Renascimento e Camões. Prof. Neusa

Documentos relacionados
Geografia. Professor: Diego Alves de Oliveira

Classicismo em Portugal

CANTO IV - ESTROFES 94 A 104 EPISÓDIO DO VELHO DO RESTELO

CLÁSSICO O QUE SIGNIFICA ESSA PALAVRA PARA VOCÊ?

Luís de Camões (Sonetos)

Quando eu, senhora...

QUANDO EU, SENHORA...

Os Lusíadas Luís Vaz de Camões /1580

Luís Vaz de Camões Retrato pintado em Goa, 1581.

LÍNGUA PORTUGUESA ENSINO MÉDIO PROF. DENILSON SATURNINO 1 ANO PROF.ª JOYCE MARTINS

World Wide Web. Sérgio Nunes. Comunicações Digitais e Internet Ciências da Comunicação, U.Porto 2011/12

Velho do Restelo. De mil Religiosos diligentes, Em procissão solene, a Deus orando, Pera os batéis viemos caminhando.

Escola Básica André de Resende Curso Vocacional Português 2012/2013

Leiria, 1 de junho de 2013

Camões épico Os Lusíadas

Quem eram os humanistas? Thomas More

A arte de escrever um soneto

Aula 6 A lírica camoniana

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE LITERATURA

(...) 3 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram;

ESCOLAS LITERÁRIAS / ESTILOS DE ÉPOCA UMA INTRODUÇÃO. 1 TROVADORISMO [séculos XII XV]

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

Cantigas Medievais. Cantadas pelos trovadores, as can0gas chegaram a. cancioneiros (coleções) de diversos 0pos. Séc. XII a XIV

THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA LTDA.

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO ANUAL DE LITERATURA

ACTA REUMATOLÓGICA PORTUGUESA

Uma grande parte dos sonetos incluídos nesta

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

Aula 5 Camões poesia épica

luís de camões Sonetos de amor Prefácio de richard zenith

Desde sempre presente na nossa literatura, cantado por trovadores e poetas, é com Camões que o Amor é celebrado em todo o seu esplendor.

Gêneros Literários OBRAS LITERÁRIAS: QUANTO À FORMA = VERSO & PROSA QUANTO AO CONTEÚDO = GÊNEROS LITERÁRIOS

ARTES VISUAIS E LITERATURA

Prof. Eloy Gustavo. Aula 4 Renascimento

OXUM PONTOS DE LINHA. 2. Olha o barquinho de Cinda > Cinda é quem vem trabalhar >2x Cinda é mamãe Oxum, aieiêo > Cinda é a cobra coral >2x

LITERATURA PROFª Ma. DINA RIOS

Primeiro dia Jogando eu aprendo a ser feliz

Luís de Camões (1524?-1580?)

HISTÓRIA. Simulado I - Avançadas. 3 o ano Prof. Vera. Nome: Turma: (Luís de Camões. Os Lusíadas.)

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

Literatura 1º ano João J. Classicismo

Soneto a quatro mãos

GÊNEROS LITERÁRIOS FLÁVIA ANDRADE

CIFRAS CD TUDO POR SCHOENSTATT

1) Soneto: Enquanto quis Fortuna que tivesse

QUÃO GRANDE É O MEU DEUS (Chris T./Jesse R.)

espalharei por toda parte, Se a tanto me ajuda

Agrupamento de Escolas n.º 1 de Serpa ESCOLA BÁSICA DE PIAS. Ano Letivo 2012/ de fevereiro de GRUPO I (Leitura) PARTE A


DATA: 26 / 09 / 2014 II ETAPA AVALIAÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA 1.º ANO/EM ALUNO(A): Nº: TURMA:

Por. Raphael Hormes. Monitor: Bruna Basile

ESTAVA A FORMOSA SEU FIO TORCENDO (paráfrase de Cleonice Berardinelli) - Por Jesus, senhora, vejo que sofreis Estava a formosa seu fio torcendo,

I - Navegação marítima. II - Áreas de ocorrência da floresta tropical e da taiga. III - Regiões agricultáveis e desérticas.

