UFPB PRG X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA



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6CCHLADPMT08 SINTOMATOLOGIA APRESENTADA PELA CRIANÇA QUE PARTICIPA DE UM PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO DO TIPO COMPREENSIVO: UM ESTUDO DE CASO Joseildes Farias Fonseca (1), Karla Alves Carlos (2), Clênia Maria Toledo de Santana Gonçalves (3) Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes/ Departamento de Psicologia/ Monitoria RESUMO Inúmeros autores que desenvolvem trabalhos que envolvem a relação sintoma na criança e a dinâmica familiar assinalam o fato de que o sintoma da criança pode não ser originário dela. Esta prática clínica torna se mais difícil e trabalhosa, já que a criança não é mais a única pessoa que sofre, e especialmente os pais necessitam ser ouvidos. Por isso, técnicas projetivas, para o processo psicodiagnóstico principalmente as gráficas, são muito escolhidas para a avaliação psicológica pela facilidade de aplicação e aceitação do sujeito como H.T.P. e o Teste do Desenho da Família. Este trabalho por fim, objetiva compreender a sintomatologia apresentada pela criança que participa de um processo psicodiagnóstico do tipo compreensivo. Os métodos projetivos empregados, especialmente as técnicas gráficas, ajudaram na uma maior compreensão do diagnóstico da criança, juntamente com as informações desveladas nas entrevistas com os pais. Palavras chave: sintoma, psicodiagnóstico, criança. INTRODUÇÃO Neste artigo demonstra se á a utilidade destas técnicas projetivas como referenciais de diagnóstico e diferenciação, no que tange o sintoma apresentado pela criança que é trazida para a realização de um processo de psicodiagnóstico pelos pais e/ou responsáveis. Quando os pais levam seu filho para um processo como este, o psicólogo pode se deparar com a seguinte questão: avaliar quem realmente está com dificuldades adaptativas? Será este a criança ou um dos pais? Mesmo sendo evidente a sintomatologia do sofrimento psíquico na criança. Inúmeros autores que desenvolvem trabalhos que envolvem a relação sintoma na criança e a dinâmica familiar assinalam o fato de que o sintoma da criança pode não ser originário dela, e sim de um outro elemento da família, ou o de que esta criança trazida para a clínica pode ser o bode expiatório da família (Manonni, 1977 e 1980; Soifer, 1983; Lacan, 1986; Meyer, 1987; Waddell, 1994; Ferro Bucher,1995). Frente a isso, incluem, nessa prática, procedimentos de entrevistas diagnósticas com os pais, com técnicas especificas, tais como o trabalho de Soifer (1983) e Arzeno (1995), que demonstram as implicações da dinâmica familiar no sintoma apresentado pela criança. A terapia familiar, no que tange a esse aspecto, identifica se com essa prática de psicodiagnóstico, pois em ambas é essencial que o terapeuta se questione sobre quem precisa de tratamento. Ramos (1992) salienta esse ponto dentro dessa outra prática clínica, e demonstra que quando uma família procura um tratamento e o motivo da consulta se centraliza no filho, ela está pouco disposta a se tratar (Ramos, 1992). Inicialmente, é condição sine qua non ter se um conhecimento das reais potencialidades e possibilidades da criança que é trazida para a clínica, o que significa essencialmente responder à seguinte questão: Qual é a estrutura de personalidade e sua dinâmica interna da criança? E com isso, diferenciar do que possa estar ocorrendo na família. A finalidade desse tipo de diagnóstico infantil não é apenas avaliar a criança, mas, especialmente, compreender se é a criança ou o casal parental que precisa de acompanhamento psicológico. Esta prática clínica torna se mais difícil e trabalhosa, já que a criança não é mais a única pessoa que sofre, e especialmente os pais necessitam ser ouvidos. A história dos pais da criança passa a ter um papel primordial na compreensão do sintoma da criança, no modo como eles estruturam a dinâmica familiar e por ela são estruturados, o quanto eles precisam estar preparados, principalmente ao final do processo, para se conscientizarem e mudarem o foco, da criança para eles próprios. (1) Monitor(a) Bolsista), (2) Monitor(a) Voluntário(a), (3) Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a)

