Renascimento e Camões Prof. Neusa
A última ceia (Leonardo da Vinci)
O nascimento de Vênus (Boticelli)
Idade Média
Cristo sentado entre as forças divinas, o mundo e o inferno
Maneirismo
A última ceia (Tintoreto)
OS LUSÍADAS Luís de Camões Profª Neusa
As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino que tanto sublimaram; E também as mémórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A Fé, o Império e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando Cantando espalharei por toda parte, Se tanto me ajudar engenho e arte
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ces/sem /do /sá/bio /gre/go e/ do/ tro/ia/no A As navegações grandes que fizeram ; B Cale-se de Alexandre e de Trajano A A fama da vitória que tiveram; B Que eu canto o peito ilustre lusitano, A A quem Netuno e Marte obedeceram. B Cesse tudo o que a musa antiga canta, C Que outro valor mais alto se alevanta C
- Canto III : Episódio de Inês de Castro Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano.
Canto IV : Episódio do Velho do Restelo "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
- Canto V : O Episódio do Gigante Adamastor Não acabava, quando uma figura Se nos mostra no ar, robusta e válida, De disforme e grandíssima estatura, O rosto carregado, a barba esquálida, Os olhos encovados, e a postura Medonha e má, e a cor terrena e pálida, Cheios de terra e crespos os cabelos, A boca negra, os dentes amarelos. Tão grande era de membros, que bem posso Certificar-te, que este era o segundo De Rodes estranhíssimo Colosso, Que um dos sete milagres foi do mundo: Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso, Que pareceu sair do mar profundo: Arrepiam-se as carnes e o cabelo A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.
Cantos IX e X : O Episódio da Ilha dos Amores Sigamos estas deusas e vejamos Se fantásticas são, se verdadeiras. Isto dito, veloces mais que gamos, Se lançam a correr pelas ribeiras. Fugindo as ninfas vão por entre os ramos, Mas, mais industriosas que ligeiras, Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando, Se deixam ir dos galgos alcançando (...) Oh! Que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves, que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; Mas julque-o quem não pode experimentá-lo
EPÍLOGO Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Düa austera, apagada e vil tristeza.
Poesia lírica Luís de Camões
Dizei, Senhora, da Beleza ideia: Para fazerdes esse áureo crino, Onde fostes buscar esse ouro fino? De que escondida mina, ou de que veia? Dos vossos olhos essa luz febeia, Esse respeito de um Império dino, Se o alcançastes com saber divino, Se com encantamentos de Medeia? De que escondidas conchas escolhestes As perlas preciosas orientais, Que, falando, mostrais no doce riso? Pois vos formastes tal como quisestes, Vigiai-vos de vós, não vos vejais, Fugi das fontes: lembre-vos Narciso.
Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer. (...) É querer estar preso por vontade, É servir, a quem vence, o vencedor, É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Se tanta pena tenho merecida em pago de sofrer tantas durezas, provai, Senhora, em mi vossas cruezas, que aqui tendes a alma oferecida.
(...) Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía.
Correm turvas as águas deste rio, Que as do céu e as do monte as enturbaram; Os campos florescidos se secaram, Intratável se fez o vale, e frio. Passou o Verão, passou o ardente Estio, Umas cousas por outras se trocaram; (...) Tem o tempo sua ordem já sabida; O mundo, não; mas anda tão confuso, Que parece que dele Deus se esquece. (...)
Quanta incerta esperança, quanto engano! Quanto viver de falsos pensamentos, pois todos vão fazer seus fundamentos só no mesmo em que está seu próprio dano! (...) Não haja em aparências confianças; entende que o viver é de emprestado; que o de que vive o mundo são mudanças.
Sôbolos rios que vão Quem do vil contentamento cá deste mundo visível, quanto ao homem for possível, passar logo o entendimento para o mundo inteligível: ali achará alegria em tudo perfeita e cheia de tão suave harmonia, que, nem por pouca, recreia, nem, por sobeja, enfastia.
Uniforme, perfeito, em si sustido, qual, enfim, o Arquétipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido de espanto e de desejo ali ficou. Diz-lhe a Deusa: "O transunto, reduzido em pequeno volume, aqui te dou do Mundo aos olhos teus, para que vejas por onde vás e irás e o que desejas. Canto X, 79
(...) O mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconcerto; Da alma um fogo me sai, da vista um rio; Agora espero, agora desconfio, Agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando; Numa hora acho mil anos, e é jeito Que em mil anos não posso achar uma hora. (...)