durante a Conferência da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) foram discutidos, gerados e assinados alguns documentos voltados à proteção dos recursos naturais, sobressaindo-se a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). No Brasil essas discussões suscitaram a estruturação de políticas de proteção ambiental, em que se inclui o Art. 225 da Constituição Federal de 1988 (CF/1888) e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). O Maranhão, Estado privilegiado em termos de recursos naturais, também aderiu à pauta, e atualmente atribui à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais do Maranhão SEMA, através da Superintendência de Desenvolvimento e Educação Ambiental/ Departamento de Preservação e Conservação Ambiental (SDEA/DPCA), a responsabilidade pela execução das políticas estaduais de proteção da natureza maranhense. 2 METODOLOGIA A pesquisa baseou-se nos métodos dedutivo e indutivo. O primeiro deu suporte à pesquisa bibliográfica, possibilitando a apreensão geral do problema para posterior contextualização específica. Já o indutivo foi indispensável à correlação da situação específica com a geral, aspecto importante para o desencadeamento lógico dos fatos apreendidos. Para executar a pesquisa, os procedimentos metodológicos básicos foram: pesquisa bibliográfica e documental e entrevistas não - estruturadas com os responsáveis pela gestão das unidades de conservação (UCs) estaduais. A pesquisa documental foi realizada junto ao arquivo eletrônico do DPCA/SDEA/SEMA. 3 POLÍTICA DE PROTEÇÃO DA NATUREZA BRASILEIRA Seguindo os preceitos da CDB, o Brasil instituiu o SNUC (BRASIL, 2000). Apesar desse Sistema só ter sido concretizado no início do século XXI, data de 1937 a

criação da primeira UC brasileira, o Parque Nacional de Itatiaia (RJ). Almeida et. al. (2004) afirmam que nos anos seguintes, principalmente nas décadas de 60 e 70, houve grandes avanços quantitativos na criação de áreas protegidas como resposta à rápida degradação dos ecossistemas nacionais, consequência do acelerado processo de urbanização do país e das reivindicações dos movimentos ambientalistas. Os objetivos do SNUC são diretamente relacionados ao Art. 24 da CF/1988, que determina: (...) compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente [...], a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; Maior especificidade em relação à questão ambiental e à proteção da natureza é constatada no Art. 225 de Brasil (1988); coadunando com o ideal de sustentabilidade socioambiental, esse artigo atesta que todos os brasileiros têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendêlo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Como alternativas para assegurar a efetividade desse direito, o 1º declara: (...) incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade (BRASIL, 1988). Instituído pela Lei federal nº 9.985/2000, o SNUC é proveniente do regulamento dessas determinações e constitui-se pelo conjunto das UCs federais,

estaduais e municipais. Nele são previstos critérios e normas para criação, implantação e gestão de UCs, que são classificadas segundo 2 grupos e 12 categorias distintas, quais sejam: I - Unidades de Proteção Integral e II - Unidades de Uso sustentável. Incluem-se no primeiro grupo as seguintes categorias: 1) Estação Ecológica (ESEC), 2) Reserva Biológica, 3) Parque Nacional (quando criados pelo Estado ou município são denominados, respectivamente, Parque Estadual (PE) e Parque Natural Municipal), 4) Monumento Natural e 5) Refúgio de Vida Silvestre. O grupo II é integrado por: 1) Área de Proteção Ambiental (APA), 2) Área de Relevante Interesse Ecológico, 3) Floresta Nacional, 4) Reserva Extrativista (RESEX), 5) Reserva de Fauna, 6) Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e 7) Reserva Particular do Patrimônio Natural. Nas UCs de Proteção Integral somente é permitido o uso indireto dos recursos naturais; nas de Uso Sustentável admite-se o uso direto, desde que a exploração garanta a perenidade dos recursos naturais renováveis, dos processos ecológicos, da biodiversidade e dos demais atributos ecológicos, e seja socialmente justa e economicamente viável (BRASIL, 2000). As UCs são criadas por ato do Poder Público e seu processo de criação inclui a participação popular, mediante consulta pública; nos processos de criação de Estações Ecológicas ou Reservas Biológicas, essa consulta é facultativa. Um dos principais instrumentos de gestão das UCs é o Plano de Manejo. Esse documento deve ser elaborado num prazo de cinco anos, a contar da data de criação da Unidade, e deve ser aprovado, conforme o caso, em portaria do órgão executor ou em resolução do conselho deliberativo (caso das RESEX e RDS), após prévia aprovação do órgão executor (BRASIL 2000; 2002). 4 POLÍTICA DE PROTEÇÃO DA NATUREZA MARANHENSE Situam-se na década de 1940 as primeiras iniciativas políticas destinadas à proteção dos ecossistemas maranhenses, quando remanescentes do bioma Amazônico localizados no território ludovicense foram declarados, pelo Poder Público federal, Floresta Protetora dos Mananciais Abastecedores do município de São Luís, criada por meio do Decreto-Lei 6.883/1944.