Por isso, técnicas projetivas, para o processo psicodiagnóstico principalmente as gráficas, são muito escolhidas para a avaliação psicológica pela facilidade de aplicação e aceitação do sujeito, como o H.T.P. (desenho da Casa, Árvore e Pessoa humana) e Teste da família, e por fornecerem um material rico e esclarecedor, tanto em relação aos aspectos mais inconscientes da criança, quanto à visão que ela possui da estrutura familiar na qual está inserida (Cunha, 2000). O H.T.P., por ser teste estrutural, e de acordo com Buck (2003), principalmente através da análise do desenho da árvore, permite ao profissional obter dados claros sobre a estrutura interna da criança e usar esse resultado como um argumento razoável, tanto para dados de pesquisa quanto para fundamentação do encaminhamento do caso. Demonstra ao casal parental que, mesmo manifestando um sintoma, a criança não é necessariamente o único elemento da família que precisa de ajuda. O que proporciona uma eventual possibilidade de maiores indagações acerca da demanda trazida pelos pais. Deslocando assim o foco, da criança para os pais. A não possibilidade disso ocorrer vem do surgimento de sentimentos de resistência, que normalmente surge nos pais, em aceitar essa mudança no foco da questão; e vem daí a possibilidade do uso desse instrumento projetivo, que embasa o profissional concreta e objetivamente para trabalhar com essa dificuldade no casal parental (Ocampo, 1999). Por sua vez, O teste do Desenho da Família, também foi utilizado, cujo referencial de análise se baseou nos estudos de Corman (2004), forneceu informações para uma maior compreensão das relações familiares, na qual a criança está inserida, através do olhar da própria criança. O que é de suma importância para a comparação com os dados fornecidos pelos pais na entrevista de anamnese. Sem contar com o fato de que, e reafirmando o exposto anteriormente, estes testes encerram em si em uma atividade lúdica onde, brincando, a criança normalmente, sem tantas resistências, fornece um material rico e precioso para a compreensão do sintoma apresentado. Nesse momento faz se necessário que sejam realizadas algumas considerações apreendidas acerca da temática do sintoma infantil e sua relação com a dinâmica da família. O sintoma apesar de ser compreendido como algo da ordem do patológico, do anormal, bem como constituidor da subjetividade humana, pode ser compreendido como uma forma que o indivíduo seja ele adulto, ou criança encontrou para externalizar seu conflito psíquico. É a comunicação de um sofrimento interno da ordem do não dito que não pode, via de regra, ser apresentado de acordo com a realidade psíquica, e sim de forma distorcida. Isso se deve ao fato de que o conteúdo inconsciente não pode vir à consciência sob sua forma real, não é algo suportável pela consciência. Consiste no indizível. É necessário fazer uma investigação das circunstâncias em que este sintoma está se apresentando, bem como uma relação com o histórico e a fase de vida, que o sujeito está vivenciando (Magalhães, 2004). Pensando nisto, é possível se estabelecer tão logo, uma diferenciação entre a manifestação de um sintoma na criança e no adulto. Um sintoma apresentado por uma criança que, por exemplo, esteja relacionado com a fase edipiana em que esta se encontra, não necessariamente é considerado patológico. É uma manifestação da dinâmica do seu psiquismo que está relacionada com os conflitos inerentes a esta fase da infância, podendo ser considerado saudável, na medida que possibilita uma reorganização e estruturação do psiquismo. O sintoma na criança diz respeito a uma presentificação dos conflitos, enquanto que no adulto, na abordagem psicanalítica, está relacionado ao passado de sua história de vida, mais especificamente, à infância. O psiquismo humano se utiliza vários mecanismos de defesa para lidar com situações conflituosas inconscientes que permeiam as relações humanas: um deles refere se ao da identificação projetiva. No momento que esses mecanismos são utilizados de maneira flexível, não se pode pensar em algo anormal; por outro lado, de um modo geral, pensar no caráter patológico de um sintoma é pensar numa rigidez na utilização desses mecanismos de defesa. Mesmo quando o sintoma assume um caráter patológico, é importante se salientar que, de certa forma, o surgimento deste é uma maneira de aliviar, de descarregar o sofrimento psíquico. Pensar numa manifestação de um sintoma no indivíduo subtende se pensar na relação com o outro. Isto significa que o sintoma, quando aparece, já tem um objetivo, uma função, que se encontra diretamente relacionada com a existência do outro, visto que se trata de uma forma de comunicar o sofrimento individual da ordem do não dito, para alguém ou para um grupo.