Músicas para missa TSL

O Lugar da Filosofia no Currículo Escolar

VIVA O OUTONO. INTÉRPRETES um Avô e dois netos

Classicismo. Literatura brasileira 1ª EM Prof.: Flávia Guerra

Sheikespir, sim, é que era bão: só escrivia citação! (Millôr Fernandes) *

QUANDO EU TINHA VOCÊ!

Roteiros Mensais para Grupos

CONHECE DEUS NA SUA ESSÊNCIA O AMOR

CAMÕES E AS FÓRMULAS LAPIDARES EM OS LUSÍADAS Castelar de CARVALHO 1

(Camões, Os Lusíadas episódio de Inês de Castro)

A CENTRALIDADE DAS ESCRITURAS. Salmo 19 Luiz Sayão

Fabiana Medeiros Júlio Balisa

Fevereiro / 2012 ALUNO.:... TEL.:...

Aos Poetas. Que vem trazer esperança a um povo tristonho, Fazendo os acreditar que ainda existem os sonhos.

Grupo de Reflexão - Cantos para maio

Música: O Caminho. Compositor: Daniel Feitosa. Estreito é o caminho da glória duplicado e asfaltado é o caminho da perdição

Confira o roteiro de pregações dos Retiros de Carnaval 2016: 1. INTRODUÇÃO

O Sorriso de Clarice

PROVA DE LITERATURAS

Saudai o Nome de Jesus! 1.Saudai o nome de Jesus; Ó anjos, vos prostrai. O Filho do glorioso Deus, Com glória coroai!

Meu bem querer. Ao Único. 02 ME Bené Carlos Gomes

HOSANA REPERTÓRIO. Hosana, Hosana Hosana nas alturas Hosana, Hosana Hosana nas alturas

MEU JARDIM DE TROVAS

Texto para a questão 1

TROVAS MAIS ALÉM... ESPÍRITOS DIVERSOS PSICOGRAFIA DE LEONARDO PAIXÃO

GREGÓRIO DE MATOS BOCA DO INFERNO

Hinário Para os Enfermos

Os Lusíadas são uma obra do séc. XVI.

Amor. Amor Livre. Amor Livre

BOM DIA DIÁRIO. Guia: Em nome do Pai

HOJE É TEMPO DE LOUVAR

8800 DESDE O DIA EM QUE ACEITEI JESUS (E)-PARTITURA

Ao Teu Lado (Marcelo Daimom)

Ivan Cupertino. Textos selecionados GRILHÕES

CHICÃO É UM RIO BONITO

O Clamor dos Povos e da Terra Ferida

Ser mordomos dos bens materiais implica centrar nossa atenção nas coisas de cima, não nas da Terra. Não ameis o mundo, nem o que no mundo há.

Nº 11 A Domingo IV do Tempo Comum Sede felizes!

Page 1 of 5. Amor & Sociologia Cultural - Caetano Veloso & Cazuza

FINAL PÁSCOA Opção 01

Sonetos de Luís Vaz de Camões I

LÍNGUA PORTUGUESA NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO. Maria Helena Freiria

não somos auto-suficientes precisamos de algo que nos energize e alimente

VIGÍLIA DE ORAÇÃO POR QUEM NOS MORREU

ALMA CRUCIFICADA. A alma que o próprio Senhor Quis voltar seu olhar E quis revelar seus mistérios Prá nela habitar

Transcrição:

Renascimento e Camões Prof. Neusa

A última ceia (Leonardo da Vinci)

O nascimento de Vênus (Boticelli)

Idade Média

Cristo sentado entre as forças divinas, o mundo e o inferno

Maneirismo

A última ceia (Tintoreto)

OS LUSÍADAS Luís de Camões Profª Neusa

As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino que tanto sublimaram; E também as mémórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A Fé, o Império e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando Cantando espalharei por toda parte, Se tanto me ajudar engenho e arte

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ces/sem /do /sá/bio /gre/go e/ do/ tro/ia/no A As navegações grandes que fizeram ; B Cale-se de Alexandre e de Trajano A A fama da vitória que tiveram; B Que eu canto o peito ilustre lusitano, A A quem Netuno e Marte obedeceram. B Cesse tudo o que a musa antiga canta, C Que outro valor mais alto se alevanta C

- Canto III : Episódio de Inês de Castro Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano.