Frente às tendências sobre questões ambientais, o Maranhão iniciou ações direcionadas à proteção da natureza; isso pode ser observado na no Art. 12 da Constituição do Estado (MARANHÃO, 1989). Nesse sentido, foi estruturado o Código de Proteção do Meio Ambiente do Estado do Maranhão, constituído pela Lei nº 5.405/1992 e suas alterações e pelo Decreto nº 13.494/1993. Esse Código contempla, dentre outros aspectos, os relativos às áreas de proteção (seção VII); o Art. 31 estabelece que compete ao Estado definir, implantar e administrar espaços territoriais e seus componentes representativos de ecossistemas originais a serem protegidos, com vistas a manter e utilizar racionalmente o patrimônio biofísico e cultural de seu território. 4.1 Unidades de conservação sob jurisdição do Estado Existem 11 UCs estaduais no Maranhão, cuja gestão é de responsabilidade da SEMA/SDEA/DPCA e de eventuais co-gestores; 4 delas integram o grupo de Proteção Integral: PE de Mirador (MARANHÃO, 1980; 2009), PE do Bacanga (MARANHÃO, 1980; 1984; 2001), PE Marinho do Parcel de Manuel Luís (Manuel Luís Mestre Álvaro do Silva (Baixios) (MARANHÃO, 1991) e ESEC do Sítio Rangedor (MARANHÃO, 2005; 2007); as demais integram o grupo de Uso Sustentável, quais sejam: APA da Baixada Maranhense (MARANHÃO, 1991), APA das Reentrâncias Maranhenses (MARANHÃO, 1991), APA da foz do Rio das Preguiças Pequenos Lençois Região Lagunar Adjacente (MARANHÃO, 1991), APA de Upaon-Açú/Miritiba/Alto Preguiças (MARANHÃO, 1992), APA da Região do Maracanã (MARANHÃO, 1991), APA do Itapiracó (MARANHÃO, 1997) e APA dos Morros Garapenses (MARANHÃO, 2008). Apesar dos Parques e da ESEC pertencerem ao grupo mais restritivo do SNUC, essas áreas são utilizadas diretamente e, na maioria dos casos, de forma predatória, o que deriva da deficiente estrutura pública destinada à sua gestão, que inclui, dentre outras ações, a fiscalização e o monitoramento ambiental. Nessas circunstâncias, uma das UC s estaduais mais negligenciadas é o PE Marinho, localizado a 45 milhas náuticas (81 Km) do litoral ocidental, partindo-se, em linha reta, do município de Cururupu (APA das Reentrâncias Maranhenses) e a 100 milhas náuticas (180 Km) de São Luís. É possível perceber uma relação direta entre as duas UC s; a primeira abriga ecossistemas recifais, extremamente frágeis em relação a desequilíbrios ambientais e primordiais à manutenção de processos