Essa comunicação do sofrimento psíquico não teria sentido se não tivesse pra quem ser feita. Portanto, todo sintoma é provido de sentido, e este último só pode ser compreendido a partir da análise de dois aspectos. O primeiro aspecto é a dinâmica interna do psiquismo, e o segundo é a dinâmica inconsciente que permeia as relações entre os indivíduos. A manifestação do sintoma atende a estas duas instâncias. É atribuída a família como função vital para o desenvolvimento geral da criança; isso porque a criança, desde o nascimento, apresenta se totalmente dependente de seus familiares, até mesmo para sobreviver; a família consiste no primeiro lócus do ser humano. Tendo em vista essa função familiar, entende se que a estruturação do psiquismo e da personalidade é conseqüência do suporte dado pela família (Carter, McGoldrick e cols, 1995).. Apesar da relevância dada ao grupo familiar, este não é, necessariamente, o causador de conflitos individuais de quaisquer um dos membros desta família, porém ela tem um papel importante na construção do sintoma na criança. Este trabalho por fim, objetiva compreender a sintomatologia apresentada pela criança que participa de um processo psicodiagnóstico do tipo compreensivo. Tendo como aporte teórico Ocampo (1985) e Trinca(1983), enfatizando a importância de se conhecer a dinâmica do casal parental, com a finalidade de se compreender as influências desta dinâmica sobre o desenvolvimento emocional da criança. Os métodos projetivos empregados, especialmente as técnicas gráficas, ajudaram a uma maior compreensão do diagnóstico da criança, juntamente com as informações desveladas nas entrevistas de anamnese com os pais. O modelo de psicodiagnóstico clássico, de acordo com Ocampo (1985), e o do tipo compreensivo, segundo Trinca (1983), apontamnos para a importância do uso das técnicas projetivas como meios facilitadores para uma maior compreensão da subjetividade da criança. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA O presente artigo refere se a atendimentos clínicos realizados na Clínica Escola de Psicologia. Foi escolhido um caso ilustrativo para corroborar as reflexões teóricas aqui apresentadas. A rotina de atendimento desta clínica escola envolvia entrevista de anamnese com os responsáveis pela criança com duração de no máximo 1 hora e em seguida a criança era submetida aos seguintes procedimentos necessários: Hora do jogo diagnóstico, de acordo com Ocampo (1999), e entrevistas para aplicação das técnicas projetivas, H.T.P e teste do Desenho da Família. Após essas etapas de psicodiagnóstico, foram realizadas a entrevistas de devolução com os pais e com a criança. Após a aplicação dessas técnicas, nos casos aonde ainda pudesse pairar alguma dúvida quanto à origem do problema, na criança ou nos pais, completava se a avaliação com a ministração do CAT A Children s Apperception Test, utilizando o referencial de análise de Bellak & Bellak (1981). RESULTADOS Nos casos atendidos, os indicadores observados por meio das técnicas projetivas utilizadas, mostraram que os aspectos relacionados à estrutura de personalidade das crianças atendidas estavam dentro do funcionamento normal. Tendo, principalmente, como referencial para corroborar a análise do desenho da árvore, que revelou que o sintoma que estava sendo apresentado relacionado com a dinâmica familiar (Buck, 2003). Segue abaixo a exemplificação de um dos casos onde por questões éticas está sendo apresentado com um nome fictício. Tom,, 08 anos, é o primeiro filho de J.F.F. e T.F.C.G, nasceu em João Pessoa PB, e cursa a 3 ª série; possui uma irmã mais nova de seis anos. O pai e o pai possuem respectivamente 37 anos e 36 anos. O casal está casado a 10 anos, e seguem a religião Protestante desde o nascimento de Tom. No decorrer da entrevista a mãe relata que a gestação da criança não estava sendo esperada. Neste período houve problema emocional ou orgânico. Ressalta que devido a sua hipertensão teve o diagnóstico de pré eclâmpsia, princípio de edema pulmonar, e seu filho nasceu 10 dias antes do previsto, permanecendo cinco dias na UTI neonatal, porém, o seu desenvolvimento foi normal.