Canto IV : Episódio do Velho do Restelo "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!

- Canto V : O Episódio do Gigante Adamastor Não acabava, quando uma figura Se nos mostra no ar, robusta e válida, De disforme e grandíssima estatura, O rosto carregado, a barba esquálida, Os olhos encovados, e a postura Medonha e má, e a cor terrena e pálida, Cheios de terra e crespos os cabelos, A boca negra, os dentes amarelos. Tão grande era de membros, que bem posso Certificar-te, que este era o segundo De Rodes estranhíssimo Colosso, Que um dos sete milagres foi do mundo: Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso, Que pareceu sair do mar profundo: Arrepiam-se as carnes e o cabelo A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.

Cantos IX e X : O Episódio da Ilha dos Amores Sigamos estas deusas e vejamos Se fantásticas são, se verdadeiras. Isto dito, veloces mais que gamos, Se lançam a correr pelas ribeiras. Fugindo as ninfas vão por entre os ramos, Mas, mais industriosas que ligeiras, Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando, Se deixam ir dos galgos alcançando (...) Oh! Que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves, que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; Mas julque-o quem não pode experimentá-lo

EPÍLOGO Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Düa austera, apagada e vil tristeza.

Poesia lírica Luís de Camões

Dizei, Senhora, da Beleza ideia: Para fazerdes esse áureo crino, Onde fostes buscar esse ouro fino? De que escondida mina, ou de que veia? Dos vossos olhos essa luz febeia, Esse respeito de um Império dino, Se o alcançastes com saber divino, Se com encantamentos de Medeia? De que escondidas conchas escolhestes As perlas preciosas orientais, Que, falando, mostrais no doce riso? Pois vos formastes tal como quisestes, Vigiai-vos de vós, não vos vejais, Fugi das fontes: lembre-vos Narciso.

Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer. (...) É querer estar preso por vontade, É servir, a quem vence, o vencedor, É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Se tanta pena tenho merecida em pago de sofrer tantas durezas, provai, Senhora, em mi vossas cruezas, que aqui tendes a alma oferecida.

(...) Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía.

Correm turvas as águas deste rio, Que as do céu e as do monte as enturbaram; Os campos florescidos se secaram, Intratável se fez o vale, e frio. Passou o Verão, passou o ardente Estio, Umas cousas por outras se trocaram; (...) Tem o tempo sua ordem já sabida; O mundo, não; mas anda tão confuso, Que parece que dele Deus se esquece. (...)

Quanta incerta esperança, quanto engano! Quanto viver de falsos pensamentos, pois todos vão fazer seus fundamentos só no mesmo em que está seu próprio dano! (...) Não haja em aparências confianças; entende que o viver é de emprestado; que o de que vive o mundo são mudanças.

Sôbolos rios que vão Quem do vil contentamento cá deste mundo visível, quanto ao homem for possível, passar logo o entendimento para o mundo inteligível: ali achará alegria em tudo perfeita e cheia de tão suave harmonia, que, nem por pouca, recreia, nem, por sobeja, enfastia.

Uniforme, perfeito, em si sustido, qual, enfim, o Arquétipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido de espanto e de desejo ali ficou. Diz-lhe a Deusa: "O transunto, reduzido em pequeno volume, aqui te dou do Mundo aos olhos teus, para que vejas por onde vás e irás e o que desejas. Canto X, 79

(...) O mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconcerto; Da alma um fogo me sai, da vista um rio; Agora espero, agora desconfio, Agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando; Numa hora acho mil anos, e é jeito Que em mil anos não posso achar uma hora. (...)