ecológicos marinhos, constituindo-se habitat e berçário para várias espécies de peixes e outros animais, alguns, inclusive, detentores de alto valor comercial; a segunda é dominada por ecossistemas estuarinos. O Estado não dispõe de embarcação para a gestão da UC marinha, o que onera o alcance dos objetivos de proteção. Ressalta-se que 3 UCs estaduais localizam-se integralmente no município de São Luís (APA da Região do Maracanã, ESEC do Sítio Rangedor e PE do Bacanga) e 2 têm o território compartilhado entre esse e outros municípios, a saber: APA do Itapiracó e APA de Upaon-Açú/Mitiba/Alto Preguiças. Apesar do acesso a essas áreas ser facilitado por sua situação geográfica, elas também não são alvos de políticas públicas contínuas de proteção de seus ecossistemas. Três UC s estaduais foram incluídas na Lista da Convenção de Ramsar, tratado intergovernamental sobre a importância global das zonas úmidas. Esse tratado foi acordado por alguns países no ano de 1971, na cidade iraniana de Ramsar. A Convenção tem como foco a sustentabilidade socioambiental das zonas úmidas; O Brasil aderiu oficialmente a esse acordo no ano de 1993 e considera como diretriz para indicação, que as zonas úmidas correspondam a UCs, visando a facilitar a gestão e agregar ações locais, regionais, nacionais e internacionais destinadas à proteção efetiva de tais áreas. No Maranhão se localiza a maior parte dos Sítios Ramsar brasileiros, quais sejam: as APAs das Reentrâncias Maranhenses (incluída no dia 30.11.1993) e da Baixada Maranhense e PE Marinho (ambos incluídos em 29.02.2000) (THE RAMSAR CONVENTION ON WETLANDS, 2011). Apesar da reconhecida importância, essas UCs são relegadas ao abandono, à inexistência e/ou insuficiência de políticas públicas que valorizem sua integridade ecológica e social. Nenhuma possui Plano de Manejo, situação que impossibilita a proteção efetiva. As únicas UCs que já possuem Plano de Manejo são o PE do Bacanga, a APA do Itapiracó e a ESEC do Sítio Rangedor, entretanto, esses documentos não são legalmente aprovados conforme determinado em Brasil (2002). Um dos avanços em relação à gestão das UCs estaduais refere-se à designação de servidores para o exercício da função gratificada de Chefe das unidades, iniciativa legal da SEMA, através da Portaria n 095, de 14 de outubro de 2010 (MARANHÃO, 2010). Infelizmente essa iniciativa já foi desfeita, através da Portaria nº 030, de 13 de abril de 2011, que tornou sem efeito a anterior, gerando uma situação de retrocesso em

relação à gestão das UCs estaduais. Atualmente encontra-se em processo de consulta pública, o Sistema Estadual de Unidades Conservação do Maranhão. 4 CONCLUSÃO Diante da breve exposição, conclui-se que o Estado conhece a necessidade de proteger parte de seus ecossistemas, porém, não tem dado prioridade às políticas públicas de proteção da diversidade socioambiental do território. É necessário que a coletividade maranhense conheça a importância da manutenção da integridade ecológica das UCs para a manutenção da vida e da sociedade, tendo em vista que os serviços ecossistêmicos por elas providos propiciam o desenvolvimento das diversas atividades econômicas, e que o comprometimento da qualidade ambiental afeta a qualidade de vida da população. A proteção dos ecossistemas remanescentes deve ser efetivada, e uma das alternativas é a gestão adequada das UCs. Para que isso ocorra é necessário que o Poder Público Estadual assuma suas responsabilidades e que haja o real engajamento da sociedade civil na busca por soluções para a gestão integrada e participativa dos recursos naturais, partindo-se do princípio de que a sustentabilidade socioambiental poderá deixar de ser uma utopia. REFERÊNCIAS BELLEN, Hans Michael van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Publicado no DOU nº 191-A, de 05.10.1988.. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o Art. 225, 1º, inciso I, II, III, VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Publicado no D.O.U., de 19.07.2000, p.11. MARANHÃO. Decreto nº 7.545 de 07 de março de 1980. Cria o Parque Estadual do Bacanga e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 21.03.1980, Ano LXXIII, n. 56.