A mãe afirma que Tom começou a ser diferente quando ocorreu o nascimento de sua irmã, passando a ser mais calado, agressivo, mentiroso, impertinente. Enfatiza ser agressivo com ela; chora fácil e bate a porta na sua cara. Havendo uma regressão após este nascimento. Frente as ordens do pai, demonstra medo, enquanto as dadas pela mãe não são respeitadas. Já o pai, afirma que Tom era um menino alegre, inteligente, esperto, e só tinha um defeito, o de ser disperso e confuseiro com a irmã. Afirma ainda que sua sogra dá mais atenção à menina do que a Tom. Faz se interessante salientar que, em um momento da comunicação o pai de Tom pergunta: Será que o problema de meu filho não tem a ver com a falta de atenção que ele tem?. Em alguns momentos este pai refere se à esposa como a detentora financeira da casa, afirmando ser ela quem possui o cartão e a senha da sua conta bancária. Não tenho tempo para cuidar das financias é minha esposa que o faz. Diz ainda: Minha mulher às vezes é insuportável ela dá mais carinho a menina e Tom fica com cara de besta olhando para elas. No momento da entrevista, a queixa dos pais consistiu, fundamentalmente, na questão em que a criança apresenta um quadro de regressão, além de ser um aluno disperso, desatencioso, preguiçoso e birrento. Neste momento serão apresentados os resultados dos testes ministrados no caso de Tom. Foram aplicados os seguintes métodos: Hora Lúdica Diagnóstica, H.T.P., Teste da Família, Entrevista Diagnóstica Familiar e C.A.T. A. A criança revelou um adequado nível intelectual, assim como adequada capacidade de comunicação e adaptação ao meio social. No entanto, ao longo da Hora de Jogo, o tema central da conversa com o psicólogo situava se exaustivamente sobre situações vividas pela criança no âmbito da dinâmica familiar. Os personagens escolhidos nas brincadeiras eram irmãs, pais e mães. No momento que partiu para a escolha dos brinquedos, fixou se na família e em panelinhas. Espelhou uma situação familiar nesse instante onde a mãe estava alimentando um bebê e o pai estava trabalhando. Em outro local da sala, ele colocou um boneco sozinho, na porta da escola, esperando alguém ir buscá lo. No Desenho da Família, Tom desenhou quatro figuras bem separadas na folha, um homem, um filho, a mulher e uma outra, e os denomina dessa forma. Não foram evidenciados vínculos entre eles, cada um está voltado para si próprio. Com isso podemos inferir que a criança é capaz de perceber a relação familiar como distante, desestruturada, e que ele não ocupava nenhum lugar determinado nessa família. Essa constatação gerava agressividade e ciúme fraterno. Sentia se como alvo de disputa entre pai e mãe e percebia o amor como algo condicional, não se sentia amado pelo que realmente era. Nas estórias do CAT, essas percepções eram nítidas. O personagem principal inúmeras vezes perdeu uma das figuras paternas ou por eles abandonado, mas sempre buscava saídas, por si mesmo, até certo ponto criativas. O que demonstrava boa capacidade egóica e certa maturidade para lidar com os obstáculos e os problemas que sua situação de vida real lhe impunha. CONCLUSÃO As técnicas projetivas utilizadas assim como os procedimentos de entrevistas nesse caso vieram corroborar que a criança apresentava recursos e estrutura interna. Porém, a dinâmica interna da criança estava relacionada a fatos externos o que presume ser a dinâmica familiar. Tom desvelou que possui tais recursos principalmente no Teste do Desenho da Família e no H.T.P, além do papel desempenhado na dinâmica familiar e o quanto seu sintoma era uma forma de demonstrar o que ele necessitava, o que deixa novamente evidente nas técnicas projetivas: ter um lugar definido na família. Portanto, o desvelamento do sujeito, a partir das técnicas projetivas utilizadas, permitiu ao profissional maior segurança para propor um trabalho para a família, descaracterizando assim a idéia inicial de que Tom era a criança problema da família. Foi a partir dessa análise e nossas reflexões que se optou pelo encaminhamento das figuras parentais para uma psicoterapia familiar, pois a criança sentia se um ser que não fazia parte daquela família. Com base no que foi exposto anteriormente, é possível observar que a família tem papel relevante na estruturação do sintoma na criança. Isso se deve à importância que o

núcleo familiar tem na formação do ser humano, e ainda, pela capacidade da criança de absorver os conflitos que permeiam a dinâmica familiar. De acordo com a literatura especializada, a família é parte constituidora e constituída da subjetividade infantil e, em nenhum momento, pode se deixar de conceber o ser humano como um ser no mundo, pois o ser humano é um ser histórico e temporal. No motivo manifesto apresentado pelos pais, aparece outro: o latente, o que está por trás da manifestação desse conflito. Um conflito que não está apenas na criança, mas sim na dinâmica familiar (Carter, McGoldrick e cols, 1995). Nesses casos, as técnicas projetivas, tornaram se elementos norteadores de suma importância para fundamentar o diagnóstico dos casos e os conseqüentes encaminhamentos realizados além de uma maior compreensão da subjetividade da criança. A partir do desvelamento do não dito dessas crianças nas técnicas projetivas, confirmou se a hipótese construída anteriormente: de que o problema não estava na esfera da criança e sim situava se na dinâmica do casal. Preferiu se, então, para o encaminhamento desses pais para um processo de psicoterapia de casal e/ou individual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arzeno, M. E (1995). Psicodiagnóstico Clínico: Novas contribuições. Porto Alegre: Artes Médicas. Carter, B, & McGoldrick, M. (1995). As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma Estrutura para a Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas. Bellak, L & Bellak, S. (1981) Manual do Teste de Apercepção Infantil com figura animais. São Paulo: Editora Mestra Jou. Buck, J. N. (2003). H.T.P: casa árvore pessoa, técnica projetiva de desenho: manual e guia de interpretação. São Paulo: Vetor Editora Corman, L. (2004). O teste do Desenho da Família. São Paulo: Casa do Psicólogo. Cunha, J. A.(2000). Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed. Ferro Bucher, L. (1995). A técnica na Psicanálise Infantil a Criança e o Analista: da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago. Lacan, J. (1986). Os Complexos Familiares na formação do indivíduo. Rio de Janeiro: Zahar Editoras. Magalhães, S. C. (2004). O Sujeito da Psicanálise: Topologia do Sujeito e Discurso. Clínica do Sujeito, Sujeito e Gozo. Salvador: Associação Científica Campo Psicanalítico. Mannoni, M. (1977). A Criança atrasada e a mãe. São Paulo: Martins Fontes. Mannoni, M. (1980). A Criança, sua doença e os outros. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Meyer, L. (1987). Família: Dinâmica e Terapia uma Abordagem Psicanalítica. São Paulo: Ed: Brasiliense. Ocampo, M. L. S. de, Arzeno, M. E. G.; Piccolo, E. G. e col. (1999). O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes. Ocampo, M. L. (1999)O Processo Psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes. Osório, L. C. (1996). Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas.

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