. Decreto nº 7641 de 04 de junho de 1980. Cria o Parque Estadual de Mirador e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 20.06.1980, Ano LXXIII, n. 116.. Decreto nº 9.550 de 10 de abril de 1984. Dá novos limites ao Parque Estadual do Bacanga, criado pelo Decreto nº 7.545, de 07 de março de 1980. São Luís: D.O.E, de 24.04.1984, Ano LXXXIX, n. 77.. Constituição (1989). Constituição do Estado do Maranhão: promulgada em 05 de outubro de 1989. Disponível em: <http://www.cge.ma.gov.br/pagina.php?idpagina=2315>. Acesso em: 09.03.2011.. Decreto 11.899 de 11 de junho de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental da foz do Rio das Preguiças Pequenos Lençóis Região Lagunar Adjacente, com os limites que especifica e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 09.10.1991, Ano LXXXV, n. 195.. Decreto nº 11.900 de 11 de junho de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense, compreendendo 03 (três) Sub-Áreas: Baixo Pindaré, Baixo Mearim-Grajaú e Estuário do Mearim-Pindaré Baía de São Marcos incluindo a Ilha dos Caranguejos. São Luís: D.O.E, de 09.10.1991, Ano LXXXV, n. 195.. Decreto nº 11.901 de 11 de junho de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, com limites que especifica e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 09.10.1991, Ano LXXXV, n. 195.. Decreto nº 11.902 de 11 de junho de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, o Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís (Manuel Luís Mestre Álvaro do Silva (Baixios), com limites que especifica e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 09.10.1991, Ano LXXXV, n. 195.. Decreto 12.103 de 01 de outubro de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental da Região do Maracanã, com limites que especifica e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 01.10.1991, Ano LXXXV, n. 189.. Decreto nº 12.428 de 05 de junho de 1992. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental de Upaon-Açú/ Miritiba/ Alto Preguiças, com os limites que especifica e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 12.06.1992, Ano LXXXVI, n. 113.

. Decreto nº 14.968 de 20 de março de 1996. Cria, no Estado do Maranhão, a Reserva de Recursos Naturais na nascente do Rio das Balsas e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 26.03.1996, Ano XC, n. 060.. Decreto nº 15.618 de 23 de junho de 1997. Cria a Área de Proteção Ambiental do Itapiracó e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 26.06.1997, Ano XCI, n. 121.. Lei nº 7.712 de 14 de dezembro de 2001. Dispõe sobre a exclusão de áreas ocupadas e já consolidadas de forma irreversível, do Parque Estadual do Bacanga e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 24.12.2001, Ano XCV, n. 242.. Decreto nº 21.797 de 15 de dezembro de 2005. Cria a Estação Ecológica do Sítio Rangedor, com limites que especifica, e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 15.12.2005, Ano XCIX, n. 241.. Decreto nº 23.303 de 07 de agosto de 2007. Dá nova redação ao art. 2º do Decreto nº 21.797, de 15 de dezembro de 2005, que cria a Estação Ecológica do Sítio Rangedor. São Luís: D.O.E, de 07.08.2007, Ano CI, n. 152.. Decreto nº 25.087 de 31.12.2008. Cria a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, com limites que especifica, e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 31.12.2008, Ano CII.. Lei nº 8.958 de 08 de maio de 2009. Altera o Decreto nº 7.641/80 de junho de 1980, que cria o Parque Estadual de Mirador e dá outras providências. São Luís: D.O.E, de 08.05.2009, Ano CIII, n. 087.. Portaria n 095, de 14 de outubro de 2010. Resolve designar os servidores desta Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais SEMA, para exercerem a função de chefia das Unidades de Conservação Estaduais. São Luís: D.O.E, de 20.10.2010, Ano CIV, n. 202. ALMEIDA, Josimar Ribeiro de; BASTOS, Anna Christina Saramago.; SILVA, Dalton Marcondes; MALHEIROS, Telma Marques. Política e planejamento ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2004. 457 p. THE RAMSAR CONVENTION ON WETLANDS. The List of Wetlands of International Importance. Disponível em:<http://www.ramsar.org/pdf/sitelist.pdf>. Acesso em: 21.04.2011.